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Inflação nos alimentos - dá para acreditar?

POR ANDRE MELONI NASSAR

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 20/09/2007

4 MIN DE LEITURA

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Cunhada em 2007, a expressão "agflation" refere-se ao aumento dos preços das commodities agrícolas observado a partir de 2006 e intensificado em 2007. O argumento central, defendido até por autoridades do governo brasileiro, diz que o aumento da demanda por alimentos e o uso cada vez maior de produtos agrícolas para a produção de biocombustíveis levarão a um aumento consistente nos preços. Assim, esse dois fatores teriam alterado uma regra que era aceita como irreversível: os preços dos produtos agrícolas tendem, historicamente, a apresentar quedas reais, ou seja, a subir menos que a inflação. Ganhos de produtividade na agricultura explicariam a capacidade do setor de continuar se expandindo mesmo que com quedas reais nos seus preços.

Afinal, o patamar de preços mudou? E a regra da queda real foi, finalmente, quebrada? As respostas são sim e não.

Não tenho dúvida de que houve uma mudança nos patamares de preços. As razões, no entanto, não são o crescimento da demanda, tampouco a competição alimentos-biocombustíveis. A razão central é o aumento dos custos, em especial dos fertilizantes, insumos mais sensíveis aos preços do petróleo e às cotações dos fretes internacionais.

De uma perspectiva mais ampla, os preços dos produtos agrícolas ainda crescem menos que a inflação. O índice de preços de alimentos calculado pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) mostra que os preços nominais em dólares norte-americanos cresceram 19% de 1990 até 2006, enquanto o índice de preços no atacado dos EUA cresceu 42%. Encurtando o período para 1995 até 2006, a queda real é ainda mais intensa: 13% para os alimentos ante 32% para a inflação. A situação se inverte no período recente: de 2002 a 2006 os alimentos subiram 46% em relação a 26% de inflação, apresentando ganho real. Há alguma novidade nisso? Não.

Voltando alguns anos nos dados e procurando outros períodos de cinco anos, encontramos dois, entre 1985 e 2006. De 1985 a 1989, os preços dos alimentos tinham subido 51% ante 9% da inflação. Entre 1986 e 1992, a subida dos alimentos foi de 23% comparada aos mesmos 9% na inflação. Se em 20 anos encontramos dois períodos passados que replicam a situação corrente, é porque não estamos vivendo uma novidade. Aliada a essa repetição de comportamento, mais uma variável reforça o argumento de que a regra da queda real não foi quebrada: os preços dos alimentos variam sensivelmente mais que a inflação.

Assim, o aumento real dos preços dos alimentos a que assistimos hoje será, mais cedo ou mais tarde, seguido por um processo de queda, que ajustará os preços a seus patamares normais. De 1985 até hoje, lembrando que 1985 já foi período de depressão de preços, observamos dois períodos de preços baixos - o último (1999 a 2003) teve duração de cinco anos, outro fato inédito.

Já que falei em patamar normal, volto ao argumento do início do texto. Os preços dos produtos agrícolas oscilam muito por conta do desequilíbrio constante entre oferta e demanda. Esse comportamento, já batizado de ciclotímico, complica o cálculo do patamar normal. Assumindo que o patamar normal é a média dos preços mensais de 2000 até hoje (julho de 2007), identificamos uma situação que nos chama a atenção: para uma amostra de sete commodities (soja em grão, farelo de soja, óleo de soja, milho, açúcar bruto, algodão e arroz), os preços atuais estão mais altos que o patamar normal, situando-se no limite superior da oscilação normal dos preços (em palavras mais técnicas, no limite da média mais um desvio padrão).

Essa constatação me leva a concluir que o patamar normal dos preços agrícolas está em processo de mudança. A variável central que comprova esse argumento é o preço dos fertilizantes. Usando o mesmo período-base dos preços das commodities, observamos que os preços dos fertilizantes, sobretudo os nitrogenados, estão em franca elevação desde 2002. No caso dos EUA, grande produtor agrícola, onde há farta oferta de dados, o preço da uréia pago pelo produtor subiu 137% de 2002 a 2007. Fertilizantes à base de fosfato e potássio também não ficam atrás, com incremento de 89% e 71% no mesmo período.

