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Situação dos cafezais foi agravada com a estiagem

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 11/10/2007

12 MIN DE LEITURA

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O prolongamento da seca e das altas temperaturas nas principais regiões produtoras de café do Brasil certamente ocasionará perdas na safra a ser colhida em 2008. Contudo, ainda é cedo para se especular o tamanho dessa redução. Esta é a conclusão dos técnicos e dirigentes das principais cooperativas de café do Brasil.

No Sul de Minas Gerais, por exemplo, tanto nas lavouras abaixo, quanto nas cultivadas acima de 900 metros de altitude, prevalece um "estado de alerta", uma vez que, em função da estiagem, as plantas já apresentam condições de abortamento de florada. Segundo Joaquim Goulart de Andrade, gerente do Departamento de Desenvolvimento Técnico da Cooxupé (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé), a situação é mais crítica nos municípios de Alfenas, Campos Gerais, Campo do Meio e Carmo do Rio Claro, onde os cafezais se encontram abaixo de 900 metros de altitude.

"Quase não choveu nessas áreas e as plantas já apresentam sinais evidentes de quebra de safra acentuada. Verificamos murchamento e queima de folhas, além de desfolhas acentuadas provocadas pela seca e um ataque oportunista do bicho mineiro", comentou. O gerente do Departamento de Desenvolvimento Técnico da Cooperativa explicou que o controle desta praga fica comprometido em função da baixa umidade relativa do ar.

Ainda na área de abrangência da Cooxupé, foram registradas algumas precipitações nas lavouras situadas acima de 900 metros de altitude. "O volume de chuvas foi pequeno, mas o suficiente para manter as condições favoráveis para que essas lavouras apresentem novas floradas. Sendo assim, esses cafezais ainda possuem boa capacidade produtiva", explicou Andrade, que completou informando que, nos municípios de Guaranésia, Caconde, São Pedro da União e Nova Resende, a situação é menos preocupante, "uma vez que tivemos um pequeno volume de chuvas em junho, julho, agosto e até mesmo em setembro".

Na área de atuação da Cooparaíso (Cooperativa Regional dos Cafeicultores de São Sebastião do Paraíso), a situação das lavouras também é preocupante. Há 74 dias sem chuvas representativas, as lavouras de café do sudoeste de Minas e da Mogiana Paulista já estão sentindo significativamente os efeitos da estiagem. Dados levantados pelo Departamento de Gestão do Agronegócio da Cooparaíso apontam para um déficit hídrico de 108,4 mm em setembro no município de São Sebastião do Paraíso. No acumulado do ano, este número passa para 205 mm.

"É válido lembrar que, de acordo com o método de Thorthwaite & Mather - metodologia que se baseia nos cálculos da latitude do local, da temperatura e da precipitação do período -, déficits hídricos a partir 150 mm, dependendo do tipo de solo, causam grandes prejuízos na safra futura", mencionaram os técnicos do departamento da Cooparaíso, que completaram citando que a temperatura média no mês passado foi de 22,8ºC, ou 1,7ºC acima do mesmo período de 2006. "Neste quadro de altas temperaturas e baixa precipitação, as lavouras estão em ponto de murcha e com alta infestação de pragas típicas do período seco, como é o caso do ácaro e do bicho mineiro", disseram.

A Cooparaíso informou que os casos mais críticos vêm sendo observados em lavouras novas, com idade inferior a quatro anos, e nas lavouras adultas localizadas em altitudes abaixo de 850 metros. "As plantações em terrenos arenosos, pedregosos e pobres em matéria orgânica também estão em ponto de murcha acentuado", complementaram os técnicos.

Segundo eles, outro grande problema apresentado em algumas lavouras é o cozimento dos botões florais, fato que ocorre em função da desidratação das plantas. "Nas lavouras onde a florada ocorreu há aproximadamente 30 dias, o prolongamento da estiagem e o estresse hídrico estão prejudicando o crescimento do fruto, o que poderá acarretar na queda do chumbinho ou na formação de frutos com peneira baixa ou mesmo chochos", explicaram os técnicos.

