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Será o fim do médio produtor rural nos países não-desenvolvidos?

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 29/06/2009

4 MIN DE LEITURA

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Em artigo recente publicado no jornal "O Estado de São Paulo", o escritor francês Gilles Lapouge discute se a atual dinâmica do capitalismo estaria levando ao fim da classe média urbana nos países desenvolvidos. Reconhecendo as dificuldades conceituais ligadas a essa noção, o autor designa a classe média como aquela situada entre as parcelas ricas e pobres da população.

De acordo com Lapouge, entre 1950 e 1975 houve uma grande expansão da classe média no Primeiro Mundo. No entanto, a partir de então ocorreu o inverso. Pior, o esvaziamento da classe média se deu com o rebaixamento de parcela significativa desse grupo para a faixa de renda inferior.

Partindo dessa constatação, o autor questiona se o declínio da classe média nos anos recentes é apenas uma expressão da crise dos últimos anos, ou seja, se ela é temporária. Para Lapouge, não há dúvidas de que as razões por trás do declínio da classe média estão ligadas a uma questão mais complexa, de cunho estrutural. Afinal, tal processo vem assolando as mais variadas sociedades, "seja qual for a ideologia, o talento ou a prática dos governos que estejam no comando". Lapouge conclui, assim, que o declínio da classe média constitui um processo cuja dinâmica independe das crises do capitalismo.

Isso posto, o que o tema debatido acima tem a ver com o título desse artigo? Ou seja, de que maneira esta constatação se relaciona com o fim do médio produtor nos países não-desenvolvidos?

A resposta para essa questão é complexa, e poderia ser resumida em duas palavras: "nada" e "tudo". As explicações para a primeira resposta estão ligadas ao fato de que esse movimento não é comparável ao que está ocorrendo no meio rural. No ambiente urbano, é a incapacidade do mercado de trabalho de absorver um contingente considerável de jovens com alto nível educacional o principal motivo para o declínio da classe média.

Por outro lado, os argumentos em torno do "tudo" se relacionam à diminuição das oportunidades de investimento no Primeiro Mundo. Vivendo em sociedades caracterizadas por um acúmulo de capital sem precedentes, aqueles com condições estão se voltando de maneira crescente às oportunidades de investimento nos países não-desenvolvidos, onde os requerimentos para a entrada no jogo econômico são consideravelmente menores.

Vejamos mais de perto esse último argumento. Matéria publicada na revista "The Economist" em maio de 2009 traz uma reportagem acerca de um fenômeno ali denominado como a "terceira onda de terceirização". Mais especificamente, tal fenômeno se caracterizaria pela entrada dos grandes investidores globais nos mercados de aquisição e arrendamento de terras nos países não-desenvolvidos. Embora essa prática não seja nova, a grande novidade é a escala com que tem se dado.

Para se ter uma ideia, o Instituto Internacional de Pesquisa em Política de Alimentos aponta que, desde 2006, entre 15 e 20 milhões de hectares situados em países pobres foram vendidos a estrangeiros. Em termos comparativos, o território em questão equivale a 50% de todas as terras agrícolas da União Europeia.

No Brasil, entre 2007 e 2008, foi registrada a venda de 67,8 mil imóveis para estrangeiros, o que corresponde a 7,8 milhões de hectares. Mais ao sul do continente, a compra de enormes porções de terra por estrangeiros na Patagônia argentina levou o Congresso daquele país a intensas discussões acerca da desejabilidade desse movimento.

Não é preciso muita imaginação para dimensionar a revolução que este processo irá proporcionar. Basta considerarmos elementos como a elevação da produtividade, por meio do uso de novas tecnologias, ou o incremento dos investimentos em infraestrutura, para que a conclusão seja óbvia: a nova dinâmica do comércio de terras agrícolas nos países não-desenvolvidos levará a mudanças importantes em sua estrutura agrária.

No caso específico do Brasil, uma das tendências que deverá se aprofundar é a diminuição do número de produtores de médio porte. Este grupo de agricultores, cuja atividade está baseada na contratação de mão-de-obra contratada e permanente, deverá ser a mais penalizada.

Afinal, os investimentos estrangeiros devem contribuir para o aumento da produtividade no campo, o que levará a uma queda dos preços dos produtos agrícolas. Tendo em vista o fôlego dos grandes investidores para aguentar as tormentas, evidentemente os médios agricultores constituirão o grupo mais sensível ao novos tempos.

E os pequenos produtores, como lidarão com esse quadro? Entre os agricultores familiares, a baixa dependência de mão-de-obra externa e a importância das atividades ligadas à subsistência devem contribuir para que os reflexos desse processo não sejam tão intensos.

Portanto, é provável que assistamos à diminuição do número de médios produtores nos países não-desenvolvidos. Com o aumento do interesse dos grandes investidores pelas terras nesses lugares, devem ser os médios produtores os principais alvos das aquisições futuras.

É necessário muito cuidado, porém, antes de associar esta análise, ou ainda muitas das notícias divulgadas nos últimos tempos, a um suposto "fim dos tempos" para a cafeicultura brasileira. Ora, a diminuição não significa a extinção, e os exemplos de sucesso existem! Por isso, a profissionalização no campo e a busca por nichos mais atrativos constitui uma lição de casa fundamental para o setor no país.

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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RONALDO SOUZA MORAIS

BOA ESPERANÇA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 11/01/2010

Helio Jose, o Sr. Joao Marcelo ainda não respondeu qual o custo de producao do cafe na Bahia a exatos 6 meses.

Com relação a esses relatos, concordo que os estrangeiros, que exploram o produtor de café e o de qualquer outra atividade, consideram o Brasil como colonia deles. Em 06/07/09 o sindicato rural de Boa Esperança, mandou um e-mail dizendo
que a yllicafè compra café especiais aqui, qualificados em concursos, a R$8,75/Kg
e vende a R$171,60/Kg.

