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Entrevista com Marcos Croce, proprietário da Fazenda Ambiental Fortaleza

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 19/10/2012

7 MIN DE LEITURA

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"Aquele que não conhece o seu solo não conhece a si próprio" - Jens Jensen



O 7° Espaço Café Brasil, evento realizado entre os dias 04 e 06 de outubro em São Paulo, contou com participação ativa da Fazenda Ambiental Fortaleza, situada em Mococa-SP. A FAF - como é conhecida a fazenda administrada pela família Croce - investiu em um estande na feira e honrou o público do Seminário Internacional DNA Café com a presença de seu patriarca, Sr. Marcos Croce, como palestrante convidado.

Nos último anos, a FAF vem se tornando referência no país em produção de cafés orgânicos e de alta qualidade, com forte apelo sustentável no âmbito social, ambiental e econômico. Seu modelo de produção e negócio, que abarca produtores parceiros e diversos compradores internacionais, rendem continuamente premiações e reconhecimentos do mundo cafeeiro. Atualmente, 98% de sua produção é comercializada diretamente com torrefadoras estrangeiras.

São muitos, portanto, os fatores que motivaram o CaféPoint a entrevistar Marcos Croce após o evento, permitindo assim registrar aos nossos leitores os principais caminhos trilhados pela FAF desde 2001, ano em que o Sr. Croce herdou sem pré-aviso a responsabilidade de tocar uma fazenda com mais de 6.000 sacas de cafés, 50 famílias dependentes e mais de 150 funcionários.

A entrevista contou ainda com a participação auxiliar de seus filhos Daniel e Felipe Croce, sua "principal colheita", segundo o próprio patriarca.

CaféPoint: Você relatou brevemente aos presentes no Seminário Internacional DNA Café sua trajetória diante da Fazenda Ambiental Fortaleza, retornando em lembrança ao ano de 2001, data de sua inserção legítima no mundo do café. De maneira sucinta, se possível, explique a nossos leitores quais foram os principais desafios daquele momento?

Marcos Croce: Naquele momento, ano de 2001, a situação já era crítica para a maioria dos produtores de café. O preço do café estava nos patamares mais baixos e a mão de obra já estava ficando cara e escassa.

Foi nessa época que grande parte dos fazendeiros do estado de São Paulo saíram do café e entraram na cana. O prejuízo estava se acumulando assim como a divida nos bancos.

Eu não era fazendeiro - a fazendeira é a Silvia, minha mulher - e nessa época morávamos nos EUA, precisamente em Chicago, de 1991 a 2010. A nosso favor tínhamos o cambio Dólar X Real (R$ 3,5 X US$1)........que infelizmente mudou radicalmente em 2004/2005.

Duas coisas queríamos dar aos nossos filhos: Asas e Raízes (a Fazenda Fortaleza estava já há 4 gerações na família). Mudamos a fazenda para o cultivo Orgânico por princípio e filosofia. Mas logo notamos que a agricultura Orgânica precisa de muita dedicação, conhecimento e mudança radical de orientação na agricultura. Perdemos muita produtividade.

Três anos depois, quando finalmente nos tornamos Orgânicos Certificados, notamos que os compradores não pagavam mais pelos cafés Orgânicos. O que aprendemos foi que havia um mercado para cafés de Qualidade. Alguns países como o Quênia, a Etiópia e algumas fazendas da América Central, estavam vendendo cafés por mais de 3 vezes o valor dos cafés brasileiros...



CaféPoint: Uma questão enfatizada por você durante o seminário foi a necessidade de experimentação do solo para cada tipo cultura, no caso do café na experimentação de acordo com a diversidade de seus cultivares. Este seria um método indicado para a produção do café orgânico? Você recomenda aos produtores investirem tempo em pesquisas de seus solos para este fim?

Croce: Acabamos aprendendo que, antes de fazer algo, temos que observar onde estamos, quais recursos que estão disponíveis, clima, solo, gente...Aprendemos também grandes sabedorias da Natureza com nosso vizinho João Pereira Lima Neto: temos que "Nadar Rio Abaixo" e "Achar a Casa Certa" para cada ser vivo. A natureza é sabia e muito mais forte que o ser humano, então temos que conhecer e aproveitar o que nos está disponível antes de querer mudar: máquinas mal usadas trazem erosões; árvores de 100 anos podem ser cortadas em 5 minutos e não podem ser repostas; cada ser vivo vive melhor se estiver no solo correto e apropriados para a sua existência.

Começamos a observar que árvores da mesma espécie, de mudas iguais, plantadas ao mesmo tempo, se desenvolvem diferentemente uma das outras, dependendo de onde foram plantadas. Umas estavam em "casas" mais apropriadas do que as outras! Muitas variáveis poderiam ser consideradas: o solo, a umidade, o sol, as árvores ao redor, a altitude, os animais.

