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Nova safra, velhos problemas

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 07/06/2006

7 MIN DE LEITURA

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Início de safra é um momento de apreensão para a cafeicultura. Estimada pela Conab em 40,6 milhões de sacas, a safra 2006/2007 de café do Brasil começa a ser colhida neste mês. O resultado, 23% superior ao do ano passado, teve de ser recalculado devido à falta de chuvas no sul de Minas Gerais, que provocou a queda de produtividade na região. Uma vez iniciada a colheita, aumentam as expectativas dos produtores em relação às condições de venda do café nos próximos meses, que deverá estar condicionada pelos seguintes fatores:

Demanda e Oferta Mundiais:

No curto prazo, o mercado deverá se manter em equilíbrio, o que garante que a oferta não pressionará os preços. Praticamente toda a safra atual será consumida, sendo o excedente alocado na formação de estoques estratégicos para o próximo ano, quando a produção deve cair.

Ganha importância crescente a demanda interna, que cresce a uma taxa maior que a procura internacional, sobretudo devido aos investimentos realizados em propaganda e melhoria da produção. Espera-se que esta taxa mantenha sua trajetória de crescimento, confirmando-se a tendência de aumento do consumo de café fora do lar, além da progressiva conscientização da comunidade médica acerca dos benefícios do consumo de café para a saúde.

 O anúncio da liberalização de R$ 1,578 bilhão do Funcafé para o financiamento da colheita, estocagem e compra do café verde na atual safra busca melhorar as condições de venda do produto. Espera-se que estes recursos auxiliem os produtores a esperarem melhores condições de venda, fator fundamental para a organização da entrada da safra, e assim os preços não caiam devido a um aumento expressivo na oferta na entrada da safra.

Em relação às exportações, o resultado brasileiro tem sido inferior ao obtido no mesmo período do ano passado. A explicação encontrada é a de que a safra 2005/2006 foi reduzida, o que mantém os estoques internos em um nível baixo. Este dado influencia diretamente as estatísticas de exportação mundial da Organização Internacional do Café (OIC), que se encontram em trajetória de queda em comparação a 2005. O fato de o Brasil ter embarcado 25% menos café em março de 2006 contribuiu para que o levantamento da OIC apontasse uma queda global de 7,7% dos embarques de café.

Na bolsa de Londres, vem sendo observada uma tendência de alta desde março. Apesar de perder fôlego no final de abril, o índice LIFFE tem se mantido na faixa entre os US$110 e US$120. A trajetória observada em Londres contrasta com a lentidão dos negócios na bolsa de Nova Iorque, onde a negociação de contratos de café arábica segue à espera de maiores notícias acerca das condições de safra no Brasil.

Os preços internacionais do café arábica resistem em subir, apesar da retração da oferta em relação à demanda mundial. Na bolsa de mercadorias de Nova Iorque (NYBOT) o mês de abril foi marcado pela lentidão nas negociações. Com isso, o índice CEPEA fechou abril com queda de 2% em relação ao mês anterior. Analistas prevêem que a ocorrência de geadas nas regiões produtoras pode dar suporte aos preços no mercado internacional.

A tendência do mercado, conforme foi apontado anteriormente, é a de equilíbrio, o que se refletirá no preço nos próximos meses. Uma maior propensão de venda por parte dos produtores, motivada pela necessidade de pagar os gastos da colheita pode contribuir para a baixa nas cotações. Da mesma forma, como o exemplo da NYBOT deixa claro, o clima poderá ser um fator decisivo para a alta nos preços de café arábica no próximo mês.

O índice CEPEA/ESALQ do café robusta registrou queda no último mês, chegando a R$ 152,46 no dia 12/05, contra R$ 173,24 em 12/04. O principal destino do café robusta brasileiro foi a indústria torrefadora, como aponta o CEPEA em seu último boletim. O resultado das exportações de robusta brasileiro do Brasil foi modesto, em grande parte devido à concorrência de outros produtores, como o Vietnã.


 Fonte: CEPEA / ESALQ

Em comparação com os últimos meses, vem diminuindo o diferencial de preços entre o café robusta e o arábica. No mês de abril de 2006 este valor chegou a R$ 81,67. O resultado, apesar de não ser tão expressivo como o de março (R$74,69), ilustra o momento favorável para os produtores brasileiros de café robusta. Basta lembrarmos que há um ano este diferencial chegou a bater em R$187,00. Neste ano, são observados preços 20% superiores nas regiões produtoras de café Conilon em relação ao ano passado.

 Um estudo divulgado pelo Deutsche Bank traz boas notícias para diversos setores do agronegócio. De acordo com o banco alemão, há uma forte tendência de valorização dos preços de algumas commodities.

No caso do café, esta alta é estimada em torno de 235%, sendo sustentada, sobretudo por um crescimento da economia mundial nos próximos anos. No entanto, o Deutsche Bank afirma no mesmo relatório que uma mudança brusca na trajetória econômica mundial poderia trazer efeitos indesejáveis para o agronegócio de diversos países, como o Brasil.

