A indústria brasileira de café solúvel continua a registrar números considerados modestos, mas seu faturamento cresceu expressivos 17,8% no ano passado em relação a 2012, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), que representa seis empresas. A Nestlé, que lidera o segmento, não é associada.
A receita do segmento como um todo - não apenas das empresas associadas - foi estimada em R$ 530 milhões em 2013, e a expectativa é que esse patamar seja mantido em 2014, conforme o diretor-executivo da entidade, Roberto Ferreira Paulo. O forte crescimento do ano passado, segundo a Abics, refletiu os preços mais elevados praticados no mercado, já que o consumo no país continuou estável. De acordo com a Abics, o segmento representa cerca de 5% do consumo total de café do país.
Segundo a empresa de pesquisa de mercado Mintel, o café instantâneo tem uma participação de 3,8% no mercado brasileiro e essa fatia está diminuindo. Jonny Forsyth, analista global da categoria de bebidas da Mintel, acredita que a participação poderá recuar ainda mais porque os "brasileiros estão acostumados ao café fresco (coado) e muito raramente vão voltar para o solúvel".
Segundo Ferreira Paulo, o segmento vem perdendo competitividade nos últimos anos principalmente no mercado externo, em decorrência de barreiras aplicadas por mercados compradores como a União Europeia, que impõe tarifa de importação de 9% sobre o café industrializado do Brasil enquanto outros países pagam 3,1%.
Ele lembra que as exportações brasileiras do produto estão praticamente estáveis em pouco mais de 3 milhões de sacas por ano, enquanto o mercado global da bebida instantânea cresce, em média, 2,7% ao ano. "O Brasil poderia exportar 4,5 milhões de sacas".
Em 2013, os embarques do segmento totalizaram 3,329 milhões de sacas, 3,5% menos que em 2012. A receita com os embarques caiu 2,9%, para US$ 655 milhões, conforme a Abics. No ano-safra 2013/14 (julho de 2013 a junho deste ano), as exportações somaram 3,459 milhões de sacas, queda de 6,9% sobre o ciclo anterior, segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (CeCafé).
Nesse contexto, algumas conhecidas empresas de café solúvel enfrentaram dificuldades, principalmente as de menor porte. O Valor entrou em contato com as seis empresas associadas à Abics - entre as quais companhias de grande porte, como a Cia Cacique e a Café Iguaçu -, mas nenhuma atendeu aos pedidos de entrevista. Entre as seis, a Cia Mogi paralisou suas atividades e a Café Solúvel Brasília, de Varginha (MG), demitiu todos os funcionários em fevereiro deste ano, conforme Benedito Memento, secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Alimentação de Varginha e Região.
Para Jonny Forsyth, da Mintel, a melhor forma de as marcas de café solúvel estabilizarem sua participação no mercado é inovar com melhor qualidade dos grãos, fazer versões aromatizadas e com foco nos consumidores mais jovens.
Reportagem Valor Econômico/ por Carine Ferreira