Se nossa intenção era o cultivo do café Orgânico, então nada mais lógico do que buscar a "casa certa" para nossas mudas e futuras árvores. O cultivo Orgânico exige muita mão de obra e temos que buscar todas as formas de reduzir esse trabalho.

O principio básico da cultura Orgânica é a diversidade. Na busca da "casa certa" começamos a fazer experiências e plantar nossos cafés nos mais diversos locais.

Passamos a denominar aqueles talhões já existentes, originários do manejo de monocultura tradicional, expostos ao sol e mecanizáveis de Orgânico Ativo; e iniciamos uma outra forma de cultivo indo buscar a "casa certa" nas nossas matas secundárias, com diversas árvores, com solo descansado, com diversidade de raízes e folhas e material decomposto naturalmente, que denominamos de Orgânico Passivo.

Ao mesmo tempo que buscávamos a solução para nossa propriedade e decidir sobre nossos cultivares, tomamos conhecimento das sabedorias de um grande paisagista dinamarquês/americano, Jens Jensen (1860 - 1951): "Aquele que não conhece o seu solo não conhece a si próprio". Nossa alimentação básica vem do solo. O mandamento básico de cada individuo deveria ser: trabalhe o seu solo e deixe-o melhor para as próximas gerações.

Hoje temos muitos recursos disponíveis. Sugestão número 1: Analisar o solo. Sugestão número 2: Encontrar formas de melhorar sempre o solo. Trazer a riqueza da diversidade.



CaféPoint: A FAF hoje conta com 40 produtores parceiros, formando juntos o Bob-o-Link Coffee, marca de cafés verdes para exportação. Quais os conceitos que integram o café Bob-o-Link e seu diferencial para o comprador internacional?

Croce: Qualidade, Continuidade, Parceria, Virar a nau rumo a Sustentabilidade (proteção das nascentes, corredores verdes, redução de agrotóxicos nocivos, consciência da responsabilidade de deixar a propriedade melhor para as próximas gerações).

O Bob-o-Link é um pássaro migratório que habita o meio oeste da América do Norte e vem ao sudeste do Brasil anualmente . O Bob-o-Link Coffee é um mensageiro que "linka" a xícara à arvore, o consumidor ao produtor, o norte ao sul, que não tem fronteiras e ainda traz a mensagem da sustentabilidade: "deixe que os bob-o-links facam parte de nossas vidas".

As casas de café ( "home outside home") e os baristas tem um bom café, com um bom aroma, um ótimo sabor e uma boa e saudável mensagem para passar. O Bobolink Coffee esquenta o corpo, a alma, o coração, e convida a todos para que façam parte da solução.



CaféPoint: Que metodologia vocês empregam para garantir a sustentabilidade desta parceria com os demais produtores?

Croce: Proporcionamos palestras, workshops, visitas constantes aos parceiros, proposta de parcerias de continuidade com respeito e valorização do trabalho para fazer cafés de qualidade. Aproximamos os produtores dos compradores. Favorecemos e incentivamos o Direct Trade e a transparência. Neste mundo de cafés especiais a continuidade e fundamental.

Café Point: Você acredita que o cultivo de parte da lavoura reservada para o café orgânico será primordial para o sucesso do cafeicultor nos próximos anos?

Croce: A cultura Orgânica é muito difícil. Não recomendo nenhum produtor a se tornar Orgânico por motivo financeiro e muito menos transformar a lavoura de um dia para o outro. Se tornar Orgânico é quase que uma filosofia de vida. Existem dois tipos de cultivo: "Agricultura da Morte" e a "Agricultura da Vida". Na primeira, quanto mais se mata , mais se colhe. Na segunda, quanto mais vida se adiciona, mais se colhe. Qual delas você prefere para alimentar a sua família? Qual a melhor energia?

A Agricultura Orgânica é mais salutar mas muito mais difícil e contraria todas as regras da Escola Contemporânea. Ainda se dá muito pouco valor aos produtos Orgânicos e ninguém quer pagar mais por eles.

Os produtores Orgânicos já fazem a sua parte no que se refere a cuidar da terra, da água, do ar, da saúde das pessoas. Não deveriam ter que pagar por Certificações.

As Certificadoras deveriam ser ONGs sem fins lucrativos e o governo e a sociedade deveriam favorecer e incentivar as fazendas que cuidam do meio ambiente. O princípio de o fazendeiro ter que pagar para a Certificação é um total contrasenso.