Haja vista o supracitado, a Cooparaíso acredita que este quadro de altas temperaturas, associado à falta de chuvas, já está comprometendo a safra 2008/2009. "Estima-se que a quebra da próxima produção chegue até a 20% em relação à perspectiva de safra. Como na área de atuação da Cooperativa, de 132.973 hectares, esperava-se uma colheita de 4,06 milhões de sacas de café, o declínio esperado representa uma perda de R$ 200 milhões para o setor cafeeiro local".

Já Joaquim Goulart de Andrade anotou que na área de atuação da Cooxupé houve um grande intervalo entre as temperaturas máximas e mínimas ao longo de setembro, assim como já havia ocorrido nos meses anteriores. "Esse intervalo favorece a desfolha e induz a florada, que acaba não vingando em função da estiagem", explicou o gerente de Desenvolvimento Técnico da Cooperativa. Ele ressaltou que as temperaturas máximas vêm superando a média para o período. "As altas temperaturas, aliadas à baixa umidade relativa do ar, geram uma maior evapotranspiração, o que significa que a perda diária de água, em muitas lavouras, situa-se entre 4 e 5 mm. Mesmo nas regiões onde ocorreram chuvas, o volume não foi suficiente para mudar este cenário", completou.

Na opinião de Andrade, somente a ocorrência de chuvas em abundância e bem distribuídas podem reverter esse quadro. "No entanto, a situação é irreversível nas lavouras que já apresentaram queima e abortamento de chumbinhos. Se este ano não tivesse chovido em junho e julho, estaríamos em situação idêntica à pior seca já registrada nos últimos tempos, que foi a que vivenciamos em 1963", lembrou o gerente da Cooxupé.

A situação dos cafezais também é crítica na área de atuação da Cocatrel (Cooperativa de Cafeicultores da Zona de Três Pontas). "O clima adverso à cafeicultura, ocorrido ao longo deste ano, na região de Três Pontas, município considerado 'a capital do café', já assusta técnicos e produtores rurais. A estiagem prolongada está gerando um déficit hídrico sem precedentes que, de acordo com os técnicos da Cocatrel, segunda maior cooperativa de cafeicultores do país, representa danos graves à produção desta safra", comentou o presidente Francisco Miranda.

Com base em levantamento feito pelo Departamento de Assistência Técnica desta Cooperativa, a maioria das lavouras já apresenta alto índice de desfolha, indução intensa de "estrelinhas", as quais indicam abortamento floral, e formação de ramos secundários em locais de floração. Para a equipe de engenheiros agrônomos da Cocatrel, o dano já está instalado e a situação é muito grave, embora ainda não se possa quantificar com precisão as perdas desta safra.

Outro fator alarmante, conforme Miranda, é que o déficit hídrico está batendo todos os recordes históricos na região. A estimativa dos técnicos da Cocatrel é que as lavouras novas, implantadas no atual ano agrícola, precisarão de cerca de 70% de replante. "O quadro se agrava devido à amplitude térmica, com dias muito quentes e noites frias, aumentando o estresse dos cafeeiros", comentaram. Eles informam, ainda, que muitos produtores já estão adotando medidas desesperadoras para tentar salvar as plantas, "usando seus tanques de pulverização para regar as lavouras mais atingidas".

Também consoante com o presidente da Cooperativa de Cafeicultores da Zona de Três Pontas, o atraso na floração significa retardamento na colheita, com reflexos no abastecimento do mercado. "Além disso, a queda de produção poderá agravar a situação das dívidas dos cafeicultores da região", complementou Francisco Miranda.

O Cerrado Mineiro é outra região onde as condições climáticas vêm interferindo negativamente nos cafezais. "As altas temperaturas e o estresse hídrico estão fazendo as plantas entrarem em ponto de murcha. Além disso, vários rios e represas já estão no mínimo de sua capacidade, gerando inúmeros conflitos entre os irrigantes", detalhou Francisco Sérgio de Assis, presidente do Caccer (Conselho das Associações de Cafeicultores do Cerrado), que arriscou a dizer que, nas lavouras não irrigadas, "seguramente a perda será superior a 20% em relação à expectativa de safra".

