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Tecnologia: nada mais complexo

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 30/07/2008

4 MIN DE LEITURA

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Nos últimos séculos, a humanidade foi se acostumando a uma série de termos, antes inexistentes, e que nos dias atuais são fundamentais para explicar fenômenos, enquadrar diálogos, ou mesmo garantir o emprego de consultores e editores ao redor do planeta. E entre estas novas palavras, tecnologia é das mais citadas. Por incrível que pareça, a recorrência a este termo nem sempre foi parte da rotina humana.

Durante milênios, novas técnicas foram progressivamente desenvolvidas, do arado à rotação de culturas, das obras hidráulicas ao melhoramento genético, sem que houvesse qualquer expressão capaz de resumir todo o processo em apenas uma palavra. Corriam outros tempos, quando a ciência e a economia caminhavam separadas, com boa parte do conhecimento emergindo casualmente, fruto do trabalho diário. O pensar era desvinculado do ganha pão, e não havia qualquer preocupação com a eficiência na tecnologia ou com a codificação excessiva dos avanços técnicos.

Séculos de desenvolvimento garantiram ao ser humano um estoque de conhecimento considerável, viabilizador de vôos cada vez mais ambiciosos. Paralelamente o mundo ocidental abraçava o progresso como norteador de sua caminhada, abrindo espaço para a unificação de uma série de atividades anteriormente desvinculadas. Daí a necessidade de criação de uma nova palavra, que vem a princípio embutida nos escritos de alguns primeiros economistas, ganhando posteriormente toda a sociedade: tecnologia.

Com o tempo, a nova palavra ganhou um espaço privilegiado na galeria dos termos ditos cultos, passando a constituir referência fundamental para explicar o mundo como ele é. E não apenas isso. Muitas vezes, a impressão é a de que caminhamos rumo à onipotência tecnológica. Para os eventuais problemas decorrentes do aquecimento global, novas tecnologias são a chave. Escassez de uma matéria-prima? Aguardem o desenvolvimento científico. Neste ambiente marcado por obviedades, o papel das tecnologias é central; no entanto, a forma como as mesmas seriam trazidas à tona muitas vezes não é explicada.

Boa parte das análises propondo soluções para as mais variadas mazelas da humanidade evocam o milagre de sempre, mas se esquecem de nomear o santo. Novas tecnologias em um mundo complexo como o nosso resultam de um complexo arranjo de pessoas e instituições, financiados por agentes públicos ou privados. Nesse sentido, não têm data certa para surgir, nem seguem uma trajetória única.

Da mesma forma, seu surgimento depende de incentivos apropriados garantidos por aqueles agentes interessados em encontrar alguma solução. Não são poucos os que citam a tecnologia e suas benesses sem qualquer lembrança ao processo anterior, e mais importante: seu desenvolvimento. Assim, se mantém parados à espera do milagre, como se o mesmo estivesse previsto em uma rota linear de recompensas bem determinadas.

Se comparado com o passado, não há diferença alguma em relação à forma como surge o conhecimento, tampouco acerca da posição humana neste processo. O trabalho diário continua sendo a chave para o desenvolvimento tecnológico, e não são poucos os casos em que inovações surgem casualmente. Igualmente, nem toda inovação traz consequências unicamente positivas para a humanidade, sendo importante também levar em conta os problemas surgidos da implementação de novas idéias.

O que certamente mudou é o canal criador de tecnologia. Na atualidade, são demandadas estruturas cada vez mais complexas para lidar com os atuais desafios e isso significa recursos crescentes. Não apenas isso; encontrar as respostas para as inquietações atuais só é possível caso o trabalho de pesquisa tecnológica esteja inserido em um planejamento de longo prazo, que preveja não apenas as possibilidades de sucesso como também a probabilidade de fracasso.

O mundo contemporâneo é muitas vezes simplificado em análises cheia de estilo, no melhor estilo "receita de bolo". No entanto, o esforço planificador e otimista geralmente se esquece das atribulações inerentes a qualquer caminhada demandante de fôlego extra, como os processos de desenvolvimento tecnológico. Enaltecidos os benefícios, são esquecidas as dezenas de naufrágios pelo caminho. Por isso, a suposta falha ocasional é vista com impaciência, quando na verdade é um requisito fundamental para o sucesso do futuro.

Líder no desenvolvimento de tecnologias aplicadas à cafeicultura, o Brasil deve seu posicionamento aos recursos investidos desde os tempos do Império na atividade, bem como a milhares de pesquisadores dedicados a oferecer soluções para os problemas. Em um século que mal começou e já apresenta um sem número de desafios, as demandas são crescentes e a pergunta necessária: estaremos criando as devidas condições para a criação de conhecimento relevante para a cafeicultura?

