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O paradoxo do desenvolvimento vs. transferência de tecnologia no café

POR CARLOS HENRIQUE JORGE BRANDO

TÉCNICAS DE PRODUÇÃO

EM 11/05/2010

3 MIN DE LEITURA

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As mudanças climáticas, as pressões ambientais, a escassez da mão de obra e outras limitações estão forçando a tecnologia de produção e processamento de café a evoluir mais rápido que nunca. Todavia, a implementação das novas tecnologias disponíveis é mais lenta que seu próprio desenvolvimento. Isto pode ser considerado um paradoxo porque, à primeira vista, parece muito mais complexo e caro desenvolver do que implementar a tecnologia do café. Mas, a realidade é bem distinta: a adoção de mudanças no mundo produtor de café é um processo difícil, que enfrenta vários tipos de barreiras, tanto comportamentais quanto práticas. O processo é ainda mais complicado quando o foco destas mudanças é o pequeno cafeicultor, que é quem produz a maior parte do café que consumimos.

As principais barreiras comportamentais são a tradição, o conservadorismo, o pavor a mudanças, o nível de educação e os mitos. As barreiras práticas mais comuns são a dificuldade de acesso à tecnologia e a falta de treinamento, de financiamento e de resultados confiáveis em escala comercial, para mencionar algumas. Estas barreiras são tão fortes que, com uma boa dose de exagero, podemos comparar o estado atual da nossa tecnologia cafeeira a uma biblioteca vazia: muitos livros/muita tecnologia disponível nas estantes, mas não tantos leitores/usuários como se gostaria!

Talvez o paradoxo da tecnologia explique porque alguns países produzem tanto por área cultivada e outros produzam tão pouco. Não é surpreendente que existam países com grandes áreas cultivadas que produzem uma média alta de 20 sacas/hectare, e países com áreas pequenas com produtividade média abaixo de 5 sacas/hectare? Pode-se argumentar que diferentes países têm diferentes condições e utilizam diferentes tecnologias, que causam as disparidades mencionadas acima. O contra argumento é que tais disparidades também existem dentro de um mesmo país produtor. Analisemos o caso do Brasil, onde a produtividade média é de 20 sacas/ha para Arábica e de 27 sacas/ha para Conilon. Entretanto, há muitos produtores brasileiros eficientes de Arábica com produtividade média de 40 a 50 sacas/hectare e outros tantos produtores com médias de apenas 10 sacas/hectare ou menos. Números similares para o Conilon são tão altos quanto 100 sacas/ha para produtores altamente eficientes e tão baixos como 6 sacas/ha em toda uma região.

Embora nosso país tenha desenvolvido um ótimo sistema de pesquisa científica de café, ele não é capaz de aplicar as novas tecnologias tão rapidamente quanto elas são criadas. Isto de fato parece paradoxal porque, repetindo, teoricamente deveria ser mais complexo e levar muito mais tempo para desenvolver novas tecnologias que para aplicá-las. Assim, precisamos de um serviço de extensão cafeeira melhor se desejarmos implementar a tecnologia tão rapidamente quanto a geramos. Estudos indicam que a pesquisa agrícola pode ter retornos superiores a 30 ou 40%, mas isto de nada adianta se os potenciais usuários não têm conhecimento de seus benefícios, não tem acesso às tecnologias correspondentes e, portanto não as aplicam.

Em tempos como os atuais, em que a competitividade do café brasileiro está ameaçada, o tema do aperfeiçoamento do sistema de extensão cafeeira no país deveria estar no centro do debate. A Agenda Estratégica para a Cafeicultura Brasileira − elaborada em 2008 por um Grupo de Trabalho formado por lideranças de todos os setores da cafeicultura brasileira (produção, comércio, indústria, pesquisa e governo) - já havia identificado esta necessidade. Entre os temas prioritários da Agenda, definidos pelo próprio setor, estavam, além da pesquisa e inovação, a capacitação, o treinamento e a difusão de tecnologia.