Câmbio e Custo de produção

 A valorização do real frente ao dólar vem sendo apontada como a grande vilã do agronegócio brasileiro, e do café em particular, nos últimos meses. Isso significa menores receitas aos produtores e perda de competitividade frente aos concorrentes. Da mesma forma, diversas vozes no setor vêm chamando atenção para os altos custos de produção da cafeicultura.

 Mas, se em relação ao câmbio há um consenso, o mesmo não pode ser dito dos custos de produção, já que o quadro brasileiro é marcado pela heterogeneidade. As diferenças iniciam no tipo de espécie (conilon, arábica), passando pelas formas de colheita (mecanizada, manual), adensamento e beneficiamento. Neste sentido, é difícil considerar os dados médios como uma radiografia da cafeicultura nacional.
 
Por esse motivo o documento divulgado recentemente pelo Conselho Nacional do Café (CNC) deve ser analisado com atenção. De acordo com o CNC, a situação da cafeicultura na atualidade é crítica, e a falta de medidas de auxílio por parte do governo poderia agravar a situação econômica dos cerca de 1900 municípios dependentes do café. Nem mesmo a recuperação dos preços, ocorrida no final de 2004, foi capaz de reverter o delicado quadro enfrentado pelos cafeicultores. As perdas do período de preços baixos, segundo o CNC, são da ordem de US$ 2,5 bilhões. 

Como mostra o gráfico abaixo, durante todo este período a média do custo unitário de produção de saca de café se situou acima da média de preços do produto.  Tal situação conforme observado anteriormente retrata uma média, o que significa muito pouco dada à alta variância entre os produtores.

 Obs1: Dados obtidos no Sul de Minas.
 Obs2: Produtividade: 20 sacas / hectare de café arábica.
 Fonte: Cooperativas in CNC

Para o CNC, a estreita margem de lucro do negócio cafeeiro tende a deteriorar as condições de vida de boa parte dos produtores. O relatório do CNC afirma que cerca de 90% dos produtores vivem com menos de um salário mínimo por mês, graças ao alto custo de produção da saca de café se comparada com os preços. Dessa forma, não é de se estranhar a opinião de diversos analistas do setor, que apontam para o progressivo desaparecimento dos médios produtores em caso de manutenção deste quadro. Vale observar que os analistas prevêem tal tendência ao analisar as características diferenciadas dos produtores. Os grandes em geral, possuem escala e alta produtividade, o que significa condições diferentes da retratada no quadro acima e os pequenos utilizam métodos de colheita redutores de custos, tal como parcerias e meação. Isso sem mencionar produtores de cafés diferenciados que obtêm preços bem superiores aos obtidos em média pelos demais produtores. 

De acordo com o documento, os baixos preços internacionais do café durante o período entre 2001 e 2004 provocaram o endividamento da maioria dos produtores. Vale também ressaltar que o endividamento encontra-se concentrado, e grande parte da cafeicultura honra suas dívidas. O endividamento deveria ser analisado caso há caso para não prejudicar o setor como um todo e aqueles que investiram em tecnologia na contramão do câmbio.  A visão de endividamento geral sinaliza de forma negativa para um agronegócio que precisa de recursos para investir. Qual o investidor que se arriscaria a emprestar para um setor endividado que não honra seus compromissos?

Dinâmica de novo agronegócio

Uma pesquisa conduzida pela CNA trouxe uma série de dados importantes sobre a cafeicultura. Entre elas, chama atenção a grande porcentagem de entrevistados que disseram estar interessados na busca por novos nichos mercadológicos. A preocupação com a ampliação do parque cafeeiro vem dando lugar a uma busca pela agregação de valor ao resultado das safras. Aumentou o interesse dos produtores pela produção de cafés especiais e orgânicos, mercados bastante promissores.

Portanto, os cafeicultores se encontram focados em uma série de variáveis no atual contexto: torcem por uma política cambial mais favorável ao agronegócio, esperam recursos para colheita e estocagem e olham atentamente para as previsões meteorológicas, que podem influenciar o movimento dos preços no próximo mês.

Por outro lado, os produtores de café sabem que o momento é de busca por novos mercados e pela melhoria da produção. Apesar das dificuldades para a realização de investimentos, exemplos como o de aumento do consumo interno ou a expansão do consumo de cafés especiais e orgânicos são alentadores, dando mostras que ainda há espaço para uma expansão. Nesse sentido, o incremento nas receitas dos cafeicultores deverá vir nos próximos anos principalmente por meio de uma melhoria qualitativa da produção, ao invés do mero crescimento quantitativo.

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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JOE FERRAZ PRADO FILHO

SANTOS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 17/01/2007

Meus parabéns pelo comentário,

Gostaria que este comentário fosse mais divulgado, pois é a dura realidade da cafeicultura brasileira. Trabalhamos para o governo, ele é nosso sócio majoritário.

Sou produtor de café e comerciante há vários anos e me lembro de épocas em que um produtor de café com uma colheita de 200 sacas conseguia sustentar uma família e pagar uma faculdade para o seu filho, porém, hoje, mal da para ele sequer pagar suas dívidas.

