Apresentamos nas linhas a seguir alguns gráficos que se inserem em um estudo de maior fôlego no tema. Os dados, gentilmente cedidos pela Agroconsult revelam informações que há muito fazem parte do debate na área. A relevância de trabalhos como o realizado por esta consultoria está na busca por precisão crescente na medição e avaliação de variáveis fundamentais para a cafeicultura, como os custos de produção e a receita. Tal busca é capaz também de trazer ao nosso conhecimento dados bastante ricos, demonstradores de tendências e inspiradores de dúvidas.
No que se refere à receita, o estudo supracitado defende que a mesma deve levar em conta a composição da safra em primeiro lugar, e a sazonalidade dos preços e comercialização da safra. Somente com estes dados em mãos seria possível uma ponderação adequada para a obtenção do preço com maior precisão. Como conclusão desta constatação, o estudo aponta para deficiências em indicadores existentes que comprometeriam o cálculo da receita média dos cafeicultores. Nada mais natural, uma vez que a arte de consolidação de indicadores se encontra constantemente ligada a limitações dessa natureza.
As controvérsias em relação a temas como este são de reconhecida complexidade, de modo que deste debate cabe aqui levarmos a delimitação das variáveis necessárias para o preço ponderado. Pois bem, isso feito, o que cada uma destas diz a nós? Apresentaremos aqui 3 gráficos, os dois primeiros discutidos em outras oportunidades nesta coluna, e o terceiro com evidências para um importante movimento na cafeicultura brasileira. Ao final, será feita uma reflexão acerca dos dados apresentados, de onde surgirão outras questões de igual relevância.
Gráfico 1. Cotação Tipo 6 e melhores e Deságio Médio para outros tipos de café
(Sul de Minas)
Abaixo observamos que os meses em que mais houve comercialização da safra, agosto e setembro, são também os que apresentaram menor cotação de acordo com o estudo. Tal evidência é de grande impacto para a formação das receitas na cafeicultura, e inclusive abre espaço para o estabelecimento de estratégias individuais de comercialização, especialmente para aqueles agentes com maior fôlego financeiro. No entanto, sabemos que para parcela considerável dos produtores esta opção não se encontra disponível, ao menos levando em conta as práticas tradicionais no setor. Sabemos que é neste período que vence os financiamentos de custeio e colheita obrigando os produtores a comercializarem o produto nesta época.
Tabela 1. Comercialização da Safra (% Mensal)
Finalmente, no que se refere à participação de cada tipo de café na safra, é evidente o aumento da produção de café tipo 6 e melhores (linha vermelha) nos últimos 10 anos. Tanto os cafés riados (verde) como os tipo 7 e piores (azul) encolheram em termos de importância desde 1995, e a tendência é que este movimento siga ainda por algum tempo, dado o enorme potencial da região do sul de Minas Gerais no que se refere ao refinamento da qualidade do café produzido. A rapidez deste movimento dependerá fortemente dos sinais do mercado, principalmente daquelas empresas dedicadas a explorar o contínuo crescimento dos cafés especiais no Primeiro Mundo.
Gráfico 2. Participação de cada tipo de café na safra (Sul de Minas)
Daqui pra frente, o que esperar?
Tal qual a pergunta título deste artigo, esta seção provavelmente decepcionará o leitor esperançoso em encontrar respostas mágicas. Mais que isso, serão levantadas aqui algumas questões, cujo estudo merece atenção de todos. Inclusive, as percepções dos produtores são fundamentais para a busca de soluções criativas capazes de garantir um lugar ao Sol a todos os envolvidos neste setor.
Em resumo, vimos que as cotações de cafés com qualidade superior são superiores a de outros tipos de café, fazendo-se aqui a ressalva de que em nenhum momento abordamos a questão dos custos. Foi mostrado também que a participação dos cafés tipo 6 e melhores na produção do sul mineiro é crescente, acompanhando uma tendência do mercado internacional. Finalmente, os meses em que mais foi comercializado café foram apresentados, tendo em vista as cotações neste período. Conforme parece claro, os gráficos falam por si só; mais importante aqui é levantarmos algumas questões cuja abordagem certamente deverá ser feita no futuro.
Primeiramente, emerge o problema da "sazonalidade X comercialização". Há muito levantado por estudiosos do tema, este segue sem solução aparente, não tanto pela ausência de sugestões para a gestão deste tópico, e sim pela tímida inserção dos produtores em mecanismos que poderiam garantir um seguro aos mesmos. Cabe saber se isto se deve ao desconhecimento dos mesmos acerca dessa possibilidade ou a uma desconfiança dos mesmos a recursos alternativos.
Em segundo lugar, cabe nos perguntarmos até que ponto seguirá crescendo a produção voltada à qualidade em nosso país. Diversas foram as oportunidades em que enfatizamos a importância deste cuidado para a inserção no mercado, e um número crescente de produtores vai tomando consciência deste fato. No entanto, se por um lado a demanda por cafés especiais tende a crescer consideravelmente no Primeiro Mundo, por outro lado sabemos que a produção dos mesmos não se encontra livre de restrições, de modo que achar que todos poderão produzir cafés premiados e com qualidade reconhecida pelo mercado seria uma insensatez. Por isso, estratégias dedicadas àqueles excluídos deste filão por algum motivo específico devem estar na ordem do dia, amparadas de preferência por estudos e indicadores precisos e confiáveis.