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Índia: oportunidades e desafios no gigante asiático

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 19/07/2006

6 MIN DE LEITURA

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Detentora da segunda maior população do globo, a Índia é, atualmente, alvo das atenções de um grande número de analistas. Considerada uma potência militar, o país vem ganhando espaço também no plano econômico, sendo inúmeros os exemplos do desenvolvimento indiano.

País reconhecido por seu potencial no setor de serviços, a Índia ocupa um lugar de destaque também no cenário agrícola internacional, principalmente por sua intensa participação no sistema multilateral de comércio.

Na OMC, a Índia possui papel central nas negociações em agricultura, atuando, juntamente com o Brasil, no chamado G20. No entanto, é interessante observar que as características da agricultura no país asiático são bastante distintas se compararmos com o cenário brasileiro.

Lá, o protecionismo ainda é a regra, e o governo atua de forma intensa com o objetivo de manter um enorme contingente populacional, de cerca de 650 milhões de pessoas, na zona rural.

Se considerarmos unicamente a cafeicultura indiana, responsável por cerca de 4% da produção mundial (dados de 2005), veremos que esta atividade vem ganhando importância crescente na economia do país, sendo expressiva principalmente nas províncias do sul, nas regiões de Karnataka, Kerala e Tamil Nadu.

A produção se concentra, sobretudo, na mão de pequenos produtores, detentores de 77% das propriedades dedicadas ao cultivo de café na Índia. Estas produzem cerca de 60% do café indiano.


Fonte: OIC

Existente desde 1942, o Coffee Board of India é o órgão governamental responsável pelo setor do café no país. Apesar de vinculado ao Ministério da Indústria e Comércio, o Coffee Board possui autonomia para a condução de suas funções, basicamente de P&D e auxílio na promoção do produto.

Até o ano de 1995, a realidade da cafeicultura na Índia era marcada pelo profundo controle estatal, centralizado no Coffee Board. Porém, uma mescla das reformas internas e a configuração de um novo contexto internacional para o setor levaram os indianos a dar mais espaço para a iniciativa privada.

A Índia, assim como Brasil, produz tanto café das espécies arábica e robusta. Abaixo vemos que, a partir da metade da década de 90, a produção de café robusta vem ganhando importância, em relação ao total colhido.

Como veremos a seguir, esse fato tem implicações para a análise da inserção indiana no mercado internacional de cafés, principalmente levando-se em conta a ascensão de concorrentes regionais de peso, como o Vietnã.


Os dados apresentados abaixo mostram o crescimento da produção indiana nos últimos 15 anos, principalmente após o período de desregulamentação do setor e incentivado pelas altas do produto, após as geadas de 1994 e a seca de 1997 no Brasil.

Nesse período, o café avançou em direção ao norte, sendo hoje cultivado em regiões com distintas características climáticas. A partir do início da década passada, a Índia passou a colher quantidades cada vez maiores de café, sendo os dados de 2005 superiores aos de 1990 em cerca de 60%.


Fonte: OIC

Nesse mesmo período o país avançou também na certificação de parte de sua produção, estimulando a diferenciação por parte dos produtores. Auxiliados em muitos casos por ONGs internacionais, os cafeicultores indianos têm avançado também na colheita de cafés orgânicos, bastante valorizados nos mercados do primeiro mundo.

No entanto, como costuma ser regra nos países em desenvolvimento, as medidas de promoção do café indiano são ainda insuficientes. A gravidade deste quadro fica mais evidente quando nos recordamos de que a maioria dos produtores indianos possui pequenas propriedades, dependendo, portanto, de auxílio.

O fato é que, nos últimos anos, a Índia perdeu espaço no mercado internacional de café. Parceiros tradicionais do país, como a Rússia, diminuíram suas compras, e os indianos tampouco foram capazes de obter novos clientes de peso.

Contribui para esse quadro a forte concorrência de países como o Vietnã, que aumentou drasticamente sua produção e atualmente ocupa uma posição de destaque entre os exportadores de café. Daí a preocupação atual dos indianos em aumentar sua visibilidade no mercado internacional.


