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A fidelização do cooperado

POR ORLANDO CARLOS EDITORE

TÉCNICAS DE PRODUÇÃO

EM 19/09/2006

6 MIN DE LEITURA

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Um dos temas que eu gostaria de avaliar nesta coluna, diz respeito ao conceito de fidelidade dos cooperados. Mais uma vez esta é uma abordagem muito pertinente nas cooperativas de produção.

É muito comum nas reuniões dos Conselhos de Administração, ouvir comentários sobre os cooperados que desviam sua produção, não entregando parte ou até mesmo a totalidade da produção na cooperativa. As questões são - Por que ocorre o desvio? Qual o perfil deste produtor? O que fazer para reduzir/evitar esta prática?

Todos sabemos que esperar 100% de fidelidade é impossível. Cabe até mesmo a pergunta - Aonde existe fidelidade total? Vejam os exemplos nos casamentos, na religião, nos partidos políticos, etc.

O único caso que me ocorre de fidelidade absoluta, é no futebol. Nunca vi ninguém trocar de clube. Obviamente que não sei a explicação para este fenômeno, mas minha observação me leva a crer que os benefícios (vitórias) e os prejuízos (derrotas) são repartidos de maneira idêntica entre todos. Esta igualdade, utópica em outras situações, não leva à competição entre os membros, fazendo com que se aliem frente a "inimigos" comuns.

Vou me permitir abrir um parêntese, para fazer um comentário sobre educação e capital humano. Na última vez que fui a um estádio de futebol, fiquei estarrecido com as cenas que vi, como por exemplo:

- As ruas sendo usadas como latas de lixo e banheiro.

- Assaltos.

- Na hora da execução do Hino Nacional Brasileiro:

- Muitas pessoas não ficaram de pé;

- Muitos continuaram falando no celular;

- Muitos fumando;

- Poucos cantando o hino;

- Pais e filhos brincando.

- Na hora da execução do hino do seu time:

- Quase todos se levantam e cantam.

- Na hora de ofender o juiz ou a torcida adversária:

- Quase todos se levantam e xingam.

O que mais me chamou a atenção é que eu estava no setor mais caro do estádio. É vergonhosa a geração de brasileiros que está sendo criada, alimentada pelos constantes escândalos que vemos todos os dias.

Acho que estas cenas explicam o que estamos vendo em nosso país, que, inegavelmente, vive uma crise moral, com a corrupção sendo premiada nas urnas, pelo povo. Não quero perder a esperança, mas precisaremos de algumas gerações para termos um país decente, se investirmos imediatamente em educação.

Para aqueles que se perguntam o que isto tem a ver como nosso tema a resposta é simples. Em nossa sociedade não estamos cultivando o respeito, a vida em sociedade e estamos incentivando o individualismo e a busca de vantagens acima de tudo, comportamentos que não se coadunam com nossa crença no cooperativismo e o conceito de fidelidade, não no sentido individual, mas sim no sentido coletivo, pelo qual, juntos somos mais fortes.

Para quem não conhece, recomendo ler e acompanhar um jornalista que é colunista na Folha de São Paulo, chamado Gilberto Dimenstein, que escreve freqüentemente sobre o tema capital humano. - https://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/

De resto, acredito que infidelidade é da natureza humana. A busca pelo novo, desconhecido, a esperança de buscar algo melhor, a lógica da economia de mercado enfim, existem diversos motivos psicológicos, sociológicos, econômicos que explicam esta situação.

Assim, é simples concluir que o que leva um cooperado a ser "infiel" é a busca de benefícios, individuais, seja pela possibilidade de vender seu produto a um maior preço ou comprar insumo por um custo menor, etc.

Seguindo este raciocínio o desafio, então, é criar condições para que a fidelidade seja incentivada, através de benefícios que vão ser usufruídos na escala da maior ou menor fidelidade. É este, por exemplo, o conceito dos programas de milhagem das companhias aéreas.

