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Preservação ambiental: ameaça ou oportunidade?

POR BRUNO VARELLA MIRANDA

E SYLVIA SAES

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 18/05/2011

3 MIN DE LEITURA

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A polêmica parece interminável. Mais uma vez, o impasse venceu e a questão do Código Florestal segue sem solução. Se já não bastassem os desacordos de ordem técnica, os arranjos políticos também contribuem para dificultá-la. Talvez esse seja o melhor desfecho no momento: um tema tão delicado, afinal, merece mais debate.

Não que faltem opiniões sobre o assunto. Ao longo dos últimos meses, um saudável debate reuniu os mais variados argumentos. É bem verdade que, em alguns momentos, a "desinformação" predominou, com a repetição de velhos preconceitos ou de posições sem qualquer sustentação empírica. Na maior parte do tempo, porém, viu-se uma discussão de boa qualidade.

De nossa parte, procuramos respeitar o princípio da divisão do trabalho, ouvindo nossos colegas de outras áreas da ciência. Entre eles, a maioria chama a atenção para a nossa responsabilidade na preservação dos recursos naturais. Tendo em vista o princípio da precaução, não consideramos prudente arriscar em questões como as mudanças climáticas. Se já é complexa a vida em sociedade em um meio o qual conhecemos relativamente bem, o que aconteceria caso tivéssemos que nos adaptar rapidamente a condições novas e, ao que parece, desfavoráveis?

Ademais, e aí podemos dar nossa opinião, consideramos que um alto nivel de preservação não representa uma afronta à viabilidade econômica da produção agropecuária. Talvez seja o caso quando pensamos com os olhares voltados para o passado; oportunidades de negócio interessantes, porém, podem surgir nos mercados "verdes". Por sinal, queremos falar sobre duas idéias, das quais discordamos, e que parecem estar implícitas nos discursos de muitos dos interlocutores desse debate.

A primeira idéia é considerar que o êxito dos agricultores depende unicamente da plena utilização dos recursos disponíveis. Na verdade, devemos nos preocupar também com os argumentos que usaremos para convencer os potenciais consumidores de nossa produção. Sem o apoio dos eleitores do Primeiro Mundo, dificilmente conseguiremos fazer com que os seus políticos abram os mercados. A questão ambiental, nesse sentido, é um grande trunfo nas mãos do Brasil. Mais preservação pode ser, no médio prazo, sinônimo de maior acesso a mercados importantes.

Há quem diga que é bobagem a preocupação com os mercados do Primeiro Mundo, e que o consumo na China, Índia, ou mesmo no Brasil, compensaria as portas fechadas na Europa e nos EUA. É importante lembrar, porém, duas coisas: em primeiro lugar, a medida que a renda per capita aumenta nos países emergentes, cresce também a exigência dos seus consumidores; ademais, a preocupação crescente com o meio ambiente gera não apenas restrições, mas também oportunidades de negócio que não deveriam ser menosprezadas.

A segunda idéia é considerar que a preservação é contrária aos interesses da agricultura familiar. É evidente que milhões de brasileiros não têm condições de recuperar áreas degradadas, e não deveriam ser responsabilizados criminalmente por isso. Não nos parece correta, entretanto, a crença de que o uso intensivo da terra é a única saída para a sobrevivência econômica de nossos pequenos produtores. De fato, nem a busca por escala, tampouco a ilusão de que subsistência é suficiente, têm se mostrado capazes de manter muitos agricultores familiares em sua atividade.

A organização de mercados de serviços ambientais permitiria a milhares de agricultores familiares a obtenção de uma remuneração extra ligada diretamente à preservação do meio ambiente. Além disso, abriria a possibilidade de exploração de novas atividades econômicas, como o turismo. Finalmente, poderia devolver parte da auto-estima perdida entre muitos agricultores, desde que garantisse sua inserção efetiva na nova realidade. Não que isso seja fácil; trata-se de uma idéia ainda em seu estágio inicial. Isso não significa, porém, que devamos menosprezar essa possibilidade.

A discussão do Código Florestal, em resumo, não deveria representar uma "caça às bruxas", tampouco ser decidida com base em arranjos políticos. Por outro lado, não deve ser refém de preocupações de curto prazo ou visões estáticas da realidade. O ponto relevante em todo esse debate é a proteção do solo, dos recursos hídricos, enfim, o uso de nosso considerável patrimônio natural sem colocar em risco o direito das próximas gerações de o utilizarem. No fundo, o debate do Código Florestal é um apêndice de uma questão mais ampla: qual é o Brasil que queremos? Abrimos essa pergunta final a todos.

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

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