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Encafé 2010: como a IN16 impacta o mercado de café?

POR NATÁLIA SAMPAIO FERNANDES

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 25/11/2010

7 MIN DE LEITURA

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Mais de 600 pessoas entre industriais, baristas, produtores, exportadores e outros profissionais do café se reuniram em Natal (RN), de 12 a 16 de novembro, para discutir "o novo tempo para o café no Brasil". Esse foi o tema principal do 18º Encontro Nacional das Indústrias de Café - Encafé.

Segundo Nathan Herszkowicz, Diretor-Executivo da ABIC (Associação Brasileira das Indústrias de Café) a indústria tem vivido um grande paradoxo. "Há um grande aumento no consumo de café no Brasil, inovações em relação ao preparo do café, surgimento de novas casas de café e produtos novos de melhor qualidade e sustentáveis. Entretanto, Nathan acredita que a indústria tem sofrido com a baixa rentabilidade, impulsionada pela não valorização dos preços do café e alta nos custos de produção.

Para enfrentar tais dificuldades, o caminho em direção à baixa qualidade acaba sendo a via para algumas empresas. Aí mora um grande problema: se há quem adquire cafés de baixa qualidade, é por que há quem os produza e quem os comercialize.

A nova Instrução Normativa (IN 16) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) trata-se de uma iniciativa importante que impedirá que esse tipo de produto seja comercializado. E esse foi o principal assunto discutido durante o encontro, que marca a terceira onda da cafeicultura com a melhora da qualidade do café do dia-a-dia do consumidor.

A Instrução Normativa 16

A Instrução Normativa 16 estabelece um padrão mínimo de qualidade para café torrado e moído brasileiro. De acordo com a normativa já aprovada pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento em 24 de maio, a partir de fevereiro de 2011 o Regulamento Técnico passa a definir o padrão oficial de classificação do produto, considerando os requisitos de identidade e qualidade, a amostragem, o modo de apresentação e a marcação ou rotulagem. Sendo assim, os cafés deverão ter qualidade global mínima, igual ou superior a 4 pontos, em uma escala de zero a dez. A classificação será feita por análise sensorial de bebida.

Além disso, apenas será aceita comercialização de café com até 1% de impurezas, que correspondem a cascas, paus e matérias estranhas que não café e nível de umidade de até 5%.Se o café tiver fora desse padrão será considerado fora de tipo e proibido de ser comercializado.

Detalhes sobre a exigências da normativa foram apresentados durante palestras e debates, porém muitos participantes demonstraram desconfiança em relação às decisões e ações que serão tomadas pelo MAPA para classificação e fiscalização dos cafés torrados e moídos.

Análise sensorial e capacitação de classificadores causam preocupações

De acordo com os participantes, a questão da análise sensorial de bebida e técnico responsável pela análise é o calcanhar de aquilis da IN 16, uma vez que acredita-se que essa análise é muito subjetiva e pessoal, podendo acarretar em prejuízos injustos para os industriais.

"O que me preocupa é quem vai provar esse café", afirmou Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes. De acordo com ele, raramente acontece problemas com embarque de café brasileiro, pois qualquer produtor e industrial é capaz de fazer café nota quatro, como estabelecido na norma. A preocupação é quem serão os responsáveis por dizer se o café é nota quatro ou não. Ainda segundo Eduardo, é necessário muito tempo para se adquirir experiência com degustação.

Em relação a isso, Fábio Florêncio Fernandes, coordenador geral do Departamento de Classificação Vegetal do MAPA deixou claro que estão projetados cursos de formação e capacitação de técnicos para tal atividade, em laboratórios credenciados pelo MAPA. Segundo ele, 184 profissionais registrados no MAPA serão treinados até janeiro para que fiquem aptos a classificar café da IN 16.

Ewaldo Wachelke, do Café Casa Verde, concorda com Eduardo Carvalhaes e acha difícil calibrar 400 pessoas para exercer essa atividade de tamanha responsabilidade.

Com a entrada da IN 16 em vigor, todos os profissionais que trabalham com café atualmente, mesmo sendo classificadores, deverão fazer o curso para Classificador de café torrado e moído e torrado em grão, pois é uma nova especialidade. O pré-requisito para obter o registro como Classificador de Café torrado e moído é que os profissionais tenham registro no CONFEA - Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia - ou anuência deste órgão, conforme consta no Artº. 3º. Da IN 46, do MAPA. Esta exigência poderá ser alterada nos próximos meses, de acordo com a solicitação que a ABIC fez ao MAPA.

É importante ficar claro que mesmo que o profissional já seja classificador de café, terá que fazer o curso, lembrando que a legislação atual - IN 46/2009, do MAPA, exige anuência prévia do CONFEA para os profissionais que não forem Engenheiro Agrônomo ou Técnico em Agropecuária.

