"A Ficafé é um trabalho de marketing que os brasileiros têm que aprender a fazer. O café brasileiro é o único que oferece diversidade e qualidade em escala", afirmou Leite, que defendeu o associativismo como fator fundamental para viabilizar a produção sustentável de café no Norte Pioneiro. "O produtor não pode mais trabalhar sozinho. O Cerrado é um exemplo de sucesso por que está desenvolvendo o cooperativismo. Aqui na região, o preço médio de compra de insumos caiu 20% com a central de negócios implantada pela Acenpp. Se for possível agregar valor à produção de nossos associados e comercializar o café com ágio de 10 a 15%, será daí que virá o lucro do cafeicultor", admite.
Durante a abertura das atividades da Feira Luiz Flávio Andrade, representante do 4C no Brasil, anunciou que o café do Norte Pioneiro foi o primeiro do Paraná a receber a verificação 4C, que segundo ele, "é o primeiro passo rumo a uma produção mais sustentável da cafeicultura".
De acordo com Odemir Capello, consultor do Sebrae/PR, a Ficafé veio para mostrar a cara da Acenpp e gerar oportunidades de negócios. "A Ficafé é resultado de um trabalho voltado para despertar a região para a qualidade dos produtos. Mostrar tanto para o produtor que ele pode produzir um café de qualidade, que isso só traz vantagens a ele e à região, como também para os compradores e exportadores que aqui se produz um café de excelente qualidade. Segundo Capello, o Paraná ainda guarda uma imagem de que produz café de pouca qualidade, e a Ficafé ajuda a reverter esta imagem.
Como tudo começou
Inicialmente o Sebrae desenvolveu um trabalho estratégico, de levantamento do potencial da região, através de estudos da infra-estrutura que já havia instalada, de técnicos e laboratórios disponíveis, e identificaram uma situação bastante favorável. Entretanto, os produtores estavam insatisfeitos com os preços do café e bastante desmotivados. "O produtor estava desanimado, e no meio das reclamações não conseguia ver oportunidades", conta Capello. Foi quando surgiu por iniciativa do Sebrae a organização de uma diretoria para cuidar dos interesses dos cafeicultores, o que trouxe novas motivações.
"Fizemos um planejamento para 5 anos em que o foco era geração de renda para o produtor. Foi traçado um plano de trabalho participativo para produzir e comercializar cafés de qualidade. Hoje mais de 100 propriedades têm licença para negociar. Também protocolamos em março deste ano o pedido de reconhecimento do selo de origem, que deve sair até março do ano que vem. Outro objetivo do nosso trabalho é fazer a caracterização da bebida: estamos no terceiro ano de levantamento científico dessas característica, com o suporte técnico do IAPAR, comprovando os resultados através de especialistas na área", explica.
O Sebrae está empenhado em trazer novos compradores para os produtos da região. "A Feira serve muito bem para essa finalidade", comenta Capello. Além disso, projetos paralelos reforçam a iniciativa, como o "agente local de inovação", em que uma equipe de engenheiros agrônomos leva tecnologia para os pequenos produtores ou o trabalho de marketing da marca territorial, focado em 45 municípios do Norte Pioneiro, que juntos, representam 60% de todos os produtores de café do Paraná.
Segundo Odemir Capello, o projeto é essencialmente focado no marketing, pois trata-se de divulgar a marca dos cafés produzidos na região e mostrar sua qualidade aos compradores e demais elos da cadeia produtiva, o que vem acontecendo hoje em dia, com o auxílio da Ficafé. Mas outro tipo de marketing, considerado "interno" também foi fundamental para o bom andamento do programa, pois foi necessário incentivar e mostrar aos próprios produtores que a qualidade era viável e traria bons resultados. "O resultado foi um sucesso. Hoje fazemos reuniões quinzenais com nossos parceiros, e as decisões são participativas. A participação dos produtores foi fundamental, o que mostra que a mobilização interna deu resultado", afirma Capello.
São parceiros do Sebrae o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Emater, Banco do Brasil, Acenpp, Iapar, Faep/Senar, Seap e Amunorpi (Associação dos municípios do Norte Pioneiro).
Números
Segundo Luis Leite, da Acenpp, houve um aumento de 40% no número de visitantes da Feira neste ano, contabilizando 3,5 mil pessoas, de mais de 30 municípios do Paraná e São Paulo, tendo triplicado o número de patrocinadores. "Sentimos-nos satisfeitos, com sensação de dever cumprido".
O preço médio das sacas de cafés especiais negociadas nas rodadas de negócio da Ficafé 2009 foi R$ 661,00. A Empório Café da Casa deu o lance mais alto por um lote de cafés especiais, no valor de R$ 748. A proprietária do Lucca Cafés Especiais, Georgia Franco de Souza, adquiriu oito lotes de cafés especiais ao custo de R$ 650 a saca. O café especial do produtor Wagner Coelho, de Nova Fátima, obteve a mais alta pontuação no concurso de melhor café especial da Ficafé. A Acenpp fechou um contrato com a Eisa para venda de 1.080 sacas de café tipo cereja descascado peneira 14-16 que serão entregues em outubro do ano que vem pelo valor de R$ 320/sc.
Opiniões sobre a Feira
A Ficafé despertou o interesse de Roque Fedel e Paulo Barbosa, produtores de café e frutas do município de Vera Cruz, em São Paulo. Para eles, um evento específico sobre a cultura do café e sob a promoção do Sebrae/PR é muito importante pois dá credibilidade e promove o desenvolvimento do segmento. "Já participamos de muitas outras feiras, mas não tínhamos visto nada deste porte, organização, diversidade de informações e de presença de elos da cadeia do café. Para nós, o associativismo, o investimento em tecnologia de gestão e produção é a única maneira de avançar e ser competitivo e enfrentar a concorrência e temos exemplos de tudo isso aqui", avaliaram os produtores.
Carlos Oliveira, da Ekao Química, empresa especializada em adubos, vê na Ficafé uma oportunidade imperdível de relacionamento com o mercado. "Esta Feira é uma presença obrigatória e oportunidade única para empresas que tenham como clientes produtores de café. Durante o evento surgiram excelentes negócios. É uma ótima ocasião de mostrar empresas, serviços, produtos e equipamentos. Estou muito satisfeito e desejo participar da próxima edição", comentou Carlos Oliveira.
Empresas participam da Ficafé expondo serviços e produtos voltados ao pequeno produtor
Classificadores e degustadores provam cafés especiais do Norte Pioneiro durante a Ficafé
Lote de cafés especiais que se destacaram durante a Rodada de Negócios da Ficafé: o lance mais alto foi de R$ 748,00/sc
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Equipe CaféPoint