A classe produtora nem sequer tem poder de barganha junto ao governo, somente cooperativas e exportadores, que visam seus interesses conseguem estes benefícios com isenções e créditos, acredito este mercado é um monopólio e que, em breve, veremos esta bolha que está se formando estourar, aí veremos a realidade.

Antigamente existiam milhares de maquinistas que comercializavam e preparavam os cafés para os produtores e estes mesmo que ganhando uma comissão e se atravessando entre o produtor e o exportador sempre ofereceram mais uma opção de venda para o produtor, existia muito mais concorrência fato que não ocorre mais hoje em dia.

Hoje, estes produtores foram obrigados a migrarem para as cooperativas estas, depois de ganharem milhares de incentivos e isenções cresceram a níveis impressionantes tornando-se exportadores e até mesmo ofuscando o crescimento de diversos exportadores de café, até mesmo de multinacionais. Pergunto, será que estes produtores receberão algum benefício com todo este crescimento?

Não, se tivessem recebido a cafeicultura não estaria atravessando o que está atravessando, dívidas e mais dívidas.

Não bastasse em toda a cadeia produtiva vemos reajustes de preços, como é o caso do café torrado, que deverá ter um reajuste, se reajustássemos o café como deveria ser reajustado, mesmo a juros americanos, hoje uma saca de café estaria acima de 300,00 US, no mínimo.

Acredito que a solução seria o governo dar incentivos aos pequenos comerciantes, digo maquinistas e principalmente incentivar investimentos de hedge junto à BMF, dando isenções de impostos a produtores, mas, infelizmente, isto não acontece. O produtor que vende junto à BMF um contrato de café está, na realidade, fixando um preço de venda para o seu produto, evitando uma queda de preço, porém se ele aferir um ganho nesta operação deverá recolher o seu devido imposto, isto é o fim da picada.

Também deveriam flexibilizar os tipos de contratos junto a BMF não sendo somente cafés do tipo 6 para melhor, deveriam poder ser entregue cafés do tipo 7 bica corrida, café rio, riado, cafés arábicas e conilon e até mesmo cafés destinados a industria, com tipo 8 resolução, tipo 600 defeitos, etc.

Esta medida daria um incremento enorme no volume da BMF, aumentando a liquidez, melhorando o fornecimento do produto às industrias e exportadores e facilitaria, muito, a negociação para os produtores.
NELSON AMADO NOIVO

UNAÍ - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 10/07/2006

Dura realidade!

Essa é a percepção que temos, hoje, diante da atual crise por que passa a cafeicultura brasileira. Uma conjuntura de custos que se elevaram, ao longo dos últimos anos. E, o que é mais penoso, é que os vilões são os preços públicos, tais como energia elétrica e combustíveis, aliados a falta de infra-estrutura das nossas estradas e portos, tão importantes na formação de nossos custos.

A pequena e a média cafeicultura familiar caminham para a extinção, pois seus filhos não querem para si o sofrimento dos pais, que sempre sonham com um futuro que nunca chega. Os mais jovens tentam trilhar um outro caminho, pois a "roça", hoje, é sinônimo de atraso.

A alta carga tributaria, os modismos ambientais e as leis trabalhistas nos são impostas, como uma carga insuportável, por uma fiscalização míope, insensata, impregnada ideologicamente e de viés puramente arrecadatório.

O inchaço publico e a transferência de renda para as classes mais sofridas estão a destruir a classe média, a principal locomotiva da produção.

Não se constrói um grande país antagonizando setores. O verdadeiro progresso virá com geração de riquezas, desenvolvimento, taxas de juros mais decentes, menor tamanho e ingerência do estado perdulário, municipalização dos recursos públicos e flexibilização das anacrônicas e arcaicas leis trabalhistas, dentre outras coisas.

Infelizmente, esse grande país está perdendo o último vagão do bonde da história. Diziam que a esperança tinha suplantado o medo, agora, o pânico esta destruindo a esperança.
RICARDO DE SOUZA FERREIRA

CAPARAÓ - MINAS GERAIS - ESTUDANTE

EM 23/06/2006

Bom dia!

Há algum tempo, tive que fazer um Diagnóstico Técnico Econômico de Cultura de Café, como atividade escolar. Estou concluindo Curso de Técnico em Agropecuária.


Avaliamos a propriedade de um colega de classe e, no final, considerando custos e depreciação de maquinário, propriedade e outros, o resultado final foi negativo.

O produtor discordou do resultado. Na época, havia vendido a um preço "bom", um dos melhores dos últimos anos. Empolgou-se, investiu em mais terreiros, tulhas, comprou carro novo, etc.

Mostramos a ele que se tivesse trabalhado para fazer uma mercadoria de qualidade, tipo bebida mole, o resultado deste ano seria satisfatório - não seria negativo - e que os investimentos para a próxima safra têm que ser levados em conta.

Recentemente, este produtor teve que vender uma propriedade excelente, a preço inferior ao mercado e continua endividado.

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