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Não se vendem morangos mofados

POR ENSEI NETO

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 24/11/2009

8 MIN DE LEITURA

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O ato de fazer compras se tornou quase um ritual nos tempos de hoje, quando, da parte dos vendedores, são estabelecidas bases para comunicação com os consumidores sobre os seus produtos, suas vantagens, benefícios e outras informações que possam ser agregadas. Criar uma expectativa positiva sobre o produto é fundamental, pois consumidor convencido é venda praticamente concretizada.

Dessa forma, comunicar corretamente as informações inerentes ao produto ou serviço tem papel de grande importância na tomada de decisão do comprador, até porque com o desenvolvimento do mercado em geral, a concorrência é acirrada, as estratégias de comunicação estão cada vez mais criativas e o consumidor, por outro lado, mais informado.

Assim, comparar torna-se um procedimento chave neste universo.

Do lado do consumidor, com uma maior quantidade de informações acessíveis graças aos meios de comunicação cada vez mais abrangentes, o seu poder de decisão aumentou, sem sombra de dúvida. Mas, ainda paira um certo desconsolo diante do número sempre crescente de informações. Por exemplo, constatou-se que o colesterol faz mal à saúde, então grande parte das embalagens de alimentos passou a ostentar uma chamada "SEM COLESTEROL", inclusive as de origem vegetal, que, mais tarde passou, para estes casos, a ter a redação "SEM COLESTEROL POR SER DE ORIGEM VEGETAL".

Portanto, informações boas são aquelas completas e, principalmente, esclarecedoras. Ou seja, até nas informações a qualidade é imprescindível.

Daí, fica claro porque o conhecimento se reveste de uma sofisticada aura celestial: informação existe aos borbotões, de todas as qualidades, mas que podem se constituir simplesmente num amontoado de números e letras sem sentido. Porém na medida que esta informação passa a ser empregada para gerar novas idéias ou conceitos, dentro de um processo analítico que disseca e interpreta esses dados, tem-se o que se denomina Conhecimento. E conhecimento sempre tem muito valor!

Porém, para que o processo de análise e interpretação das informações seja usual, é necessário educação e treinamento em modelo que privilegie continuidade e aperfeiçoamento constante, numa espiral virtuosa, que aliados a talentos individuais, podem criar maravilhas.

A evolução da raça humana, em todos os setores, mostra claramente isso. Dominar o uso da pedra lascada e do fogo foram determinantes para que os humanos passassem a ter maiores chances de sobrevivência e de vitórias nas pequenas batalhas do dia a dia, seja na busca de alimentos, seja para se protegerem dos predadores. O fogo trouxe também conforto e maior domínio para o preparo e conservação dos alimentos.

O desenvolvimento que se observa, por exemplo, na indústria de alimentos ao longo dos anos é tão impressionante quanto o processo de globalização do mundo e dos negócios. O Açaí, coqueiro primo-irmão do venerado e legalmente protegido Jussara, ganhou com a sua polpa de fruta tipicamente brasileira muito destaque em diversos países pelas suas qualidades nutritivas, cujo público inicial era formado por atletas e praticantes de esportes como o surf, tornando-se sinônimo de alimento saudável. A propagação da sempre boa tigela de açaí, no princípio, ocorreu num modelo que é denominado de "viral", pois se espalhou "boca a boca" entre os praticantes e adeptos do surf, até se tornar algo inevitavelmente mais profissionalizado. Ou seja, o fato de que as pessoas que experimentavam e gostavam do açaí tinham informações positivas, muitas com respaldo científico, rapidamente transformou esse creme púrpura num sucesso.

O que vem acontecendo no mercado consumidor de café tem sido surpreendente.

O consistente crescimento de consumo de café se observa mais nos países emergentes, nos quais se encontram os produtores desse precioso grão, do que nos tradicionalmente importadores, muitos ainda sob efeito do vendaval econômico que começou a afetar o mundo em 2008. E aqui observamos alguns aspectos que são comuns a todos os países produtores de café.

