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Quem tem o direito de dar a última palavra?

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 15/09/2009

3 MIN DE LEITURA

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Há cerca de dois anos, dedicamos um de nossos textos à cafeicultura venezuelana. País vizinho de potências internacionais do café, a Venezuela nunca teve atenção correspondente ao seu potencial no setor, culpa principalmente dos êxitos do Brasil e da Colômbia. Espremidos entre a quantidade e a qualidade (ao menos segundo a percepção do mercado), aos venezuelanos coube um papel secundário no mundo do café. Ainda assim, um número considerável de famílias do país depende desse produto para seu sustento.

Passado tanto tempo, é interessante observar como algumas tendências se aprofundaram por lá. Indicador de tal quadro é reportagem publicada recentemente no Financial Times, discutindo o estado atual da cafeicultura venezuelana. Apesar de seu enorme potencial, o setor vem convivendo com um governo caracterizado por decisões polêmicas. Mais especificamente, ao menos no caso da cafeicultura, o estilo Hugo Chávez de fazer política (e economia) vem tendo consequências desastrosas.

Juntamente com sua retórica inflamada e as promessas de estabelecer o socialismo do século XXI, o governo Chávez trouxe os controles de preços. O resultado, previsível, foi o abandono da atividade por parte de milhares de cafeicultores, incapazes de cobrir os custos de produção. Já outros preferiram simplesmente adotar o contrabando como estratégia de sobrevivência, direcionando sua produção para o território colombiano. Com isso, esses cafeicultores não apenas garantem uma remuneração melhor, como também contribuem para um fenômeno que sucedeu a adoção dos controles de preços: o desabastecimento do mercado interno.

O roteiro, nesses casos, é bem conhecido. Preços fixados a um nível inferior ao que seria observado em um quadro sem restrições levarão à escassez do produto. Para o governo da Venezuela, porém, são os capitalistas gananciosos os principais culpados de tal situação. Não por acaso, vem se intensificando do lado de lá da fronteira as nacionalizações de empresas e propriedades rurais, sempre com o argumento do interesse nacional.

Inclusive, chama a atenção o impacto do controle de preços sobre a cadeia como um todo. Afinal, com o encerramento das atividades de milhares de cafeicultores, o café venezuelano se tornou mais caro para as torrefadoras, que foram obrigadas a repassar os custos aos consumidores. Como não poderia deixar de ser, o governo Chávez não ficou nada satisfeito com a evolução desse quadro, acusando os empresários de exercerem poder de monopólio sobre o setor. O resultado, evidente quando se trata da política chavista, foi o aprofundamento das críticas e os planos de estatização.

Por tudo isso, o exemplo venezuelano é de grande valia, pois nos faz refletir acerca de um tema fundamental: quando o assunto é economia, quem tem o direito de dar a última palavra? Obviamente, são diversas as áreas em que o governo pode e deve fazer valer suas prerrogativas, estabelecendo condições favoráveis para a realização de negócios. No entanto, uma vez que determinado setor tenha condições de prosperar por suas próprias pernas, qual seria o benefício de interferir no andamento natural das coisas? Caberia ao governo determinar de forma tão estrita quem tem direito ao que em uma sociedade? Ou não seria a interação entre os agentes, em um ambiente marcado por regras claras e um juiz atento, a melhor resposta para desafios como aqueles enfrentados pela Venezuela?

As perguntas acima servem, em primeiro lugar, para a reflexão de todos aqueles ligados a esse importante espaço de debate que se tornou o CaféPoint. Indo além, podem iluminar futuros debates (além de discussões do passado), dedicados a tópicos mais específicos. No caso da Venezuela, Chávez vem tentando estender a influência do Estado sobre áreas da economia que certamente estariam em melhor situação caso a interação entre os agentes ditasse os resultados finais. Embora bastante diferente da experiência brasileira, o exemplo da Venezuela nos mostra que a atuação do governo, ainda que essencial, não deve ultrapassar determinados limites. Caso contrário, os efeitos nocivos certamente serão superiores aos eventuais benefícios.

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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