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Grandes demais para respeitar as leis do mercado

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 27/11/2014

3 MIN DE LEITURA

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Foto ilustrativa: Guilherme Gomes/ Café Editora
Foto ilustrativa: Guilherme Gomes/ Café Editora


Por seu tamanho, é natural que muita coisa chame a atenção no atual escândalo da Petrobras. Nunca antes na história desse país um caso de corrupção tão complexo fora descoberto antes das recentes revelações. Isso não significa, claro, que as mesmas práticas não tenham ocorrido em outras épocas, ou que diversos setores da economia não estejam, nesse exato momento, sustentando esquemas semelhantes. É bastante provável, ademais, que muita gente influente soubesse do que ocorre na estatal. Embora nem todos tenham se beneficiado diretamente da distribuição de propinas, era como se tais costumes fossem fundamentais para sustentar o "teto" que nos protege diariamente, qual seja: o Estado.

Um aspecto interessante dessa história é a de que, uma vez descoberto o malfeito, todos falam de crise. Em outras palavras, o que choca é a incerteza que sucederá a atual onda de notícias, e não tanto o fato de que, possivelmente por décadas, nossa principal empresa estatal foi um alvo fácil para o estabelecimento de convenientes alianças entre o poder público e o privado. Talvez não seja tão difícil entender a razão de tal comportamento: para muitas organizações, a "competitividade" dependia diretamente dos recursos desviados da Petrobras. Partidos políticos e construtoras, para citar apenas os protagonistas mais óbvios da trama, provavelmente não sejam tão competitivos assim. Seriam capazes de liderar seus nichos caso não tivessem um "auxílio extra" tão volumoso?

Essa constatação nos leva a outro detalhe peculiar da atual crise. Em diversas conversas sobre o tema, foi unânime a revolta com a influência política na Petrobras. Pouquíssimos, entretanto, demonstraram desgosto semelhante ao comentar a atuação das empresas envolvidas no esquema de corrupção. É como se o representante eleito, ávido por vantagens, pressionasse os indivíduos vinculados ao setor privado até que estes cedessem. A impressão, não raramente, é a de que a maioria das pessoas acredita que os funcionários das empresas só aderiram ao escândalo da Petrobras porque não tinham outra alternativa. Caso pudessem, competiriam limpamente pelos contratos bilionários, entregando as obras que o país precisa com eficiência.

Ocorre, porém, que a realidade não comporta maniqueísmos. É triste, mas é real: uma parcela importante das empresas brasileiras derivam parte de seus ganhos da exploração das chamadas "vantagens institucionais". Com o passar das décadas, inúmeras empresas se especializaram em moldar as instituições e as rotinas do Estado a fim de garantir a maximização dos lucros. Podemos até discutir quem teve essa "brilhante" ideia, mas aqui importa pouco o que veio primeiro. Na maioria dos países em desenvolvimento, de fato, o ovo e a galinha são quase a mesma coisa. Políticos e empresários, empresários e políticos, compartilham os mesmos espaços, reduzidos devido à enorme desigualdade de renda.

É difícil falar, portanto, de uma sequência lógica para o escândalo Petrobras. O mais provável é que tanto a maioria dos partidos políticos quanto muitas construtoras teriam certa dificuldade para sobreviver caso não tivessem acesso aos tais recursos extras derivados das obras públicas. Para que "o Brasil não parasse", usando a infeliz expressão de um advogado ligado ao caso, fez-se necessária a existência de uma gigante estrutura distribuidora de riqueza. Nesse caso, a ilegalidade das práticas torna o enredo mais dramático, mas será esse "capitalismo vampiro" dependente unicamente de crimes? A resposta, provavelmente, é um sonoro não. Há uma série de práticas comuns na atualidade que, embora possam ser explicadas pelas leis vigentes, pouco contribuem para aumentar a eficiência das empresas brasileiras.

