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Chegou a vez do Robusta?

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 22/11/2007

5 MIN DE LEITURA

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Há algum tempo os leitores nos pedem uma posição mais assertiva no que se refere a alguns dos problemas mais agudos da cafeicultura nos últimos anos. Tal demanda se manifestou especialmente após nosso último artigo, no qual comentávamos as dificuldades envolvidas na construção de indicadores precisos e os esforços realizados na área, com base em dados considerados por muitos já suficientemente difundidos. Fato é que a ampla divulgação destas informações, e mesmo o conhecimento por parte dos produtores não impedem as enormes controvérsias existentes até hoje na determinação de parâmetros para o encaminhamento de políticas no setor.

Entre os pesquisadores, há primeiramente a preocupação com a divulgação e a consolidação de dados e fatos, de preferência da forma mais organizada possível. Tal cuidado se deve à necessidade evidente de interação entre os distintos agentes, e espaços como o CafePoint são excelentes para a promoção do debate. Ao pesquisador, ouvir é tão fundamental quanto falar; nesse sentido, a compilação de dados funciona muito mais como um apelo para as manifestações daqueles que vivem o cotidiano da cafeicultura.

Ao final de nosso último artigo, lançamos duas perguntas, sendo a segunda dedicada àqueles produtores de café Arábica cuja inserção no segmento de cafés especiais é dificultada por algum fator. Buscaremos nas próximas linhas tratar deste tópico, tendo em vista as principais tendências no setor e alguns dados sobre custos disponíveis a todos. Este quadro leva em conta também a política de financiamento à produção e à comercialização voltada ao café, cujo desfecho, se por um lado não é o ideal, coloca alguns parâmetros para a exploração de oportunidades por parte de agentes atentos.

Primeiramente, não há solução mágica para a cafeicultura como um todo. Este ponto, já enfatizado em outras oportunidades nesta coluna, é de fundamental importância para qualquer análise deste setor. São diversos os interesses envolvidos, e os mesmos jogam um papel importante não apenas no campo econômico, como no político também. Muitas das soluções propostas, apesar de terem considerável apelo, esbarram em limitações institucionais presentes no contexto brasileiro. Principalmente, é vital recordarmos que nem entre os cafeicultores é possível um consenso em relação a todos os temas, dado que os desafios variam em cada região observada.

Passemos então ao que vem sendo observado ao redor do mundo. No que se refere ao consumo, há duas tendências importantes, quais sejam, o aumento da demanda por cafés especiais no Primeiro Mundo e a crescente penetração do café na rotina dos asiáticos, sobretudo por meio do consumo doméstico. Neste segundo caso, estamos falando de crescimento nas vendas de café solúvel, cujo exemplo indiano é dos mais interessantes. Previsões para o futuro são difíceis, mas a manutenção desse quadro, com a confirmação das previsões referentes ao consumo de cafés especiais e a entrada definitiva do café nos lares da Ásia traz importantes perspectivas.

A primeira, já extensamente debatida, é a de crescimento da importância dos cafés especiais. Trata-se de um dos temas de sempre, sendo recorrentes as referências aos exemplos do crescimento da produção de cafés especiais no Brasil nos últimos anos e o mercado que ainda temos a explorar. As estimativas são bastante otimistas e apontam para o enorme potencial do Brasil nesse campo; poderíamos deter pelo menos 20% do mercado mundial de cafés especiais, desde que melhorássemos em diversos campos, como a promoção de nosso produto no exterior e a maior atenção com as demandas vindas lá de fora.

Já em relação ao segundo caso, as controvérsias provavelmente são maiores. Para sustentar o aumento do crescimento doméstico na Ásia será necessária uma quantidade crescente de café Robusta, matéria-prima por excelência quando o assunto é a produção de café solúvel. O crescimento do Vietnã na década passada tem em parte suprido essa demanda; no entanto, quem observou o comportamento das cotações do Robusta ao longo do ano em Londres e o comparou com o quadro observado em Nova Iorque para o café Arábica vê que há espaço para o aumento da produção no primeiro caso.

Do ponto de vista dos produtores, é brutal a diferença entre os custos de produção das duas espécies. De acordo com a Conab, gasta-se cerca de R$ 140 em cada saca de Robusta produzida no Espírito Santo, ao passo que o Arábica produzido no sul de Minas Gerais sai por R$ 218 a saca. Em um contexto no qual a saca de café Robusta chega a valer cerca de 85% do valor pago pelo Arábica, é de se entender a diferença no humor dos produtores em um caso e em outro. Para cafeicultores inseridos na lógica da produção de quantidades crescentes, como observamos na tradição brasileira, custo de produção é uma variável chave no planejamento dos negócios.

