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Petróleo: o preço da manutenção de um preço

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 24/12/2014

5 MIN DE LEITURA

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Vivemos tempos interessantes. No último semestre, o preço internacional do petróleo caiu cerca de 50%, levantando uma série de questões: será o fenômeno passageiro? Qual é o papel da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) nesse movimento? E o pré-sal, nosso "passaporte ao desenvolvimento", para citar as palavras da presidente Dilma Rousseff, segue viável em um mundo de preços baixos?

São óbvios os motivos que explicam tamanho interesse na queda nas cotações do petróleo. Em um planeta viciado em combustíveis fósseis, é evidente que qualquer transformação brusca nesse mercado possua um potencial altamente desestabilizador. Diga-se de passagem, isso não é necessariamente ruim, se considerarmos que nem todos os equilíbrios existentes no mundo atual são benéficos no longo prazo. O provável é que, como ocorre com qualquer tema complexo, essa história termine com vencedores e perdedores.

Uma dos grandes debates do momento diz respeito às razões para tamanha queda. Tese popular aponta o interesse dos países árabes em abaixar os preços do petróleo a fim de sufocar a produção nos Estados Unidos baseada no método da fratura hidráulica - ou fracking, como também é conhecida. O argumento é simples: dado que os custos desse método são mais altos, bastaria uma redução na cotação internacional para que as empresas não tivessem incentivos para extrair o petróleo norte-americano. Os principais membros da OPEP evitariam, assim, a ascensão de um concorrente de peso no mercado internacional do produto.

Teorias da conspiração à parte, trata-se de uma ideia interessante. É provável, de fato, que o medo da concorrência norte-americana explique a falta de interesse dos países árabes em conter a queda nos preços. Seria um exagero, porém, afirmar que o atual cenário é fruto de uma ação deliberada dos membros da OPEP contra a indústria norte-americana. A razão é simples: as previsões apontam que, já na próxima década, a produção de petróleo por fracking nos Estados Unidos perderá o fôlego. Ademais, a sede do país por petróleo fatalmente o manterá um consumidor cativo no mercado internacional. Ainda que a porcentagem do consumo interno total comprado do exterior tenha diminuído nos últimos anos, estamos falando de cifras gigantescas.

Se os países árabes não estão - na minha humilde opinião - atacando propositalmente o fracking norte-americano, outra pergunta relevante seria: sendo a OPEP um cartel, capaz de controlar os preços do petróleo, por que seus sócios não se unem para voltar aos tempos de barril a US$ 100? Tal pergunta é importante porque nos ajuda a entender a diferença entre "reduzir as cotações deliberadamente" ou "não agir em resposta a uma queda nos preços". A princípio, todos nós esperaríamos que a OPEP fizesse o possível para manter a cotação do produto em um nível que maximize os seus ganhos. O desafio, dessa maneira, seria devolver o preço do petróleo ao lugar em que estava até recentemente.

Outro exemplo histórico nos ajuda a entender o que está ocorrendo com o petróleo. Há cerca de um século, o Brasil era capaz de influenciar sozinho a cotação internacional do café. Tal poder foi, de fato, usado durante décadas a fim de proteger a renda do setor. As consequências são conhecidas: com suas políticas, o governo brasileiro estimulou a emergência de alguns dos nossos concorrentes. Imagine um produtor na Colômbia, com a expectativa de entrar em um mercado em que, ainda que a produção cresça, o preço estará mais ou menos garantido. Mais, o vizinho não apenas intervirá a fim de sustentar as cotações como ainda pagará os custos derivados dessa estratégia. Fácil, não? Deu no que deu.

Voltemos ao caso do petróleo. Como dito anteriormente, a produção por fracking envolve custos altos, principalmente quando a comparamos com os dos principais produtores da OPEP. Manter as cotações em um nível alto, nesse sentido, significa estimular investimentos que somente são viáveis com preços como os existentes até o passado recente. Ainda que limitar a produção seja tentador no curto prazo, os países da OPEP podem conspirar contra sua própria posição no mercado caso o façam. Afinal, apenas estarão dando mais energia a potenciais concorrentes - como o pré-sal brasileiro, é bom lembrar.

Um dos principais trunfos da indústria do petróleo é a clara associação entre produção e território. A Arábia Saudita é um gigante do setor simplesmente porque, por sorte ou porque Alá o quis, o país está sentado em bilhões de barris do produto. Técnicas como o fracking mudam um pouco a história: de repente, uma série de países sem tradição alguma nessa indústria poderiam entrar no mercado. Para isso, porém, são necessários investimentos, que apenas virão caso os preços os justifiquem. Brigar para manter as cotações altas, assim, embora pareã lógico para muitos, talvez seja um "tiro no pé" no longo prazo.

Em resumo, embora os países árabes não estejam conspirando ativamente contra a indústria de um país específico - de novo, essa é a minha percepção -, é natural que não pareçam tão preocupados com a queda nas cotações do produto. Os lucros do setor diminuem no curto prazo, mas o atual nível de preços impede a entrada de novos concorrentes nesse importante mercado. Há que se considerar, ademais, que a produção de petróleo é controlada na maioria dos membros da OPEP por clãs familiares pertencentes às elites dos seus países. Caso fossem políticos eleitos a cada quatro anos, xeques e sultões talvez preferissem maximizar os lucros agora, a fim de garantir um novo mandato. Não é o caso, porém: no Oriente Médio, onde o clima impede maior diversificação econômica e os grupos dominantes exercem amplo controle sobre a vida política, a preocupação parece estar no longo prazo.