Esse é outro fator que causa discórdia. Profissionais do setor não concordam com a limitação de formações específicas para os classificadores, visto que muitos já estão no mercado há anos, com vasta experiência e maior capacidade de classificar do que profissionais mais novos na área e com as formações exigidas.

Frederico Dominguez, gerente de marketing da Café São Braz, deixa claro que o problema não é alcançar o critério, a qualidade, mas sim como fiscalizar o subjetivo. Além disso, "a burocracia é grande e o prazo muito curto", afirma.

O coordenador geral do Departamento de Classificação Vegetal do MAPA tentou acalmar a situação, esclarecendo que como não havia norma para classificadores até então, o assunto será tratado junto ao CONFEA, para decidir o que poderá ser feito com esses profissionais que não possuem as formações exigidas e como poderão ser introduzidos no mercado.

O presidente da ABIC, Almir José da Silva Filho, também presente durante todos os dias de encontro, acredita que a norma veio para humanizar o agronegócio café, além de proteger o pequeno industrial. O pequeno industrial sofre ataque irresponsável de empresas que adulteram produto e com isso perdem afirmando que mercado.

A preocupação não está voltada apenas para o lado da indústria. As lavouras não produzem apenas café de qualidade. Fatores não controlados pelo produtor, como clima por exemplo, atingem as lavouras de café e prejudicam a qualidade do produto. Mario Panhota, gerente de mercado interno da Cooxupé, comenta que o café de baixa qualidade não vai se extinguir, uma vez que não é produzido por vontade dos produtores.

"Qualquer medida impacta o conjunto", complementa Guilherme Braga, diretor do Cecafé.

Com a evolução da cadeia produtiva do café, é notório que a atividade tem seguido rumo à produção de café de qualidade em busca de maior agregação de valor ao produto e maior rentabilidade da atividade. Por isso, a demanda por cafés inferiores foi em parte reduzida. Além disso, quem demanda cafés desse tipo é o mercado informal. É nesse ponto que os representantes se apóiam para apresentar que a IN 16 é uma inovação, que mudará principalmente o perfil de compra pela indústria, além de melhorar a qualidade do produto fornecido ao consumidor.

Segundo Mario Panhota, o mercado vai ter que aprender ganhar dinheiro com cafés de qualidade superior, enquanto os cafés inferiores cairão fora desse mercado e serão inseridos em outro ponto na cadeia, como produção de adubo e biocombustível.

Isso esclarece parte das questões levantadas pelos participantes do encontro, referente ao destino de cerca de 25% do café comercializado hoje, que de acordo com a normativa não é adequado para consumo.

Outra questão levantada é: como o consumidor vai ver isso? Pergunta feita por Manoel Assis, diretor comercial e industrial da Mitsui Alimentos, que comentou que a saída do mercado de cafés de qualidade inferior irá impactar diretamente no preço do produto final para o consumidor.

Para Luis Fernando de Andrade Leite, presidente da Associação de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná, essa iniciativa vai normalizar o mercado. Ele acredita que precisa existir uma norma como essa, que pune os ineficientes, pois só assim, produtores ruins e industriais adulteradores sairão do mercado, deixando a competição apenas entre os competentes. Osmário Zan Matias, fiscal agropecuário do MAPA, concorda com essa linha de pensamento e completa que norma é padrão e padrão é movimento motivador de melhora de qualidade do produto.

O Deputado Federal, Odair Cunha, fez questão de comparecer ao evento e participar das discussões. Cunha disse que não sabia que a desconfiança da indústria era tão grande à IN 16. Diante disso, acredita que ajustes e bom senso terão que ser levados em conta e que algumas alterações terão que ser feitas até fevereiro.

Odair Cunha tentou entender qual a objetividade da questão sensorial do café, dizendo que se não houver consenso, essa questão não deverá constar na norma. "Ninguém pode ficar na mão de fiscais", acrescentou.

Américo Sato, do Café Floresta, concorda com o Deputado Federal e sugere que a análise sensorial seja excluída da normativa.

O novo tempo para o café no Brasil

Nota-se que realmente a IN 16 será um marco no agronegócio café, onde os atores envolvidos serão beneficiados. Para Maçao Tadano, diretor do Dipov (Departamento de Inspeção de Produtos Vegetais) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o sucesso da normativa vai depender da competência de todos. Além disso, ele acrescenta uma citação de Napoleão que diz: 'Impossível está no dicionário dos fracos'.

