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Os impactos da taxa de câmbio sobre o café

POR FÉLIX SCHOUCHANA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 14/12/2009

6 MIN DE LEITURA

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Ultimamente os impactos do dólar sobre a economia brasileira têm sido objeto de amplo debate, devido à valorização do Real e aos receios quanto à competitividade das exportações e dos produtos industriais.

A taxa de câmbio influencia uma ampla gama de preços da economia: os preços de produtos importados para consumo no País, como os eletroeletrônicos, insumos agrícolas, petróleo e trigo, e os preços dos produtos que, mesmo produzidos no Brasil, têm seus preços internacionalizados, como os produtos exportáveis, cujo exemplo é o café e as demais commodities. Existem também outros bens e serviços que são influenciados pela taxa de câmbio, como obras de arte, softwares, serviços de energia, exploração de petróleo e outros.

Os produtos exportáveis são balizados pelas bolsas internacionais devido à possibilidade da arbitragem. Se, por exemplo, o preço do café sobe muito no exterior, mais café será destinado ao mercado internacional e o preço doméstico será ajustado a esse preço.

A taxa de câmbio é função da política econômica dos Estados Unidos, emissor dos dólares, da oferta e demanda de moeda estrangeira no Brasil, bem como da política cambial do País. Portanto, falar de câmbio no Brasil exigiria uma abordagem que foge do nosso escopo, que é o de explorar como a taxa de câmbio influencia o preço do café no Brasil, abstraindo os demais efeitos que não são objeto de nossa análise.

O preço do café no Brasil é inversamente proporcional ao nível de produção do ano corrente e ao nível dos estoques finais. Isso significa que dado um aumento de 1% na produção brasileira de café deste ano, haverá uma diminuição de 1,5% no preço do café, e dado um aumento de 1% nos estoques finais, haverá uma diminuição de 0,8% no preço do café.

A correlação entre os preços do café no Brasil e a taxa de câmbio (Reais/Dólar), mostra que entre 2000 e 2007 essa correlação foi muito fraca. Entretanto, a partir de 2008 a correlação entre o dólar e o preço do café no Brasil aumentou substancialmente, ou seja, apenas nos últimos dois anos, a valorização do Real (desvalorização do dólar) esteve associada à queda do preço em dólares, mas ainda não de uma forma muito marcante, uma vez que a correlação negativa de 0,49 ainda não pode ser considerada muito elevada (acima de 0,75). A maior correlação entre o câmbio e o preço do café foi obtida em 2009.



Por que a correlação entre câmbio e preço de café se fortalece nos últimos dois anos?

Em primeiro lugar, com a crise deflagrada em 2008, os fundos globais de investimentos, com sua alta liquidez e mobilidade, venderam parte de suas ações, devido ao enfraquecimento da economia americana, e buscaram ativos com correlação negativa às ações, ou seja, as commodities que continuam sendo demandados em tempos de crise. É um "hedge" contra inflação futura, decorrente das enormes injeções de recursos para combater a crise de 2008.

Um ponto relevante que intriga alguns analistas e que queremos frisar é que os fundos de investimentos não precisam vender os dólares e receber outras moedas (euro ou iene, por exemplo) para comprar as commodities físicas. Basta que eles vendam contratos futuros de dólar versus outras moedas e comprem contratos futuros de commodities, para que isso ocorra.

Outra razão pode estar ligada à grande redução dos estoques de café brasileiros nas últimas três safras, conforme se vê no quadro abaixo. É que com baixos estoques de passagem, o preço do café fica mais vulnerável e sensível aos preços internacionais, havendo pouca margem de manobra para postergar as exportações.



Quando se analisam os impactos do câmbio no Brasil, a questão que se coloca é a que nível de dólar o Brasil consegue manter sua competitividade e atratividade nas exportações de café?

A desvalorização do dólar certamente não ocorre somente no Brasil, mas em todos os países do mundo, inclusive nos nossos concorrentes produtores de café, a menos que adotem uma política cambial ativa para desvalorizarem suas moedas. Ademais, uma queda no dólar pode ser compensada pela alta no preço do café, de tal forma a se manter ou até aumentar a renda do produtor e do exportador.

