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Rotas de café de Chiapas: zonas de desastre

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 05/07/2013

11 MIN DE LEITURA

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Pablo Hernández é um pequeno produtor de café que, em seus 72 anos, dia a dia, com chuva ou sol, caminha das quatro da manhã costa acima durante 60 minutos até chegar a Recibidero, onde estão os 3 hectares de terreno onde se produz café arábica. Desde o final de 2011, Pablo vive uma das maiores tragédias de sua vida. Há mais de um ano, começou a notar que as folhas de algumas de suas plantações começavam a cair rapidamente e que estavam manchadas em sua parte posterior de uma cor laranja. Sem pausa para pensar, rapidamente concluiu que se tratava de ferrugem. Não conseguiu salvar sua colheita, porque hoje, todas as suas plantas estão infectadas.

Como vem sendo noticiado, essa praga devastou desde 2011 cafezais em países latino-americanos, do Brasil ao México. É um fungo que cresce nas folhas e, após sua queda, debilita a planta, impedindo que o fruto apareça. A infecção se propaga rapidamente para outras regiões por meio de sacas de empacotamento ou pela dispersão das chuvas e do vento.

Quando se fala de muitos dos melhores grãos de café do mundo, quase nunca paramos para pensar na região exata onde são colhidos; geralmente, os reconhecemos por seu país de origem.

A região de Soconusco, em Chiapas, no sul do México, está localizada na zona limítrofe com a Guatemala e é o principal produtor de café mexicano, que se caracteriza por sua altura e por ser 100% orgânico. Suas plantações não ficaram livres do ataque de pragas, as quais têm sido controladas, mantendo assim a qualidade do grão. Em 2012, a ferrugem atacou severamente essa região cafeeira, provocando perdas de até 50%, segundo testemunhos de pequenos produtores e agricultores pertencentes ao setor privado.

A chamada “rota do café” agora também poderia se converter em uma rota do desastre, ao colocar em risco a sobrevivência do cafeicultor e, com isso, uma das atividades econômicas mais importantes do país.

Fundada em 1888 por Arthus Edelmann, originário de Perleberg, Alemanha, a fazenda Hamburgo é uma clara descrição de paraíso: mantém um microclima que varia entre 16 e 22 graus entremeados com paisagens exóticas que rodeiam os 287 hectares que produzem café de montanha. Para proteger e manter a qualidade das plantações, seu dono, Tomás Edelmann Blass, explica que utilizam fungicidas de última geração fabricados por empresas reconhecidas mundialmente. Os produtores aplicam três vezes ao ano, entre maio e setembro, para o que investem entre 2.500 e 2.800 pesos (US$ 191,32 e US$ 214,28) por hectare, sem contar o investimento em equipamento e mão de obra.

Em agosto do ano passado, detectaram a ferrugem. Tomás Edelmann explica que administraram duas aplicações de fungicidas, mas somente conseguiram proteger 50% da área atacada pelo fungo e o resto dos cultivos de café sofreram um desfolhamento severo. Diante da situação, a Secretaria de Agricultura (SAGARPA) foi avisada e se informou do problema que estavam sofrendo. A secretaria avaliou a área danificada em Chiapas, proporcionando Oxicloreto de Cobre para as fumigações, mas não funcionou. Pediu-se que declarasse um alerta fitossanitário e, devido à mudança de governo, isso não aconteceu.

No caso da fazenda Hamburgo, realizou-se uma poda de 140 hectares (dos 287 que tem) para renovar o tecido das plantas com a ideia de que, aplicando os cuidados necessários, produziriam novamente em 2 anos; no entanto, as perdas já são irreparáveis. Como exemplo, somente nessa fazenda se produziam 11 mil quintais (sacas de 47 quilos) de café e, no ano passado, essa produção baixou para 7 mil quintais. Nesse ano, segundo Edelmann Blass, somente se produziriam aproximadamente 3,5 mil quintais. O custo de um quintal é atualmente de US$ 150, mas, devido à praga da ferrugem, o investimento em cuidados será de US$ 300.

