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A vantagem competitiva dos cafés robustas

LUCIO CALDEIRA

EM 08/04/2013

4 MIN DE LEITURA

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 A estratégia pode ser entendida como a busca por uma vantagem competitiva. Por sua vez, a vantagem competitiva visa proporcionar às empresas e produtos um ganho em termos de participação de mercado. E isso de forma sustentável ou seja, rentável. No caso do mercado de café verde ou em grão, uma análise sobre vantagens competitivas pode ser feita por meio da evolução nas participações de mercado das exportações globais. Isso porque na maioria dos casos, os consumos locais ou domésticos são feitos com grãos produzidos internamente pelos países produtores.

Desse modo, as exportações totais para os países importadores de café verde surge como o modo ideal para se avaliar a vantagem competitiva de um país ou grupo de café. Nesse artigo, minha preocupação é analisar a competitividade dos países produtores de cafés do tipo robusta. Os robustas pertencem a uma outra espécie de café. Trata-se de um produto mais rústico que os cafés da espécie arábica. Os robustas suportam temperaturas mais elevadas e são mais resistentes a pragas e doenças. Seus principais representantes globais são Costa do Marfim, Burundi e Uganda, na África e Vietna, Indonésia e Índia, na Ásia. Juntos, esses países exportam mais de 90 % do total importado pelos países importadores de café.

Para termos uma ideia do poderio dos cafés robustas, estima-se que, na década de 30, a produção de cafés robustas girava em torno de 3 milhões de sacas e seu crescimento foi espetacular, atingindo mais de 53 milhões de sacas atualmente.

Principalmente nas décadas de 50 e 60, os robustas cresceram em decorrência do aumento do consumo dos cafés solúveis, que ofereciam maior praticidade de preparo. O crescimento da participação do café solúvel no consumo mundial foi, num primeiro momento, uma conseqüência natural do processo de urbanização das populações, que passaram a demandar alimentos preparados e semi-preparados e, nesse cenário, o robusta surgiu como a matéria prima ideal para esse tipo de café (solúvel), visto que apresenta mais sólidos solúveis que o café da espécie arábica, uma característica desejável na fabricação do tipo solúvel.

Portanto, o grande crescimento do consumo de café solúvel trouxe consigo o crescimento da produção e exportação de cafés do tipo robusta. Por outro lado, aos poucos, os torradores internacionais começaram a aumentar o percentual de robustas nos blends (misturas) oferecidos ao público. Isso gerava economia de custos (o robusta possui preços bem inferiores ao arábica) e, por conseqüência, possibilita aumento de margens para os torrefadores internacionais. Desse modo, o blend surgia como o grande trunfo do grande torrefador internacional e isso só foi possível graças ao café robusta, cuja competição se dá exclusivamente via preço, que por sua vez é sustentada em função da vantagem em custos que os robustas sustentam em relação aos arábicas.

Tal situação se agravou a partir da década de 90, em função do desenvolvimento de um tecnologia conhecida como vaporização. Criada inicialmente com o objetivo de fabricar o café descafeinado, a vaporização passou a ser utilizada em grãos robustas, reduzindo sua aspereza, o que proporcionou uma maior flexibilização de seu uso nos blends. O resultado foi um aumento da participação de robustas nos blends de torrefadores do mundo todo, gerando redução de custos e novo aumento de margens.

Uma análise por meio de médias móveis de quatro anos mostra que no período que engloba os anos de 1997 a 2000 a participação dos robustas era de 30,75% do total exportado por todos os países produtores de café. Nos últimos quatro anos, período que compreende os anos 2009 a 2012, essa participação passou para 37,38%. Ou seja, houve um crescimento de cerca de 7 % de participação, o que demonstra a importância relativa desse grupo de café para os torrefadores internacionais.

No período de 1997 a 2000, os robustas eram cerca de 46 centavos de dólar por libra peso mais baratos em relação aos cafés arábicas do Brasil. Essa diferença cresceu para 81,55 centavos de dólar por libra peso (mais barato) em relação aos arábicas brasileiros para o período entre 2009 e 2012. Isso significa que o ganho percentual dos robustas no mercado internacional se deu em função de praticarem preços cada vez menores em relação aos arábicas do Brasil.

