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O trabalho e suas múltiplas dimensões

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 29/04/2014

3 MIN DE LEITURA

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Poucos noções se transformaram tanto ao longo do tempo quanto a ideia de “trabalho”. Embora todo mundo tenha uma opinião para o seu significado, é provável que as visões mudem consideravelmente segundo a experiência pessoal. Afinal, a ideia de “trabalho” não se limita à atividade desempenhada por um certo indivíduo, envolvendo as consequências econômicas e sociais dessa ação. Mais especificamente, a forma de remuneração, a relação entre superiores e subordinados, a valorização social de uma certa profissão, as exigências físicas e mentais sobre o trabalhador, entre outros, ajudam a explicar nossas percepções em relação ao termo.

Em um mercado de trabalho competitivo, espera-se que as pessoas buscarão ocupações que reflitam suas preferências e as condições da oferta e demanda por vagas. Ocorre que esse mercado é repleto de regras, tanto formais quanto informais. Exemplo de instituição formal é a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) no Brasil. No campo das regras informais, estão os costumes que permeiam a relação entre chefes e subordinados, apenas para citar um caso. Somando gostos pessoais e instituições formais e informais que afetam a rotina no emprego das pessoas, é possível termos uma boa ideia do funcionamento do mercado de trabalho.

Um dos aspectos interessantes desse mercado é o seguinte: embora na maioria dos países exista total liberdade para a escolha de um emprego, a imposição de requisitos limita bastante as opções. O exercício da medicina, por exemplo, depende da aquisição de um conjunto de conhecimentos oferecido por universidades cadastradas pelo governo. Da mesma forma, seria inútil associar a atração de uma profissão apenas com base na remuneração potencial. Ao escolher uma determinada profissão, o adolescente não pensa apenas nas matérias que cursará na faculdade, mas também nas percepções que possui sobre salário, a forma como a sociedade o verá e como imagina a interação com os colegas.

Por tudo isso, o mercado de trabalho é único e fragmentado ao mesmo tempo. Se por um lado todas as distintas regras e a heterogeneidade nas habilidades de cada indivíduo acabam por criar separações entre os muitos “nichos” do mercado, por outro lado as transformações em qualquer dessas “partes” acaba por influenciar o todo. Por exemplo, propostas como a redução da jornada de trabalho a seis horas, sob o argumento de que as pessoas produzem mais quando estão descansadas, geram consequências não apenas para aquelas empresas que as implementam, mas para todo o conjunto da economia. O mesmo vale para a crescente criação de ocupações em que os indivíduos trabalham de casa, aproveitando-se dos avanços na tecnologia.

Os desdobramentos dessas mudanças já são sentidos, mas é provável que se aprofundem nos próximos anos. Em outras palavras, serão os jovens em idade escolar de hoje os que terão a maior possibilidade de adequar suas preferências às novas possibilidades. No caso da agricultura, cuja flexibilidade na transformação da ideia de “trabalho” é limitada no curto prazo, é possível que as mudanças sejam especialmente impactantes. Afinal, será crescente a “pressão” exercida por outros setores de economia sobre o estoque de mão de obra atualmente dedicado à produção agrícola. Aqui, não se trata apenas de remuneração superior ou inferior; é possível que a consolidação de contratos menos rígidos entre patrões e subordinados jogue um papel cada vez mais importante na atração desses jovens a novas profissões.

É importante salientar que, ao argumentar que os novos setores da economia têm maior capacidade relativa de estabelecer relações flexíveis entre seus participantes, em nenhum momento julgo qualquer ocupação. Se para a agricultura é mais difícil acompanhar o ritmo, isso se deve às características particulares da atividade: altamente dependente de variáveis como características do solo, regime de chuvas, temperatura, entre outros, ao produtor rural existem imperativos que devem ser seguidos. Outras ocupações – e, em grande medida, sou parte dessa nova tendência – têm mais liberdade para escolher o momento e o ambiente em que desejam produzir.

Portanto, todos os interessados no futuro do trabalho na agricultura devem acompanhar com atenção as transformações nos centros urbanos. O surgimento de novas ocupações e a realização de experiências na relação entre patrões e empregados, ao criar novas interpretações para a ideia de trabalho, acabam influenciando o mercado como um todo. O jovem agricultor que decide tentar a sorte na cidade talvez esteja buscando a flexibilidade ou o tipo de relação com os pares que considera haver em empregos no setor de serviços, por exemplo.

Compreender as consequências dessas interação é importante por um motivo adicional. Quando poucos se predispõem a desempenhar determinada atividade, a tendência é o desenvolvimento de tecnologias poupadoras de mão de obra para suprir a lacuna. Em um mundo em que os recursos e a criatividade são escassos, direcioná-los para o desenvolvimento de novas tecnologias naquelas áreas pouco sedutoras aos olhos dos mais jovens é um bom negócio.
 

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BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 07/05/2014

Prezada Cleonice,



Muito obrigado pelo comentário. Você lança hipóteses interessantes aqui, e que, de certa forma, polêmicas. Limito-me a levantar uma pergunta, fazendo uma provocação caso algum leitor(a) queira dar a sua opinião:



Qual é o papel do empresário rural no processo descrito pela Cleonice?