A Cooxupé também cobre parte do Cerrado Mineiro e, nessa localidade, Joaquim Goulart de Andrade alerta para o fato de existirem lavouras em condições de perda acentuada, pelo fato de não serem irrigadas. "É o que acontece em áreas situadas nos municípios de Coromandel e Monte Carmelo. Mesmo os cafeicultores que utilizam a irrigação estão relatando, ao nosso departamento, que existem queima de folhas em função da alta insolação", comentou. Ele completou informando que, além disso, "a prática da irrigação está sendo dificultada naquela região, pois há falta de água nos mananciais".

Na região de atuação da Coopassa (Cooperativa Agropecuária de Cássia), no sudoeste de Minas Gerais, a estiagem nos cafezais está trazendo grandes preocupações aos produtores quanto à safra 2008/2009. "Não chove a mais de 70 dias e as lavouras plantadas abaixo de 900 metros de altitude, principalmente aquelas com menos de cinco anos, as folhas e parte dos ramos produtivos estão secando. As lavouras adultas, por sua vez, estão com as folhas totalmente murchas e caindo. Já nos cafeeiros situados acima de 900 metros de altitude, também foi registrada uma considerável queda de folhas", comentou Ronaldo Severo da Silva, técnico agropecuário da Cooperativa.

Ainda de acordo com ele, devido ao intenso calor, à baixa umidade relativa do ar e ao déficit hídrico registrado ao longo das três últimas semanas - condições extremamente desfavoráveis à cafeicultura -, pode-se considerar que ocorrerão frustrações consideráveis na produção da safra 2008/09 da região.

No Estado de São Paulo, o sinal de "alerta geral" também prevalece nos cafezais, principalmente na Mogiana Paulista. Segundo Plaucius de Figueiredo Seixas, engenheiro agrônomo da Cocapec (Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas da Região de Franca), observa-se um período muito seco e de altas temperaturas. "É uma situação delicada e que merece atenção especial de todos os nossos cafeicultores. As principais causas responsáveis por esse quadro foram as irregularidades das chuvas em relação às médias históricas do período de março a junho, juntamente com a ocorrência de altas temperaturas, que foram até 2°C superiores às médias dos anos anteriores, nesta mesma época", explicou.

Ele anotou que, em julho deste ano, a região registrou um acúmulo de chuva superior a 70 mm, sendo que, quase 55 mm foram concentrados em apenas três dias (23, 24 e 25), o que diminuiu o déficit hídrico, mas, por outro lado, estimulou floradas, principalmente em lavouras novas. "Após isso, estamos passando por um longo período de estiagem, com exceção a algumas regiões que tiveram chuvas apenas isoladas e mal distribuídas nos últimos 70 dias, agravando ainda mais a situação das lavouras", mencionou Seixas.

De acordo com o agrônomo da Cocapec, as lavouras novas são as que mais sentem essas adversidades climáticas, especialmente após a indução da florada no início de agosto, como resultado das chuvas ocorridas em julho. "O ruim é que houve um longo período de estiagem depois dessas precipitações. Essas lavouras tiveram problemas de retenção de chumbinhos e é comum ver lavouras novas com ramos e folhas secas, cor chocolate, com as plantas atingindo um ponto de murcha irreversível, ficando, dessa forma, com suas safras comprometidas", explicou.

No tocante às lavouras adultas, Seixas anotou que não ocorreu uma florada expressiva após as chuvas de julho, portanto, as mesmas não sentiram tanto o período de estiagem até o final de setembro. "Nas regiões onde houve chuvas significativas, ocorreu a indução de duas floradas. Nessas lavouras ainda não se percebe sintomas de danos na produção. Porém, a maioria dos cafezais adultos, que não recebeu essas precipitações em setembro, principalmente em áreas de solos arenosos e com baixo uso de tecnologia no controle fitossanitário, está murchando mais rapidamente e tem maior nível de desfolha dos ponteiros e de incidência de bicho mineiro. Os resultados de todos esses ocorridos estão comprometendo a próxima safra", argumentou.