Talvez a solução para este problema resida em reproduzir na disseminação de tecnologia cafeeira o mesmo sistema organizacional usado na pesquisa, ou seja, criar um consórcio de instituições de difusão de tecnologia e serviços de extensão. O Brasil tem a tecnologia para recuperar sua competitividade, mas o país ainda tem de criar as ferramentas para aplicar tal tecnologia de forma mais ampla, indo portanto além das ilhas de excelência conhecidas.

A situação em nível mundial é parecida ou pior que a do Brasil, com poucas exceções. É pior na maioria dos países, que sofrem tanto com um serviço de extensão subdesenvolvido como também dependem de tecnologia criada em outros lugares, que deve ser adaptada às condições locais. Mesmo as exceções, aqueles países com serviços de extensão eficientes, vem tendo que restringi-los em função dos cortes de orçamento e da crise de preços do começo da década.

Os serviços de extensão cafeeira talvez tenham sido os grandes perdedores da liberalização do negócio café iniciada nos anos 90, com efeitos negativos recorrentes ao longo do tempo. O setor privado, os governos e a sociedade civil têm de se mobilizar para corrigir esta imperfeição do mercado e, assim, buscar a sustentabilidade da atividade com competitividade.

CARLOS HENRIQUE JORGE BRANDO

Engenheiro civil pela Escola Politécnica da USP; pós-graduação à nível de doutorado em economia e negócios no Massachusetts Institute of Technology (MIT), EUA; sócio da P&A Marketing Internacional, empresa de consultoria e marketing na área de café

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BRUNO MANOEL REZENDE DE MELO

GUAXUPÉ - MINAS GERAIS - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 11/09/2010

Concordo com tudo que foi falado, e acrescento: essa distância das tecnologias e suas aplicações práticas também passa pelo problema da burocracia que existe em todos os níves, e uma falta de entendimento entre as classes de profissionais Um exemplo claro é o que estamos passando; Somos granduando do Curso Superior de Tecnologia em Cafeicultura, um curso de graduação especialista em café, reconhecido pelo MEC, é ministrado por uma instituição Federal, curso este com muita tecnologia a oferecer, porém estamos impedidos de atuar porque não possuimos um orgão de classe que nos represente. O lógico era que o CREA nos representasse, mas este conselho ve problemas em nos aceitar como participantes de sua classe. Então fica o o questionamento. O governo federal investe em ensino de qualidade, mas jogos de interesses de algumas "parte" impedem que possamos atuar, penalizando toda comunidade brasileira, principalmente aquela carente de assistência técnica. Esta na hora de crescermos, porque o maior interessado nessa conquista é a comunidade como um todo; precisamos para de olhar nosso próprio umbigo, e oferecer oportunidades para todos, ganhando com isso o Brasil.
EDUARDO CARDOSO VIEIRA

SALVADOR - BAHIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 26/05/2010

Na realidade do nosso Estado o Sr. Carlos Brando está corretíssimo. A impressão da biblioteca vazia é bem apropriada. A tecnologia é farta e sempre atualizada, (MG, ES, SP, PR - em café) e gerada também aqui na Bahia em outras culturas; de parabéns a pesquisa! Mas a tecnologia que chega ao campo é mínima que podemos considerar até desprezível. Os orgãos públicos de extensão têm poucos especialistas, poucos profissionais, baixos salários, poucos automóveis, verbas para comunicação, para combustível, pouco treinamento etc. Um faz de conta geral. Maior ainda quando se faz empréstimos /projetos para os pequenos e micros e/ou para associações com assistência técnica e de gestão praticamente inexistente. Uma prática totalmente descabida, vergonhosa, irresponsável, na contra mão da busca pela sutentabilidade! Não enxerga quem não quer!
JOSÉ ADAUTO DE ALMEIDA