Dados divulgados pela Conab em meados deste ano mostram que a margem de lucratividade do Robusta se encontra por volta de 40%, ao passo que para o Arábica este número não chega a 8%. Isso sem falar na possibilidade de obtenção de grandes produtividades e melhoras na qualidade do Robusta produzido por meio da utilização de tecnologias adequadas. Em um país no qual a produtividade de nossos cafezais em diversos casos é ainda relativamente baixa, uma guinada em direção a padrões diferenciados de produção poderia fazer a diferença.

Finalmente, as declarações recentes do secretário do Ministério da Agricultura, Bertone, referentes à impossibilidade política de drawback no Brasil, abrem igualmente espaço para essa discussão: por que não produzir robusta em outras regiões do país? É fato notório a nossa capacidade de produzir café solúvel em condições competitivas em um ambiente sem distorções alfandegárias; porém, a indústria de café solúvel nacional depende da ação dos diplomatas nas mesas de negociação ao redor do mundo, um tema que deixaremos para o futuro.

A produção de Robusta em áreas tradicionais de Arábica é certamente controversa; no entanto, a tendência atual dos dados não é das mais alentadoras para aqueles produtores de Arábica com custos elevados e posicionamento de mercado no patamar do Robusta. Outras opiniões acerca de alternativas para a cafeicultura certamente existem, de modo que a constituição de um debate acerca de temas como este é sempre bem-vinda. Muito trabalho ainda será feito na consolidação de dados e na coleta das posições de cada agente interessado neste complexo setor que é a cafeicultura. O mais importante é termos claro que é praticamente impossível agradar a todos na atual conjuntura.

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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ARLONIO CAMPOS

SÃO MATEUS - ESPÍRITO SANTO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 24/06/2008

No norte do estado, especificamente no município de São Mateus, estamos tentando desenvolver pequisa relacionada ao sistema de produção agroecológico, pois sabemos que os solos estão empobrecidos devido à intensificação e expansão da monocultura.

Diferentes tipos de pragas e doenças estão aumentando a cada dia e o uso de inseticidas e fungicidas estão sendo maiores e mais concentrados, o que aumenta mais ainda o custo de produção e contamina todas as formas bióticas e abióticas da natureza.

Enfim, estamos tentando construir uma nova opção de vida, onde que a natureza e o homem se relacionem harmonicamente e o fruto dessa relação seja mais justo socialmente, viável economicamente, valorizado culturalmente e ecologicamente correto.

"Agroecologia"
"Uma opção de vida"
JAIR ANTONIO MARTINS

VILA RICA - MATO GROSSO - PESQUISA/ENSINO

EM 30/11/2007

No MT a cultura do café é muito carente em pesquisas que sejam voltadas para essa região do estado. Por causa disso se torna difícil qualquer atividade relacionada a essa cultura. Mas de qualquer forma, qualquer pesquisa feita na área é muito bem vinda, pois, trabalhando com técnicas adequadas há a possibilidade do trabalho ter sucesso. Obrigado.
JULIANO TARABAL

PATROCÍNIO - MINAS GERAIS

EM 22/11/2007

Boa pergunta levantada pelos autores do artigo. Vários especialistas nos assuntos consumo de café e tendências de mercado, como Paulo Brando da P&A, tem apontado para esta crescente demanda por parte dos consumidores de café solúvel que provém do robusta ou conillon.

Sem dúvida alguma, robusta é uma variedade extremamente interessante pois apresenta-se com boa rusticidade, médias de produção que chegam a 120, 130 scs/hectare e atraente baixo custo de produção.

No entanto, sabemos também que os tradicionais produtores de robusta que são Espirito Santo, alguma coisa na Zona da Mata Mineira, Bahia e Rondônia se localizam em baixas altitudes, algo em torno de 400m pra menos, e que é nesta situação que esta variedade "vai bem". Portanto, nossos principais parques cafeeiros, que são os produtores de arábica e se situam entre 600 e 1200m de altitude, não estariam aptos a fazer esta migração para o robusta, a não ser claro que trabalhemos a genética dessas plantas, o que em cafeicultura é complicado pois melhoramentos na planta de café exigem algo em torno de 20 anos para o desenvolvimento de uma variedade.

Porém, é muito valido sim revermos nosso posicionamento frente à esta nova modificação nas tendências de consumo, e sem dúvida alguma, o drawback é a ferramenta, desde que bem regulamentada, para que possamos entrar nesta briga por mercado de solúvel. Ao invés de produzirmos o robusta poderíamos fazer como os alemães e sermos compradores de robusta favorecendo nossa indústria e, claro, sem prejudicar os produtores e sem termos de deixar de produzir arábica, que sem dúvida alguma é a variedade que nos fornece a melhor bebida.

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