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Não existe remédio sem efeitos colaterais

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 27/08/2009

4 MIN DE LEITURA

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O principal questionamento levantado em nosso último texto dizia respeito ao papel do governo na amenização da crise na cafeicultura. Em meio ao considerável pessimismo de parte do setor, lançamos a seguinte provocação: "seria o Estado o melhor remédio para o mau momento?. Longe de esgotar o tema, o argumento apresentado na sequência foi o de que soluções amparadas na iniciativa privada, por envolverem (e responsabilizarem) os agentes relevantes, poderiam trazer melhores resultados que as velhas respostas de sempre.

Não demorou muito e diversas manifestações chegaram até nós. Por isso, o texto dessa quinzena se dedicará a aprofundar o raciocínio iniciado anteriormente. Como em cada participação no CaféPoint, o objetivo de tal exercício é o de fomentar o debate. Nem poderia ser diferente: são os comentários enviados pelos leitores uma das principais fontes de inspiração para a redação dessa coluna.

Devido à limitação de espaço, obviamente não seremos capazes de analisar cada uma das variáveis ligadas a esse complexo assunto. Assim, partiremos de uma pergunta inicial, usando um exemplo para embasar nosso argumento. O questionamento, no caso, será o seguinte: qual o papel do Estado na organização da vida econômica? Já o exemplo corresponde ao aumento dos gastos com a manutenção da burocracia estatal.

Em relação à pergunta aqui apresentada, é interessante observar que tal dúvida habita o imaginário dos economistas desde Adam Smith. Já em "A Riqueza das Nações", o pai dessa ciência enumerava prerrogativas que caberiam aos governantes, limitando-as ao máximo. Influenciada pelo legado smithiano, parcela considerável dos economistas se mantém fiel a essa tradição, defendendo a capacidade do mercado de autorregular o cotidiano econômico.

Desde o fim do século XVIII, porém, nunca houve consenso acerca dos limites para o Estado. Diversos modelos têm sido defendidos, muitos dos quais aplicados na realidade. Entretanto, a receita ideal ainda é desconhecida. Por aproximação, o que se pode dizer que existe é uma relação de atividades que devem ser desempenhadas pelo Estado, a fim de viabilizar o estabelecimento de um ambiente favorável aos negócios.

Entre essas atividades, é possível citar a criação de leis estáveis. Igualmente, o estabelecimento de uma polícia ou um poder judiciário independente constituem prerrogativas da autoridade estatal. Comparar tal tarefa a uma modalidade esportiva representa uma boa analogia. Em resumo, um governo deve se responsabilizar pela instituição das regras do jogo econômico, fornecendo juízes imparciais para garantir seu bom andamento.

Evidentemente, as regras desse jogo podem ser as mais variadas. Inclusive, seria irreal imaginar a existência de uma receita única a ser seguida por todas as sociedades. Fosse isso mentira, haveria uma tendência à convergência em direção a um modelo único de gestão pública. Daí os inúmeros debates existentes acerca de tópicos como a política tributária, o estabelecimento dos direitos de propriedade, a preocupação com o câmbio, entre outros. Todos esses tópicos englobam variáveis que influenciam diretamente a motivação dos jogadores, e seu nível de comprometimento com a rotina econômica.

Além disso, o Estado possui um papel importante no oferecimento de condições para que os jogadores possam melhorar suas condições de competir nesse complexo ambiente. Investimentos na educação das pessoas, no desenvolvimento de novas tecnologias ou na criação de infraestrutura são bons exemplos desse quadro. Longe de representar uma forma de doping, tal auxílio é fundamental para que os agentes sejam capazes de explorar todas as suas habilidades.

Por outro lado, todas as vezes em que o Estado tenta ir além de suas prerrogativas nesse jogo, os resultados são questionáveis. Em diversos casos, o governo pode tentar beneficiar determinados jogadores, perdoando erros do passado ou transferindo parte de sua riqueza. Com isso, deixará de investir no fortalecimento das condições para a competição entre todos, e pior, pode estar deixando alguns dos jogadores mal acostumados.