À exceção do Brasil, que caminha decididamente para alcançar o posto de maior mercado consumidor mundial de café, o consumo nos países produtores é pífio. Boa parte dos países produtores são considerados pobres, com uma renda per capita relativamente baixa, e altamente dependentes da agricultura na formação do PIB - Produto Interno Bruto. Também, sendo importante produto de pauta de exportações e, logo, para geração de divisas para o pais, é natural que cafés de melhor qualidade formem a maioria dos exportados. Muitos dos países que compram café impõem padrões elevados para os grãos a serem importados, procedimento normal de qualquer comprador.

Quando você vai ao supermercado ou a uma feira livre, ao procurar por frutas certamente é feita uma rápida análise que abrange pontos como "o que está disponível", "o que se pretende comprar" (Que vontade de comer morangos...!), "a qualidade" e "os preços". Em geral, sabemos comprar frutas, não?

Ninguém compra morangos mofados porque se sabe que esta é uma indicação de que estão estragados. Afinal, todos gostam de verificar o estado e qualidade do que estão levando como forma de valorizar o dinheiro investido.

Estabelecimentos idôneos e ciosos de seus clientes, retiram produtos cuja data de validade esteja vencida ou quando verificam que existe algum problema nos padrões de qualidade. Nesses locais, certamente, não se vendem morangos mofados porque existe um compromisso de responsabilidade às normas de qualidade e de respeito ao consumidor. Até porque produtos ruins em geral são recusados por quem compra.

Mas, por muito tempo, ficou a percepção para o consumidor de que ficava em seu país apenas os cafés de baixa qualidade, simples restos dos cafés exportados. Este sentimento ainda é forte em diversos países produtores, inclusive no Brasil, mas que pode e deve ser modificado. Em nosso país, a mudança já é perceptível.

A estabilidade econômica tem papel importante neste processo, mas deve ser levado em conta que diversos programas educativos vem sendo levados aos mais diversos locais por iniciativa da indústria, de produtores e do varejo, juntamente com suas entidades. Estas atividades promovem maior informação e conhecimento ao consumidor. A oferta de cafés torrados de alta qualidade é uma realidade no Brasil, mesmo que ainda restrita às grandes cidades.

Concursos de qualidade de café são promovidos em praticamente todas as regiões produtoras de Cafés do Brasil, que se seguem aos de nível estadual e, finalmente, nacional. Campeonatos de baristas também vem acontecendo de maneira mais sistemática e diversos eventos coordenados envolvendo indústria, produtores e pontos de serviço se consolidaram.

Deve ficar claro, porém, que este é um processo gradual, assim como ninguém inicia um curso superior sem passar pelo ensino fundamental e secundário. Educação é transformação.

É certo, também, que muitas pessoas continuarão a ter o seu tradicional cafezinho como serviço preferido, mesmo depois de experimentar espressos maravilhosos e cappuccinos. Quem adora ovo frito com gema dura não troca por outro de gema mole...

Entra, neste caso, um componente cultural, cuja resistência às mudanças é razoavelmente proporcional à idade.

Os jovens são mais abertos às experiências, até porque faz parte da inquietude e agitação que permeia esta fase da vida. Por isso, apresentar cafés de diferentes formas de preparo, de diferentes origens, todos com excelente ou, no mínimo, uma qualidade honesta, cativará esse novo público.

Educação e treinamento. Cursos e workshops. Degustações e experiências. Informação para todos, mas muito mais direcionado aos jovens.


Foto 1. Barista Yara Castanho, Campeã Brasileira 2009, no TNT Outubro 2009. Ensei Neto

Ao compreenderem que beber café é uma experiência sensorial sempre, assim como aconteceu com os vinhos, as pessoas passam a tentar descobrir cada nota de aroma e sabor presente em cada xícara. É, antes de tudo, um exercício muito divertido!

Para isso, é muito importante educar para que se crie consciência de que beber café é algo vinculado ao prazer, como um pequeno presente diário para nós mesmos. E com a clara informação de que o que importa é que se encontre um sabor agradável sempre. O sabor naturalmente adocicado do café é a referência para a qualidade da bebida, enquanto que o sabor amargo é um indicativo de problemas.

Não importa a origem ou natureza dos grãos, desde que sejam de boa qualidade.

