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O Peru e as novas tendências

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 14/03/2008

4 MIN DE LEITURA

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Conhecido por suas riquezas arqueológicas, o Peru é palco também para as transformações observadas na cafeicultura na última década. Neste país o café é produzido sobretudo por pequenos produtores, muitos deles localizados em regiões pobres e remotas, com infra-estrutura precária. No entanto, este quadro não impediu que muitos destes trilhassem os caminhos do acesso aos mercados internacionais, utilizando receitas já conhecidas.

O cooperativismo é um hábito recorrente no Peru, com organizações cujo número de membros chega a ultrapassar 2.000 membros. Por meio destes arranjos, os cafeicultores buscam não apenas melhores condições de comercialização e financiamento de seu produto, como também trocam experiências e debatem possíveis saídas para uma melhor inserção de sua produção. Principalmente em casos nos quais a informação flui de forma eficiente, por exemplo em organizações efetivamente transparentes e democráticas, tal prática constitui-se em um trunfo e tanto para produtores que de outra maneira estariam marginalizados devido à sua pequena relevância no mercado.

Em números, o café é o principal produto agrícola do Peru no quesito exportação. Com 35% da produção vendida aos alemães e 22% com destino em terras norte-americanas, o Peru vendeu mais de 500 milhões de dólares em 2006, com previsão de crescimento na próxima década. O consumo de café no Peru ainda engatinha, principalmente se comparado com os padrões observados em seus vizinhos. Contribui para isso os costumes da população e a pobreza predominante em diversas porções de seu território, e por isso o mercado internacional é a meta. Leia-se, competição com o café brasileiro.

Quase 2 milhões de pessoas dependem do café no Peru. Entre eles, mais de 800.000 peruanos vivem em áreas remotas do país, onde as dificuldades econômicas e as instabilidades sociais são uma constante. Este fato faz com que a atividade possua características bastante particulares no país, conforme veremos a seguir. A principal delas é a vocação quase acidental para a inserção em nichos de mercado bem específicos. E o fato de produzir em sua maioria café arábica, em condições favoráveis de altitude fazem com que o Brasil tenha todos os motivos para observar de perto este vizinho.

Parcela considerável dos produtores peruanos não possui condições de capitalização capazes de garantir a compra de insumos de alta tecnologia, o que a princípio os marginalizaria de qualquer competição. No entanto, alternativas existem, e as mesmas vêm sendo bem aproveitadas. O Peru já é o segundo principal exportador quando o assunto é café orgânico, e sua participação no setor de cafés especiais vem crescendo consideravelmente. Por exemplo, se consideramos os rendimentos da cafeicultura do país com a venda de café especiais, vemos que a mesma saltou de US$ 7,9 milhões em 1998 para US$ 100 milhões em 2006! Desta nova onda vêm se aproveitando não apenas cafeicultores com grandes porções de terra, como também um número crescente de produtores familiares, muitos deles ao sistema Fairtrade.

No segmento Comércio Justo, por sinal, o Peru ultrapassou os mexicanos nos últimos anos e atingiu o posto de principal fornecedor de café certificado para o mercado norte-americano, com um crescimento próximo a 10 vezes em apenas meia década. Em 2006, suas vendas foram maiores que aquelas realizadas pela soma do segundo e terceiro colocados no ranking, México e Nicarágua, respectivamente.

Transferindo o problema

Os esforços visando o aumento na produção de café peruano estão relacionados com a luta contra o narcotráfico no país. Nos últimos anos, a Agência Norte-americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID) tem realizado investimentos no sentido de capacitar os cafeicultores locais e assim garantir uma maior e melhor produção anual. Estima-se que cerca de 10% dos produtores do Peru façam atualmente parte deste programa.

Na prática, os investimentos norte-americanos na cafeicultura peruana, idealizados com o objetivo de garantir lavouras livres do cultivo de drogas, contribuem para que o país reforce a sua presença no segmento de cafés especiais. O que os EUA querem são produtores imunes às tentações advindas do cultivo de coca, e isso só é possível com a garantia de uma margem de lucro considerável aos mesmos. Daí o foco na capacitação dos cafeicultores, tanto no que se refere aos esforços para o aumento da produtividade como para o refinamento na produção.

A ironia lançada no subtítulo acima se explica apenas em nosso contexto, qual seja, de agentes envolvidos com a cafeicultura brasileira. Evidentemente é um avanço para a sociedade peruana que um número crescente de produtores abandone o cultivo voltado à produção de drogas, porém a inserção definitiva dos mesmos no segmento de cafés especiais lança uma pergunta em forma de alerta: haverá espaço para todos? Nichos de mercado, por mais que cresçam, não são uma panacéia, e a competição é a regra. Portanto, a incômoda auto-reflexão cabe aqui mais uma vez, ou seja, estaremos ou não fazendo a lição de casa pra competir com nossos concorrentes?

Menos badalada que a cafeicultura colombiana ou brasileira, a produção do Peru vem ocupando um lugar crescente na preferência do importador do Primeiro Mundo, muitos deles com dólares extras para serem pagos na forma de atrativos prêmios. Tais avanços vem sendo colhidos em um ambiente marcado pela falta de crédito ao produtor, predominância de propriedades com média de 3 hectares e presença governamental precária. Pode-se argumentar que as especificidades da cafeicultura colombiana e a pobreza relativa de nossos vizinhos joga a favor, porém como já foi dito antes, a hora não é pra reclamar da sorte. Trabalho é o que se necessita, e é fundamental termos em mente que o mundo está correndo atrás de um lugar ao sol em um mercado cada vez mais competitivo.

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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