Da mesma maneira, aprofundar a participação no jogo econômico só é possível quando o Estado aumenta o número de empregados. Nesse sentido, a ingerência exagerada na rotina econômica não apenas cria distorções na percepção dos agentes acerca dos resultados a serem perseguidos, como cria custos burocráticos consideráveis. Como não poderia deixar de ser, essas despesas adicionais são pagas pelo contribuinte, ou seja, os jogadores, tornando o jogo ainda mais difícil.

Assim, um Estado que cresce exageradamente pode cair na armadilha de querer entrar no jogo econômico no lugar daqueles que deveriam fazê-lo acontecer, decidindo os resultados colhidos por cada um. Consequentemente, pode se transformar em um mero redistribuidor de riquezas, baseando-se em uma fotografia distorcida da realidade. No longo prazo, o principal risco é o de que faltem recursos para manter a harmonia desse cenário. Afinal, não apenas a motivação dos jogadores mais habilidosos tende a diminuir com o tempo, como o número de juízes envolvidos nessa tarefa homérica exigirá cada vez mias riqueza de todos.

Portanto, quando se fala em perdão de dívidas, preço mínimo, ou outras dessas políticas, é fundamental que seja levado em conta os efeitos que tais ações terão para a motivação dos jogadores envolvidos com a cafeicultura. Evidentemente, o governo possui um papel central na organização da rotina econômica; porém é necessário delimitar bem até que ponto sua ação é benéfica. Um consenso acerca desse tópico se encontra longe de ser obtido. Entretanto, a experiência tem mostrado que nem tudo deveria ser permitido quando se fala de Estado.

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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CARLOS AUGUSTO ALVES FERREIRA

RIBEIRÃO PRETO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 29/08/2009

No meu ponto de vista o Governo tem grande culpa na situação da cafeicultura, pois não tem política definida em relação a esta cultura, é uma atividade que gera 2 milhões de emprego direto e mais 6 milhões de empregos indiretos, gerando uma receita muito maior que muitas atividades existentes que não tem tanta importância social.

Esta atividade mexe com a vida de mais de 1800 municipios de Minas Gerais e de tantas outras regiões. Vcs veem as montadoras receberam enxuradas de dinheiro do Governo Federal, sem empregar tantos trabalhadores como nós, da cafeicultura, em que todo dinheiro ganho na atividade fica nos municipios, movimentando o comércio e atividades coligadas. No caso das montadoras, o dinheiro vai quase todo para fora do país.

Não tenho nada contra as montadoras, mas a importância sócio-econômica da cafeicultura é muito maior. O governo tinha que olhar para cafeicultura e dar a ela toda atenção que merece, pois se o Brasil é o que é hoje é graças aos seus bravos cafeicultores, que vem dando seu suor anos e anos sem um pingo de apoio da parte dos governantes.

Carregamos nas costas diversos governos em tempos e épocas diferentes, desde a época dos nossos avós, temos muita história pra contar e espero que não deixem a cafeicultura acabar, pois junto com ela, uma grande parte da historia do Brasil se acabará também.
JERÔNIMO GIACCHETTA

CABO VERDE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 28/08/2009

Sylvia e Bruno,

Adam Smith imaginava um mundo econômico totalmente aberto para fundamentar sua análise de tendência liberal, o que não é realidade hoje. Sabemos que grupos de interesse, medidas de proteção e salvaguardas comerciais são a tônica do mundo comercial contemporâneo, principalmente no agronegócio. Portanto, qualquer análise do mercado cafeeiro que possa defender a aplicação do modelo liberal, sonho de muitos e inclusive o meu, só teria efeito se abrangesse todos os países interessados na matéria, sejam consumidores ou produtores e também os intermediários dos negócios.

Dentro da cadeia produtiva do café estão o governo municipal, estadual e federal fazendo parte de todas as alegrias e tristezas deste negócio. O governo não é uma entidade externa aos problemas do agronegócio café. Os problemas de hoje dos cafeicultores não surgiram do dia para a noite nem de um agente só. Toda a cadeia é responsável pelo aumento da produção e produtividade que criaram excedentes exportáveis e trouxeram divisas ao país, seja isto positivo ou negativo, dependendo da ótica de cada um.