Na verdade, o conceito de fidelização dos clientes é o grande desafio do marketing das empresas em diversos segmentos de nossa economia e podemos citar os exemplos dos bancos, cartões de crédito, automóveis, supermercados, etc. Já está claramente definido que clientes féis são mais lucrativos e é muito mais barato fidelizar clientes do que conquistar novos.

Algumas cooperativas já vêm utilizando esta prática, com sucesso. Um bom exemplo é o de cooperativas que concedem maior volume de crédito para aqueles cooperados que depositam a maior parcela da produção. Notem que não é quantidade absoluta, mas sim relativa.

Outro excelente meio de fidelização é a distribuição das sobras que, naturalmente já são rateadas de acordo com o volume. Aqui não se trata da distribuição das sobras sob a forma de aumento de capital, mas sim a distribuição em dinheiro.

Devemos, também, propor formas de atendimento diferenciado, de acordo com o grau de fidelidade como, por exemplo, na assistência técnica. Devemos atender aos cooperados de acordo com sua demanda, muitas vezes personalizando produtos e serviços, a exemplo do que fazem os concorrentes, sociedades não cooperativas.

Ainda que a essência da cooperativa seja a coletividade, para aumentar o grau de fidelidade dos associados é preciso pensar e agir com o indivíduo.

Para finalizar quero tomar emprestada a palavra do Professor Décio Zylbersztajn, no trabalho "Quatro Estratégias Fundamentais para Cooperativas Agrícolas", escrito em 2.002 e disponível no site: https://www.ead.fea.usp.br/wpapers/.

Neste trabalho ele explica com clareza que as relações entre as cooperativas e o cooperado, são contratuais. Assim, entende-se que a "infidelidade" é uma forma de quebra do contrato. Reproduzo, a seguir, na íntegra, o texto sobre o tema fidelidade.

"O termo fidelidade vem do latim fidelitate e significa lealdade ou qualidade de ser fiel. Cumprir aquilo a que se obriga representa um problema no mundo das organizações e, rapidamente, se pode observar que, mesmo secundada por motivos doutrinários, um membro de uma cooperativa pode ver-se incentivado a romper o contrato com a cooperativa. Alguns autores argumentam que o membro da cooperativa não recebe incentivos via valor da empresa, ou seja, mesmo sendo dono da cooperativa, ele prefere vender o seu produto para outra empresa se houver maior preço, indicando um horizonte de curto prazo a pautar a sua decisão. Tal situação decorre do fato explicado anteriormente, denominado por problema do horizonte.

Um cooperado terá um comportamento estável com a cooperativa, caso o mecanismo de incentivos implícito no contrato seja capaz de dar sinais de penalidade associada ao rompimento do contrato. Os argumentos a serem avaliados são:

A) O membro da cooperativa age de modo espontâneo, admitindo que a quebra contratual seja imoral e fere os princípios doutrinários aos quais ele obedece;

B) O membro da cooperativa que assinou um contrato formal vê-se sujeito às sanções judiciais, caso a cooperativa o acione pelo descumprimento do contrato;

C) O mecanismo reputacional é efetivo e ocorre, pois a cooperativa reconhece a quebra do contrato e não dará o mesmo tratamento futuro ao membro infiel à cooperativa que confere aos membros que mantém as promessas em pé;

D) A cooperativa oferece condições tão boas quanto as alternativas existentes, portanto, não vale a pena romper o contrato.

Com base na teoria dos incentivos, são consideradas frágeis as promessas de entrega que não sejam formalizadas por contratos, não sejam suportadas por relações pessoais que permitam o surgimento de reputação, e sejam apenas suportadas por mecanismos relacionais fundados em sanções implícitas sociais que não raramente existem em sociedades menores.

O que importa para as cooperativas é a percepção de que a relação com o cooperado não pode ser tomada como estável por natureza, mas deve ser fomentada e trabalhada estrategicamente, de acordo com cada situação particular.

