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Vietnã: uma viagem a um gigante do café

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 21/08/2006

7 MIN DE LEITURA

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Nos últimos dias, o mercado do café robusta tem observado uma significativa elevação na cotação do produto, a mais alta em 6 anos. Analistas presentes em Londres creditaram este quadro aos problemas climáticos ocorridos no Vietnã, responsáveis por uma queda na produção deste país asiático. Dado o quadro de contínuo aumento da demanda mundial por café robusta, nem mesmo as previsões de produção recorde para 2006/2007 foram capazes de conter a alta dos preços.

Em nosso último artigo, abordamos a questão do café solúvel brasileiro, que vem perdendo mercado devido às barreiras impostas por diversos países, concentrados em sua maioria no continente europeu. No entanto, também contribui para a redistribuição geográfica da produção de café solúvel o aumento da oferta de café robusta no mercado, originado sobretudo dos cafezais vietnamitas.

Uma vez mais, fica evidente a importância que o Vietnã possui para o mercado mundial de café robusta, sendo este país o maior produtor atual da espécie. Apesar disso, se perguntássemos a qualquer especialista do setor acerca da influência do Vietnã para o mercado mundial do café, há apenas 15 anos, provavelmente seriamos questionados do porquê de tal pergunta, como pode visto no gráfico 1.


Gráfico 1 - Produção mundial de café robusta (1990/91)

Desde então, o Vietnã vem abrindo sua economia. Da mesma forma, os aumentos na produção de café robusta do país são impressionantes, aproveitando-se dos baixos custos de produção local e o aumento da demanda.

Do lado da demanda, também colaborou o advento da vaporização, que permite a incorporação do café robusta aos blends de torrefadoras sem alteração na bebida. Esse fato contribuiu de maneira significativa para o deslocamento da demanda de arábica para o robusta, de custo inferior.

Introduzido em meados do século XIX por missionários franceses, o café possui uma trajetória bastante peculiar no Vietnã, país mais conhecido pelo conflito com os norte-americanos, ocorrido no auge da Guerra Fria.

O fato é que o país é hoje o principal produtor de café robusta do mundo, tendo ultrapassado tradicionais produtores como a Indonésia e a Costa do Marfim. Em seu território, o segundo maior do sudeste asiático, são produzidos também outros produtos agrícolas de grande importância para a economia local, como o arroz. No entanto, a rapidez com que o café ganhou espaço no Vietnã chega a ser impressionante (gráfico 2).


Gráfico 2 - Produção mundial de café robusta (2004/05)

Uma estatal, a Vinacafe, é a responsável pelo controle desse setor no país. Para os próximos anos, o governo vietnamita espera levar adiante um processo de reestruturação da estatal com o objetivo de aumentar ainda mais a competitividade do Vietnã no mercado internacional do café.

Parte desse esforço consistirá no aumento da participação da Vinacafe no comércio exterior cafeeiro, por meio de investimentos no setor e da compra de grãos de produtores independentes, bem como a reorganização de parte da produção nacional, com a venda de ativos de baixa rentabilidade.

O mais interessante, no caso vietnamita, é percebermos como a manutenção do socialismo, conforme o próprio exemplo da hegemonia estatal sobre o setor cafeeiro atesta, não impede que o país busque uma adequação, cada vez mais estrita, com as forças do mercado, de modo a garantir o sucesso do setor nas próximas décadas.

A relutância do Vietnã em participar de acordos internacionais para a limitação da produção demonstra claramente que seu objetivo é conquistar market-share (gráfico 3). Nos últimos anos, o país chegou a anunciar a intenção de investir na diversificação de atividades para seus cafeicultores como forma de criar alternativas à crise da renda provocada pelos preços baixos.

No entanto, somente o tempo dirá o quanto o Vietnã se engajaria em programas destinados a incentivar atividades alternativas por parte dos produtores. Dados os anúncios dos próximos planos da Vinacafe e a trajetória dos últimos anos, é de se esperar que somente o clima possa conter a expansão da produção vietnamita, algo que, por sinal, ocorre na atualidade.


Gráfico 3 - Evolução da produção de café verde nos principais países produtores.

Em notícia bastante veiculada na imprensa internacional durante os últimos anos, creditou-se a expansão da área plantada de café no Vietnã a planos de ajuda financiados pelo Banco Mundial, o que causou críticas ao organismo.

Essa informação foi rebatida pelo próprio banco, que afirmou, em relatório apresentado em 2002, que não possui nenhuma relação com o aumento da produção de café no país asiático. Apesar de reconhecer a enorme importância de seus recursos para a agricultura vietnamita, o Banco Mundial afirma que seus programas visam estimular a diversificação da produção entre os camponeses do país, sendo a concentração na produção do café arriscada pelas características dessa lavoura.