MARUMBI - PARANÁ - PROVA/ESPECIALISTA EM QUALIDADE DE CAFÉ

EM 20/05/2010

Esse tema realmente é o "calcanhar de Aquiles". Nós temos tecnologia (e boas instituições geradoras de tecnologia).Algumas vezes essas tecnologias chegam ao cafeicultor com um palavreado muito técnico (como disse o Donizete Gonçalves), outras vezes através de empresas que comercializam os mais diversos produtos para a cultura, mas também, muitas vezes chegam de maneira bem fácil de entender, e aí encontra um problema é que o cafeicultor "querer" aplicá-las ou até mesmo acreditar.
O serviço de Extensão Rural do Paraná - EMATER, possui um um grupo de extensionistas, denominado de "Grupo Café", atuando diretamente com os cafeicultores , com "foco" na organização para comercialização, melhoria da qualidade, ampliação da produtividade ,da renda e uso racional de defensivos, através de divulgação e uso das diversas tecnologias existentes, bem como um diálogo aberto para troca de experiências com os cafeicultores atendidos.Este grupo atende diretamente em torno de 20% dos cafeicultores do Parana com objetivo que estes produtores se tornem "polos de irradiação" das técnicas testadas e aprovadas.
DONIZETE GONÇALVES DE LIMA

PATROCÍNIO - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 13/05/2010

O Sr. Carlos Brando ,tocou no ponto central dessa questão! Participo de grupo do Educampo em Patrocínio MG. e sempre tenho dito que as Pesquisas existem, tecnologias são geradas nas Academias , mas não chega ao consumidor final: o produtor. Frequento seminários, leio artigos, vejo trabalhos publicados que não tem o menor sentido, mas dá curriculo.E as análises estatisticas que fazem! Só nas academias nos departamentos de matemática são capazes de entender.Saibam senhores que o produtor nem sempre é um conhecedor dessa maneira de divulgar resultados de pesquisas. Sejam claros, diretos, falem a lingua que todos entendem. Deixem essas estatístcas , esses TAIS CV( COEFICIENTE DE VARIAÇÃO) fajutos que só interessam aos fazedores de currículos.Outra observação que faço, e que ás vezes até digo deixe de reinventar a roda; isso com relação a certas pesquisas que insistem em desconhecer trabalhos que foram e são até hoje verdadeiros patrimônios. Finalizando, digo em concordância com o Sérgio Parreiras , que a estrutura já existente hoje poder´ser usada para fazer chegar essas tecnologias aos produtores.Basta que para isso busquemos estreitar essa distância entre os centros de pesquisa e o produtor rural.
DIOGO DIAS TEIXEIRA DE MACEDO

SÃO SEBASTIÃO DA GRAMA - SÃO PAULO

EM 12/05/2010

Todos tem razão,

Isso já virou um círculo vicioso, o produtor não tem tecnologia, que não tem produtividade, que acaba não tendo renda, que não tem como investir em suas lavouras ... e isso está acontecendo porque faltou essa difusão a anos atrás ... e aqueles que tiveram a oportunidade de "adquirir" está tecnologia são os produtores que estão com médias altas (mais de 40 sacas por hectare) e que estão captalizados (ou devem menos !!!).

Acho que um bom exemplo a ser seguido é o estado do Espiríto Santo, o pessoal do INCAPER tem feito um bom trabalho de difusão de tecnologia, coisa que aqui em Saõ Paulo não se vê ... aqui o que tem é dia de campo de empresa que quer vender seus produtos ... nada contra mas isso não é difusão de tecnologia ... é marketing!!!

A internet tem sido um bom difusor e através do cafépoint e do peabirus temos tidos vários debates ... mas isso atinge apenas 4% dos produtores.

Acho que o principal difusor deveria ser mesmo as Casas de Agricultura (SP), Emater (MG) e outros orgãos ... e o produtor também precisa se mexer e ir atrás de seu interesse.

Abraços,

Diogo Dias
FRANCISCO SÉRGIO LANGE

DIVINOLÂNDIA - SÃO PAULO

EM 11/05/2010

Grande Mestre Sergio PP.

Este assunto abordado pelo Caros e o que você me enviou, mais do que nunca ganham importância capital. A partir de hoje precisamos insistir veemente na solução deste problema pois ai esta a solução que estamos procurando para os grandes problemas da cafeicultura.

