Aparentemente, esses representantes estão se baseando tão somente em dados fornecidos por agências noticiosas, colhidos informalmente nos mercados americano e europeu junto a corretores, comerciantes e industriais de café, sobre as ofertas rotineiras de compra e de venda. Mas não se pode afirmar que expressem os negócios realmente feitos. Essas ofertas, é bom lembrar, têm os seus valores comerciais quantificados através de diferenciais variáveis em relação às cotações futuras das Bolsas de New York e Londres, segundo as diferentes qualidades, origens, meses de embarque, e outros, não significando necessariamente negócios concretizados.
Se as conjecturas destes representantes partem de interpretações de que negócios foram feitos, e em volumes representativos, dentro dos níveis de diferenciais que utilizaram, é forçoso reconhecer que carecem de base objetiva, localizando-se no plano do imaginário, ou mais, como dizem os ingleses, wishful thinking - criação ilusória de fatos que se desejam fossem verdadeiros. Além disso, a forma de estabelecer a diferença de preços entre os cafés colombianos e os brasileiros, tomando por base a comparação do padrão Supremo Strictly Soft SC 17/18, qualidade de cafés finíssimos da Colômbia, com os arábicas brasileiros "Santos 4 MTGB", padrão médio de nossos arábicas negociado para um mercado menos exigente em qualidade, denota certa malícia ao pretender tornar iguais lotes de café absolutamente desiguais.
Deixando de lado o terreno das abstrações, no qual esses representantes parecem preferir fundamentar as suas posições, e recorrendo a dados objetivos e reais -- as estatísticas de exportações veiculadas pela OIC a partir de informações dos países membros, portanto, confiáveis, é possível identificar as diferenças reais entre os cafés brasileiros e os produtos das demais origens. E ainda perceber as causas dessas diferenças quando eventualmente excedam a normalidade, entre as quais avulta a falta de sustentação dos preços no mercado interno, acentuada pela oposição dos representantes da produção de impedir a alocação de linhas de financiamento para o aumento da liquidez da comercialização interna, e a rejeição às propostas do Cecafé de melhoria de qualidade, entre as quais o aumento do preparo de café pela via úmida - cereja descascado e despolpados, sob o falso pretexto de que o mercado não remunera ao produtor os custos decorrentes dessa agregação de valores. Lamentável anacronismo que ignora que a expansão mundial do consumo de café tem na melhoria da qualidade a sua principal alavanca e conduz o café brasileiro ao atraso.
A tabela a seguir, Preço Médio FOB de Café Arábica de Países Selecionados, elaborada a partir dos dados da OIC, compara os preços médios dos cafés arábicas brasileiros (média de todas as qualidades comercializadas) com os preços médios dos Suaves Colombianos e Centrais, tidos com o os de melhor qualidade:
Em primeiro lugar, em geral, é perfeitamente lógico que exista um diferencial de preços entre os cafés colhidos em cereja e preparados via despolpamento, caso dos países mencionados na tabela, e os naturais brasileiros, colhidos por derriça e processados em terreiros, diante dos custos envolvidos. Do mesmo modo, há também uma diferença a considerar de cerca de US$ 4/5 por saca no custo do ex-dock do Brasil, superior aos demais, nada obviamente que se aproxime dos US$ 135.00 mencionados pela produção.
A análise da tabela permite notar, nos últimos seis anos, um processo continuado de aproximação dos preços médios do café brasileiro frente aos demais. Em jan/abril de 2009 houve uma interrupção da tendência, em face da queda das cotações internacionais, que atingiu o conjunto dos países exportadores, agravada, no Brasil, pela falta de sustentação interna dos preços e de uma paridade cambial desfavorável.
E, mais importante ainda está o fato de que esses países comercializam cafés de qualidade mais homogênea e, portanto, dentro de uma faixa de preços restrita, enquanto o Brasil oferta um amplo conjunto de qualidades, o que torna inconsistente uma comparação simplista. Com efeito, além dos cafés arábicas naturais finos, exportamos os de bebida dura de qualidade, cafés de bebidas rio-zona, rio, riada e peneiras miúdas, os quais tem menor preço absoluto, mas têm demandas específicas, situação que confere uma posição singular para o Brasil como fornecedor versátil.
As considerações acima evidenciam que as diversidades de produção e de custos entre os arábicas brasileiros e o grupo de países produtores de despolpados, recomendam que as comparações atendam a padrões técnicos mínimos, sob pena de levar às conclusões equivocadas, como ocorreu neste caso. Em favor deste raciocínio, basta mencionar que se colocarmos lado a lado os cafés finos brasileiros com os Suaves Centrais e Colombianos, o resultado é completamente diferente daquele resultante da média das qualidades. Nesta hipótese, e considerando as exportações realizadas durante 2008 por 44 exportadores, entre os quais três cooperativas, o preço das vendas externas desses cafés situou-se entre um mínimo de US$ 203, 72 e um máximo de US$ 248,07, com uma média de US$ 220,03 por saca, valor que supera os preços dos países citados. Para o primeiro quadrimestre de 2009, a mesma situação se repete: a despeito da queda dos preços internacionais, as vendas dos cafés finos brasileiros (especiais), alcançaram um preço médio de US$ 189.59 por saca, superior aos preços médios dos países produtores de cafés despolpados selecionados na Tabela.
Além disso, e para um melhor juízo da política do café e da comercialização externa do Brasil, convém ter presente, a partir dos dados da OIC, a tabela a seguir que evidencia o preço pago em cada país aos cafeicultores, comparada com os preços médios de venda, permite concluir que o Brasil é o país que transfere ao produtor uma maior parcela do preço externo.