Minha nossa, 5% paga ao produtor brasileiro, que paga para as multinacionais dos insumos e defensivos, que paga a mao-de-obra com impostos escorchantes, que paga combustiveis e lubrificantes da Petrobras (futura Lulabras,rsrsrsr), que paga energia da Cemig (a mais cara do planeta, viu sr. Aecio Neves), que paga comissoes de vendas as cooperativas, etc,etc. etc. Tem que ser mágico senão evapora-se do mercado. Vai medio produtor, vai, vai, vai...sair do mercado mesmo. Não aguenta mesmo. Infelizmente.........
HÉLIO JOSÉ ALVES DE FIGUEIREDO

SÃO SEBASTIÃO DO PARAÍSO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 06/07/2009

Sr. João Marcelo, o senhor poderia dizer qual o custo de produçao do café na Bahia?

Obrigado.
SYLVIA SAES

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 06/07/2009

Prezado Antonio Claudio:

Estava esperando ter mais informações para te responder. As informações que solicitei ainda não chegaram, mas não resisti.

Primeiramente, agradeço as suas pertinentes observações, como também a dos demais leitores. O que posso adiantar é que os dados do Incra subestimam o movimento dos estrangeiros no setor agrícola. Isto, por dois motivos: i. as empresas estrangeiras que tem sede no Brasil não são consideradas nesse cadastro; ii. os arrendamentos também não fazem parte dessa análise. Ou seja, o que podemos inferir é que há uma dinâmica muito mais intensa do que os dados revelam e que não sabemos ainda bem qual o seu resultado.

Abraços a todos e obrigada pela leitura.
JOÃO MARCELO VIEIRA ALVES

VITÓRIA DA CONQUISTA - BAHIA - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 04/07/2009

Nem precisava tanto texto para o óbvio. Em 94, vendi meu café a R$ 270; hoje está a R$ 240. Fertilizante ureia está hoje a R$ 38 mas chegou a R$ 100; o salário era R$ 80, hoje 465 mais taxas. Solução?

K3 na colheita, negociar insumos, fechar contratos futuros e mandar colocar arsênico no uísque dessa cambada que se diz parlamentar. A nossa colônia continua. Quem viaja para o exterior percebe claramente. E outra coisa, o brasileiro em geral é um péssimo negociador internacional. Nao sabe nem comprar um relógio quando vai a NY, o que dizer de negociar produtos.

Os médios vão acabar sim, ficarão pouquíssimos que têm a atividade como poupança e não meio principal de vida. Seguem bem as empresas e os grandes.

Abraço a todos.
ARNALDO REIS CALDEIRA JÚNIOR

CARMO DA CACHOEIRA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 29/06/2009

O processo é continuo e sem volta !

Quando afirmei que a cafeicultura será para poucos fui criticado. Porém, reafirmo que será. Nichos são PEQUENOS MERCADOS - e assim, para poucos. Grande produtores - serão poucos.

O desenvolvimento de um país valoriza a mão de obra e como não podemos colocar preço no nosso produto, esta mão de obra fica cara - MÃO DE OBRA para poucos.
Quanto mais desenvolvido mais tecnificado - tecnologia "cara" para poucos.

Boa reflexão.
ANTONIO CLAUDIO G. LELLIS VIEIRA

SÃO PAULO - SÃO PAULO

EM 29/06/2009

Fica uma dúvida na leitura do artigo. Se 7,8 milhoes de hectares foram adquiridos em 67,8 mil imóveis, isso dá uma média de 115 ha por propriedade, o que caracteriza uma pequena para média propriedade. Considerando que o investidor estrangeiro terá um custo de gerenciamento da propriedade maior que o fazendeiro brasileiro por precisar contratar um profissional caro para tocar seu negócio, e que para melhorar produtividade um dos requisitos é área, me parece que há a possibilidade de se levantar algumas outras hipóteses.

A primeira que me vem à mente é que esse pode ser o retorno de parte do dinheiro de brasileiros no exterior, através de off shores, o que caracterizaria como estrangeiro.

O que, sim, pode levar ao desaparecimento do médio produtor é muito mais uma política de juros subsidiados pelo BNDES para grandes grupos amigos do rei. Veja o desastre na pecuária de corte, da qual, sem estrangeiro, o pequeno e médio produtor foi expulso.
JOSÉ EDUARDO MENEZES MENDONÇA

CARMO DO PARANAÍBA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 29/06/2009

Parabéns pelo artigo,

Como presidente da ASSOCAFÉ - Associação dos Cafeicultores de Carmo de Paranaíba - vejo isto acontecer todos os dias; os médios produtores têm vendido sua propriedades para grandes produtores.

No entanto, antes da crise de setembro de 2008, tivemos notícias que grupos estrangeiros, interessados em adiquirir áres de café em nossa região. Creio que uma saída, ou a única, seja o fortalecimento de nossas entidades de classe, como Associações, Cooperativas e Sindicatos.
MAURÍCIO GOMES COELHO

ESPÍRITO SANTO DO PINHAL - SÃO PAULO

EM 29/06/2009

É notória a invasão estrangeiras em terras predominantemente tupiniquins. A dúvida se dá na continuidade deste processo e o quanto pode impactar no desenvolvimento da área adquirida.

Acredito que a maioria dos proprietários nunca viu um palmo de terra e isto é péssimo, pois ao invés de cultivar o solo estamos presenciando uma verdadeira grilagem, onde quem der mais leva, e o tão esperado desenvolvimento fica a mercê da sorte dos novos bandeirantes.

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