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Dr. Jekill & Mr. Hyde ou a delicada questão do comportamento dual

POR ENSEI NETO

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 09/09/2010

6 MIN DE LEITURA

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Em 1886 o escritor inglês Robert Louis Stevenson publicou sua mais famosa obra, cujo titulo "The Strange Case of Dr. Henry Jekill and Mr. Edmond Hyde", baseada numa estória real, logo alcançou reconhecimento por sua narrativa de suspense e terror. Literalmente dissecada ao longo dos anos por diversos especialistas, o enredo tem como tema a transformação de um bondoso e educado médico, Dr. Jekill, através da ingestão de uma solução especialmente criada por ele, num violento e requintadamente perverso personagem, Mr. Hyde. Uma grande questão que esta obra coloca está em saber como a poção que o Dr. Jekill desenvolveu provoca alterações genéticas (descontando, é claro, o efeito instantâneo que somente pode acontecer na ficção...), pois além de liberar seu terrível alter ego, seu corpo se transmuta, ficando maior e com algumas deformações (ou seria uma forma de reforçar a faceta maligna dessa personagem?).

Este tema, que tenta fazer um estudo sobre o comportamento dual que as pessoas podem apresentar, desde os chamados pequenos deslizes éticos ou desvios de conduta até distorções de origem psíquica, gerou diversas versões como a deliciosa comédia "O Professor Aloprado", com o impagável Jerry Lewis, que anos atrás ganhou uma revisão por parte de outro grande comediante, Eddy Murphy. Um dos aspectos mais interessantes das releituras, sem dúvida, está na abordagem de qual personalidade deve ser predominante ou por que deve ser, muitas vezes desafiando a perspectiva de Bem e Mal, Conveniente e Inconveniente ou até Certo e Errado em cada época. Vale a pena comparar estes dois filmes, observando os valores e cultura de cada época. Ah, e prestem atenção à inesquecível trilha sonora da versão original!

Um dos grandes desafios que tem feito os pesquisadores da área de melhoramento genético se empenhado incansavelmente, principalmente nos melhores centros brasileiros, é o de se obter uma variedade de cafeeiro que seja ao mesmo tempo altamente produtivo, com grãos de peneiras maiores e que implique no menor custo de produção possível. Rendendo aqui uma pequena homenagem, gostaria de destacar nomes que já fazem parte dessa maravilhosa história da evolução dos cafeeiros, como IAC & Fazuoli e Medina; EPAMIG & Tonico; IAPAR & Sera.

Dentre alguns legados vale a pena mencionar o Acaiá, que é um aprimoramento de uma das melhores linhagens do Mundo Novo, que, tal qual ocorre com o Catuaí Amarelo 62, conhecido desde o início da década de 1990 pelos produtores como "Rebenta Tulha", possui excelente desempenho com peneiras maiores; o Catuaí Vermelho 144 é um primor em termos de arquitetura de planta, pois a cada internódio os ramos fazem um giro de 90° (isso mesmo, um perfeito ângulo reto!), que confere melhor disposição espacial das folhas e resulta em alta eficiência na captação dos raios solares. Genial, não!

Nas minhas andanças pelas diferentes origens produtoras, um dos temas que mais me apaixona é a interrelação entre o tal do Terroir, que é a famosa palavra francesa que sintetiza o conceito de algo produzido sob influência dos fatores geográficos, da botânica e do toque humano, e os sabores que poderão ser percebidos numa xícara de café. Na verdade, toda essa curiosidade e jeito de pensar começou quando atuava na indústria de alimentos e tive a oportunidade de acompanhar um incontável número de testes com variedades de arroz e tipos de água para a produção de Sake (= saquê, devidamente abrasileirado...) sob a orientação do Mestre Miguel Falcone. Pois bem, uma das variedades mais indicadas para a produção desse delicado Vinho de Arroz é o Catete, que tem um formato arredondado, sendo mais curto que um Agulhinha, por exemplo. Daí, por exemplo, na Classificação Brasileira o primeiro ficar no chamado Grupo "Curto", enquanto que o outro, no "Longo". A forma denuncia algumas evidências como o tipo de cadeias de carboidratos presentes ou o comportamento do grão em seu cozimento. Assim, o arroz Catete possui excelente capacidade de absorção e retenção de água, fundamental para que um conjunto de leveduras e suas enzimas quebrem as longas cadeias de açúcares, promovendo em seguida a conversão em álcool. Esse tipo de grão, onipresente na culinária japonesa, apresenta, depois de cozido, o chamado efeito "juntos venceremos"!