Atenciosamente



Bruno


CLEONICE BORGES DE DOUZA

GOIÂNIA - GOIÁS - PESQUISA/ENSINO

EM 07/05/2014

Um dos grandes problemas enfrentados no meio rural brasileiro é a falta de mão de obra. Inovações existem e continuarão a existir para, praticamente, todas as demandas do meio rural. Contudo, elas também prescindem de mão de obra e nesse ponto a complicação amplia-se, pois não é qualquer mão de obra, tem que ser qualificada. Qualificar mão de obra para o mercado de modo geral e para as atividades relacionadas ao agronegócio, de modo particular, é parte da solução. Porém, fomentar nesses profissionais a possibilidade de alavancarem suas carreiras por meio da formação contínua e do reconhecimento por meio de salário e benefícios, certamente não é tarefa fácil no contexto atual e na visão do empresariado rural. O artigo do Bruno, aliado às opiniões do André, da Joana D'Arc e do Roberto, salientam parte da complexidade relacionada ao meio rural. Valorização profissional, manutenção da cultura tradicional, políticas sociais e infraestruturais são alguns pontos que precisam urgentemente serem aprofundados nas discussões das políticas públicas para o meio rural. Mas, não tão somente discutir, tem-se que ampliar na prática os benefícios para todas as regiões. Muito já foi feito e muito ainda há por fazer. Além da produção propriamente dita, onde há uma profusão de inovações disponíveis e em fase de implementação, há todo um contexto de atividades relacionadas à multifuncionalidade do agronegócio que precisam ser valorizadas. Boa parte dos profissionais buscam as cidades pela perspectiva que estas apresentam para seu crescimento profissional, pela possibilidade de se qualificarem continuamente e obterem ascensão no mercado. Criar essas possibilidades nas áreas rurais, por meio de tais incentivos representa uma luz no fim do túnel. Precisamos produzir, mas produzir com qualidade, com  dignidade para os trabalhadores. Nas falas dos agricultores familiares eles vislumbram as áreas urbanas quando todas as perspectivas de sobrevivência e de vivência com o meio rural se esgotam. Nem todas as pessoas que vivem no meio rural querem migrar para os centros. Com condições de sua permanência no campo, boa parte desses preferem ali permanecer. Formar mão de obra para as atividades ligadas ao ambiente rural, mas também criar condições de permanência dos profissionais nestes espaços é o desafio. As questões estão postas, há, contudo, a necessidade de melhor articulá-las para sua efetivação.
BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 05/05/2014

Prezado Rodrigo,



Muito obrigado pelo comentário. Aproveito para convidá-lo a sempre frequentar esse espaço, deixando sugestões de pauta, críticas e compartilhando as suas percepções com os outros leitores do CaféPoint.



Atenciosamente



Bruno Miranda
RODRIGO GREGÓRIO DA SILVA

LIMOEIRO DO NORTE - CEARÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 03/05/2014

Muito interessante o texto. É um assunto fundamental para quem tem interesse em entender sobre a atividade.



Parabéns.
BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 30/04/2014

Prezado Roberto,



Agradeço o comentário. Sobre o tema que menciona, recomendo dois textos publicados nessa mesma coluna no passado, cujos links envio abaixo:



https://www.cafepoint.com.br/mercado/conjuntura-de-mercado/a-legislacao-trabalhista-e-a-agricultura-62046n.aspx



https://www.cafepoint.com.br/mercado/conjuntura-de-mercado/efeitos-de-segunda-ordem-46086n.aspx



Acredito que ambos os textos discutem a questão central discutida por você. Caso tenha críticas ou sugestões adicionais, será um prazer discutir o tema contigo.



Aproveito para convidar todos os leitores a deixarem a sua opinião aqui no espaço, interagindo comingo e com os outros participantes. Diálogos como o do André e da Joana, publicados acima, elevam a experiência de compartilhar ideias na Internet a um patamar superior.



Atenciosamente



Bruno Miranda
ANDRE SANCHES NETO

POÇOS DE CALDAS - MINAS GERAIS - COMÉRCIO DE CAFÉ (B2B)

EM 30/04/2014

Olá Roberto. Exato, um ponto chave nesta necessidade de projeto sério de valorização da vida rural é a realidade do médio e grande produtor e sua relação com a comunidade que sobrevive de sua produção e vive ao redor desta. Os sindicatos dos produtores rurais teriam que ter parte decisiva na evolução deste projeto hipotético, pois as responsabilidades econômicas e sociais desta categoria estão, ao que tudo indica, desproporcionalmente mais altas do que deveria ser em um sociedade justa. Seus exemplos acima ilustram um pouco isto. Necessidade portanto de projeto governamental para valorização da vida rural que inclua em seu desenvolvimento espaços democráticos para debates, com fins salutares à própria sociedade rural, entre representantes dos trabalhadores rurais e representantes dos produtores rurais.
ROBERTO MANGIÉRI JUNIOR