O fato é que, de qualquer forma, o papel dos investimentos estrangeiros para a expansão da área cultivada no Vietnã é central, assim como é observado em outros segmentos da economia, uma das que mais crescem atualmente na Ásia. Nesse sentido, as lembranças do regime socialista são cada vez mais distantes, ao menos segundo a ótica econômica.

O sistema político ainda é bastante fechado, sendo algumas de suas medidas fortemente questionadas pela comunidade internacional. Uma delas, relacionada com o café, diz respeito ao êxodo comandado pelas autoridades nacionais com o objetivo de povoar regiões mais aptas ao plantio de café, o que causou uma crise social de proporções consideráveis no país.

Em relação à área colhida de café no Vietnã, é interessante observarmos que o país ultrapassou a Indonésia nas estatísticas de produção de café robusta, ainda que o aumento da área colhida em território indonésio também tenha sido expressivo.

Para isso, contribuem sobretudo as condições climáticas e o solo favorável encontrados em território vietnamita, que garantem uma produtividade superior à de concorrentes como a Indonésia (gráfico 4). No entanto, o território do Vietnã não permite uma expansão muito maior da produção cafeeira, afinal boa parte das áreas próprias para o cultivo de café já se encontram utilizadas atualmente.

Apesar de todas essas potencialidades, o Vietnã possui uma estrutura pós-colheita ainda pouco mobilizada para garantir um produto de qualidade, o que se reflete na própria reputação do café vietnamita ao redor do mundo. Entretanto, conforme veremos a seguir, isso não impede a crescente inserção do país no mercado internacional.


Gráfico 4 - Evolução da área colhida de café verde nos principais países produtores.

Quanto ao grau de influência que o aumento da produção do Vietnã possui sobre a cafeicultura brasileira, é necessário lembrarmos em primeiro lugar que nosso país produz sobretudo o café da espécie arábica. No Vietnã as tentativas de produção de café arábica não deram resultado, daí a opção do país pelo foco na espécie robusta.

Apesar disso, o Vietnã é um concorrente direto do Brasil. A produção vietnamita traz implicações principalmente para a indústria brasileira de solúvel, que se, por um lado, conta com uma oferta de café robusta nacional para o processamento, por outro, observa a facilidade cada vez maior com que a matéria-prima pode ser obtida no mercado internacional.

A produção vietnamita de café se destina à exportação, afinal, como veremos a seguir, o consumo local é baixíssimo e o país não possui um complexo industrial bem constituído a ponto de processar sua enorme produção. Com isso, é evidente o aumento da oferta de café robusta no mercado internacional, o que motivou a abertura de diversas indústrias produtoras de café solúvel em todo o mundo. Conforme mostra o gráfico 5, o Vietnã já é o segundo maior exportador de café do mundo, tendo ultrapassado a Colômbia, tradicional concorrente do Brasil.


Gráfico 5 - Evolução das exportações de café verde nos principais países produtores.

Com uma população de cerca de 84 milhões de habitantes, o Vietnã ainda não é um grande consumidor de café, algo que tende a mudar nas próximas décadas. Em 2005, o consumo per capita de café do Vietnã foi de cerca de 0,6 kg por habitante, o que é pouco, se compararmos com o Brasil, cujo consumo é de cerca de 5 kg anuais por pessoa.

Assim como em toda a Ásia, o café vietnamita enfrenta a enorme concorrência do chá, parte integrante da rotina na região. No entanto, a exemplo da Índia, o ritmo de crescimento do consumo de café no Vietnã pode ser considerado bom, acompanhando o processo de modernização dessas sociedades, cada vez mais abertas aos costumes ocidentais. Espera-se que o crescimento da economia vietnamita provoque uma mudança cada vez mais acentuada no perfil de sua população, hoje, predominantemente rural e, portanto, bastante presa aos antigos costumes.

Portanto, a expansão da produção de café vietnamita é parte de um processo recente, iniciado no início da década de 90, com a abertura do regime socialista, e que vem ganhando força crescente. Os principais desafios que o Vietnã deverá enfrentar na próxima década estão relacionados à busca por maior eficiência no setor cafeeiro do país, que já se beneficia de custos de produção baixíssimos, mas que, no entanto, ainda peca pela falta de qualidade de seu café.

Também existe a tarefa de aumentar o consumo local de café, algo que deverá ocorrer à medida que o Vietnã se torne mais urbano. De certa forma, o maior produtor mundial de robusta oferecerá desafios aos seus concorrentes, que, nos próximos anos, terão que lidar com um produtor cada vez mais inserido no mercado internacional e cada vez mais relevante para o funcionamento do mesmo.

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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PEDRO

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 22/08/2009

Gostaria de parabenizá-los pelo artigo. Sou mestrando em Ciência dos Alimentos pela Universidade Estadual de Campinas e, frente a dados de grande relevância, vejo-me tentado a inclui-los aos demais dados já reunidos em uma revisão. Para tanto, gostaria de saber se vocês saberiam me informar dados atualizados dos gráficos. Mais uma vez, parabéns.

Desde já agradeço,

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