Indo além, o investimento tecnológico aplicado ao café no passado se focou principalmente no desafio de aumentar a produtividade. Será esta uma demanda eterna da cafeicultura brasileira, ou há outras prioridades? Dado que a escolha por um caminho em termos de pesquisa é altamente custosa, e em muitos casos de difícil retorno, quais os principais desafios para o futuro? Estaremos realmente atentos ao estabelecimento de um ambiente favorável para o fomento a atividades que favoreçam a exploração de atividades mais rentáveis para o setor como um todo? Muitas perguntas, é verdade; mas é delas que costumam nascer as respostas para o futuro.

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 04/08/2008

Prezado Rena,

Agradecemos a participação e os comentários, bastante pertinentes. Como pesquisadores, partimos sempre das perguntas. No princípio pode parecer meio frustrante, mas é delas que as respostas sairão. O objetivo deste artigo, como da maioria dos textos escritos por nós, é criar um ambiente propício para o debate. Esperamos seguir tratando de tópicos que consideramos importantes para a cafeicultura; no entanto, a colaboração de todos para a construção de uma agenda positiva para o setor é mais que necessária.

Atenciosamente,

Bruno e Sylvia
BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 04/08/2008


Prezado Juliano,

Agradecemos a participação e consideramos muito pertinente a sua colocação. De fato, há muito o que ser pesquisado na cafeicultura; e para isso o ideal é que toda a cadeia se coordene e busque um engajamento de fato.

Atenciosamente,

Bruno e Sylvia
BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 04/08/2008

Prezado Paulo Varela Sendin,

Agradecemos em primeiro lugar o comentário. Concordamos com as colocações feitas, e o objetivo do artigo foi justamente o de demonstrar o quanto o processo de desenvolvimento tecnológico é complexo. No entanto, faltou explicar melhor a diferenciação explicada por você, algo muito importante. Esperamos ter deixado a mensagem principal, principalmente para aquelas análises tão fixadas nas tecnologias em si e, por isso, pouco preocupadas com o processo anterior ao desenvolvimento tecnológico.

Atenciosamente,

Bruno e Sylvia

PAULO VARELA SENDIN

LONDRINA - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 31/07/2008

Ótimo artigo, que ajuda o leitor a entender o processo de desenvolvimento tecnológico e o crescente impacto da Ciência na geração de tecnologias.

Gostaria, no entanto, de tecer dois comentários.
Em primeiro lugar, a diferenciação entre "tecnologia" e "inovação". É importante destacar que o conceito de inovação inclui, obrigatoriamente, a inserção da tecnologia no mercado ou no uso social.

Em segundo lugar, um "protesto semântico": o termo "tecnologia" não deve ser utilizado como sinônimo de Tecnologia da Informação. É muito comum a utilização, especialmente pelos profissionais da área de TI, da palavra Tecnologia como se fosse uma referência específica a essa área. De fato, assim como temos Tecnologia da Informação, temos também Tecnologia Agrícola, Tecnologia Médica, Tecnologia Aeronáutica, etc...

JULIANO TARABAL

PATROCÍNIO - MINAS GERAIS

EM 31/07/2008

Prezados,

A tecnologia (palavra chave do artigo) é algo já mais que inserido no contexto de qualquer atividade que se preze. A cafeicultura brasileira sabe bem como empregar essa palavra no âmbito produtivo, e de um tempo pra cá, no âmbito qualitativo.

Mas, como muito bem perguntado no artigo, será que não há outras prioridadades? Sem dúvida alguma que há. Logicamente que os outros processos, como tratos culturais, irrigação, melhoramento, nutrição, etc não devem ser desconsiderados, mas devem surgir pesquisadores e incentivos para outras áreas, como, por exemplo, o grande gargalo da comercilização.

O marketing do café também tem muito o que fortalecer, criar novos produtos à base de café, novas maneiras de se consumir a bebida, de aumentar o consumo, de valorizar o café, entre outros.

E será a difusão do consumo apenas responsabilidade da indústria? Devemos crer que não, pois assim trabalharemos com uma cadeia "rachada".

O que quero dizer é que a tecnologia não deve se ater somente ao campo, mas também às mais variadas formas de se comercializar, planejar estratégias e consumir café.

Abraço
ALEMAR BRAGA RENA

VIÇOSA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 31/07/2008

Caros Sylvia e Bruno:

Muito boa análise de um tema importantíssimo. Parabéns!

Entretanto, em termos de cafeicultura, vocês encerraram a análise onde ela realmente deveria começar. Deêm-nos um pouco mais de dicas sobre as "outras prioridades". Acho que vale a pena, pois ajudariam a muitos. Há pesquisadores de café perdidos, gastando o dinheiro, em geral do cafeicultor (poucos produtores sabem disto), sem ter noção do custo/benefício, seja ele de produtividade ou qualidade.

É lógico que o principal objetivo do produtor é o lucro, mas nem sempre o uso de uma nova tecnogia, ou quebra de paradigma, como dizem hoje, é o mais desejável financeira, ambiental ou socialmente.

Fica aí o meu desafio. Quem sabe outros especialistas entrem no debate!

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