Fonte: Elaborado pelos autores, com base em dados da OIC

Observando o quadro comparativo, chegamos a conclusões importantes. Em primeiro lugar, vemos que se por um lado o crescimento da produção de café no Vietnã foi superior ao indiano, suas exportações também aumentaram drasticamente, o que não ocorreu no segundo caso.

Além disso, é importante ressaltarmos que grande parte do crescimento da participação do Vietnã no mercado internacional se deve basicamente aos baixos custos de produção de café no país. Ou seja, percebemos que a competição nessa região vem sendo travada sobretudo na base da obtenção do café mais barato, não estando o mesmo necessariamente ligado a imagem de qualidade.

Isso se dá, sobretudo, devido ao predomínio do cultivo de café da espécie robusta nesses países. O café desta espécie é utilizado, em geral, pela indústria e reconhecidamente de menor qualidade.


Fonte: OIC

Globalização e consumo

As décadas de 80 e 90 trouxeram não apenas a necessidade de reformas para a economia indiana, como também a expansão de uma série de hábitos ocidentais no país. Esse efeito é sentido principalmente em áreas urbanas, onde os avanços da tecnologia da informação se fazem mais presentes. Ademais, o crescimento da classe média nesses centros contribuiu de forma determinante para a cristalização desse novo quadro.

Nesse sentido, chama a atenção o aumento no número de cafeterias nas grandes cidades indianas. O país, que tradicionalmente é considerado um dos principais consumidores mundiais de chá, vem presenciando o crescimento de redes nacionais especializadas na venda de café. Nelas está disponível bem mais que uma bebida, pois, na Índia, este hábito pode estar vinculado também à quebra de tabus.

Em média, um café servido em um estabelecimento especializado custa cerca de 20 vezes mais que o chá servido nas ruas indianas. Por isso, é preferido, sobretudo, pelas camadas mais jovens da crescente classe média local, mais identificadas com o modo de vida ocidental. Nesse sentido, é interessante observar que as cafeterias indianas, apesar de manejadas por empresários locais, em muito lembram redes internacionais, presentes em todo o hemisfério norte.

Apesar do aumento do consumo de café na Índia, os dados são ainda modestos se levarmos em conta o número de habitantes do país. Devemos lembrar, uma vez mais, que cerca de 60% da população indiana vive em zonas rurais, onde a força de costumes milenares é fortíssima. Entre eles, o consumo de chá pode ser considerado um dos principais hábitos alimentares. Além disso, os baixo nível de renda dos agricultores indianos limita a expansão do consumo de café de forma significativa em diversas regiões do país.


Fonte: OIC

Apesar das controvérsias em relação aos dados de produção e consumo de café no mundo, principalmente em relação aos valores absolutos apurados, é consensual o papel central que os mercados de outros países possuem para os indianos.

Uma vez que a concorrência internacional é bastante acirrada, e sendo a Índia um Estado tão populoso e com diversas barreiras aos produtos agrícolas estrangeiros, é natural que o aumento do consumo interno figure como uma estratégia para a cafeicultura indiana.

No entanto, a tarefa de expandir o consumo interno de café na Índia é das mais complexas. As barreiras existentes se relacionam não apenas com a cultura local, como também com a estrutura econômica prevalecente em diversos setores do país.

De qualquer maneira, em se tratando de um país com uma população da ordem de 1 bilhão de habitantes, qualquer ganho em termos de consumo já pode ser considerado uma grande vitória. Da mesma forma, a imagem de exotismo sempre associada ao país pode ser de grande utilidade para o crescimento das exportações para o mundo, inclusive no segmento de cafés diferenciados.

O que se espera é que a progressiva onda de liberalização que vem tomando conta do país possa agir de forma benéfica também em relação ao mercado do café local. Se lembrarmos que, até bem pouco tempo atrás, uma burocracia estatal controlava todo o setor no país, sem qualquer preocupação com a diferenciação ou com as peculiaridades regionais do produto, veremos que já existem avanços. A magnitude dos próximos, no entanto, estará necessariamente ligada aos rumos que a Índia tomará como um todo.

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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