Sugerimos entrar no Orgânico aos poucos, fazer algumas experiências antes. Nossa recomendação e que o produtor vise principalmente a Qualidade para buscar a sua sustentabilidade financeira, porem sempre ter em mente a sustentabilidade social e ambiental. " Fazer a coisa certa dá mais satisfação, mais orgulho e mais felicidade".



CaféPoint: Para finalizar, gostaria de abordar brevemente a questão da mão de obra, fundamental para culturas de regiões montanhosas como a da FAF. Vocês possuem alguma dica aos produtores de cafés especiais de como manter seus funcionários motivados na ´lida´?

Croce: Amor, Carinho, Participação no lucro.

Existem dois tipos de fazendas que podem se tornar sustentáveis financeiramente na cultura do café no Brasil de hoje: a fazenda fábrica, que tem escala, que é mecanizada, que depende menos da Mão de obra; e a fazenda família, que não tem empregados e vive da subsistência.

A única saída para as propriedades menores é fazer qualidade, pois nunca vão poder competir com as fazendas grandes. As regiões montanhosas são as que tem os melhores "terroirs" para café de qualidade. Os cafeicultores e seus funcionários tem que estar totalmente engajados e motivados para fazer Qualidade.

Entrevista concedida por Marcos Croce, proprietário da Fazenda Ambiental Fortaleza, a André Sanches Neto, coordenador de conteúdo do CaféPoint.

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EVERALDO MAIA VIEIRA

MACEIO - ALAGOAS

EM 31/03/2015

Marco Crocci amigo, parabéns pelo seu projeto, refrescando sua cabeça, sou o Vevel de Maceió, o Denio e Ibsem é quem dar noticias suas. Abrços e sucessos.
NICOLAU RODRIGUES

RIO DE JANEIRO - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 18/02/2014

Excelente! Parabéns!
MIRIAM MONTEIRO DE AGUIAR

SANTO ANTÔNIO DO AMPARO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 22/02/2013

Somos produtores de café organico há 18 anos:  https://www.cachoeiracoffees.com.br e compartilhamos das mesmas idéias,  flutuamos nas mesma aguas , que desejamos manter limpidas!  Sucesso e boa caminhada!  
JOSÉ ROBERTO DA ROCHA BERGAMO

LONDRINA - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 22/10/2012

Parabéns a família Croce que teve a oportunidade e a sensatez  de compreender que a monocultura não leva a nada, e que a filosofia do orgânico vai além do que se imagina de tirar adubação química por esterco jogado indiscriminadamente no solo, a profundidade do pensamento em "Aquele que não conhece o seu solo não conhece a si próprio", aprendemos com a natureza que o tempo das plantas nem sempre se encaixa com o tempo do homem, por isso o senso de observação e de perseverança andam juntos na filosofia de vida dos agricultores orgânicos e Biodinâmicos, o selo de certificação de qualidade exigido pelo mercado comum deveria ser ao inverso e fazer questão de saber o tipo de cultivo aplicado na atividade convencional para ter ciência dos tipos de agrotóxicos utilizados para se produzir um fruto convencional, e não o inverso por quem pratica as boas práticas agrícolas e que se vê obrigado a provar que faz acontecer dentro do que deveria ser o normal da atividade. Mas apesar de tudo ficamos muito agradecidos de poder contar com pessoas que tentam mostrar o outro lado das atividades agrícolas com sustentabilidade e preocupação com o social, valeu a reportagem, mais uma vez obrigado por praticarem boas praticas agrícolas e socioambientais.
ROBERTO WAGNER TRAVENÇOLO

CACOAL - RONDÔNIA

EM 22/10/2012

Maravilha de reportagem, parabéns a família Croce.

Este é um exemplo que deveria ser copiado pela maioria dos produtores brasileiros, não só da cafeicultura mas de toda cadeia produtiva.

Fantástico!!!
ESTANCIA BADA

COLATINA - ESPÍRITO SANTO - PROVA/ESPECIALISTA EM QUALIDADE DE CAFÉ

EM 22/10/2012

Onadir Bada


Sensacional  a reportagem  do Sr. Marcos Croce  e parabéns aos filhos Felipe e Daniel. Serve de exemplo para todos produtores.
HELOISA HELENA CAPUANO DE REZENDE

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS

EM 22/10/2012



ÓTIMAS COLOCAÇÕES.DEVERIA SER MAIS DIFUNDIDO PARA QUE OUTROS POSSAM SEGUIR ESTE EXEMPLO.PARABÉNS!
PETER BAUMANN

INDÚSTRIA DE CAFÉ

EM 22/10/2012

Exemplário! Parabens!
THIAGO BORBA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - TRADER

EM 19/10/2012

Que reportagem maravilhosa!!!

Parabéns à FAF pelo trabalho que desenvolve com os produtores e com o meio ambiente.

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