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Do hoje depende o amanhã

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 16/02/2009

4 MIN DE LEITURA

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Envolto em duas graves crises, o mundo parece caminhar sem um destino definido nos dias atuais. No campo econômico, nem mesmo os inúmeros planos de ajuda divulgados ao redor do mundo parecem animar os agentes, temerosos de que o fundo do poço ainda esteja por ser revelado. Já na questão ambiental, as notícias recentes tampouco são animadoras: chuvas torrenciais em vários pontos do território brasileiro, seca prolongada na Argentina, temperaturas extremas na Austrália, apenas para citar alguns exemplos. Aos pessimistas de plantão, as manchetes dos jornais são um prato cheio para as análises mais catastróficas.

Não que a raça humana esteja à beira do precipício, ou em um caminho sem volta. Ao longo de sua trajetória, a humanidade nunca teve certeza absoluta daquilo que ia encontrar pela frente, de modo que a resolução de problemas sempre esteve na ordem do dia. Algumas sociedades, inclusive, chegaram a um patamar de prosperidade considerável justamente por apresentarem respostas superiores para velhos desafios. Nesse sentido, os desníveis econômicos e sociais de hoje guardam estreita relação com a capacidade de cada sociedade em lidar com problemas que, na maioria dos casos, são comuns a todos.

Foram justamente a observação do meio, a identificação de padrões e a proposição de novas abordagens as chaves para esse sucesso. Desde tempos imemoriais, a raça humana soube se aproveitar de sua capacidade cognitiva diferenciada para aproveitar a natureza em benefício próprio e desenvolver formas mais adequadas de interação social. Tudo isso em um ambiente que exige cada vez mais do cérebro humano. Desafios triviais deram lugar a uma complexidade crescente, que nos dias atuais chegam mesmo a assustar.

A codificação do conhecimento e a organização de um aparato crescente voltado à pesquisa somente vieram a dinamizar esse processo, sendo o estabelecimento das universidades mostra notável dessa realidade. Adentrando no século XXI, é impensável imaginar uma sociedade próspera desacompanhada de uma estrutura que lhe garanta excelência educacional em todos os níveis. E nesse tópico, a pesquisa voltada à fronteira do conhecimento, aquela capaz de decifrar os problemas mais agudos dos tempos contemporâneos, é especialmente importante para a bonança social.

Por isso, duas notícias recentemente divulgadas fatalmente nos conduzem a uma reflexão mais ampla. Quando contrapostas com a enxurrada de fatos vinculados ao momento de incerteza vivido mundialmente, tais novidades chegam mesmo a incomodar. A primeira delas, mais divulgada, é a do corte no orçamento destinado pelo governo federal para o ministério da Ciência e Tecnologia, sob o argumento de que a crise financeira exige um maior controle nos gastos públicos. Isso apesar das promessas de aumento nos gastos do Plano de Aceleração do Crescimento, da manutenção da expansão dos cargos públicos, entre outras medidas.

Ninguém nega que momentos de crise exigem uma reavaliação dos gastos e um maior cuidado em relação ao futuro; porém algo que não parece claro nos argumentos daqueles que defenderam o corte é se estes são capazes de compreender o significado e a dimensão de uma crise como a vivida pelo mundo nos dias atuais. Crises são também momentos repletos de oportunidades, dado que das cinzas da destruição surgirão novas formas de organização, filões de negócio inovadores, entre outras coisas. A única dúvida está em quem sairá com a novidade. E nesse sentido, é cada vez mais claro que os condutores da próxima revolução se basearão necessariamente no conhecimento científico, subsídio fundamental para o desenvolvimento de uma economia menos dependente de combustíveis fósseis, por exemplo.

