Durante a feira, além de palestras sobre irrigação, não podiam faltar informações sobre o mercado de café, que auxiliam nas tomadas de decisões dos envolvidos na atividade. Para falar sobre "Cotações: dinâmica da flutuação e tendências de sustentabilidade", esteve presente como palestrante Celso Luis Rodrigues Vegro, engenheiro agrônomo e pesquisador do IEA - Instituto de Economia Agrícola.
De acordo com Celso Vegro, para começar falar de mercado, os entendimentos devem ser homogeinizados. Por isso, resolveu apontar algumas definições sobre o assunto da palestra.
Como todos sabem, o mercado cafeeiro está passando por um periodo de alta. Mas alta de cotações ou preços? Na realidade, qual a diferença de preços e cotações? Cotações se referem à pepéis, à valores determinados pelos fundamentos de oferta e demanda, que são transacionadas em Bolsa de valores. "Cotações não são preços, elas sinalizam os preços, são um referencial", afirma. O preço é o valor que se negocia determinado produto.
Partindo para definição de sustentabilidade, trata-se da utilização de recursso naturais para satisfação e necessidades do presente, não podendo comprometer as necessidades futuras, e se sustentando em ações ecologicamente corretas, economicamente viáveis, socialmente justas e culturalmente aceitas.
Mas os termos acima são apenas conceitos Tanto cotações como sustentabilidade são conceitos relativos e não absolutos. Veja só, quando se diz que o café subiu na bolsa, segue a pergunta: Subiu em relação a que? São termos relativos.
Os dois conceitos são intrinsecamente instáveis e de naturezas de instabilidades distintas. Isso porque o que faz flutuar a cotação do café é diferente do que faz flutuar a sustentabilidade. Por isso, segundo Vegro, há certa dificuldade em trabalhar com dois temas relativos e a partir daí traçar cenários.
De acordo com Vegro, ao se tratar de sustentabilidade e cotação deve-se pensar em segurança militar, segurança energética, segurança financeira e segurança alimentar, da seguinte forma:
Militar: esse ponto tem sido complocador para a sustentabilidade, uma vez que o mundo está conflagrado, com uma generalização de guerras entre os países bélicos.
Energética: Há atualmente um incerteza nuclear, com consequente aumento da dependência por petróleo. Com o terremoto no Japão, surge novo problema na questão energética, aumentando ainda mais a demanda por petróleo. "Sem segurança energética, as cotações se tornam mais instáveis", afirma Vegro.
Financeira: Após a crise de 2008, muitos países ficaram com alto endividamento público devido à medidas tomadas para socorrer a economia. Então, agora que a situação melhorou, é hora de pagar as contas.
Outra questão financeira é a guerra cambial, com EUA desvalorizando o dólar e China desvalorizando sua moeda. Enquanto isso, o Real brasileiro se valoriza, resultando no aumento da inflação global. Com aumento da liquidez dos EUA para impulsionar sua economia, há fuga de investidores interessados em dólar, passando esses a investirem em commodities.
Alimentar: A maioria das commodities estão com estoques minguados. Além do choque de demanda, em que há demanda e não há oferta, as mudanças climáticas causaram frustrações de algumas safras,como a da cana-de-açúcar no Brasil.
Dessa forma, Celso analisa que o Brasil passa por sinais de apreensão, porém o setor do agronegócio tem contribuido para o saldo positivo da balança comercial.
Mas os pontos a serem analisados para se traçar tendências e cenários no mercado cafeeiro não param terminam aqui. Há ainda os fatores conjunturais, como os estoques a níveis baixíssimos e aumento crescente do consumo.
Todos já sabem que os principais países passaram por frustações de safras, que o mercado está mais especulativo, que a demanda está aquecida enquanto a oferta está restrita. Nesse cenário, muitos veem o especulador como vilão, mas Celso deixa claro a importância do papel desse profissional.
Segundo ele, o especulador que faz você conseguir transformar seu café em dinehiro. Sem os especuladores o mercado não teria liquidez, fator fundamental para movimento do mercado e formação de preços.
Bom, falou-se em segurança e fatores conjunturais, porém Celso Vegro acredita que o que realmente é importante são os fatores estruturais.
Em sua análise teremos mais volatilidade por causa da insegurança mundial. Na parte estrutural, há mais concentração de oferta entre quatro países: Brasil, Vietnã, Indonésia e uma xícara de chá para Colômbia, que segundo Vegro já está bastante defasado em produção frente aos três demais.
"Ou o comprador liga para esses quatro países, ou fica sem café pois não se acha mais café em qualquer lugar", diz ele.
Outro fator estrutural é o mercado de doses, que tem grande potencial de crescimento. "Os torrefadores que mais crescem no mercado de dose valorizam principalmetne a qualidade do produto, do café, enquanto a indústria que trabalha com café de combate vai desaparecer ou então ser comprada pelas demais."
Analisando todos esses fatores, Celso acredita que o cenário de cotação capaz de remunerar bem os produtores é de longo prazo.
Tratando-se dos fatores conjunturais para o Brasil, 2011 é um ano de ciclo baixo; e o país está aumentando o uso de tecnologias sendo capaz de reduzir a bienalidade com o decorrer dos anos e aumentar a produtividade das lavouras cafeeiras. Além disso, a relação de troca com fertlizantes melhorou e o custo de terra aumentou, sendo este último um fator que limita a expansão de áreas para cultivo de café.
"Atualmente o mundo está se recuperando do aumento de preços das commodities, com a cotação do dólar em baixa e commodities em patamares satisfatórios." Para 2011/12 e 2012/13, Vegro sugere que o cafeicultor feche contrato futuro e transfera seu risco.
"A primeira coisa a se fazer é o saneamento de dívidas. É palavra de ordem!", exclama Vegro.
Reamente este é atual situação, em que muitos produtores aproveitaram as disparada das cotações para quitarem suas dívidas, para depois de então começarem com novos investimentos.
Outra tendência exposta por Vegro é que deverá haver inversão do dólar e o real deve se desvalorizar.
O suprimento do mercado cafeeiro ainda está sob estresse. Enquanto isso, Celso acredita que os investimentos para aumento de produtividade e melhoria da qualidade estão sendo acelerados, ficando o país com uma cafeicultura mais competitiva em relação a qualidade e preço.
Por fim, Vegro coloca um questão problema: As commodities tem ciclos econômicos. O período de baixa das cotações virão?
E logo responde otimista, por optar por fundamentos estruturais: "Não. Não porque a demanda por cafés brasileiros empurra a cotação para cima", finaliza.