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Cooperativas: Nem tudo são flores

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 16/03/2010

3 MIN DE LEITURA

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Desde suas origens, o movimento cooperativista assegurou a participação de milhões de pessoas na rotina econômica. Casos de êxito são abundantes em todo o mundo: na Europa, berço das cooperativas, ainda hoje sua presença é marcante na sociedade. No Brasil, os exemplos de sucesso são igualmente notórios, motivando uma série de análises.

Tendo esse panorama em vista, adotaremos, ao longo das próximas linhas, um enfoque distinto, debatendo aquilo que está errado. Ao longo do texto, discutiremos um importante dilema envolvendo a relação entre essas organizações e o Estado.

A escolha pelo debate de pontos problemáticos na gestão das cooperativas não se deve a uma descrença no movimento. Pelo contrário, é fundamental salientar o quanto muitas dessas organizações vêm contribuindo para a viabilização da atividade rural no Brasil. O foco no êxito, porém, tão comum na academia, impede a elucidação de diversos problemas fundamentais para um melhor entendimento do mundo. Daí a necessidade de olharmos também o "outro lado" das coisas.

Cooperação para quê?

Do que se trata a cooperação? A fim de responder a pergunta, faz-se necessário, em primeiro lugar, determinar o sentido desse ato. Cooperar decorre do anseio, por parte de um dado número de agentes, de atingir um objetivo. Dado que este pode ser obtido de diversas maneiras, a escolha de uma estratégia específica se relacionará - ou deveria se relacionar - aos custos incorridos ao longo do processo. Desde que a meta seja assegurada, quanto menor o gasto, melhor a estratégia.

Pois bem, a razão de ser de uma cooperativa está na viabilização da ação econômica de agentes que, de outra forma, teriam enorme dificuldade para sobreviver à dura rotina nos mercados. Unidos os esforços em torno de um objetivo comum, espera-se que se dêem as condições para que atuem na esfera econômica. Em outras palavras, a instituição de uma cooperativa deve bastar para que seus associados compitam em condições adequadas no mercado.

Ocorre que, para determinados agentes ou atividades, a união em torno de uma cooperativa não é suficiente para viabilizar a sobrevivência nos mercados. Daí a importância de políticas públicas que, atentas ao aspecto social relacionado à ação econômica, atenuem essas diferenças. A ação do Estado, dessa maneira, constitui uma espécie de "último recurso", executada sempre que haja razões sólidas para tanto. Tem-se aí um caso que merece nossa reflexão: qual a melhor forma de auxílio público às cooperativas, tendo em vista que tais políticas se destinam a viabilizar a participação no mercado daqueles que, de outra maneira, não o conseguiriam?

Na atualidade, vemos, por um lado, que a defesa das cooperativas constitui uma prioridade do ponto de vista da administração pública que, por exemplo, concede a estas organizações benefícios tributários. Por outro lado, a busca por maior eficiência levou diversas cooperativas a excluir produtores ou encerrar atividades com baixa produtividade. Isso posto, vale a indagação: estariam as reformas empreendidas pelas cooperativas mais bem-sucedidas - por serem consideradas mais eficientes - excluindo justamente aqueles que mais precisam de auxílio? Ou, mudando o raciocínio: estariam as atuais políticas públicas atuais atendendo de forma adequada às necessidades destes produtores?

As respostas para os questionamentos acima são complexas, e certamente exigem mais que alguns parágrafos. Uma primeira aproximação, porém, nos fornece ferramentas importantes para um posterior debate. Em primeiro lugar, cabe enfatizar que as cooperativas que têm feito "a lição de casa", ou seja, buscado garantir sua sobrevivência por meio de uma inserção diferenciada no mercado, são as menos culpadas dessa situação. Na verdade, a busca constante por eficiência reflete uma demanda do mercado. Talvez quem mais deixe a desejar, nesse caso, seja o governo e, principalmente, aquelas cooperativas cuja atividade constitui um fardo para seus associados.

Dito de outra forma, é necessário diferenciar entre má gestão e atividades e produtores que, por suas características, exigem um tratamento diferenciado. O temor é o de que as políticas públicas, na atualidade, não estejam diferenciando de forma adequada estes dois casos. Com isso, observa-se um problema duplo: (i) o desperdício se perpetua na mão de gerenciadores incompetentes, beneficiários dos incentivos governamentais; (ii) aqueles que mais precisam de ajuda estão sendo excluídos do mercado justamente porque as políticas atuais não chegam até suas propriedades rurais.

A moral da história, portanto, é a seguinte: aqueles que deveriam ser protegidos são os mais expostos e aqueles que deveriam ser eliminados do mercado se perpetuam. Em meio a esse quadro, diversas cooperativas exitosas têm feito seu trabalho da melhor forma possível, garantindo sua sobrevivência e a de seus associados mais bem adaptados ao meio. Muitos, porém, ficam pelo caminho, e é isso o que devemos evitar caso queiramos construir políticas de apoio efetivas aos produtores rurais.

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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SAMARA CUQUETTO BATISTA

NOVA VENÉCIA - ESPÍRITO SANTO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 22/03/2010

Parabens Maria e Bruno, pois o assunto em questao foi muito bem colocado. Convivo no meio cooperativista as uns 10 anos nos ramos agropecuario e de credito aqui na minha cidade, e vejo as duas cooperativas q acompanham estao coloborando para o bom desenvolvimento de seus cooperados, estao proporcionando melhores condiçoes de vida e aumentando a produtividade em sua atividade (cafe conilon).

A cooperativa oferece condiçoes tanto para um pequeno e para o grande produtor tratando-os da mesma forma, tendo eles os mesmo direitos dentro da cooperativa. Sem o auxilio e dos beneficios que a cooperativa oferece somente com que o estado oferece o mesmo desenvolvimento vejo que nao teria ocorrido. Outro fator importantissimo é o pagamento de 100% dos impostos pelas cooperativas o que eleva os numeros do recolhimento dos municipios em que as cooperativas atuam.

Concordo tambem que existem muitas cooperativas que nao cumprem seu papel e sao geridas com interesses proprios e nao nos objetivos comuns de seus cooperados, com isso fazem q as instuiçoes que trabalham honestamente sejam prejudicas pois todas sao cooperativas e deveriam trabalhar respeitando os sete principios do cooperativismo.

Temos, com certeza, que analisar os dois lados da moeda. mas nao podemos generalizar pois existem muitas cooperativas serias que trabalham para que seus cooperados sejam os mais beneficiados e creio que sejam raras as exceções que trabalham de forma incorretas e que nao mereçam ter alguns beneficios legais e fiscais.

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