Ações e manifestações

Com o objetivo de conseguir a declaração fitossanitária, os pequenos produtores e os pertencentes ao setor privado se uniram pela primeira vez em uma luta que busca resgatar sua produção e fonte de renda. Eles dizem que isso levaria à abertura de programas que facilitem créditos a longo prazo, a taxas baixas, por parte da banca de desenvolvimento, para poder renovar as plantações com variedades resistentes à ferrugem e, ao mesmo tempo, solicitar a construção de um centro de monitoramento e pesquisa de pragas para a revisão frequente de cafezais que evite uma propagação de pragas, como essas que hoje os afetam.

Diante da negação das autoridades para proclamar a declaração de desastre, em 12 de fevereiro de 2013, dezenas de cafeicultores convocaram uma conferência de imprensa buscando dar voz à sua causa, externando sua necessidade de renovar cafezais e exigindo à SAGARPA que tomasse medidas para atender de maneira urgente essa problemática. A mensagem central dessa sessão foi: “estamos pedindo aos governos federal e estatal que não esperem que caiam bolas de fogo para que nos vejam ou que desapareça realmente o importante cultivo desse grão. O avanço dessa doença acometeu mais de 40% de Chiapas e está chegando ao estado de Veracruz, já que a ferrugem que se tem nos cafezais tem mudado e se desconhece a ciência certa de que tipo é agora essa praga”. Nessa ocasião, não houve resposta alguma.

Lucila Margarita Guzmán, que tem um hectare e meio de plantações de café, declara que, como comissariada dentro da comunidade de La Trinidad, em Chiapas, foi encarregada de representar os pequenos produtores que ficaram em processo de falência na intenção de salvar suas plantas com fungicidas que não tiveram efeito algum contra a ferrugem.

Depois de entregar às autoridades da Comissão para o Desenvolvimento e Fomento do Café (COMCAFE) cartas solicitando apoio, Lucila esperou mais de 5 meses uma resposta que, no início de junho, ainda não tinha chegado. Ela explicou que os encarregados da recepção desses documentos se limitaram a dizer que devia ser paciente, já que analisariam cuidadosamente sua petição. Além disso, prometeram uma reunião com as autoridades correspondentes, mas essa tampouco foi feita. Ela disse que o desespero começava a se apoderar dos agricultores, que têm o café como única fonte de renda; no seu caso, é mãe solteira com duas filhas na escola e os gastos se complicavam a cada dia enquanto a ferrugem seguia avançando rapidamente, sem dar trégua alguma.

Conforme passaram os dias e ao não chegar a nenhum acordo com as autoridades, em 5 de junho os produtores realizaram uma marcha de 7 quilômetros da qual também participaram membros do setor privado, que incluiu um bloqueio total de uma das principais estradas internacionais com o fim de pressionar para obter do governo federal uma colaboração que abrisse caminho para a declaração de emergência fitossanitária.

Nesse dia, o gerente da União Agrícola Regional de Produtores de Café Tacaná, Ricardo Trampe Tauver, afirmou que “essa mobilização é pela omissão da autoridade em lidar com a ferrugem, no próximo, veremos a queda de 50% da produção e vamos ter um impacto social muito negativo”. Além disso, declarou que “a problemática é tão grave que excede o Estado Mexicano e, sem dúvida, é necessária a intervenção da Organização das Nações Unidas para Agricultura (FAO) a nível internacional, porque, para combater e controlar a ferrugem, seria necessário em uma primeira fase uns 135 milhões de pesos (US$ 10,33 milhões) para 45 mil hectares, já que agora somente foram destinados 30 mil pesos (US$ 2,29 mil)”. Por outro lado, Tomás Edelmann, também membro da União de Café de Tacaná, disse que “lamentavelmente em nosso país, para ser escutado, é necessário recorrer a esse tipo de manifestações”.

