Em meados de outubro, a Cooxupé foi surpreendida com um questionário da ONG dinamarquesa Danwatch sobre trabalho escravo. O material, com cerca de 30 perguntas, investigava as ações e cuidados da cooperativa contra a prática. Somos uma cooperativa com mais de 80 anos de história, que cresceu graças à força de pequenos produtores de café. Nosso objetivo sempre foi oferecer ao cooperado subsídios para desenvolver, fortalecer e vender um grão de melhor qualidade e a cada ano, temos conseguido não só um grão diferenciado, mas também mais sustentável. E com este foco, respondemos prontamente todas as questões, nos posicionando contra a prática da escravidão e de condições impraticáveis de trabalho nas lavouras de qualquer cultura no país.
O relatório foi publicado no dia 3 de março, intitulado: Slavery-like Working Conditions and Deadly Pesticides on Brazilian Coffee Plantations (em português: Trabalho escravo e pesticidas perigosos nas plantações de café do Brasil). Pela nossa avaliação, o conteúdo foi extremamente parcial, destacando casos isolados e que não representam de forma alguma a Cooxupé e o cenário da cafeicultura brasileira, distorcendo a realidade do dia a dia no campo.
Assim como publicado em um pronunciamento do Cecafé (Conselho de Exportadores de Café do Brasil), repudiando o relatório da Danwatch, nós, da Cooxupé, gostaríamos de ressaltar que: o café é fundamental para a economia do país. Somos mais de 300 mil produtores, com cerca de dois milhões de hectares no território brasileiro, gerando cerca de 8,4 milhões de postos de trabalho em toda a cadeia produtiva do grão. O estudo aqui citado restringe apenas às 14 fazendas que constam da Lista da Transparência, publicada em maio de 2015, pela ONG Repórter Brasil, não respeitando um universo inteiro de produtores de café.
É importantíssimo ressaltar que o nosso país é um dos mais exigentes e fiscalizados do mundo no segmento do agronegócio, principalmente porque somos um dos maiores exportadores de alimentos do planeta, qualidade que nos destaca, mas, ao mesmo tempo, exige uma condição diferenciada perante os nossos concorrentes. E isso vem acontecendo. Hoje, mais de 20% das unidades de café produtivas do país são certificadas pelas maiores e mais conceituadas instituições do mundo, tais como UTZ Certified, Rainforest Alliance, 4C Association e Fairtrade, e nacionais, como CertificaMinas e selos de café orgânico. Isso nos traz a possibilidade de oferecer café para empresas gigantes do segmento, que exigem rastreabilidade do grão e boas práticas agrícolas.
Os produtores de café vinculados à cooperativa são cafeicultores que diariamente estão na lavoura em busca de uma produção cada vez melhor, mais valorizada e sustentável. O trabalho nas propriedades é realizado pelos produtores, familiares e funcionários. São pessoas que vivem não só do café, mas pelo café, com propriedades mantidas com muito suor e técnicas de produção passadas de geração em geração. São pessoas que dependem economicamente do grão, que conhecem os temores de uma safra inteira perdida, que se preocupam com o clima e cuidam dos seus pés de café como se fossem entes de uma só família. E é esse o café que a Cooxupé busca oferecer ao mundo.
Erroneamente, o relatório da ONG dinamarquesa também subentende que há no país o uso indiscriminado de insumos em nossas lavouras. Mais uma vez, é importante ressaltar que as leis brasileiras não permitem estas ações no campo. Na Cooxupé, o produtor cooperado não consegue adquirir qualquer insumo fora da época de aplicação, e uma equipe de técnicos e agrônomos está constantemente nas propriedades orientando sobre o uso correto, armazenamento e descarte. Neste ponto é importante relembrar que o Brasil é maior recolhedor de embalagens vazias de insumos do mundo. Em 2014, 94% delas foram enviadas para reciclagem graças à união de órgãos nacionais, estaduais e municipais.
Para finalizar, queremos ressaltar que o segmento de café é um dos setores da agricultura com maior capilaridade, isto é, não há concentração de renda, pois é formado em sua maioria por pequenos produtores e sabemos que esta é a verdadeira realidade do setor. A Cooxupé repudia qualquer ato ilegal como o trabalho escravo e a aplicação incorreta de insumos, mas não podemos deixar que entidades internacionais denigram a imagem de um setor responsável por manter a economia do país aquecida e que alimenta milhões de pessoas com a geração de renda.
Se estas organizações pretendem contribuir para a manutenção do planeta e para a educação da humanidade, certamente não é pegando um caso isolado e rotulando toda uma classe de produtores rurais. Com esta atitude, estas organizações apenas prejudicam os produtores que ainda vivem no campo e tiram seu sustento da atividade agrícola.
*Artigo publicado originalmente na Folha Rural, da Cooxupé, e cedido gentilmente ao site CaféPoint para publicação exclusiva