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Mostrem um caminho (mas apenas um)

POR BRUNO VARELLA MIRANDA

E SYLVIA SAES

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 29/04/2008

5 MIN DE LEITURA

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Deu no New York Times: Paul Krugman, um dos economistas mais respeitados do mundo, cujos artigos na imprensa costumam ser amplamente divulgados e comentados, criticou a política de governos e agentes privados referente aos estoques de commodities. Na opinião do norte-americano, a complacência generalizada levou ao desmantelamento de um instrumento que poderia evitar, em momentos de carestia como a atual, o prolongamento de uma crise que já provocou diversas mortes nas porções mais pobres do globo.

De certa forma, tal defesa vai contra as recomendações de uma série de analistas, cuja crença no mercado faz com que a desregulamentação plena seja o único caminho a ser seguido. Para este grupo, se a idéia de direcionar esforços e recursos à constituição de estoques estratégicos já se faz inútil, o que será dito das recentes iniciativas tomadas por diversos países em desenvolvimento no sentido de garantir o abastecimento de seu mercado interno. Fato é que, quase duas décadas após a queda do Muro de Berlim, as promessas de fim da história e de pujança alavancada pelo neoliberalismo ainda aguardam concretização e este quadro faz com que idéias do passado de vez em quando ganhem holofotes, algumas delas revestidas de um manto de fracasso.

Preços em alta, ânimos idem

São diversos os motivos para o aumento nos preços dos alimentos, sendo estes debatidos extensamente na imprensa. Joga um papel fundamental nessa história as inéditas cotações internacionais do petróleo, recurso fundamental nas rotinas de toda a parcela da população mundial incluída de maneira integral nas engrenagens do sistema econômico mundial. Indo além, a utilização intensiva de energia por parte da agricultura moderna faz com que aqueles cujo consumo de petróleo é ínfima sejam os mais prejudicados. Alimentos mais caros trazem a insegurança alimentar para uma parcela considerável da população mundial, justamente os mais expostos às oscilações de qualquer gênero, e que via de regra em nada contribuem para elas.

Somem-se a isso milhões de chineses dispostos a consumir porções crescentes de recursos. Isso é verdade tanto para o aumento na demanda por carne na China, e, portanto, na procura de cereais para alimentar o gado, como para a utilização crescente de carros na Ásia, por exemplo. Enquanto isso, no Primeiro Mundo, quem já adquiriu o direito a uma porção calórica suculenta e um carro na garagem não parece nem um pouco disposto a largar o osso, ou ao menos dividi-lo. Não querem, por sua vez, ficar amarrados ao etanol barato de um país abaixo do Equador: preferem bancar a ineficiência de uma produção subsidiada e responsável pelo efeito do aumento dos preços dos grãos, já que combustíveis são vistos como armas de guerra.

Finalmente, um clima cada vez mais temperamental traz secas a lugares onde antes predominava a bonança, inunda áreas recorde em regiões repletas de investimentos na agricultura, entre outras travessuras. Ao final, a agropecuária vem passando por um período de reacomodação em meio a uma torrente de incertezas. Será o aquecimento global uma realidade perene ou passageira? De que forma isso afetará a oferta de alimentos? Como responder a este novo quadro? Em um momento no qual milhões de pessoas clamam por soluções, parecem ser os problemas a grande moda.

O resultado deste conjunto: fome, convulsão social, mortes e centenas de recomendações, oscilando entre as mais diversas orientações. Desde as críticas à insuficiência do capitalismo, passando às exortações ao livre mercado como remédio para todos os males, foram muitos os que se arriscaram a palpitar neste campo. E é aí que entra o Krugman e sua referência ao papel dos estoques estratégicos, ou a defesa do mercado como principal corretor da crise, entre outros.

Entre a pureza da teoria e a dureza da realidade

Qualquer recomendação em termos de políticas para o desenvolvimento, seja qual for o viés adotado, deve levar em conta o ambiente no qual a mesma será implantada. Neste caso, estamos falando de quem terá condição de adotar a política e como isso será feito. Ou mais especificamente, quem liderará o processo, e provavelmente pagará a conta. Não há país do mundo disposto a adotar decisões unilaterais de direcionar recursos para resolver sozinho um problema mundial de longo prazo; no caso dos países em desenvolvimento, nem mesmo a boa vontade seria suficiente dadas as limitações de ordem econômica. Daí a necessidade de análise deste problema da crise como um caso clássico de ação coletiva deficiente dos Estados do mundo, e a capacidade de estabelecimento de equilíbrios variados quando existe vontade política.

O que complica as recomendações daqueles que defendem que os países em desenvolvimento abracem o livre mercado com toda a confiança é justamente o fato de a atual crise ter suas raízes também nos países desenvolvidos. Alimentos são produzidos em escala global, e a discussão acerca dos biocombustíveis é central nas eleições norte-americanas, por exemplo. Por isso, as políticas implementadas nestes países, onde as condições econômicas costumam ser mais folgadas e portanto a influência sobre o resto do globo inegável, possuem um efeito decisivo para os resultados finais de qualquer empreitada. Muito se discute acerca das causas, efeitos e perspectivas para o futuro: porém, na hora de pagar a conta, todos se esquivam.

