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Salve-se quem puder?

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 28/11/2008

4 MIN DE LEITURA

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Duas notícias publicadas na última semana motivam a coluna dessa quinzena. Tais fatos, pinçados entre outros tantos disponíveis aos leitores, dão uma noção do momento vivido pelo planeta desde a eclosão da atual crise financeira. Afinal, nunca se repetiu tanto nesse novo século, curto porém agitado, a palavra segurança. Mesmo nas horas mais emotivas da chamada guerra ao terror, o discurso defensivo se ligava às questões militares ou à ameaça latente de um ataque. Na atualidade, porém, o termo é relacionado aos mais diversos tópicos: energia, alimentos, sistema financeiro, que passam a acompanhar a preocupação de outrora, o terrorismo. Via de regra, o que fica cada vez mais patente nessas manifestações é o surgimento de uma retórica que se ampara na necessidade de ações que se bastem dentro das fronteiras dos Estados nacionais, sendo a opção multilateral muitas vezes colocada em segundo plano.

Na Coréia do Sul, o conglomerado Daewoo anunciou o arrendamento de terras em Madagascar, com o objetivo de produzir bens agrícolas para o mercado sul-coreano. A extensão do território envolvido no acordo, equivalente a cerca de metade do território da Bélgica, impressiona, principalmente tendo em conta a reduzida porção de terra ocupada pela Coréia do Sul. No entanto, impressiona mais a disposição de um grupo do país em dedicar tamanho esforço para garantir o abastecimento interno, lançando mão inclusive de estratégias pouco ortodoxas.

Já na Itália, o assunto mais comentado nos últimos dias é a proposta da Liga Norte, grupo político com importância crescente para o jogo de poder no país, de decretar a proibição da imigração ao longo dos próximos dos 2 anos. Sendo um assunto tão controverso, é evidente que não tardaram as reações, vindas de grupos dos mais variados, como a Igreja Católica ou a enfraquecida oposição italiana. Entretanto, o simples fato de uma proposta tão polêmica ganhar o eco que ganhou, e obter o apoio do ministro do Interior, já demonstra os sentimentos que o tema da imigração desperta em muitos europeus.

De formas distintas, o que esses dois fatos demonstram é uma tendência natural em épocas difíceis, quando a sensação é a de que não há recursos suficientes para todos. O elemento estrangeiro passa a ser visto como uma ameaça, e os argumentos de que tempos de vacas magras pedem maior isolamento ganham um respaldo crescente da população. Independentemente dos desfechos de cada iniciativa descrita acima, o importante é salientar o quanto cada Estado anda desconfiado dos outros nos dias atuais, talvez muito mais do que deveria.

Em momentos de crise, é comum a adoção de estratégias baseadas no "salve-se quem puder". Buscando apaziguar eleitores ou correligionários, não são poucos os governos que se lançam a uma cruzada por medidas paliativas, cujas consequências podem se mostrar bem piores que eventuais benefícios. Os poucos lampejos de restabelecimento do otimismo se deram justamente quando houve ação coordenada entre os agentes, a busca pelo consenso e a proposta por mudanças que lidem com os problemas contemporâneos. Posturas isolacionistas ou demasiado defensivas, longe de constituir uma novidade, apenas contribuem para o aumento do clima de desconfiança mútua e o consequente acirramento dos ânimos.

Todas as reuniões conjuntas de Estados realizadas desde o início da atual crise, por mais que tenham contribuído para acalmar os ânimos no curtíssimo prazo, não foram capazes de garantir uma resposta concreta aos anseios e preocupações das pessoas. Respostas estas que, ainda que não da forma recomendável, vêm sendo dadas de forma absolutamente descompassada por governos ao redor de todo o mundo, muitas vezes em detrimento de valores outrora defendidos pela comunidade internacional. Logo, não é de se estranhar tamanha incerteza generalizada.