O agrônomo da Cocapec disse, também, que o mês de outubro chegou e as condições se agravaram ainda mais. "Adentramos outubro com elevação das temperaturas (32ºC a 33°C) e ausência de chuvas, fatores que somente acentuam o déficit hídrico e intensificam o processo de murcha das plantas, colocando, assim, todo o nosso parque cafeeiro em risco", disse Seixas, que completou informando que os cafeicultores da região estão em estado de alerta. "É uma situação grave, já que essas condições climáticas são totalmente adversas às normais. Contudo, até o momento, é difícil quantificar os danos causados, bem como prever em quanto a próxima safra está comprometida".

Já no centro-oeste do Estado de São Paulo, foi registrada a abertura de uma nova e grande florada no final de semana passado, porém, sob condições climáticas desfavoráveis. "Tanto que, na tarde do último domingo (07/10), notava-se a queda de flores, o que nos permite estimar perdas de 10% a 20% na safra futura em relação à perspectiva", projetou Aurélio Giroto, diretor do Departamento Técnico da Coopemar (Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Marília).

De acordo com ele, o déficit hídrico nas lavouras cafeeiras do centro-oeste paulista é estimado em 200 mm atualmente, interferindo de maneira negativa nas plantas. "Já ocorre desfolha e murchamento principalmente nos pés de café com menos de três anos. Entretanto, a situação é reversível, desde que chova nos próximos 10 dias", argumentou Giroto. Os cafezais do Paraná atestam condições similares às registradas no vizinho Estado de São Paulo. Consoante com produtores paranaenses, há desfolha e murchamento em algumas lavouras, mas essa condição também é reversível com a ocorrência de precipitações, algo que deve ocorrer mais significativamente neste fim de semana, segundo os institutos de meteorologia.

O Estado da Bahia foge um pouco ao avaliado na Região Sudeste. Conforme João Lopes Araújo, presidente de honra da Assocafé (Associação dos Produtores de Café da Bahia), os cafezais baianos ainda não atravessam situação climática crítica. "As chuvas foram muito regulares desde o início do ano, sendo que, em janeiro e fevereiro, algumas regiões registraram quase 600 mm. Além disso, a continuidade das precipitações foi normal", detalhou.

Araújo explicou que, a rigor, o período crítico para as lavouras cafeeiras da Bahia acontece entre outubro e fevereiro, período em que sempre ocorrem as maiores precipitações, mas sem regularidade. "Às vezes as chuvas chegam em outubro/novembro, mas, em outras ocasiões, somente em janeiro/fevereiro. Dessa forma, ainda estamos iniciando nossa fase de alto risco climático, sem a certeza de estarmos salvos da possibilidade de vivenciarmos as mesmas situações registradas nas demais áreas do cinturão cafeeiro do Brasil", disse.

É válido mencionar, contudo, que além de prejudicar os cafezais nas principais áreas produtoras do país, a estiagem vem gerando outros graves problemas aos agricultores. O presidente da Cocatrel citou que, na zona de Três Pontas, há perdas na produção do milho, cultura que é uma importante alternativa de renda para os produtores locais, por causa do atraso em relação à época ideal de plantio. "Além disso, há o transtorno social, uma vez que inexistem serviços que gerem emprego aos trabalhadores rurais nesta época, como capina, adubação, aplicação de defensivos, plantio de milho e feijão. Tudo isso ocorre em função da estiagem prolongada", lamentou Francisco Miranda.

O Conselho Nacional do Café tem ciência da crítica situação vivenciada nos cafezais brasileiros e que perdas em relação às expectativas para a safra 2008/09 certamente vão ocorrer, mas reitera que quaisquer números proferidos, nos dias atuais, não passam de mera especulação. "A situação é muito preocupante! Para quem visita as lavouras é notório que já existe um comprometimento significativo da próxima safra. Porém, somente em janeiro teremos condições para fazer avaliações realistas e, a partir de então, verificarmos como administrar a oferta do produto em um quadro de possível escassez", avaliou Gilson Ximenes, presidente do CNC.

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