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Desertos no meio do oásis

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 02/08/2016

3 MIN DE LEITURA

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Desde o início do século XXI, o uso da expressão "deserto alimentar" tem se popularizado nos Estados Unidos. Utilizado para descrever áreas com reduzida oferta de alimentos frescos, o termo ajuda a explicar o avanço de inúmeros problemas de saúde no país. Em determinadas porções do território norte-americano, encontrar cadeias especializadas em fast food é mais fácil do que obter frutas e verduras. O resultado: milhões de indivíduos "condenados" a viver menos do que seus pais e avós, um desfecho surpreendente para uma sociedade caracterizada por tamanha pujança.

A existência de tais ilhas de escassez é consequência direta de décadas de pobreza. Ademais, faz-se necessário reconhecer: os vendedores de comida pouco saudável são extremamente eficientes naquilo que fazem. Ao longo das últimas décadas, o contínuo refinamento na gestão das franquias possibilitou a multiplicação de diversas redes de restaurantes ao redor do território dos Estados Unidos. Se a maioria delas oferece cardápios pouco saudáveis, em parte é porque a população os demanda.

Com a progressiva conscientização dos consumidores, um fenômeno interessante tem ocorrido nos Estados Unidos: a proliferação de negócios dedicados a vender "comida saudável". Nunca é demais repetir, as boas práticas de gestão de um restaurante dedicado ao fast food não são exclusividade de um cardápio específico. Algumas redes especializadas no oferecimento de alimentos frescos têm crescido nos últimos anos, usando estratégias semelhantes às dos estabelecimentos especializados em frituras e refrigerantes gigantes.

Entretanto, a falta de políticas adequadas é tão perigosa para a dieta de um país quanto os movimentos da oferta e da demanda. Incentivos monetários são suficientes para garantir a satisfação das necessidades básicas daqueles que por elas podem pagar. Milhões de indivíduos, porém, não podem se dar ao luxo de comprar "comida saudável" todos os dias. Respondendo ao desafio, o governo dos Estados Unidos tem fomentado o estudo dos "desertos urbanos". Da mesma maneira, iniciativas lideradas por agentes públicos ou organizações não governamentais buscam oferecer soluções inovadoras para a questão.

Por exemplo, é crescente o incentivo dado ao estabelecimento de hortas urbanas. Além de garantir um suprimento de verduras e legumes aos seus usuários, tais programas aumentam o sentimento de pertencimento à comunidade local. Bairros afetados pela pobreza e pelo abandono tendem a possuir menos ações coletivas entre seus membros. Assim, o trabalho conjunto funciona como um primeiro passo para a criação de empatia entre os vizinhos e o possível engajamento em outras atividades de interesse comum.

Diante da experiência norte-americana, a impressão é a de que pouco aprendemos. Pior, estamos copiando muitos dos maus hábitos. Estudo recente estima que quase 30 milhões de brasileiros adultos são obesos. Infelizmente, parte das conquistas econômicas obtidas ao longo dos últimos 30 anos "financiou" a adoção de dietas baseadas em alimentos excessivamente industrializados. Nem mesmo os anos de crise nos fizeram olhar para opções mais saudáveis. Em muitas famílias, as mudanças nos hábitos alimentares em tempos de dificuldade privilegia a troca de um produto pouco saudável por outro semelhante de menor custo.

Infelizmente, ainda temos pouca informação sobre o tema no Brasil. Entretanto, as conclusões apresentadas por um número crescente de estudos não são animadoras. Talvez muitos se surpreenderiam ao descobrir que a dieta típica em zonas rurais brasileiras se parece muito com a das áreas urbanas. Na prática, observamos a existência de verdadeiros "desertos no meio do oásis", onde a dependência de supermercados contrasta com a existência de amplas áreas com potencial para a produção de alimentos frescos. Para piorar, a infraestrutura deficiente e a pobreza contribuem para uma reduzida variedade de produtos nas gôndolas.

A dependência exagerada de alimentos processados representa uma clara evidência da nossa incapacidade de conceber esquemas inovadores de produção e distribuição de alimentos no Brasil. Iniciativas como as hortas urbanas poderiam ser adotadas tanto nas maiores cidades do país quanto em municípios de menor porte. Não se trata de ir contra as "leis do mercado". De fato, programas semelhante podem ser estalecidos sem qualquer intervenção do governo. Ao incentivar as pessoas a trabalharem por um bem comum, daremos o primeiro passo para o adensamento das relações cooperativas em inúmeras comunidades.

Da mesma forma, tal dependência demonstra o vácuo deixado pela ausência de políticas efetivas de conscientização da população. Nesse caso, apenas apontar os benefícios de longo prazo de uma dieta saudável pode resultar insuficiente. Afinal, são poucos os que pensam no "futuro distante" ao fazer suas compras, preferindo o prazer momentâneo. Indo além, é necessário criar campanhas em que as vantagens do consumo de alimentos frescos tenham a ver com o presente. Uma vez mais, a possibilidade de cooperar com outros indivíduos pode oferecer o empurrão necessário em tempos de descrença generalizada com o "comum".

*Bruno Varella Miranda é mestre em Administração pela USP e doutorando em Economia Agrícola pela Universidade de Missouri - Columbia.

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 03/08/2016

Prezado Sergio,



Agradeço o comentário. Prometo voltar ao mesmo tema no futuro próximo, buscando explorar as duas questões colocadas por você. Seria interessante falar: (i) sobre o que existe de evidência sobre as mudanças nos hábitos alimentares ao redor do país; (ii) explicar melhor o crescimento do interesse pelas feiras de comida local nos Estados Unidos, assim como o estabelecimento das hortas comunitárias.



Atenciosamente



Bruno Miranda
SERGIO CASTEJON

MONTE SANTO DE MINAS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 03/08/2016

Caro Bruno, obrigado pelo artigo. Certamente suas afirmativas são embasadas em fatos, em evidências objetivas. Agradeceria se enriquecesse seus artigo com mais números, que se limitou aos "trinta milhões de brasileiros são obesos."  

Agradeceria também se explorasse mais sobre as oportunidades e ideias que vem sendo adotadas com sucesso nos EUA.

Grande abraço.

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