Para dizer de outra forma, a Petrobras é um escândalo enorme, é verdade, mas há inúmeros outros enredos que mereceriam maior atenção do público. A política de empréstimos do BNDES, por exemplo, oferece uma série de exemplos interessantes. Seria útil para a sociedade brasileira caso toda a lógica de escolha das chamadas "campeãs nacionais" fosse melhor explicada. Aqui, também é evidente a existência de uma lógica em que tanto empresas privadas quanto partidos políticos utilizam recursos do Estado para alavancar sua competitividade. Os mais curiosos podem comparar as listas de doadores de campanhas e o ranking de empréstimos do nosso banco estatal. Algumas "coincidências" interessantes aparecerão, com certeza.

Em resumo, antes de demonizar a política, convém respirar fundo e observar toda a paisagem. Há muito mais gente que valeria menos do que pesa no mercado caso a competição predominasse no capitalismo brasileiro. É possível discutir quais são os limites para o estabelecimento de um ambiente realmente competitivo em nosso país, mas, independentemente da conclusão, o escândalo da Petrobras deveria deixar a lição: a especialidade de muitos dos nossos empreendedores não é apenas construir pontes e viadutos eficientemente, mas também encontrar formas de manter uma redistribuição ineficiente dos recursos produzidos por todos nós.

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 01/12/2014

Prezado Bento,



Agradeço a sua participação. Concordo com o que diz sobre a importância da mobilização da população.



É importante, porém, que essa participação se destine a fortalecer os mecanismos institucionais já existentes, propondo reformas sempre que necessário. Preocupa-me o comportamento de alguns grupos defendendo posições extremas de quebra institucional que não resolveriam problema algum, apenas trocando os que se beneficiam da corrupção. Sei que são uma minoria, mas, ainda assim, é triste, na minha opinião, escutar gente defendendo golpes militares no Brasil no século XXI, apenas para citar um exemplo.



Atenciosamente



Bruno Miranda
BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 01/12/2014

Prezado Mauro,



Muito obrigado pela participação. Espero contar sempre com a sua leitura atenta dos artigos, assim como críticas e sugestões ao conteúdo aqui publicado.



Atenciosamente



Bruno Miranda
BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 01/12/2014

Prezado Alexandre,



Bons exemplos devem existir, sim, tanto na política quanto na iniciativa privada. Há uma questão importante aqui: reformas institucionais são necessárias para que os desvios de conduta sejam mais difíceis de esconder. Infelizmente, damos inúmeras oportunidades para que os desonestos triunfem...



Atenciosamente



Bruno Miranda
BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 01/12/2014

Prezado Henrique,



Gostaria de agradecer a sua visita e o elogio ao texto. Aproveito para convidá-lo a sempre passar por aqui, deixando suas impressões, propondo temas a serem abordados e participando do debate com os outros leitores.



Atenciosamente



Bruno Miranda
BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 01/12/2014

Prezado João Carlos,



Agradeço o comentário. Você aborda uma questão fundamental: boa parte da corrupção no Brasil se dá no nível municipal. São mais de 5.000 "pequenos governos", muitos dos quais verdadeiros templos do desperdício.



Gosto de lembrar disso porque, quando perguntado a razão de não fazer nada contra a corrupção, um argumento comum empregado por nós, brasileiros, é o fato de tais práticas estarem muito longe de nós, na distante Brasília. Não é bem assim, na verdade...



Atenciosamente



Bruno
BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 01/12/2014

Prezado Celso,



Muito interessante o exemplo da Itaipu. Não tinha pensado nisso mas, de fato, as características dessa obra a tornaram um prato cheio para a corrupção. Seria interessante, por exemplo, comparar como essa e outras obras faraônicas da época foram levadas adiante (concessões, estrutura dos contratos, etc).  



Acredito que o grande desafio para estudar corrupção é a falta de dados confiáveis. Esse é, por sinal, um limitador para a análise de qualquer atividade ilícita. De tempos em tempos sai um livro ou tese famosa sobre máfias, por exemplo. Não raramente, isso só é possível porque o escritor/pesquisador se infiltrou no grupo e o observou de perto. E conseguir tal acesso, convenhamos, não é nada fácil (para não dizer perigoso).