O resultado foi um diálogo por telefone com o secretário geral do Governo, Noé Castañón León que aceitou que desconhecia que existia uma problemática e que faria o possível para realizar, o mais rápido possível, uma reunião entre afetados e autoridades. Assim, depois de 14 horas de bloqueio, os manifestantes decidiram reabrir a estrada sob a advertência de que se não obtivessem um diálogo que levasse a soluções, continuariam com protestos.

Aitia DR-43: o antídoto que o governo oferece

Em 18 de junho foi a primeira vez que o Governador de Chiapas, Manuel Velasco Coello, visitou uma comunidade cafeeira. Ali, apresentou o programa “Manejo Sustentável e Controle de Ferrugem do Cafezal”, que consiste em aplicar, sem afetar o entorno ecológico, em 720 localidades cafeeiras, um fungicida biotecnológico denominado DR-43, adicionado com um biofertilizante chamado AITIA para a regeneração das plantas.

Também prometeu naquela reunião a entrega, em um primeiro momento, de 880 bombas aspersoras, com as quais planejam beneficiar a mais de 25 mil produtores, aplicando o fungicida em 44 mil hectares cultivados. Argumentou que essa ação convertia Chiapas no pioneiro a nível mundial no uso de tecnologias que respeitam o meio-ambiente.

O anterior foi sugerido como solução que conseguirá que se cumpram os cinco objetivos prioritários, tanto do governo federal, encabeçado por Enrique Peña Nieto, como do estatal, e dos governos locais:

Controlar a problemática da ferrugem;

Manter o café 100% orgânico;

Obter maior produtividade;

Melhorar os rendimentos dos produtores e suas famílias;

Fazer com que o café siga sendo o motor da economia de Chiapas;

No entanto, esse programa não convenceu os produtores. Com 11 hectares de café, o produtor e presidente da sociedade de cooperativas Unidos para o Bem Estar, Ismael Gómez Coronel, estabeleceu com um grupo de pequenos produtores uma mesa de informação no parque central de Tapachula à espera de uma resposta convincente por parte do Presidente. Ainda com a visita do Governador, reunião à qual nem Gómez Coronel, bem outros centenas de cafeicultores foram convidados, segue sem vislumbrar uma solução eficaz devido à desconfiança que têm com relação ao fungicida, ao qual ironicamente chamam de “produto milagroso”. Já em uma junta com o Diretor Geral de Produtividade e Desenvolvimento Tecnológico da SAGARPA, Belisario Domínguez Méndez, que mantém a postura de que a praga da ferrugem “não é um problema grave como para declarar o alerta fitossanitário”, questionou a qualidade do fungicida, pois, segundo Gómez Coronal, para que seja reconhecido e lhe outorgue certificação, devem ter passado 5 anos de testes. Nesse caso, disse ele, aparentemente somente tinha sido testado por 60 dias em Veracruz, onde o clima é diferente ao de Chiapas, e sem saber quais tinham sido os resultados.

Por outro lado, Edelmann Blass disse que aos cafeicultores, proprietários de fazendas e pequenos produtores, ofereceram os mesmos apoios que esse programa inclui. Ainda que não está totalmente seguro sobre a qualidade do fungicida, será dado o “benefício da dúvida, mas sem deixar de aceitar que existem razões para desconfiar, porque, até onde se sabe, ao ser um elemento novo, não foi nem sequer certificado por órgãos oficiais e tampouco foi constatada sua efetividade em nenhum lado”.

Vale notar que, ao buscar na internet informações sobre o Aitia DR-43, não existe nenhuma descrição nem definição; tampouco, alguma empresa que o fabrique ou distribua ou algum outro dado que não seja as notas informativas que divulgadas pelo governador de Chiapas.