No Brasil, a tendência é semelhante: o índice de preços para fertilizantes medido pela FGV aponta crescimento de 90% de 2002 até hoje, muito parecido com o observado nos EUA. Veja que o aumento dos preços dos fertilizantes foi o dobro dos 46% de crescimento no índice de preços de alimentos. Não é preciso ir muito longe para inferir que o aumento no combustível seguiu tendência semelhante. No caso de um produtor de leite, gado de corte, frango e porco, embora os fertilizantes tendam a pesar menos na conta do custo, o crescimento do preço das rações faz o contraponto.

Dado que estamos assistindo a um aumento mundial nos custos, um ajuste no patamar normal certamente vai ocorrer. Embora a alta observada hoje, com algumas exceções, como açúcar e café, mantenha esse patamar escondido, um ajuste futuro nos preços vai mostrar que dificilmente os baixíssimos preços verificados no período de 1999 a 2003 voltarão a se repetir. Isso significa que a pior depressão de preços que possa ocorrer no futuro não será tão acentuada quanto a anterior, porque o custo marginal do melhor competidor é hoje sensivelmente mais alto.

Essa conclusão, no entanto, não pode ser interpretada como a redenção dos produtores contra os consumidores. Os alimentos continuarão a apresentar queda real no longo prazo e ganhos de produtividade continuarão a ser a chave para afastar o argumento de que alimento e biocombustível são competidores. Os elevados preços atuais já estão estimulando os países produtores a incrementar a oferta. A diferença é que, hoje, EUA e União Européia têm um papel menos relevante na produção, que vai sendo transferida paulatinamente para os países em desenvolvimento.

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OSCAR BERTOGLIO

ERECHIM - RIO GRANDE DO SUL - PESQUISA/ENSINO

EM 15/10/2007

Caro André. A discussão que o Sr. promove analisa somente uma face da questão. Sem entrar no mérito comparativo, acredito que algumas analogias não são suficientes para explicar essa questão, principalmente o comparativo traçado entre o atual momento e períodos anteriores, como o da década de 80. A década de 80 distoa em qualquer série histórica que fores analisar.

No que diz respeito aos custos de produção, é fato que o preço do petróleo influencia. No entanto, se ele fosse referência, quando houvesse retração nos preços deste insumo, petróleo, os demais insumos também deveriam reduzir de preços, fato que não se observa, ou se observa com uma defasagem temporal muito grande.

O que quero colocar: o caráter de um setor altamente oligopolizado em que domina ou dita preços, condições, etc. Isso, não contradiz aquilo referido pelo leitor acima, tal seja, que as margens de ganhos estão se estreitando. De fato, as margens de ganhos do produtor sim, mas exitem outros agentes ao longo da cadeia que estão se apropriando desses ganhos adicionais.

Apesar dos números colocados, comparando aumento nos preços dos alimentos e dos preços da inflação, é preciso levar em consideração que os alimentos também compõem esses índices. Dessa forma, o produto em sua forma natural pode não sofrer alterações ou essas não seguirem as dos índices de inflação oficial, o que vai acontecer, naturalmente, ao longo das demais etapas de produção. Por exemplo, o preço do milho pode não ter as mesmas variações que os da inflação, deixando essa conta para a fábrica de rações, aos transportes, etc.

Quanto ao consumo de alimentos, será possivel ignorar o aumento nos países como China (que cresce a taxas expressivas a bem mais de uma década)? Seria possível ignorar os aumentos de demanda por alimentos por parte da India, Japão, etc? E por que não dizer do Brasil onde os níveis de renda tem se elevado?

Dessa forma não considero questão encerrada, ou de que atribuir a alta nos preços dos alimentos (considerando alguns produtos em questão) ao aumento de custos possa ser uma explicação por si só conclusiva, afinal, outras variáveis também fazem parte desse cenaário.
LUIZ AUGUSTO FONSECA MAGALHÃES

GOIÂNIA - GOIÁS - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 24/09/2007

Ótimo artigo, pois desmistifica a idéia que a alta atual dos preços das commodities agrícolas tragam margens inéditas aos produtores. Ocorre apenas recuperação parcial da lucratividade, mas analisando os custos internos, aqueles definidos em reais, vemos que estas margens continuam apertadas.

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