Atenciosamente



Bruno Miranda


EDUARDO LIMA

OURO FINO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 01/12/2014

Essa história começou a 500 anos atrás.  É o resultado de muitos anos de absolutismo monárquico e patrimonialismo, e que  tem como  uma das várias consequências, essas  relações "incestuosas"  entre governo e setores da sociedade civil. Somos uma jovem nação, que precisa avançar muito ainda no campo institucional, de forma a criar condições de coibir práticas deletérias na administração pública. Acredito, que temos boas chances de avançar. O tempo vai dizer, se nossas instituições (judiciário e legislativo) estão a altura dessa tarefa imediata.
CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 01/12/2014

Prezado Bruno

Creio que a maior corrupção que já ocorreu no Brasil foi na construção da Itaipu. Por ser binacional, estrategicamente ali colocada, não houve fiscalização dos gastos por parte dos tribunais de contas e permitiu a verdadeira farra com recursos públicos. Essa temática renderia muitos trabalhos de economistas e historiadores.

Abçs

Celso Vegro
BENTO VENTURIM

SÃO GABRIEL DA PALHA - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 01/12/2014

"Nenhum politico está no poder, senão pelo voto", disse Cortella.



Porém, a certeza da impunidade e  a tomada do poder "pelo estômago" e pela  ganancia "de empresários presos da mesma forma pelo poder central", para vender o alimento para os pobre, nos deixa , IMPOTENTES.



SÓ  AS RUAS, sem os encapuzados do governo, RESOLVERÁ....

Ou,para nossa maior vergonha, a apuração feita nos EUA ou na Suiça ....
JOÃO CARLOS REMÉDIO

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 29/11/2014

Bruno, parabéns pela matéria. Esse "faraônico" escândalo de corrupção na ex maior empresa brasileira é, infelizmente, uma microscópica agulha num palheiro gigante chamado Brasil. O roubo do dinheiro público parece ter sido historicamente institucionalizado em nosso país e agora, o disparate é tamanho que parece que estamos a caminho de sua "legalização".  Roubam dinheiro público em todos os mais de 5000 municípios brasileiros, infelizmente, em nenhum pode se dizer o contrário. As instituições públicas também não foram poupadas desses crimes; é só fazermos um retrospectos dos inúmeros escândalos de corrupção pelos quais elas já passaram.       Propagou-se Brasil afora a cultura desse crime, respaldado no seu maior incentivador e propagador: a certeza da impunidade. Não nos esqueçamos que muitos dos Políticos citados nesse caso Petrobrás, não sao primários para esse tipo de crime e continuam sendo reeleitos e legislando normalmente; aí, somos colocados como participantes nesse " esquema",mesmo que involuntariamente. Pois, os colocamos de volta ao "poder", quando nos foi permitido tirá-los democraticamente com o nosso voto. O exemplo deveria vir de cima, mas, parece que a parte mais alta desse país não tem muita coisa de bom para nos mostrar!                                                                                                                                                                     O que fazer num momento de tamanha ansiedade como esse, se vamos continuar com tudo que parece ter saído às margens da ÉTICA? É difícil fazer qualquer previsão, pois, se fizermos um retrospecto de outros "escândalos" envolvendo dinheiro público, "Políticos, funcionários públicos ou não, só nos leva para o caminho de mais uma grande decepção.  Como dizia o Saudoso Ulisses Guimarães..."Político só têm medo do POVO nas RUAS...". Então, que façamos DEMOCRATICAMENTE a vontade do Saudoso e Verdadeiro Político!  Às RUAS já!
ALEXANDRE CASTRO CAMBRAIA

OLIVEIRA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 29/11/2014

Este país é um lixo!!! Será que existe algum político ou empresário honesto, transparente, ético e sincero? Duvido...me apresente um... Se for capaz...
MAURO GROSSI ARAÚJO

IMBÉ DE MINAS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 28/11/2014

Muito bom! Direto e sensato.
HENRIQUE FLORI BERNARDES

PIUMHI - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 28/11/2014

Parabéns Bruno

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