A busca por segurança parece, para muitos, ser o melhor remédio quando predomina a desconfiança. Entretanto, mais que segurança, o que o mundo anda precisando é de cooperação. O pior certamente passará em algum momento, e de um quadro pouco favorável emergirão as bases para o florescimento de determinados setores da economia e da sociedade. Depende dos líderes mundiais, e dos grupos que pressionam essas lideranças (nós todos, por sinal), a defesa de caminhos que privilegiem a reconstrução da confiança, tão abalada nos dias atuais. Agir sozinho, nesse caso, pode até levar a um alívio momentâneo; no longo prazo, porém, as consequências desse ato podem revelar-se amargas.

E o café, como é que fica?

Indo direto ao ponto, como fica a cafeicultura com todo esse alvoroço? Sem querer entrar nos movimentos dos mercados futuros, amplamente cobertos pela imprensa especializada, vamos nos deter às eventuais implicações políticas da crise para a cafeicultura no Primeiro Mundo. Para tanto, é importante levar em conta que um eventual recrudescimento da crise poderia afetar ainda mais determinados segmentos do mercado. Os planos de corte de investimentos da Starbucks, por exemplo, são um exemplo daquilo que o pessimismo e a realidade somados podem trazer à economia real.

No entanto, seria inimaginável o estabelecimento de medidas protecionistas contra o café brasileiro, afinal este insumo é antes de tudo um elemento dinamizador nas economias dos países mais atingidos pelos acontecimentos atuais. Além disso, ninguém é prejudicado pelo café importado no Primeiro Mundo, dado que ninguém cultiva o produto nesses países. Dependendo dos embarques de café verde de países como o Brasil, dezenas de indústrias, responsáveis por milhares de empregos, poderiam mesmo negociar ainda mais facilidades com os governos locais, evocando o argumento de que em tempos difíceis o melhor a fazer é fomentar a atividade econômica.

Por outro lado, se em épocas de bonança já era difícil contornar as barreiras tarifárias impostas a produtos com maior valor agregado provenientes do Brasil, o que dirão os responsáveis pela determinação da política comercial de blocos como a União Européia, ou de países como os EUA, quando surjam demandas por uma maior abertura benéfica a setores de nossa economia? Provavelmente dirão que o momento não é o mais propício para tais ações. Assim, perdem os empreendedores em potencial, que poderiam tentar algo diferente em um setor que não pode se conformar em exportar apenas o café verde. Enfim, uma pena.

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 11/12/2008

Prezados,

Agradecemos as contribuições, que enriquecem a nossa participação no Cafepoint. Em relação às cartas publicadas, gostariamos de fazer alguns rápidos comentários:

1) A experiência recente vem mostrando que aqueles países especializados em atividades mais próximas dos consumidores têm ganhado mais. Isso porque nesses elos, a tendência é de uma adaptação constante às demandas e à propensão a gastar dos consumidores. As razões disso ocorrer são várias. Inclusive, esse é um tema interessante para ser explorado em um artigo no futuro.

2) Evidentemente, o Brasil ganharia muito se entrasse nesses segmentos de forma ainda mais intensa. Quanto mais garantir sua presença em todos as etapas até o ponto da venda ao consumidor, melhor para o país. No entanto, o que esse artigo procurou mostrar é que, se em tempos de expansão uma abertura de mercados que nos interessam já é difícil, o que dizer dessa possibilidade em um momento em que predomina a percepção de crise profunda.

3) Em relação à idéia de importar café, já expressamos nossa opinião em outros artigos nessa mesma seção. E provavelmente iremos falar disso novamente no futuro, ainda que estejamos cientes de que nossa opinião não agrada parcela considerável dos leitores dessa coluna.

4) Finalmente, os imprevistos climáticos infelizmente tenderão a virar rotina no futuro, caso as previsões dos cientistas estejam corretas. Problemas com cotações, preços de insumo, etc, são importantes; porém uma conscientização a respeito dos limites da natureza é até mais fundamental, dado que lida com a própria viabilidade da cafeicultura em diversas porções do país.