O último comentário merece uma nota à parte. Em grande medida, a resistência dos países árabes aos choques nas cotações só é possível porque os lucros derivados da renda do petróleo se concentram nas mãos de uma reduzida elite. Em outras palavras, não é porque o preço do barril recuou tanto nos últimos meses que o nível de vida família real saudita cairá. Estivessem as nações do Oriente Médio adotando um modelo semelhante ao venezuelano, é improvável que tal manobra fosse viável. Nossos vizinhos, por sinal, devem estar preocupados. Afinal, as políticas implementadas por Hugo Chávez, cujo espírito é mantido pela atual administração, dependem diretamente da cotação internacional do petróleo. Quanto menor seu valor, menor a capacidade de atuação do Estado e, portanto, maior o potencial para instabilidade.


 

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 14/01/2015

Prezado Maurício,



Obrigado pela participação. Para o setor sucroalcoleiro, a queda nos preços do petróleo é uma má notícia. Afinal, a movimentação pressiona os preços do etanol em um contexto já delicado. Como se não bastasse, as cotações do açúcar tampouco estão uma maravilha... Em resumo, parece que o pesadelo dessas empresas seguirá por um tempo.



Para o pré-sal, a queda nos preços do petróleo é mais uma má notícia em meio a outras tantas. Em um momento marcado pela perda de credibilidade da Petrobras junto ao mercado e aos eleitores, cotações em um patamar elevado poderiam ajudar a potencializar os negócios da empresa, recuperando parte do brilho perdido nos últimos meses. Produzir petróleo em águas profundas é caro, porém.



As boas notícias são: (i) menor pressão sobre a inflação nos países em desenvolvimento (energia é uma variável importante nessa equação); (ii) o êxito do pré-sal no curto prazo poderia servir como uma cortina de fumaça que encobriria a necessidade de mudanças para Petrobras. Muitas vezes, só a competição ferrenha dos mercados para provocar transformações profundas na governança das empresas.



Feliz 2015!



Bruno Miranda
EQUIPE CAFÉPOINT

SÃO PAULO - SÃO PAULO - MÍDIA ESPECIALIZADA/IMPRENSA

EM 12/01/2015

Para aprender mais sobre estratégias do agronegócio café, fiquem atentos ao início do curso online "Marketing Estratégico no Agronegócio do Café". Saiba mais: https://www.agripoint.com.br/curso/marketing-cafe/
MAURÍCIO JOSÉ DE LIMA

RIBEIRÃO PRETO - SÃO PAULO

EM 11/01/2015

Bruno.

Parabéns por essa análise clara e concisa. Gostaria muito de ouvir sua percepcao quanto ao impacto dos baixos preços do petroleo em dois setores importantes de nossa enconomia: Producao de etanol já em crise e perspectivas de exploracao do pré sal, tao badalado pela nossa atual presidenta. O que o futuro nos reserva? Abraço.
BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 10/01/2015

Prezado Arildo,



Agradeço a leitura do texto e a participação no debate. Caso queira propor tópicos para textos no futuro, o espaço é seu.



Feliz 2015 para você!



Bruno Miranda
BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 10/01/2015

Prezado Ricardo,



Muito obrigado pelo comentário. Interessante esse paralelo que você traça com a Vale. Acho uma hipótese que merece debate, ademais, aquilo que você diz sobre o futuro do petróleo. Dada a redução na cotação, eu diria que fica ainda mais difícil viabilizar tecnologias alternativas no curto prazo. A conferir.



Um feliz 2015!



Bruno Miranda
ARILDO SILVA

CARIACICA - ESPÍRITO SANTO - COMÉRCIO DE CAFÉ (B2B)

EM 08/01/2015

Muito  bom o comentário,parabéns.
ARILDO SILVA

CARIACICA - ESPÍRITO SANTO - COMÉRCIO DE CAFÉ (B2B)

EM 08/01/2015

Muito  bom o comentário,parabéns.
RICARDO NICOLUCI

RIBEIRÃO PRETO - SÃO PAULO - COMÉRCIO DE CAFÉ (B2B)

EM 08/01/2015

Olá Bruno, parabéns pelo artigo ! Realmente a extração de gás de xisto (fracking) é mais honerosa e só tem viabilidade com barril de petroleo acim de 60-65 USD. Sou da mesma opinião, OPEP está ofertando petroleo com o intuito de reduzir preço justamente para invibilizar operações de extração mais caras para "ainda" continuar "controlando" mercado.



Na minha humilde opinião, muito provavelmente esta medida da OPEP é sinal de fim de uma era de petroleo. O receio de novas explorações (que colocaram os EUA de consumidor para flat no produto) e isto controloado pelo preço, demonstra falta de força que a organização e controle único que o setor já teve. Apesar do preço baixo invibilizar novos poços e também outras tecnologias não diretamente relacionadas, estrategicamente surgirão.



Da mesma maneira e em outro setor, Vale vem fazendo exatamente o mesmo no setor de minério de ferro. Com custos de produção em 24 USD por tonelada e objetivo de reduzir a 20, a empresa tem um dos custos mais baixo do mundo. Espcialmente contra as Australianas Rio Tinto e BHP. Com a desaceleração de investimentos na china, está 'inundando" o mercado com minério para invibilizar e "fechar" explorações mais honerosas e permanecer com market share.

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