“É um desastre regional”, disse o presidente da Organização Internacional de Café (OIC) Roberio Silva. “Não é somente uma doença do café. A ferrugem é uma doença econômica".
O fungo já se espalhou para cerca de metade das regiões produtoras da região, destruindo aproximadamente 20% da colheita de 2012-13. Apesar de o café não ser mais commodity do tipo “tudo ou nada” que era nos anos setenta e oitenta na América Central, as perdas com as colheitas, no valor de US$ 600 milhões de acordo com BID, são significantes para Nicarágua, Honduras, Guatemala, El Salvador e Costa Rica.
Pior ainda, os comerciantes de café acreditam que a América Central perderá uma participação ainda maior de sua colheita de grãos arábica de alta qualidade em 2013-14, quando o verdadeiro impacto da doença se tornará aparente. O vice-presidente do grupo de café dos Estados Unidos, Green Mountain, Lindsey Bolger, disse que a colheita de 2013-14 será “especialmente terrível”.
As consequências econômicas de perdas tão grandes nas colheitas poderiam ser devastadoras para a economia rural da América Central, além de retardar o crescimento geral da região. Os produtores de café estão tendo que lidar com o golpe duplo dos danos da ferrugem e da queda nos preços do café, que estão agora nos menores valores em vários anos. A América Central é conhecida por seu grão arábica de alta qualidade, usado em expressos e cappuccinos por varejistas como Starbucks.
A região é responsável por quase um quinto da produção de grãos arábica do mundo, estimada em 18 milhões de sacas de 60 quilos. No passado, essa grande participação na produção global significava que surtos de fungos tinham um pequeno impacto, porque os preços do café aumentam à medida que a produção cai, mantendo as receitas quase sem alterações. Porém, dessa vez, o Brasil está com uma colheita alta pela segunda safra consecutiva, mantendo o mercado com um excesso de oferta, apesar das perdas na América Central. Os preços do arábica caíram nesse mês para o menor valor em quatro anos, de US$ 1,17 por libra, mais que 60% a menos do que o maior valor em 30 anos, de US$ 3,08, alcançado em maio de 2011.
“Isso é uma coisa terrível para os produtores de café de Honduras e El Salvador”, disse o chefe de uma das cinco maiores casas de comércio de café do mundo.
O diretor de projetos da cooperativa Caruchil, através da qual Molina vende seus grãos, Edgar Carrillo, disse que os cafeicultores buscarão empregos nas cidades, onde o desemprego já é alto. “Existe uma taxa maior de migração – dentro do país e internacionalmente. As pessoas estão indo aos Estados Unidos”.
A disseminação da ferrugem na América Central parece estar relacionada com a mudança climática, de acordo com muitos especialistas. A região passou por vários anos de chuvas e temperaturas maiores que o normal. A umidade e o clima quente, junto com as plantas velhas e a falta de um manejo cuidadoso, foi o coquetel perfeito para o fungo. Comparado com os surtos anteriores, entretanto, a doença está alcançado altitudes ainda maiores, afetando áreas que nunca tinham enfrentado o problema.
A experiência da Colômbia, maior produtor mundial de café arábica*, mostra que a luta contra a doença não será barata ou rápida. Bogotá foi afetada há cinco anos pela ferrugem e a produção caiu para níveis não vistos desde o começo dos anos setenta, à medida que os produtores arrancaram as plantas. A produção de café da Colômbia começou a se recuperar somente agora, após a associação de café do país, com o suporte do governo, gastar US$ 1,4 bilhão para fornecer plantas resistentes ao fungo, fertilizantes e educação. Os governos da América Central provavelmente não serão capazes de financiar um esforço similar sozinhos e os pequenos produtores na região não têm acesso a financiamento para enfrentar a lacuna entre quando eles arrancarem suas plantas e a primeira nova colheita.
Maximo Toreto, do Instituto de Pesquisa Internacional de Politicas Alimenticias, de Washinton, está preocupado com os anos até a produção se recuperar. “A janela de três anos pode ser bem séria”, disse ele. Na cooperativa Caruchil, Molina e seus colegas consideram que o problema vai além de pequenos lotes de cafezais. “Quando existe um problema com o café, é um problema para o país inteiro”.
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As reportagem é do Financial Time, traduzida pelo CaféPoint.