Dizer que grãos de robusta contem mais cafeína é fato, porém, dependendo do tipo de serviço, mesmo utilizando apenas grãos de arábica pode-se ter uma bebida com mais cafeína, pois o resultado na xícara é a soma de todas as ações que aplicamos no grão de café desde quando ainda no cafeeiro.

Vale lembrar que "preparar um café, sob o ponto de vista técnico, nada mais é do que extrair cafeína dos grãozinhos torrados e moídos".

O grande vilão da estória não é a espécie, seja robusta ou arábica, ou variedade empregada, um desejado Bourbon ou um tradicional Catuaí Vermelho 99, mas sim a qualidade dos grãos empregados ou, pior ainda, dos que não são grãos de café.

O maior inimigo do arábica são grãos ruins de arábica. Simples, não?

Como em toda cadeia de negócios, todos são responsáveis num processo tão complexo. Por exemplo, se um produtor vende palha de café, a chamada "palha melosa", um café que apodreceu no chão, que vai gerar a bebida Rio, ou que sofre uma fermentação acética, que dá o sabor de vinagre, seria como se estivesse vendendo morangos mofados no supermercado. Ninguém gosta de comprar nada deteriorado, portanto, por senso básico de respeito, não se deve vender nada estragado. É questão ética e de bom senso. Necessário é que haja punição exemplar aos fraudadores.


Foto 2. Cafeteria Espresso Bar. Ensei Neto

Fazer chegar cafés de boa qualidade a todos os segmentos, inclusive à emergente e fabulosa Classe B/C, é questão de tempo e de planejamento de negócios. Todos estão ávidos por consumir boas coisas, sem exceção. Mas muito respeito aos consumidores!

Por outro lado, tudo que envolve a tecnologia de alimentos está em estágio muito mais avançado do que faz supor o senso comum, de forma que café em grãos torrados com mais ou menos cafeína será em breve apenas um detalhe técnico. Também não podemos esquecer que existem diversas variedades que são híbridas ou contem parte da genética do robusta, como o Obatan, que tem surpreendido pelas bebidas interessantes de grãos produzidos em diferentes origens brasileiras.

O que importa é o um conjunto sensorial agradável nas notas de aroma, sabor, corpo e finalização, por exemplo. Nada muito sofisticado, mas o suficiente para que todos que beberem honestos cafés tenham uma sensação de que a experiência valeu a pena. Afinal, todos queremos repetir boas sensações, boas experiências.

Por fim, uma última mensagem aos produtores: sirvam sempre os seus melhores lotes de cada ano em sua fazenda e em sua casa, cuidadosamente torrados, conservados e extraídos. Torne esse momento inesquecível a todos os seus visitantes.

Assim fazem as vinícolas, que reservam as melhores garrafas para uma degustação especial, bem como produtores de belíssimos queijos quando querem apresentar o que fazem de melhor.

Esta é a certeza de que mais consumidores compreenderão o que são excelentes cafés. E o mercado agradecerá.

ENSEI NETO

Especialista em Cafés Especiais.
Consultor em Qualidade e Marketing, Planejamento Estratégico e Desenvolvimento de Produtos & Novos Mercados.
Juiz Certificado SCAA e Q Grader Licenciado.

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ENSEI NETO

PATROCÍNIO - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 01/11/2010

Prezado Joaquim,
A evolução que a indústria de café no Brasil vem experimentando tem sido muito grande. É certo que ainda há muito o que ser feito, porém, em diversas localidades é possível se degustar excelentes cafés corretamente torrados, como também acontece em Belo Horizonte.
Naturalmente, ainda são poucas as casas dentro do universo do café, mas suficiente para dar a oportunidade de experimentar esses locais. No entanto, não se esqueça de que não basta uma torra bem conduzida, mas verifique se o equipamento que fará o serviço está bem regulado, bem como se quem vai lhe servir, o barista, fará corretamente. Por fim, veja se a torra não está velha, pois a oxidação também prejudica a bebida.

Deguste e depois me conte.

Grande abraço
Ensei Neto
JOAQUIM LOPES

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 26/10/2010

Se eu estiver enganado por favor me desmintam, mas a maioria ou quase a totalidade dos cafes gourmets têm uma torra muito acentuada, que nao deixa se perceber os aromas do café. O unico que tomei até o momento em que se da para perceber esses aromas é o italiano Illy.

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