Concluindo, os robustas fizeram uso da estratégia conhecida como liderança no custo total. Cresceram sua participação de mercado oferecendo um produto inferior com preços relativos mais atraentes. Isso só foi possível em função do artifício dos blends e de sua maior flexibilização por parte do grande torrefador internacional.

Por tudo isso, conclui-se que o sucesso dos robustas está atrelado a uma “aliança” informal entre produtores de robustas e torrefadores internacionais Nos últimos doze anos, as exportações mundiais cresceram em 12.760.000 sacas de café. As exportações de robustas cresceram 6.644.000, contribuindo com 52,03 % desse crescimento.

Com base em tudo isso, lembro a todos de meu livro A Guerra do Café e da sugestão de uma dentre cinco diretrizes estratégicas que tinha como proposta uma estratégia de combate aos robustas e aos blends.

Pergunto. Há alguma dúvida de que os produtores de cafés arábicas do Brasil precisam combater os robustas?

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BENTO VENTURIM

SÃO GABRIEL DA PALHA - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 01/05/2013

É uma pena que nós, produtores rurais, ao invés de nos unirmos, temos que ler o autor do artigo acima : "Pergunto. Há alguma dúvida de que os produtores de cafés arábicas do Brasil precisam combater os robustas?"
Temos que combater ninguém e principalmente entre nós. Vamos ser inteligentes e aproveitar nossa diversidade e fazer cafés com misturas gostosas e ganhar dinheiro... parar de entregar café verde para alemães e italianos ganharem dinheiro com o nosso trabalho. Enquanto se tenta "combater os ROBUSTAS", GASTAMOS ENERGIA E NÃO GANHAMOS MERCADO.
RENATO H. FERNANDES

TEIXEIRA DE FREITAS - BAHIA - COMÉRCIO DE CAFÉ (B2B)

EM 15/04/2013

Prezado Lúcio,

Me permita discordar do seu ponto de vista.

Acredito que muito mais que uma aliança informal entre produtores de robusta e torrefadores internacionais, o que motiva o aumento da participação do robusta no mercado internacional é a confluência de interesses entre os produtores, os industriais e, principalmente, os seus consumidores que, numa conjuntura de restrição financeira, estão conseguindo comprar por preços mais acessíveis um produto que não lhes é tão diferente - isto graças à grande evolução nos conhecimentos de blendagem.

Por outro lado, sugiro a todos produtores que estão em situação difícil na presente conjuntura, verificar quais são os fatores determinantes da competitividade daqueles que estão ganhando dinheiro com a produção de café, seja robusta, seja arábica, mesmo com presente situação dos preços. Eles não são tantos em número, mas são responsáveis por parcelas cada vez maiores da produção brasileira de café. E boa parte deles são produtores de arábica.

Saudações,


Renato
LUIZ ALBERTO AZEVEDO LEVY

SANTOS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 15/04/2013

Estou tentando obter o livro "A Guerra do Café", mas não estou tendo sucesso. Tentei nos números informados acima. Como posso obtê-lo?
ARTUR QUEIROZ DE SOUSA

CAMBUQUIRA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 10/04/2013

Parabens pelo artigo. Conhece e debate com conhecimento de causa.
ALBINO JOÃO ROCCHETTI

FRANCA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 09/04/2013

Excelente artigo!
O autor comenta o assunto com muita propriedade, visto ser grande conhecedor e analista
do mercado de café, como o fez em seu livro, citado no artigo.
Estamos assistindo este avanço do robusta e apenas fazemos o papel de expectadores assustados, enquanto a cadeia produtiva do robusta está se mobilizando, unindo produtores produtores, comerciantes e autoridades ( especialmente no Espírito Santo), e nós, produtores de arábica ficamos a ver "a banda passar". Quiçá se pelo menos 5% dos produtores de arábica lessem o livro GUERRA DO CAFÉ, e ,a partir daí iniciássemos um movimento de divulgação das qualidades do nosso produto, como sugere o Sr. Lúcio Caldeira em seu livro.
HARALD FRANZ DILLBERGER

SANTOS - SÃO PAULO

EM 08/04/2013

Muito bom artigo !

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