Enquanto isso, a mesma imprensa divulga que centros de ensino superior privados com larga trajetória no mercado, e mais importante, com quadros dedicados à pesquisa científica, vêm realizando cortes de pessoal, que em muitos casos atingem aqueles profissionais com maior titulação. O argumento para tal política, já conhecido, é o de que o excesso de vagas no ensino superior brasileiro tem levado a uma competição ferrenha dos centros por alunos, algo que por conseqüência tem pressionado o preço das mensalidades para baixo. Menos recursos levam, evidentemente, a menores gastos com a educação, leia-se professores menos preparados e abandono das atividades de pesquisa.

Longe de culpar a expansão do ensino superior privado no Brasil nas últimas duas décadas, o que buscamos questionar aqui é um crescimento feito de forma descuidada, sem preocupação alguma com os alunos. Evidentemente, qualquer cidadão com bom senso desejaria ver o maior número de pessoas tendo acesso ao ensino superior. Entretanto, tal inclusão deveria vir acompanhada de um cuidado com a qualidade dos cursos oferecidos, e principalmente, com a função social das instituições que se prestam a tal atividade. Já está mais que provado que, quando aliada à pesquisa científica, a educação garante maiores ganhos para a sociedade como um todo, além de assegurar um maior leque de opções para os alunos envolvidos.

Assim, é difícil entender a relativa lentidão do governo em fazer valer essa lógica, fiscalizando mais de perto as instituições de ensino superior ou mesmo fixando metas mais ambiciosas para as mesmas. Principalmente em um momento de explosão no financiamento para estudantes, tal cuidado deveria figurar entre as prioridades do governo federal. Não sendo nova a reclamação de que o Estado brasileiro gasta mal e demais, o mínimo que se esperaria de nossa burocracia é uma maior atenção quando fosse decidido que ainda mais recursos seriam destinados para um projeto considerado estratégico.

O cuidado com a pesquisa científica é requisito fundamental para uma sociedade que reivindica um espaço crescente na geopolítica do mundo contemporâneo. Afinal, as soluções para as crises, sejam elas de cunho econômico ou ambiental sairão justamente da sala de algum centro dedicado a estudar e entender o mundo a nossa volta. Novos arranjos institucionais para regular o mercado não surgem da noite pro dia, tampouco as respostas para questões como o aquecimento global. Fechar os olhos para essa realidade pode significar mais algumas décadas de espera.

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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JULIANO TARABAL

PATROCÍNIO - MINAS GERAIS

EM 16/02/2009

Extremamente oportuno o artigo. É um absurdo a maneira com a qual vem sendo tratada a pesquisa e a educação superior em nosso país.

Um setor extremamente estratégico em termos de desenvolvimento que é o da pesquisa e tecnologia não deve nunca sofrer cortes, seja o momento que for; deve sim ser melhor direcionado ou gerido, mas nunca sofrer cortes.

Como vamos crescer ou sair do lugar se cortamos gastos neste setor? É incrivelmente incompreensivel a maneira como o governo enxerga os acadêmicos, cientistas, intelectuais, etc. A "massa" intelectualizada em nosso país é subnegada a gabinetes cheirando a mofo, laboratórios sem equipamentos, campos experimentais abandonados ou mal cuidados. Não citarei nomes aqui pois não vem ao caso, mas verdadeiras potências que poderiam impulsionar o agronegócio nacional ainda mais estão entregue às traças, a interesses politicos e pessoais, a um ranso que teima em imperar e a emperrar nosso desenvolvimento. Até quando vamos ter que aturar atitudes medíocres tais como essas?

Onde estão os lideres classistas do agronegócio brasileiro? Estão satisfeitos com esta situação e com estas noticias? Vão se manter pra sempre na inobservância, na inércia, na ignorância, na miopia dos fatos que acontecem diante dos seus próprios narizes?

Francamente, como sou jovem e idealista é dificil às vezes conter impulsos e indignações. Pra resumir: "Estamos num mato sem cachorro". Porém nunca perdemos as esperanças e continuamos sempre na militância por nossos objetivos e ideais.

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