Saudações.
.
HENRIQUE DE SOUZA DIAS

SERRA DO SALITRE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 11/05/2010

È preciso lembrar que o estado da atual tecnologia do cafeicultor reflete muito mais a falta de renda e de Capital do que seu aparente desinteresse por novas técnicas, máquinas e insumos. O nosso produtor faz o que pode, chega a sacrificar sua família, seu bem estar, para atender os reclamos da lavoura. Esse pessoal que agride nossos companheiros não tem noção da pobreza em que vive o cafeicultor. Paga preços absurdos pelo óleo diesel,adubos e insumos e etc.
E é roubado pelo sistema de comércio e industria recebendo preços infames! Assim não dá!
SERGIO PARREIRAS PEREIRA

CAMPINAS - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 11/05/2010

Saudações Cafeeiras....


Primeiramente gostaria de cumprimentar o Carlos Brando pela atitude de levantar o debate sobre esse ponto que também considero o "Calcanhar de Aquiles" da cafeicultura brasileira: a interação entre academia, extensão rural e cafeicultores.
A Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) no Brasil vive hoje a transição do modelo difusionista aplicado por décadas tanto pelas agências governamentais de extensão quanto pelos pesquisadores. A informação e o conhecimento seguiam um caminho unidirecional, hierárquico, tendo no produtor o mero papel de receptor de conhecimento, sem levar em consideração sua sabedoria. Hoje, devem-se buscar soluções compartilhadas a problemas comuns, onde a comunicação horizontal é ponto de partida para construção do conhecimento.

No inicio do ano, ao participar dos "3 Desafios da cafeicultura em 2010" promovido aqui pelo Café Point, postei:


#Desafio 02: Aproximar academia e setor produtivo

Nos estudos de prospecção de demandas e nos "bate-papos" pelas andanças cafeeiras, torna-se notório algo inusitado: a maioria das tecnologias, técnicas ou serviços demandados pelo setor produtivo já foram pesquisados e estes conhecimentos não chegam ao produtor.

Culpa da extensão? Não. O que vale no meio científico é onde será publicado o novo artigo, e qual o fator de impacto dessa revista. Falta incentivo, além do ideológico, para que a academia esteja alinhada com a extensão, estabelecendo uma comunicação dialógica, permitindo que o conhecimento gerado chegue ao setor produtivo.

Culpa do pesquisador? Não. O sistema valoriza quem tem um belo "Currículo Lattes" e não quem faz ciência efetivamente aplicada. E na aprovação do próximo projeto ou na análise daquele sonhado concurso, o que vale são as publicações e os títulos.

Neste desafio, a sociedade necessita rever seus conceitos no que tange à pesquisa agropecuária e seus objetivos.

- - - - -

Acredito que as ferramentas para diminuir a distância entre academia, extensão rural e cafeicultor estejam no âmbito do próprio Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café - CBP&D/Café, gerenciado pela Embrapa Café. Pessoalmente, não acredito que seja necessária a criação de um consórcio de instituições de difusão de tecnologia e serviços de extensão, mas sim que estes ampliem sua participação dentro do Consórcio já existente. Assim, caminhamos para integração e articulação entre as partes.
Não acontecendo isso, continuaremos como se diz no popular:
--- Ado...Aaado...Cada um no seu quadrado....
E a cafeicultura....

EDUARDO CHAGAS MATAVELLI

POÇOS DE CALDAS - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 11/05/2010

Prezado Carlos Brando,

Trabalho com consultoria/extensão e tenho acompanhado na prática o que o Sr. disse. Costumo dizer nas minhas palestras, que hoje não basta só produzir, é preciso ter compromisso social,ambiental,econômico,gerencial,etc. Aí é que está o X da questão, pois é muita informação para levar ao campo e muitas vezes esbarramos na questão cultural. Tecnologia o Brasil tem de sobra.

Parabéns pelo texto.

Saudações,

Eduardo Matavelli
ECOREDE Consultoria & Agronegócios

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