A ação de governo juntamente com o setor produtivo, deve, é claro, abranger a linha de se construir vantagens competitivas permanentes pensando a cadeia a longo prazo e incluindo o governo que representa a população brasileira dentro da análise, e não fora dela. Quem ganha ou perde com as ações é o povo brasileiro. Agora, se olhar na ótica econômica de se alocar com eficiência recursos escassos, o governo perdeu credibilidade, porque como disseram no artigo, em questões de governo nem tudo deveria ser permitido, como alavancar recursos públicos para custear atos secretos e obscenos na vida pública brasileira.

Nesta ótica, realocar recursos para o agronegócio tem um custo benefício muito maior, principalmente no café. A novidade é o chamado indice de produtividade, nada melhor para se abandonar de vez a atividade e se desestruturar a mais antiga cadeia produtiva do agro brasileiro. A ação do governo deve ser não só de apagar o incêndio que se previa a tempos, mas também de fazer a manutenção da estrutura cafeeira, através de mecanismos inteligentes de gestão de risco e também na sua atuação firme na defesa do nosso café no mercado internacional, equalizando nossa legislação com as dos países concorrentes - o que não é lá muito fácil, mas deve ser feito, até para fazer valer a teoria Smithiana do livre mercado, mas em igualdades de condições de competir. Isto inclui os temas nevrálgicos, meio ambiente, trabalhista e questões tributárias.

Parabéns pelo artigo e pela oportundade de discuti-lo.
RENATO REZENDE PAIVA

VARGINHA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 28/08/2009

Algumas qestões precisam ser melhor conhecidas quando se trata de café. Primeiro, que é uma commodity importante sócio-economicamente para o país, que precisa traçar estratégias, ordenar oferta, negociar barreiras...

Segundo, lembrar que aconteceram transformações profundas no mercado mundial, na produtividade, qualidade, alteração nos blends, diferenças e aumento nos custos, e que cada produtor e cada região buscou se adaptar sem que o Estado fizesse sua parte; buscou-se a renovação de lavouras e variedades, sistemas de colheita, produtividade e qualidade através de investimentos em descascadores em regiões onde a bebida era impecílio, e os preços ficaram deprimidos. Então, nada mais justo que dar-se um prazo para estes produtores, que em sua maioria se encontram nestas regiões mais tradicionais, e que, naturalmente demandaram tais mudanças, pagarem estas contas.

Diga-se de passagem, os recursos do Funcafe foram formados justamente por estes produtores (destas regiões) e deveriam servir para tanto.
EDUARDO LANA DA CRUZ

SERRA DO SALITRE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 27/08/2009

Parabéns Sylvia e Bruno,

O que você e Bruno comentam nestes últimos dois artigos de grande repercussão, vem ao encontro de tudo o que sempre pensei sobre cafeicultura, e qualquer outra atividade. Não é função do Estado favorecer esta ou aquela classe que se encontra em momentos de dificuldades. É claro que qualquer atividade conta com suas linhas de crédito e financiamento, para incentivar o desenvolvimento econômico de qualquer país. E é nesse ponto que quero chegar: as linhas para se trabalhar na cafeicultura estão aí: os RO´s, o Funcafé, as linhas de investimentos, Moderinfra, Finames, e ao meu ver é o que basta, pois querendo ou não, a atividade agropecuária é como qualquer outra atividade comercial, há concorrência sim e pesada.

Ou um cafeicultor da Bahia não é um concorrente direto de um cafeicultor da Zona da Mata Mineira? Claro que é. Então, onde há concorrência, tem que existir o mérito. Se há pessoas que mesmo em meio a mais esta crise da cafeicultotura conseguem sobreviver devido as suas capacidades administrativas, porque puni-las, ajudando cafeicultores ineficientes, e que vivem escorados nas costas do governo?

