O desfecho das eleições presidenciais no Brasil nos convida à reflexão. Após inúmeras reviravoltas ao longo do caminho, afinal, voltamos ao mesmo ponto. Engana-se, porém, quem acha que o país conduzido pela presidente Dilma Rousseff é o mesmo de antes da campanha. Algo mudou, e, por mais que muitos se esforcem em antecipar o que vem pela frente, o fato é que ninguém sabe muito bem para onde tais transformações nos levarão. A mistura de inquietação no ar e uma sensação de dever incumprido por parte do governo deixam apenas uma certeza: Dilma Rousseff sabe que dos próximos quatro anos depende não apenas o curto prazo do Brasil, como também o futuro do projeto de poder do PT.
Em primeiro lugar, a própria relação entre a gerente e a cidadania mudou. O Brasil que emerge depois das eleições presidenciais sente menos vergonha de mostrar suas preferências políticas. Reflexo dos novos tempos, em que todos parecem ter opinião para tudo, nunca houve tanta gente disposta a expressar o que pensa sobre a sociedade em que vive. O resultado geral, também um retrato da realidade em que vivemos, é que o brasileiro anda impaciente. Bom para a oposição, que nunca esteve tão perto de voltar ao poder desde que o PT o conquistou em 2002, mas melhor para os defensores de posições consideras extremas no espectro político brasileiro. De fato, os "Bolsonaros" de plantão nunca se deram tão bem.
Diante de uma plateia impaciente, Dilma terá que lidar com uma situação nova na curta história de nossa Nova República. Desde já, a presidente terá que administrar o próprio fracasso na gestão econômica do país. A apertada vitória conquistada pela candidata do PT não muda em nada as perspectivas: crescimento medíocre, inflação preocupante. A dúvida que fica diz respeito à avaliação feita na intimidade do poder. Acreditará Dilma que o fraco desempenho econômico é resultado de decisões equivocadas no passado? Pensará que, pelo contrário, o crescimento será promovido com um aprofundamento das atuais políticas? Do resultado dessa análise dependerá o início da nova administração.
A futura tendência das estatísticas dependerá, ademais, de reconstrução da credibilidade do discurso do governo. Nos últimos quatro anos, Dilma e sua equipe cultivaram o péssimo hábito de descumprir promessas, utilizando-se, para isso, da boa e velha "contabilidade criativa". Até por não serem os primeiros a lançar mão do "cinismo político" para justificar seus atos, os funcionários envolvidos na elaboração da política econômica brasileira foram facilmente descobertos. Revelada a estratégia, foi-se embora a confiança e, com isso, boa parte da capacidade da presidente de influenciar o "humor do mercado".
Seja qual for o caminho trilhado nos próximos quatro anos, se o roteiro narrado por Brasília for condizente com os fatos, melhor para todos. Um plano econômico ruim, mas sincero, é melhor do que aquele que se ampara no "diz-que-diz-que". Afinal, mudar o rumo não basta: é preciso que a tripulação acredite na conveniência de fazê-lo e nas intenções da comandante. Metade dos brasileiros parece satisfeito com a atual situação, enquanto a outra metade dá a impressão de que não se convenceria tão fácil com o chamado de Dilma. Como pano de fundo, uma série de más notícias que podem sepultar a única boa notícia que resta: o tal "pleno emprego". Trata-se de um desafio e tanto.