Problema de segurança nacional

Enquanto Belisario Domínguez Méndez garantiu que Chiapas “iniciou uma nova história na produção de café, que é possível graças à linha que tem marcado o Presidente da República de velar pelos interesses do setor cafeeiro do país”, tanto o pequeno produtor como os pertencentes ao setor privado explicam que a substituição de cada planta infectada, além do custo monetário, demorará 5 anos para produzir um fruto e o Governo não falou de apoiá-los por meio de créditos.

O setor privado possivelmente poderá tramitar créditos com a banca comercial em longo prazo para renovar as plantações e continuar com a atividade mas, lamentavelmente, como explica Tomás Edelmann, “os pequenos produtores não têm acesso a empréstimos desse tipo e, sem o apoio da agricultura, as consequências seriam devastadoras, já que se está convertendo em um problema social de segurança nacional”.

O Programa de Pesquisa Mundial de Café (WCR) informou que em 2013 as consequências da ferrugem nos cafezais provocaram perdas de mais de meio milhão de empregos a nível mundial. No caso de Chiapas, 140 mil famílias dependem diretamente do café como produtoras, as quais não têm acesso a crédito. Somente cerca de mil produtores têm mais de 10 hectares, cada um, e para o resto, a média é de 2, sendo os mais afetados, porque são os que perderam 100% de suas plantações.

As consequências do desemprego logicamente também alcançam os trabalhadores e catadores de café. Em uma fazenda de mais de 200 hectares, geralmente se contrata de forma permanente 100 famílias, que chegam a necessitar de até mil colhedores eventuais na época da colheita, entre outubro e fevereiro. Nessa ocasião, prevê-se que somente se utilizaria o serviço de 50% das pessoas pela baixa na produção, ainda que poderiam chegar a ser menos se não se conseguir os créditos necessários para poder continuar com os trabalhos culturais.

No caso de um pequeno produtor, seriam 6 empregados o que se requereria em tempo de colheita normal, mas nessa ocasião, somente ocuparia 3 no caso de ter outras rendas além do café, porque, caso contrário, teria que prescindir de todos.

Esse ano, segundo a Organização Internacional de Café (OIC), estima-se que a taxa de desemprego no setor cafeeiro em Chiapas seria de 220 mil. Essa consequência, segundo os agricultores, poderia desembocar em um aumento do crime organizado, porque os assaltos se elevariam nessas comunidades e nas ao redor.

Em uma visita realizada por vários pontos das zonas cafeeiras de Chiapas, descobriu-se que o temor generalizado entre os agricultores, além da agonia de suas plantações e seu modo de manutenção, é que a última saída podem ser as armas ante ao desespero. Por isso, esperam que a sensibilidade do governo federal se faça presente o mais rápido possível.

Gómez Coronel sentencia que se está advertindo do clamor do povo ao governo federal, como ocorreu em outras ocasiões, com outras problemáticas sociais, em que se decidiu ignorar e minimizou o problema. A única coisa que resta aos produtores no momento é seguir tentando por meio de manifestações. Em 1 de julho, Gómez Coronel e uma comissão de produtores de café planejavam empreender uma marcha até o Distrito Federal; em cada município que se cruzem ao longo dos 1.102 quilômetros de distância, parariam para informar e conscientizar a população sobre o problema que o setor cafeicultor padece. Ao chegar em seu destino final, a Cidade do México, esperam manter diálogos, se não diretamente com o Presidente Enrique Peña Nieto, pelo menos com alguma autoridade que lhes ofereça ajuda para resgatar a atividade comercial do café.

A reportagem é Letrasexplicitas.com/rutas-del-cafe, traduzida pelo CaféPoint.

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HUGO VELEZ MONTES

PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 25/08/2013

QUE EMPRESA PRODUCE EL FUNGICIDA MILAGROSO,COMO ES DE FACIL ENGAÑAR,QUE GRAN RESPOSABILIDAD.
HUGO VELEZ MONTES

PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 09/07/2013

ES NECESARIO QUE DIGAN QUE PRODUCTO ES  AITIA DR43 . el fungicida milagroso

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