Assim, por exemplo, entre os dias 1/10/2009 e 9/11/2009 o dólar caiu de R$1,78 para R$1,70 enquanto nesse mesmo período o preço do café na BM&F subiu de US$150,85/sc para US$168,65/sc. A receita do produtor, no dia 1/10/2009, foi de US$150,85 x R$1,78 = R$268,51/sc e no dia 9/11/2009, de US$168,65 x R$1,70 = R$286,70/sc. Portanto, a desvalorização do dólar, nesse período, foi mais que compensada pela valorização do café, o que resultou em aumento da receita em reais para o produtor, a despeito da queda no dólar. Isso significa que a desvalorização do dólar não é responsável por toda a alta no preço do café, mas teve também o peso dos fundamentos do mercado (oferta e demanda) que pressionou os preços para cima, em especial a falta de café de boa qualidade.

Trabalho recente do CEPEA mostra que "no balanço entre janeiro e setembro de 2009, a combinação da queda de 12,08% nos preços em dólares com a desvalorização de 8,12% na taxa de câmbio efetiva real do agronegócio resultou em diminuição de 4,92% nos preços em reais". O mesmo trabalho mostra que o índice de atratividade das exportações de café (preços em reais) caiu 10,51%, mas o volume exportado de café expandiu em 14,64% no período de janeiro a setembro de 2009 em relação ao mesmo período de 2008, compensando aquela queda no preço e mantendo a nossa competitividade no mercado internacional.

A desvalorização do dólar, mesmo que tenha diminuído o índice de atratividade das exportações, não será capaz de atingir a produção de café da próxima safra no Brasil, estimada em 50 milhões a 55 milhões de sacas para 2010/11, bem acima dos 39 milhões de 2009/10. A estimativa de exportação aponta para um montante ainda maior do que o recorde de 31,4 milhões da safra 2008/09, e o consumo doméstico deverá crescer na próxima safra em 7,5% (de 17,2 milhões de sacas para 18,5 milhões de sacas).

Outra abordagem seria comparar os custos de produção do café e a receita obtida ao longo do tempo, de forma a ver como a taxa de câmbio afeta a rentabilidade. Quando há desvalorização do dólar, o custo de alguns insumos importados cai em reais, barateando o custo de produção. Por outro lado, outros custos sobem em dólares (mão de obra). Dessa forma, seria necessário ver se no conjunto dos custos, os insumos dolarizados compensaram a alta no custo dos demais fatores de produção.

A revista Agroanalysis de outubro de 2009 publicou a Proposta Padrão do Setor Produtor do Conselho Nacional do Café, na qual se aborda o programa de opções públicas de café. O setor de produção pleiteou o volume de 3 milhões de sacas, atendido pelo Governo, mas ao preço de exercício de R$320,00/saca, e não o autorizado de R$303,50/saca. Com o mercado futuro da BM&F para setembro de 2010 negociado a US$171,50/sc e o dólar futuro para setembro, de R$1,8723 (cotações de 9/12/2010), o preço chega a R$321,10/sc para setembro de 2.010, mesmo nível reivindicado pelo setor produtor nas opções do Governo.

Assim, a queda na taxa de câmbio tem sido compensada pela alta no preço do café desde a crise de 2008. Porém, no momento em que os fundos se retirarem parcialmente dos mercados de commodities, seja para realizar os ganhos, seja porque não haverá mais necessidade de um hedge contra a inflação, ocorrerão pelo menos dois efeitos opostos na taxa de câmbio: de um lado, os preços das commodities irão cair em dólares porque os fundos venderão suas posições, e de outro lado, sairão dólares dos países produtores de commodities, desvalorizando o Real e favorecendo as exportações. Não sabemos qual será o vetor resultante dessa combinação, mas é provável que retornaremos ao padrão dos anos 2000 a 2007, quando o preço do café tinha pouca influência da taxa cambial. A partir daí, o que definirá o preço do café serão de novo os velhos e bons fundamentos do mercado.

Para comentário e dúvidas utilize o box abaixo.

FÉLIX SCHOUCHANA

Economista, Pós-Graduação em Economia, com especialização em Mercados Agrícolas, Diretor da BM&F de 2003 a 2008, Atualmente na Market FS Consultoria e Treinamento Ltda.

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