JUNDIAÍ - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 30/04/2014

Olá senhores (as), todas as colocações acima são muito pertinentes e cheias de sabedoria. Porém faltou a parte do advogado do diabo. Hoje a justiça do trabalho impede que tenhamos mais mão de obra. Mesmo que o proprietario rural faça tudo dentro da lei (que é quase impossivel de cumprir), São muitos os direitos e poucos os deveres. O proprietário rural tem que dar casa, agua , luz, etc. Com a facilidade de comprar eletrodomesticos, vemos aparelhos de som e televisão ligados o dia todo. Lampadas acesas dia e noite. Cozinham no fogão a gás...A midia vende aos colonos uma vida magnifica na cidade, usando tenis de marca, comendo fast -food,, etc. Assim todos os valores imensuraveis do homem do campo vão se perdendo. Hoje o sonho da maioria dos componeses é vir  morar na cidade A verdade é que vão acabar matando a galinha dos ovos de ouro.
ANDRE SANCHES NETO

POÇOS DE CALDAS - MINAS GERAIS - COMÉRCIO DE CAFÉ (B2B)

EM 28/04/2014

Oi Joana, sua vasta experiência neste território traz autoridade à validação desta triste realidade da maior parte da cultura rural brasileira recente. Penso de fato que deva existir um projeto do governo muito sério sobre isto. A força da agricultura em nossa realidade econômica acredito ser incomparável a outros países. É preciso urgentemente de uma valorização cultural, e não somente o foco em projetos estritamente econômicos, pois a primeira gera o segundo. A atividade (humana) de trabalho, como ensina a disciplina ergológica inaugurada nos anos 80 pelo filósofo Yves Schwartz, é o fenômeno que gera e sustenta qualquer cultura. Se estiver em descrédito, como no caso em questão, a cultura em seu entorno estará fadada à extinção. Ou seja, neste raciocínio, acabará a agricultura de montanha dependente de mão de obra. Alguma equipe de engenheiros de gênio terá que criar alguma máquina capaz de fazer a colheita em lavouras muito íngremes e sujeitas a terrenos de pedras nos corredores dos cafezais, ou em breve não haverá mais autênticos cafés de montanha no Brasil, como predita esta notícia recente: https://migre.me/iXO5x
JOANA D ARC TEIXEIRA DE FARIA

CALIFÓRNIA - PARANÁ - PROVA/ESPECIALISTA EM QUALIDADE DE CAFÉ

EM 25/04/2014

"Acredito que somente uma reforma nos valores sobre a vida no campo na mentalidade das novas gerações poderá vir ao socorro das culturas onde a mão de obra é obrigatória",André também acredito nesta proposta, visto que durante 35 anos que trabalho com os agricultores, tenho visto uma desvalorização por sua atividade, quer em termos econômicos e no cultural. Ao desativarem as escolas rurais não se preocuparam com os materiais didáticos voltados à realidade rural e  como consequência temos jovens que não sentem atração por atividades de produção rural, aliado às leis trabalhistas que em muitos aspectos não  considera as particularidades destas atividades.

Como vc sou otimista : internet rápida,melhor acesso, infraestrutura e mudança de valores!



Joana D'Arc T. de Faria

Engª Agrª/Extensionista
BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 24/04/2014

Olá André,



Obrigado pelo comentário. Bom saber que anda acompanhando os textos por aqui. As suas palavras refletem uma realidade presente em diversas porções do Brasil rural. Recentemente, escrevi um texto que levantava questões semelhantes.



Para fenômenos complexos, respostas incompletas... Acredito que há muito o que possa ser feito para construir uma nova ruralidade no Brasil. O que surgirá disso, porém, será algo totalmente novo, em muitos casos.



Em outras palavras, transformações ocorrerão de qualquer maneira. A questão é se podemos controlar, ao menos em parte, essas mudanças. Oferecer algum direcionamento a esse processo é necessário.



Atenciosamente



Bruno Miranda
ANDRE SANCHES NETO

POÇOS DE CALDAS - MINAS GERAIS - COMÉRCIO DE CAFÉ (B2B)

EM 24/04/2014

Olá Bruno, assunto muitíssimo pertinente. Mudanças drásticas ocorreram na vida do campo no Brasil nas últimas décadas. Em um exemplo particular, vindo de família com fazenda de café onde se agrupavam muitos funcionários nas colônias, nos últimos anos vi minguar a vida cultural destes polos de trabalho e de vida social. É preciso um trabalho de valorização da vida no campo para as novas gerações, é necessário uma campanha contínua por parte do governo para construir argumentos sólidos para persuadi-los a se sentirem atraídos a este modo de vida, hoje em dia menosprezado. Acredito que somente uma reforma nos valores sobre a vida no campo na mentalidade das novas gerações poderá vir ao socorro das culturas onde a mão de obra é obrigatória, a exemplo da cafeicultura de relevos íngremes, muito comum no Brasil. Uma das ferramentas tecnológicas ao alcance seria o fortalecimento do acesso à internet rápida na zona rural.

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