ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Vai um cafezinho argentino?

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 19/08/2008

4 MIN DE LEITURA

0
0
Cafezinho argentino? Como assim? Terá sido um erro de digitação? O título acima certamente provocou as reações mais diversas na audiência deste portal. Terão enlouquecido os dois?, certamente alguém se perguntou ao ler a chamada. Outros, com certa dose de razão, diriam: esses pesquisadores passam o dia inteiro trancados em salas estudando e com isso se esquecem do mundo ao redor! No entanto, não é este o caso aqui (esperamos...). Ao que tudo indica, ainda mantemos nossa sã consciência, e a experiência diária nos mostra a importância do contato contínuo com todas as partes interessadas em nosso objetivo de estudo.

A referência a um hipotético "cafezinho argentino", algo totalmente descabido na realidade dos dias atuais, se deve então às notícias que têm chegado aos nossos ouvidos e caixas de e-mail nas últimas semanas. Estas informações, longe de serem novidade, apenas reforçam alguns desafios já apresentados nesta mesma coluna, e que com o passar do tempo se tingem de cores que só aumentam a urgência de uma ação consistente.

Publicado recentemente, o estudo conjunto da Embrapa e Unicamp acerca dos efeitos do aquecimento global para a agricultura brasileira traz conclusões alarmantes. Caso as projeções estejam corretas, culturas como a soja perderão parcela considerável da área hoje cultivada, gerando enormes perdas econômicas para os agricultores. Para a cafeicultura, as notícias tampouco são animadoras: a previsão é a de que, mantidas as previsões de aumento na temperatura existentes, haverá uma migração progressiva do café rumo ao sul de nosso continente, chegando a locais onde hoje a cultura não existe, como o Rio Grande do Sul, o Uruguai e, como o título sugere, a Argentina.

Muitos consideram este tipo de exercício inútil, e apresentam uma série de argumentos para refutar as conclusões alcançadas pela metodologia de estudo de mudança climáticas. De fato, em parte estes eco-céticos tem lá suas razões, principalmente quando argumentam em cima de um quadro mais superficial, e se fixam no resultado final dos relatórios. É evidente que este tipo de estudo é uma simulação; nesse sentido, os efeitos efetivamente sentidos por nós no futuro podem não ser exatamente aqueles representados pelo relatório.

Porém, nada garante que o efeito da concentração de poluentes possa ser ainda pior do que o previsto pelos modelos. Inclusive, a observação da realidade tem garantido certo eco a esta hipótese, o que só aumenta nossa responsabilidade. Independentemente da precisão dos exercícios feitos, o princípio da precaução exige que medidas sejam tomadas, tendo em vista o desafio de evitar sempre quadros de revés; e neste tema, o tempo joga contra nós.

Isso posto, o que a cafeicultura tem com essa história? Ora, todos sabemos que a resolução de um problema tão complexo como o aquecimento global não depende da boa vontade de apenas um segmento de nosso país, tampouco de um único país do mundo. O trabalho a fim de evitar eventuais catástrofes é hercúleo, e depende da integração entre os mais diversos setores da sociedade, em um esforço raramente observado em nosso cotidiano. No entanto, desde um ponto de vista mais específico é possível a identificação de duas instâncias nas quais a participação do setor cafeicultor é imprescindível.

Em primeiro lugar, o desenvolvimento de tecnologias pode trazer um notável alívio para os efeitos mais perversos do aquecimento global. Aqui nos referimos não apenas a inovações capazes de reverter os estragos causados pela concentração de poluentes na atmosfera, como também àquelas destinadas a garantir a adaptação de diversos elementos de nossa vida atual ao novo quadro. É importante salientar que, em parte, os efeitos do aquecimento global já se encontram presentes em nosso planeta, e a convivência com tal realidade deverá fazer parte de nossas rotinas por várias décadas.

No passado, dois dos principais desafios enfrentados pelos cientistas brasileiros foram os de garantir o aumento da produtividade dos cafezais e a expansão da cultura em direção a novas regiões, como o cerrado. Com os dados que temos em mãos no presente, tudo indica que futuramente a preocupação passará a ser crescentemente a da adaptação da cultura a uma nova realidade climática. Confirmando-se as previsões correntes, passaremos a um quadro no qual, mais do que a preocupação com a abertura de novas fronteiras agrícolas, haverá a constante busca pela manutenção da potencialidade econômica daquelas áreas já exploradas.

Esta citação à necessidade de novas tecnologias funciona como um gancho bastante apropriado com nossa última coluna, publicada neste mesmo sítio há cerca de 15 dias. Repetindo algo já enfatizado anteriormente, tecnologias não caem do céu, e sua concepção depende de um árduo trabalho humano, não havendo qualquer certeza para a obtenção de resultados em um prazo pré-estipulado. Não apenas isso: o desenvolvimento de tecnologias custa caro, e alguém deve pagar a conta. Cabe a nós o constante questionamento acerca de potenciais origens para este financiamento e a forma como tal processo deve ser administrado.

Além disso, o engajamento político das lideranças da cafeicultura em questões como a política ambiental brasileira é fundamental. Conforme vai ficando cada vez mais claro, o exercício da democracia, apesar de suas incontáveis vantagens, traz também responsabilidades extras. E o desafio de garantir a defesa dos interesses do setor deve ir além das demandas de curto prazo, focadas exclusivamente nos recorrentes pedidos por auxílio econômico e relaxamento nas regras de financiamento. A adoção de agendas mais amplas, verdadeiras unanimidades sociais, longe de representar um gasto inútil de energia, podem representar o avanço do Brasil como um todo, e consequentemente a melhoria de seus cidadãos, estejam eles envolvidos com o negócio do café ou não.

Conforme buscamos enfatizar ao longo deste texto, o tempo é curto, e por isso a ação é fundamental. Afinal, nenhum agente envolvido na cadeia brasileira do café gostaria de ter de lidar com concorrentes incomuns, como a Argentina, principalmente em um contexto marcado pela extinção de nossa produção em áreas que, na atualidade, devem muito de seu peso econômico justamente ao talento adquirido na arte de conceber um café de qualidade superior.

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

0

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe CaféPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do CaféPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

CaféPoint Logo MilkPoint Ventures