Agora que o mundo assiste a esta explosão nos preços dos alimentos, o que mais chama a atenção nessa crise toda é a incapacidade dos atores mais relevantes da comunidade internacional em darem sinais claros para essa crise. Para o problema do aquecimento global, tímidos compromissos na redução das emissões de gases poluentes; no campo das fontes alternativas de energia, a preferência por programas ineficientes que cheiram a armadilha eleitoreira de curto prazo, sem maior possibilidade de dar conta dos desafios futuros. E principalmente, para os desafios em escala global, decisões e conselhos dissonantes.

Nesse sentido, as críticas a governos do Terceiro Mundo pelas políticas de combate aos desdobramentos da crise de alimentos soam levemente hipócritas. Claro que o livre mercado dos manuais teóricos é a melhor maneira de garantir incentivos aos produtores, mas o que dizer então de subsídios, planos de ajuda mal costurados, entre outras ações dos países desenvolvidos? Não são estas iniciativas tão nocivas ao estabelecimento de um equilíbrio nos mercados mundiais como as tentativas muitas vezes desesperadas dos países em desenvolvimento de garantir o suprimento de alimentos de seus cidadãos mais pobres? Ao final, há algum país do mundo que não esteja amarrando a mão invisível?

Transparência e espírito de cooperação são os fatores que podem fazer a diferença no momento atual. No Primeiro Mundo se concentram os recursos, o conhecimento e a influência capazes de impulsionar projetos que amenizem os efeitos desta crise. Enquanto não predominar no mundo a consciência de que as recomendações não devem se subordinar a eventuais escapadas dos agentes mais poderosos, não haverá força moral capaz de impedir os desvios de curto prazo ao redor do Terceiro Mundo. No mundo do "faça o que eu digo, não o que eu faço", pouco adianta se a recomendação é X ou Y; os perdedores serão sempre os mesmos.

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

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CARLOS RENATO A. THEODORO

MUQUI - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 05/05/2008

Parabéns, excelente artigo sobre a crise mundial de alimentos.
Acrescentaria mais um fato nesta discussâo: são os milhões de dólares que são usados na especulação em bolsa de mercadorias e que poderiam ser usados para produzir alimentos. Não é só o Brasil que tem terras disponíveis e boas para produzir alimentos. Vamos direcionar estes recursos para atividades produtivas em outros países, gerando emprego, renda e produzindo alimentos.
O Presidente Lula deu o exemplo a poucos dias, inaugurando uma unidade da Embrapa na África, para transferir tecnologia brasileira para os africanos. Os países do Primeiro Mundo deveriam seguir o exemplo e não apenas ficar simplificando o debate em cima da questão dos Biocombutíveis.
MARA FREITAS

LAVRAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 30/04/2008

Na expectativa de que o CaféPoint não censure o meu texto, acredito que há um viés nesta conversação exposta pelos autores, com a qual não concordo.

A chamada crise dos alimentos não é um problema recente, nem um problema decorrente da inserção da China no mercado internacional como mercado consumidor em franco crescimento. Quem não se lembra de We are the world, rit dos anos 80, que já tratava da campanha internacional contra a fome na África?

A crise chama-se Nicolas Sarkozy, que há cerca de cinco semanas estimulou todo o debate, externalizando seu incômodo com a hegemonia do Brasil e dos Estados Unidos na questão do Etanol. Como é de conhecimento da comunidade internacional, a França é um grande produtor de canola, matéria-prima em franca expansão no continente europeu para a produção de biocombustíveis.

No mais tradicional efeito cascata, tivemos a alta de preços da Nestlé, que culpou os biocombustíveis e em seguida, o anúncio absurdo de que a produção de biocombustíveis, um crime contra a humanidade.

Durante a crise, a OPEP também acenou sua preocupação com a questão do uso de alimentos para a produção de combustíveis.

Pessoalmente, não acredito nessa conversa de europeu invejoso, que acredita que o Brasil ainda faz parte do quintal de Portugal. O pior dessa crise é a percepção de que a parceria Brasil e Estados Unidos, estratégica para a commoditização e a respectiva internacionalização do etanol tem tudo para ir por água abaixo, por causa do lobby europeu, subsidiado, ineficiente. Esse é o ponto, que a tal opinião pública corroborou para ruir, porque obrigou o Brasil a atacar o seu parceiro, para salvar o seu.

Acredito que as preocupações não deviam se centrar na produção de alimentos, mas sim na questão dos fertilizantes. Estes sim devem comprometer os preços dos alimentos, em razão das altas enlouquecedoras do petróleo. Impactará, certamente, até no preço do cafezinho nosso de cada dia.

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