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O comércio de café além dos países desenvolvidos

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 07/03/2007

5 MIN DE LEITURA

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Bastante difundido no Primeiro Mundo, o consumo de café ainda possui enorme espaço para a expansão entre os países em desenvolvimento, onde vive a maioria dos humanos. Nações como a China e a Índia até algum tempo atrás não possuíam dados expressivos de demanda por café, algo que, nos últimos anos, tem mudado.

A progressiva ocidentalização dos costumes nesses países vem contribuindo para o aumento do consumo de café em um território onde o chá parecia imbatível. De olho nessa tendência, grandes redes de cafeterias, como a Starbucks anunciaram importantes investimentos na Ásia. Obviamente, ainda há muito a ser conquistado nesse campo, no entanto, o otimismo parece imperar nas previsões.

Como exemplo de que a Ásia pode se tornar um grande demandante de café, podemos citar o Japão. Ali, a cultura de consumo ao chá não representou um empecilho para que o país chegasse hoje a uma formidável marca de consumo per capita de café, em torno de 3,36 xícaras por habitantes.

Apesar de não se comparar com os números de grande parte dos países europeus, os dados do Japão são importantes, pois demonstram a perfeita capacidade de adaptação de uma sociedade oriental a um hábito que nas sociedades modernas tem sido associado ao estilo de vida ocidental. Além do mais, não podemos nos esquecer da enorme importância que o mercado japonês dá para cafés diferenciados, sendo a demanda desse país por cafés orgânicos (figura 1) uma oportunidade para cafeicultores de todo o mundo.


Fonte: OIC

Figura 1 - Importações de café orgânico (2004)

É comum observarmos na imprensa notícias de planos de abertura de cafeterias em países em desenvolvimento, do direcionamento de investimentos para a Ásia, da associação entre a modernização das sociedades e o aumento do consumo de café. Por outro lado, os planos de investimento de grandes empresas na instalação de plantas de solubilização revelam uma outra face do crescimento da importância do café no Terceiro Mundo.

O consumo nos países produtores

Em um movimento aparentemente mais silencioso, mas com impactos profundos para a cafeicultura mundial, é notável o crescimento do consumo doméstico de café em mercados emergentes, como a Índia. Nesses países, a bola da vez é o café solúvel, e as gigantes do setor já há algum tempo têm direcionado esforços de maneira a abocanhar uma fatia de um filão dos mais promissores.

Do ponto de vista da produção, a existência de novos centros consumidores faz com se diversifiquem também os destinos do café colhido anualmente. Engana-se quem imagina que o destino da safra brasileira seja apenas o mercado europeu ou norte-americano, tradicionais compradores de enormes quantidades de café.

Para a composição desse quadro, é necessário que levemos em conta uma série de fatores, cuja relação é bastante complexa. De maneira resumida, devemos nos lembrar que, para um número considerável de países produtores, o consumo de café ainda não se encontra enraizado na população, e que a existência de diversos acordos preferenciais de comércio ao redor mundo traz uma geometria bastante peculiar para os fluxos de comércio de determinados produtos.

O papel do solúvel

Por isso, não apenas o aumento do consumo de café no Terceiro Mundo explica essa nova tendência. Em algumas situações, a importação é motivada pelo estabelecimento de uma estrutura de produção de café solúvel voltada para atender o mercado externo. Com isso, a compra de café verde visa, sobretudo, a reexportação com drawback de café solúvel. Contribui para a inserção desses exportadores não apenas a disponibilidade de matéria-prima ou a instalação de uma estrutura de solubilização adequada, como também a habilidade que os mesmos tenham de driblar as restrições comerciais por meio de negociações diplomáticas.

A entrada do Vietnã no cenário internacional, a partir do início da década passada, ajuda a explicar um pouco dessa história. Ao se especializar na produção de café robusta, a cafeicultura vietnamita passou a garantir matéria-prima em quantidades cada vez maiores, auxiliando na cristalização deste quadro. A competitividade do café do Vietnã faz com que, de maneira geral, haja boa disponibilidade de robusta no mercado com cotações bastante convidativas.

