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Quando a política antecede a economia

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 28/09/2009

3 MIN DE LEITURA

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Não raramente os economistas são acusados de observar os fenômenos sociais com um olhar exageradamente limitado. Seja pela adoção de pressupostos comportamentais rígidos, ou ainda pelas diversas simplificações adotadas em seus modelos, abundam razões para tais críticas.

Em defesa de seu ferramental, os economistas apresentam uma série de argumentos. Chamam a atenção para o fato de que seus modelos constituem simplificações da realidade, delineados de modo a compreender fenômenos específicos. Dessa maneira, a fraqueza apontada por muitos seria, na verdade, a principal força das ciências econômicas. Por meio do debate de questões precisas, muito daquilo que as pessoas desejam saber sobre o tema poderia ser assim esclarecido.

No cotidiano, porém, são diversas as situações em que nos perguntamos acerca de temas que transbordam uma única esfera do conhecimento. Quantas vezes não nos deparamos com fenômenos originados na esfera econômica que, por seus desfechos surpreendentes, não seriam mais bem explicados pela psicologia? Ou ainda pela sociologia?

Na verdade, a suficiência de uma única área do conhecimento para a explicação de problemas complexos há muito vem sendo questionada. Prova disso é a orientação adotada por diversos centros de excelência ao redor do mundo, no sentido de aproximar os departamentos de pesquisa, a fim de solucionar o novo.

Entre as diversas áreas que tem se aproximado, são notórias as tentativas de conciliar os avanços na ciência política e na economia. Não era pra menos. Discutir economia em um contexto desprovido de referências históricas, ou ainda das peculiaridades políticas, faz cada vez menos sentido. Evidentemente, para a resolução de uma série de problemas esse enfoque bastou; no entanto, novos desafios vêm pedindo passagem, em busca de um melhor esclarecimento.

Em meio a essa dissertação acerca da multidisciplinaridade nas ciências sociais, o agente ligado à cafeicultura certamente se perguntará: o que temos a ver com isso? A resposta é: tudo. Não tanto pela necessidade de estudo individual das potencialidades de união entre áreas de conhecimento distintas, tarefa empreendida por milhares de pesquisadores ao redor do mundo, mas sim pela importância de interpretar os fenômenos contemporâneos com esse espírito.

Tendo em vista a necessidade de um olhar global sobre os problemas do setor, a indústria de café solúvel nos fornece um bom exemplo. Sua própria origem, em meados do século passado, nos esclareceria muito acerca da importância da política para os resultados econômicos, tamanho o interesse do Estado em fomentar a criação de uma indústria capaz de processar quantidades crescentes de café. Não falaremos tanto da história, entretanto, algo que deixaremos para um momento oportuno. Pelo contrário, abordaremos o presente.

Há cerca de um mês, carta enviada pela ABICS ao ministro da Agricultura alerta para um quadro dramático. Devido a uma série de acordos comerciais assinados pelo Japão com concorrentes diretos do Brasil no mercado de café solúvel, é possível que nos próximos cinco anos a indústria de nosso país perca muito de sua presença no mercado japonês. Parte do problema, derivado das tratativas do Japão no âmbito de acordos regionais, já era de se esperar. Entretanto, o fato de países latino-americanos estarem prestes a gozar do mesmo privilégio é o que mais preocupa. Afinal, tal desfecho exemplifica a falta de agilidade de nossas lideranças no sentido de garantir acesso a mercados fundamentais para o país.

Em termos de barreiras comerciais, o mesmo pode ser dito da Europa, por exemplo. Ao mesmo tempo em que perdemos parcelas importantes desse mercado, não deixa de ser surpreendente observar que países com menor tradição no setor estão ocupando nosso lugar. Tudo por causa da política, sempre ela! Não por acaso, já há muito tempo a decisão de estabelecimento de uma indústria de café solúvel independe da existência de cafezais por perto. Além de um mercado internacional capaz de fornecer matéria-prima para tais planos, as preferências tarifárias jogam um papel crescente na distribuição dos ganhos colhidos por cada ator.

Por isso, falar sobre competitividade, gestão de qualidade, diminuição dos custos, entre outros temas, não basta. É necessária atenção redobrada sobre fatores que muitas vezes escapam ao nosso controle imediato, tal como a boa vontade dos outros para tarifar nossa produção. Caso a lógica econômica fosse suficiente para definir as recompensas nesse mundo, seria tudo mais simples. Por uma série de motivos, não é bem isso que ocorre. Daí a importância de nossos negociadores, fundamentais para abrir portas que insistem em se manter fechadas.

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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JERÔNIMO GIACCHETTA

CABO VERDE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 29/09/2009

Caros Sylvia e Bruno,

No mundo em que vivemos, de abertura de mercados e internacionalização das economias através da desregulamentação tarifária vis a vis regulamentação não tarifária, realmente outras variáveis estão colocadas nas mesas do cassino comercial mundial. As análises econômicas, com economias mais fechadas, pareciam ter maior chance de estarem corretas do ponto de vista da previsão dos cenários. Atualmente, com as taxas de juros e as taxas câmbiais flutuando ao sabor do mercado livre e aberto entre países, têm exigido cada vez mais dos economistas a composição de um cenário difícil de montar. Outras ciências têm mostrado seu valor e se interrelacionando, caso da psicologia. No caso do café talvez até a astrologia fosse necessário. O difícil será demonstrar o futuro. E por que é difícil?

As regras do jogo têm mudado com muita frequência, barreiras q aparecem e depois somem, de acordo com os interesses do momento, juros e câmbio mais voláteis e índices de commodities, principalmente café com altíssima volatilidade e por aí vai.

O fato é que o processo de internacionalização dos mercados alterou os paradigmas de atuação dos agentes e dos seus respectivos países, mudando o foco dos governos. Com relação à nossa política, deve-se levar em conta que o Brasil não é mais um país para ser ajudado, já que se propôs agora a participar do grupo de 20 países que ditam as regras do jogo.

Enquanto isto, os países pobres recebem toda a gama de recursos disponíveis para ajudar seus agricultores, exemplo do projeto milenium da ONU, para ajudar os africanos. Entendo que de um projeto deste pode aparecer ainda mais café no mercado. Por isto o cuidado de se mexer uma peça no jogo aqui visualizando como vão mexer lá fora. O que não podemos é ficar inertes às movimentações internacionais. O momento é de jogar, de forma simples porém contínua.

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