Mecanismos formais e informais se complementam e devem ser tratados pela alta gestão da cooperativa. A participação do cooperado na rede coordenada pela cooperativa, a sua reputação junto da comunidade, os mecanismos de pagamento pelo produto adotados pela cooperativa, e a utilização de tecnologia de informação pela cooperativa para monitorar o cooperado são diferentes dimensões que devem ser consideradas ao lidar com o problema.

Digno de nota é o fato de que o problema não ocorre apenas com cooperativas, já que é típico de qualquer empresa que tenha feito investimentos específicos e depende do suprimento espontâneo de um conjunto de agentes que tomam decisões individualmente.

Quando cooperativas de leite discutem o pagamento por qualidade, ou quando cooperativas de grãos discutem o pagamento diferenciado por escala, estão, na verdade, tratando do conceito de gerenciamento da relação contratual com o supridor.

O tema é muito importante para ser negligenciado ou, ainda, para ser tratado como inexistente no universo das cooperativas onde o perfil doutrinário é tido como suficiente para garantir o relacionamento fiel. Tal tratamento pode levar a conseqüências graves para as cooperativas."

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CLÁUDIO JOSÉ DA FONSECA BORGES

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 21/09/2006

Na Região de Alpinópolis, onde produzo café as raízes da infedelidade com a Cooperativa - Cooxupé tem origem no seguinte:

- A Cooxupé virou banco e cobra do produtor juros de mercado praticados por qualquer outro banco no qual eu tenho conta e mentenho reciprocidades;

- Enviamos bica corrida para a Cooxupé e lá o nosso café é processado, escolhido, penerado , gerando lotes de melhor qualidade cujos lucros não são repassados para o cooperado.

Conclusão 1: Quem não está sendo fiel aos seus princípios é a Cooxupé , e não os produtores que acreditaram que a cooperativa seria um porto seguro para eles.

Atentem para o fenômeno atual no qual os produtores de café estão se associando em pequenas associações que os represente melhor, que lhes dê maior poder de barganha na compra de insumos e venda do seu produto.

Conclusão 2 : Ou as cooperativas repartem seu lucro com o cooperado ou esse modelo está fadado ao fracasso no curto prazo.

Conclusão 3 : Cooperado unido forma uma associação para obter melhores condições da sua cooperativa.


<i>Prezado Cláudio,</i>

Obrigado por sua participação e colaboração em nosso site. Quanto às suas observações, são muito oportunas e demonstram que você não está satisfeito com sua cooperativa que, em sua opinião, gera lucros nas operações que realiza com os cooperados, sem distribuir, diretamente, estes lucros.

Sem querer entrar em detalhes, já que não dispomos do tempo e condições necessárias, uma cooperativa pode distribuir lucros diretamente, em dinheiro, ou indiretamente em serviços e outros benefícios. Observe que uso a palavra lucro e não sobras como é correto no caso das cooperativas, porque se tratam, efetivamente, de lucros.

Outra observação sua, que merece atenção, diz respeito ao fato de que a cooperativa tem que ser um porto seguro para os seus cooperados. É muito oportuna esta observação já que segurança e confiança são pontos básicos na relação da cooperativa com seus associados.

Finalmente, acredito que muito tem que evoluir na relação da cooperativa com os cooperados para que este modelo, o cooperativismo, sobreviva, a exemplo do que já vem ocorrendo em todo o mundo. Permita-me, apenas, uma observação final. Procure a sua cooperativa, mostre a sua insatisfação e tente mudar o modelo, de dentro para fora. Acho que é um bom caminho.

Atenciosamente,

Orlando Carlos Editore




JAERDIL OLIVEIRA DUTRA

MANTENA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 20/09/2006

Oportuníssimo o artigo, que define com clareza o que ocorre no relacionamento de cooperados com suas cooperativas.

Concordo, também, com as ações gestionais sugeridas para minimizar o problema.

Importantíssima a opinião sobre a situação sócio-cultural atual, fator que deveria remeter os eleitores para uma análise mais apurada e realista, na hora de escolher nossos dirigentes.

Estes, por sua vez, deveriam cumprir a indeclinável missão de trabalhar para educar as futuras gerações.

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