Na primeira metade desta década, o comércio de café entre países produtores cresceu acima dos 200%, atingindo a marca de quase três milhões de sacas de 60 kg comercializadas em 2005. Desse total, 67,1% corresponde a exportações de café robusta. As vendas de café arábica, apesar de serem bem menores, também tiveram alta expressiva.

Os principais exportadores de café para países produtores foram o Brasil, o Vietnã e a Indonésia. Em todos esses casos, é o café robusta o mais transacionado. Ao todo, esses três países respondem por cerca de 75% das exportações de café entre países produtores.

Em relação aos principais destinos, podemos observar um quadro bem definido, com 3 países (Filipinas, México e Equador) respondendo por praticamente 60% das importações. A razões para a importação são das mais variadas, oscilando desde a necessidade de suprimento do mercado interno, como no caso filipino, até a produção de café solúvel com o objetivo de reexportação, conforme a prática equatoriana. Merece destaque também a Índia, cuja importação de café do Vietnã vem crescendo de forma consistente nos últimos anos, com o objetivo de suprir a indústria local e em muitos casos atingir outros mercados por meio da re-exportação, baseada em drawback.

Analisando especificamente o caso brasileiro, vemos que nosso país segue a tendência apontada acima, e exporta principalmente café robusta para outros Estados produtores de café. O principal parceiro do Brasil nessas transações é o México, fazendo deste país o terceiro destino do robusta brasileiro, atrás apenas de EUA e Itália.

Em seguida, destaca-se a exportação de café solúvel, cujo comércio vem sendo feito com um número crescente de países, entre os quais muitos deles produtores. Isso é explicado pelo fato de muitos dos Estados produtores de café, apesar da disponibilidade de matéria-prima, não possuírem estrutura adequada para a produção de café solúvel capaz de atender a demanda interna. Especialmente no caso do café solúvel, é importante lembrarmos da enorme dinâmica existente nesse mercado, já que nos últimos anos é notável a entrada de novos participantes nesse segmento e a fixação de tarifas sobre o produto faz com que a geometria dos fluxos possa se alterar abruptamente.

Portanto, é a indústria de café solúvel o principal motor do comércio de café entre os países produtores. Seja por meio da venda de café robusta ou ainda solúvel, cerca de 90% da demanda total se encontra ligada a esta atividade. Como se vê, a natureza do comércio entre estes países é distinta daquela observada nas transações entre países produtores e consumidores. As importações de café arábica, apesar de terem crescido nos últimos anos, ainda se relacionam a fatores conjunturais, e se destinam basicamente a suprir a demanda interna em caso de necessidade.

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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ROBERTO TICOULAT

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 07/03/2007

Prezados Sílvia e Bruno,

Seu artigo é claro e demonstra as oportunidades que o Brasil perde quando não autoriza o <i>drawback</i> para as indústrias nacionais.

A título de esclarecimento, o México somente autoriza a importação para <i>drawback</i> e o mesmo acontece com a Índia, portanto, todas as exportações de robusta para o México são para processar solúvel destinado à re-exportação.

Estive na reunião anual do Nacional Coffee Association e um fabricante de solúvel no México está dobrando sua capacidade de produção para 600 toneladas mês. Perdemos todos, ou seja, a indústria nacional e o produtor, pois certamente o preço a ser exportado para o México tem de ser menor do que o preço que o industrial brasileiro poderia pagar para o produtor brasileiro, tendo em vista os custos de transporte.

Também estive com a Federação Nacional da Colômbia que estará até o final do ano aumentando a sua produção de liofilizado em mais 4.000 toneladas ano (o Brasil, como um todo, produz em torno de 8.000 toneladas ano).

Com relação ao incremento de consumo, suas ponderações são perfeitas e acredito que poderemos entrar num ciclo de crescimento virtuoso no consumo, sejam nos países produtores assim como nos países consumidores. Novas ações estão sendo implementadas em todo o mundo salientando os benefícios que o consumo de café traz e é só uma questão de tempo para podermos averiguar os resultados.

Abraços,

Roberto Ticoulat

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