O Agulhinha consegue essa proeza quando é recém colhido, porém por pouco tempo. Ambas as variedades, com o envelhecimento, sofrem rearranjo das cadeias de carboidratos por diversos mecanismos, levando a uma, digamos, formação de gelatina, que reduz gradativamente a capacidade do grão absorver e reter água. Por isso o arroz quando fica velho, fica duro mesmo cozinhando com mais água.

Monitorar sucessivas safras de algumas origens produtoras é uma das tarefas que mantenho e que cujos resultados mostram claramente o poder de intervenção do clima ou do toque humano. Uma das variedades que tem me chamado muita atenção nos últimos anos é o Obatã.

Como se sabe, as duas espécies comercialmente mais importantes são a arábica e a canephora, cuja base genética é bastante distinta. Como decorrência, os formatos dos grãos são diferentes: o arábica em geral é arredondado ou alongado, mas predominantemente simétrico em todos os sentidos; a do canephora lembra um coração ou uma baratinha, com um lado arredondado e outro pontudo.

Um processo natural de hibridização entre ambas, encontrado na ilha de Timor, recebeu o nome de "Híbridos de Timor". As plantas do canephora, apresentam resistência que normalmente devastam as do arábica, como a ferrugem, o que despertou pesquisadores para uma linha de trabalho focado em plantas com essas características. Catimor, Catuaí e Obatã são alguns dos resultados desses esforços.

O Obatã, plantado em larga escala a partir do início da década de 2.000, em particular demonstra alta produtividade desde as primeiras safras, porém, em alguns testes sensoriais feitos a partir de 2005 e 2006 revelou promissora bebida, fato consolidado por alguns lotes terem alcançado importantes posições em concursos de qualidade. No entanto, já naquele ano havia provado alguns lotes que foram decepcionantes. Isso me intrigou. A partir de então, iniciamos um monitoramento mais rigoroso de algumas lavouras em diferentes origens, levando-se em consideração a idade da lavoura também.

Nesta safra, algumas evidências observadas em 2009 se tornaram mais fortes. Dentre as origens escolhidas estão o Oeste de São Paulo e a Média Mogiana/Oeste de Minas Gerais, num total de 4 diferentes propriedades.

Sabe-se que a Genotipia estabelece o potencial de cada característica de um indivíduo, porém o que fará com que esse potencial se concretize ou não são as condições ambientais, que é definido pela Fenotipia. É como se pudesse se afirmar que "O Meio faz o Indivíduo".
Alguns lotes apresentaram uma bebida de excelente característica sensorial com grande complexidade, porém dois chegaram a desconcertar por apresentarem característica sensorial típica de... Robusta!

Procuramos levantar o máximo de dados desses dois lotes e uma série de evidências puderam ser detectadas: regiões com grande amplitude térmica na maior parte do ciclo de frutificação, sendo que em uma das propriedades a lavoura se localiza em face de insolação intensa. Foram feitas torras com repetição e o tempo de torra era sensivelmente mais curto do que o de outras variedades, ficando muito próximo do tempo de lotes de Conilon do Espírito Santo.

Numa inspeção visual, notou-se que nos lotes que apresentaram bebida de canephora havia uma presença perceptivelmente maior dos grãos com o formato "baratinha" do que os redondos, como "joaninhas". É como se, sob a perspectiva da avaliação sensorial, Dr. Jekill estivesse se transformando no Mr. Hyde.
Poderia ter sido mera coinciência?

O resultado da avaliação sensorial gerou uma interessante série de elementos para discussão:

- É provável que variedades que contenham híbridos de Timor evidenciem mais os efeitos da Fenotipia, provocando novas análises quanto às indicações de plantio como faixas de temperaturas mais adequadas, por exemplo.
- Outro ponto que levantamos foi o fato de que excepcionalmente neste ano safra tivemos temperaturas altas mais altas que a média, muito influenciadas pela ação do La Niña, mais intenso neste ano. Alterações significativas do clima tem sido observadas também na Colômbia, Peru e Chile, além da America Central.
- Uma outra coincidência foi o fato de que os lotes com essas características eram de lavouras que entraram em sua idade adulta (6/7 anos), quando é mais evidente, também, o efeito da bienalidade.

Isso é novo e oferece novas perspectivas para reflexão.

ENSEI NETO

Especialista em Cafés Especiais.
Consultor em Qualidade e Marketing, Planejamento Estratégico e Desenvolvimento de Produtos & Novos Mercados.
Juiz Certificado SCAA e Q Grader Licenciado.

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