Tadano deixou claro que, mesmo a ABIC pedindo postergação do estabelecimento da normativa, ela entrará em vigor em 17 de fevereiro de 2011, sem postergação. "A normatização não será caso policialesco", finaliza ele.
Foto: Natália Sampaio Fernandes

NATÁLIA SAMPAIO FERNANDES

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MAURICIO MALUF CENTURION

ESPÍRITO SANTO DO PINHAL - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 11/05/2011

Essa IN 16, que "começaria" a vigorar em fevereiro, já começou errada , pois o foco era a qualidade física e sensorial. Já postergaram  a análise sensorial  para dois anos a frente. Isso já me faz recordar a IN 33, que depois passou para IN 12, e depois para 03 e atualmente se não me engano IN 41. Processos esses que envolveram os maiores especialistas no assunto de armazenagem de produtos agrícolas , as melhores instituições, cobraram o "olho da cara" pelo curso de auditor em certificação de unidades armazenadoras, para os interessados, e deu no que deu, caiu completamente no esquecimento, pessoas foram ridicularizadas , profissionais perderam seu tempo seu  dinheiro. Onde quero chegar , mais uma vez é que será que essa IN 16 não terá muitas outras modificações e prorrogações e mais uma vez quem pagará a conta?? Aliás alguém pode me falar como anda o processo??
JOSÉ ADAUTO DE ALMEIDA

MARUMBI - PARANÁ - PROVA/ESPECIALISTA EM QUALIDADE DE CAFÉ

EM 26/11/2010

É verdade Celso Vegro, tá tudo indo por debaixo do tapete, é porque esse assunto não interessa para alguns segmentos da cadeia produtiva do café.
Meu Deus! Segundo o deputado federal Odair Cunha:"a indústria não pode ficar nas mãos dos fiscais".E os consumidores podem ficar nas mãos das industrias? (O consumidor elege o deputado mas é a indústria que banca sua campanha.Fácil de entender, né?)
No outro forum : " Controle de qualidade preocupa o setor",mas porque preocupa? Preocupa pelo que o Celso descreveu acima:MILHÕES EM JOGO (e não é para o bolso do produtor pois na hora dele vender é descontado os PVAs e outros defeitos que posteriomente serão torrados e moídos.)
Gente, vamos manter acesso este fórum!
GUSTAVO DE PAULA

SÃO CARLOS - SÃO PAULO

EM 25/11/2010

Natália,

O Sr. Odair Cunha diz: "Ninguém pode ficar na mão de fiscais". Me pergunto: não estão nas mãos dos provadores?

Retirar da norma a exigência de patamar mínimo de qualidade é o mesmo que assumir que o café oferecido ao consumidor (pobre, sejamos diretos) tem que ser mesmo o café de varrição, contaminado e de insuportável sabor.

Já provei o café preto puro, torrado e moído, para conhecer o vilão pelo gosto. O Sr. Odair deveria fazer o mesmo pois assim teria melhor noção do que é a pior bebida que já provei na vida. Sem contar o mal que faz à saúde.

Com todo respeito, ignora-se também por puro interesse econômico que já há tecnologia para avaliação ELETRÔNICA do café, que pode quebrar o argumento que não há como treinar avaliadores suficientes. Claro que não estamos falando de resolver até fevereiro o problema, mas devemos lembrar que esta IN entrou em consulta pública há anos e desde aquela época a indústria SABE que há tecnologia. Mas ninguém investiu nisso.

Agora que a coisa está feita, quer se passar a perna... acho no mínimo indigno. Creio que a indústria deve olhar para frente, consoante com o muito propagado discurso de que a qualidade deve ser melhorada, e aplaudir a exigência mínima de qualidade. Aliás, creio que 4,0 é pouco, é suficiente para não mudar o mercado em quase nada. Mas quem sabe com o tempo este patamar sobe, ao menos para 5,0. Por tudo que já conheci, este deveria ser o mínimo patamar para se obter um café decente.

Por fim, resumo registrando: há tecnologia para a indústria, basta que esta resolva olhar para frente ao invés de olhar para trás.

CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 25/11/2010

Natália
É impressionante como a discussão por mim levantada em artigo publicado aqui mesmo e em outros fóruns foi colocada para debaixo do tapete. Todo mundo finge que não vê. O problema dessa portaria é a lambugem de R$150 milhões ao ano que os torrefadores vão receber adicionando água ao produto. Alías com esse faturamento adicional os torrefadores podem criar escolas de provadores de café em todos os municípios do país.
Buscar posturas éticas em um meio tão vicioso como o do café é se sentir o último dos moicanos.
Como os produtores também vendem muita palha melada então deixam para lá o assunto. Ao contrário da Itália temos aqui a operação mãos sujas!
Celso Vegro

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