Sabemos nós, cafeicultores sérios, e que somos a maioria, que estes cafeicultores endividados são sempre os mesmos. Com tudo isso, a cafeicultura brasileira continuará capengando para todo o sempre.
RENATO H. FERNANDES

TEIXEIRA DE FREITAS - BAHIA - COMÉRCIO DE CAFÉ (B2B)

EM 27/08/2009

Caros Sylvia e Bruno,

Há cerca de dois meses, numa viagem de ônibus entre o Extremo Sul da Bahia e Vitória/ES, me deparei com um casal utilizando máscaras cirúrgicas. Imagino eu, que visassem se proteger da gripe A, apesar da não ocorrência, até então, de casos da doença em nenhum dos dois estados.

A "crise da cafeicultura nacional" me lembra a questão da nova gripe. Certamente há problemas graves, mas pouco se fala sobre seu real dimensionamento e localização. É como se proteger de uma epidemia que não chegou, e com equipamentos de pouca utilidade.

Todo remédio tem efeitos colaterais, como vocês bem disseram. Sem um diagnóstico (anamnese) bem feito, há que se contar com a sorte pra que os sintomas não retornem mais fortes no futuro. Além de que, muitos remédios são amargos e, numa discussão tão politicamente contaminada como a atual, quem se atreverá a receitá-los?

Os problemas estruturais da cadeia produtiva do café do Brasil são mais do que conhecidos, mas "nos preocupamos com a gripe da vez e continuamos a morrer num sistema estatal de saúde caro e precarizado".

Assim como o H1N1 é o vilão da hora, tem havido uma vilanização exacerbada entre os elos da já pouco estruturada cadeia do café e, com os nervos à flor da pele, não se busca ações de médio-longo prazo.

Tenho uma percepção um tanto assustadora quanto à cafeicultura brasileira. Os produtores mais competitivos produzem a custos mais baixos e possibilitam a queda dos preços, que obviamente é o que qualquer comprador deseja e tenta forçar, com a forte ajuda de nossa expressiva, mas não dominante participação no mercado mundial. Tal queda mina ainda mais a competitividade dos produtores que têm restrições técnico-gerenciais e de escala, que acabam vendendo "por necessidade (Luiz Hafers)" e a retro-alimentando.

Será que o governo poderia assumir a tarefa de fomentar (sem recursos a fundo perdido, vale ressaltar!) a re-conversão dos hoje pouco competitivos e apoiar a saída do negócio daqueles cuja aptidão é restrita? Como a cadeia produtiva, de forma conjunta, pode desatar esse nó? Interessa realmente à sociedade?

Apesar de todas as questões, mais do que conhecidas e debatidas, de transferência de renda e concentração do mercado internacional de café, é inegável que o produto passa por um processo de valorização poucas vezes observado (valor intrínseco, não financeiro). Estaremos tratando da nova crise da dívida da cafeicultura brasileira daqui a dez anos?

Parabenizá-los é uma agradável rotina.

Abraços,
JOÃO CARLOS REMEDIO

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 27/08/2009

Parabéns pelo tema abordado. Em se tratando de um produto que o Brasil ainda é o maior produtor mundial e caminhando para ser o maior consumidor, o café tem que estar nos planos de qualquer governo.

O Brasil é um país de extensão continental. Por isso a grande diferença em nossas regiões produtoras de café e, consequentemente, as diferenças na produção e no tipo de café produzido. Dá para o Estado saber o custo mínimo para se produzir uma saca de café, independentemente da região.

Claro que produzir café em regiões mais produtivas será mais lucrativo, mas produzir café em regiões de produção menor não poderá dar prejuízos. Hoje, independente da região que esteja produzindo café o prejuízo é certo em maior ou menor quantidade, mas, é certo.

Não tem como o Estado brasileiro seguir omisso. O café tem sua grande importância sócio-econômica que precisa ser levada em conta. Um desempregado no campo não deixará de ser um desempregado. E isso está acontecendo com bastante frequência na cafeicultura. Não estamos mais em condições de evitar as demissões.

Essa ajuda que o Estado tem nos oferecido é sempre bem-vinda, mas, não tem surtido efeito quanto à formação e a manutenção do preço do produto. Hoje o produtor brasileiro de café está pagando um preço bastante alto às custas da falta de uma política mais contundente.

Não tem como o Brasil deixar a cafeicultura de lado. Nunca seremos um problema para nenhum governo, seremos sempre solução junto a ele. Ainda há tempo para a cafeicultura.

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