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Um problema e suas múltiplas abordagens

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 18/11/2009

3 MIN DE LEITURA

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Assunto extensamente debatido, a rotulagem do café não deixa de oferecer novos aspectos a serem abordados. Nesse texto, procuraremos nos abstrair da proposta em si, ou dos interesses de cada um dos agentes envolvidos, em busca de um olhar mais amplo acerca do tema. Para tanto, partiremos da hipótese geradora de toda a discussão, algo que já oferece polêmica suficiente para essa conversa.

A razão para tal realidade, simples, é que a hipótese inicial nesse debate dependerá muito de quem a proponha. Basicamente, são duas as possibilidades: em primeiro lugar, haverá quem diga que a rotulagem é necessária porque a indústria joga sujo, adicionando impurezas ao seu produto, ou usa cafés de menor qualidade. Já outros afirmarão que rotular constitui um passo importante porque abre a possibilidade de informar as pessoas acerca da qualidade do café consumido.

Com base no discurso dos proponentes da rotulagem do café, é uma mistura das duas hipóteses expostas acima o que justificaria tal medida. Evidentemente, pensará o leitor, impedir que parcela da indústria trapaceie implicará um ganho aos consumidores, que beberão um café de melhor qualidade. Entretanto, tal resposta não nos convence. Embora muitos possam estar considerando este exercício inútil, há toda uma lógica por trás da identificação da hipótese inicial no debate acerca da rotulagem do café.

Comecemos então pela primeira hipótese: rotular o café é importante pois evita trapaças por parte da indústria. Tendo em vista as regulamentações já existentes e as características do setor, nos parece claro que a trapaça não depende unicamente da existência de rotulagem específica. Mais importante parece ser a capacidade do Estado em fazer valer as regras do jogo, que por sinal já existem.

Por outro lado, um industrial inescrupuloso poderia argumentar que os consumidores buscam preços mais baixos e isso só é possível com a adição de cafés mais baratos. Daí a importância do consumidor na história. De acordo com a segunda hipótese aqui apresentada, rotular o café vai ao encontro dos anseios dos cidadãos. Logo, podemos imaginar que consumidores mais satisfeitos com o nível de informação rebebido tenderão a fazer melhores escolhas no supermercado, algo que no limite os levará a comprar mais café e, quem sabe, pagar um preço melhor pelo produto.

Aprofundemos essa ideia agora, supondo que os consumidores realmente demandem cafés de melhor qualidade, algo mais do que razoável. Indo além, que tal expandir esse raciocínio, considerando que a rotulagem viria a resolver esse problema, garantindo a satisfação dessas demandas?

Pois bem, é aí que mora o problema: fomos capazes de identificar uma excelente oportunidade de negócio, qual seja: há consumidores que gostariam de tomar um café de melhor qualidade. Entretanto, a resposta dada a essa demanda passa pela criação de instrumentos visando maior regulamentação do mercado! É aí que mora a contradição. Não faltarão exemplos na literatura, inclusive no caso do café, para mostrar que nada pode atrapalhar mais novos negócios que a regulamentação excessiva do mercado.

Ao longo das últimas semanas, o que notamos é que a força natural dessa segunda hipótese vem dando lugar a um debate estéril em torno da primeira. De uma hora para outra, é como se elos pertencentes a um mesmo negócio fossem inimigos mortais, cabendo a cada um dos lados definir o que é melhor para o consumidor.

Na esfera econômica, porém, discordâncias como esta envolvendo a rotulagem do café, possuem seu ambiente próprio para serem resolvidas: o mercado. Se do lado dos produtores existe a percepção de que há condições de aumentar a satisfação dos consumidores de café, porque não ir diretamente aos interessados, lutando pela recompensa dessa ação?

Por mais que os motivos dos proponentes da rotulagem sejam nobres, seria um desperdício explorar essa possível oportunidade de negócio com mais burocracia. Certamente ganhariam alguns: o responsável por organizá-la, os que conseguirem emprego impondo o cumprimento das regras e algum legislador capaz de transformar a iniciativa em votos. No conjunto da obra, entretanto, os ganhos tendem a ser limitados, ou pior, podem passar longe dos cafezais.

Portanto, todo o cuidado é pouco antes de exagerar na conta e amarrar o mercado além da conta. No caso da rotulagem, o respeito às regras existentes e a busca pela atenção dos consumidores com estratégias diferenciadas garantiriam melhores resultados. Aproximar aqueles que consomem daqueles que produzem, seguirá sendo uma questão fundamental para o êxito da cafeicultura. Caberá ao setor decidir quantos intermediários dividirão a conta desse movimento e, muito importante, os ganhos decorrentes.

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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ARTENIS JARDEL DE SOUSA CRUZ

JANAÚBA - MINAS GERAIS - ESTUDANTE

EM 18/11/2009

Como sempre e para tudo, no Brasil nada se muda sem o interesse político por um novo "curral eleitoral". Achei perfeito o texto, pois como para varias outras áreas do pais, legislações boas e eficientes, já existem criar outras só aumentam a burocracia que já não é pequena em nosso país. Parabens pelo texto e que pena que a maior parte da população do país não tem esta noção.

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