Atenciosamente,

Bruno e Sylvia

RAFAEL ALTOE FALQUETO

VENDA NOVA DO IMIGRANTE - ESPÍRITO SANTO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 29/11/2008

Interessantíssimo este artigo!
Por favor, responda-me: a sacada final é mesmo esta: passou da hora de modificarmos o produto final que exportamos! Vamos torrá-lo, moê-lo e vendê-lo em frações menores. Parece-me possível e tentador.

Vamos vendê-lo ao ponto de consumo em xícaras e aumentarmos o valor agregado de nosso café do Brasil. Assim como os EUA influenciou e incentivou os colombianos a fazerem!

ÓTIMA IDÉIA!!!
JOÃO CARLOS REMEDIO

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 28/11/2008

O controle da entrada de imigrantes, que já estava rigoroso antes da eclosão dessa crise econômica, agora ficou mais acirrado. É importante notar que os países onde estas leis estão sendo criadas ou ficando mais rigorosas, outrora, foram os grandes exploradores.

Dominaram suas colônias principalmente nos continentes africano, asiático e sul-americano, enriquecendo-se de suas riquezas, principalmente as minerais. Muitos desses países-colônias hoje se encontram abaixo da linha da pobreza. Receber cidadãos originários desses países seria uma pequena forma de retribuir tamanha exploração passada.

Outra maneira de beneficiar esses países seria diminuir a taxação de seus produtos, haja vista serem produtores de matérias primas, ou seja, de produtos não manufaturados com menor valor agregado, principalmente alimentos. Mas, o que querem os países ricos é comprar cada vez mais barato, empobrecendo ainda mais os produtores, aumentando a imigração. Parece óbvio mas não querem enxergar.

Quanto ao café, o Brasil continua colônia. Exportamos mais cafés verdes, com muito menos valor, deixando para muitos países lucrarem com a industrialização do mesmo. É por isso que nossos cafés serão sempre bem-vindos. Estamos gerando riquezas lá fora. Aqui estamos cada vez mais pobres financeiramente, e de idéias também.

Não temos uma política agrícola decente, o preço de nossos produtos muitas vezes não cobrem os custos de produção. Com a cafeicultura é a mais pura realidade. Não bastasse tudo que estamos enfrentando sem uma ajuda real de nosso governo, ainda estão querendo importar cafés. Parece que estão descobrindo que explorar o produto dos outros e desprezar os nossos é mais rentável. Está nos faltando comando, perdemos o rumo.

Se queremos ser primeiro mundo, temos que deixar de ser colônia, nas atitudes e na alma. O Brasil precisa ser grande!
ROBERTO GUIMARÃES RIVERA DE REZENDE

VARGINHA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 28/11/2008

A crise do setor cafeeiro não é de agora, ela já vem se arrastando por vários anos com o descompasso dos preços do produto em relação aos insumos. Nós reduzimos os custos, estamos mecanizando as lavouras, cada um dentro de suas possibilidades. Mas um fator detalhe, que nos influencia diretamente, é também o clima. A região do sul de minas foi seriamente afetada pela falta de chuvas no período da florada, no ano de 2007. A colheita começou muito atrasada em 2008. A maioria atrasou a colheita pensando-se não colher os grãos verdes para não se produzir cafés de má qualidade e acabamos por produzir café de consumo interno no final da colheita devido a chegada das chuvas.

Estávamos colhendo a safra de 2008 no mesmo momento em que chegava a florada de 2009. Algumas perdas foram inevitáveis, mas para se minimizar a perda para o ano, tivemos que jogar a colheita desse ano no chão. Agora o dólar passou de 1,60 para 2,30 e os preços da saca continuam os mesmo de anos anteriores, na faixa de R$ 260. Só nos resta, agora, reduzirmos ainda mais o custo. Não iremos adubar, é a única saida que nos resta, mas ainda falta pagar os empregados até a próxima colheita. Ainda não imaginamos uma saída racional para esse item.

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