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Café solúvel brasileiro: competição e discriminação

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 07/08/2006

6 MIN DE LEITURA

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Implementada graças a políticas governamentais direcionadas, a indústria de café solúvel brasileiro cresceu de forma impressionante, desde os anos 60 até os dias atuais. Concebida como alternativa para os onerosos estoques públicos inadequados para a exportação, esse segmento ganhou gradativamente competitividade na arena internacional, abocanhando fatias crescentes do mercado mundial. Para isso contribuiu também a posição de liderança do Brasil na produção de café, algo que garantia ao país a matéria-prima necessária para esse crescimento.

Apesar disso, nos últimos anos, vem diminuindo a participação do café solúvel brasileiro no mercado internacional. Uma fatia que já foi de 31% entre 1992 e 1995, a partir de 1998, não passa dos 15%.

A título de exemplo, vale salientarmos que, em um cenário marcado pelo forte aumento na demanda mundial do produto (cerca de 127% no acumulado entre 1992 e 2002), o Brasil aumentou seu volume de exportação em apenas 7%.

Ou seja, a questão mais apropriada para esse caso parece ser: por que nosso país, apesar de ter mantido a liderança na produção mundial de café e uma estrutura industrial bem consolidada no segmento do café solúvel, perdeu tanto espaço no mercado internacional?

A produção brasileira de café solúvel se destina principalmente ao mercado externo, tendo sido exportados cerca de 87% da produção nacional em 2003. Conforme podemos observar na tabela 1, nos últimos anos vem ganhando importância crescente a exportação de café solúvel a granel, principalmente do tipo spray-dried, de menor qualidade.


Tabela 1 - Percentual exportado de café solúvel por forma do produto.

Por outro lado, a porcentagem de venda de café solúvel embalado sofreu uma grande queda, desde meados da década de 90. Ou seja, cada vez mais a pauta de exportações do segmento do café solúvel tem se concentrado em torno de produtos de menor qualidade e sem qualquer diferenciação, o que se reflete em preços menores.

Ingresso do Vietnã e novo arranjo no mercado

Para compreendermos este novo quadro, é necessário voltarmos no tempo, mais precisamente a meados da década de 90. Nesse período, a utilização do câmbio nominal no Brasil aliado aos problemas climáticos observados nas regiões produtoras do país contribuiu para um aumento nos preços internacionais do café. Nesta conjuntura, outros países produtores se sentiram estimulados a ampliar a área cultivada, o que de fato ocorreu.

Observada a defasagem de tempo necessária para que esta produção adicional chegasse ao mercado e uma vez que o Brasil abandonou sua política cambial e voltou a colher em grande quantidade, estavam dadas as condições para uma queda expressiva nas cotações internacionais do café, conforme podemos observar no gráfico 1.


Gráfico 1 - Preços por tonelada do café verde robusta em dólares: ICO e Primeira posição de Londres.

Os dados mostrados acima, referentes à cotação do café robusta na bolsa de Londres (LIFFE), são fundamentais para a compreensão da questão proposta anteriormente. Isso porque esta espécie de café é a mais indicada para a produção de café solúvel, seja por seu rendimento ou ainda por sua cotação.

Sendo a queda de preços estimulada por um aumento expressivo na oferta, chegamos a um quadro de grande abundância de café no mercado internacional. Essa constatação ganha ainda mais força se levarmos em conta a origem desse café adicional.

Como podemos observar no gráfico 2, o principal responsável por esse quadro é o Vietnã, que, de 1995 a 2004, aumentou sua produção de café de café robusta em cerca de 10 milhões de sacas. Estamos apontando o caso de um país que nos últimos anos ganhou força no mercado de café robusta produzindo quase que exclusivamente para a exportação, beneficiado por programas de apoio de organizações internacionais ou por investidores japoneses.


Gráfico 2 - Exportação de café verde de países membros da OIC.

Ou seja, mais café no mercado internacional e menores preços garantiam assim as condições para o florescimento de indústrias de café solúvel em outros países. No entanto, como se sabe, este segmento é caracterizado pelos altos custos necessários para a implementação de unidades produtoras, e também pela existência de tradicionais produtores, como o Brasil e a Colômbia. Dessa maneira, a queda isolada dos preços em um cenário sem maiores restrições às exportações de café solúvel continuaria beneficiando os países com uma estrutura produtiva consolidada.

Discriminação contra o café brasileiro

Os países mais estruturados teriam se beneficiado, caso não houvesse também a ação de tarifas discriminatórias sobre esse produto. A União Européia, um importante consumidor de café solúvel, durante as últimas décadas, vem impondo ao Brasil uma tarifa de exportação diferenciada, responsável pela perda de competitividade de nosso país em relação a outros países.

Por exemplo, se comparamos as tarifas aplicados ao café solúvel brasileiro (tabela 2) e ao colombiano, vemos que o segundo país é bastante beneficiado, principalmente por programas destinados a combater o cultivo de drogas na América andina. Ou seja, ao invés de premiar a produtividade, as políticas comerciais do primeiro mundo se concentram em muitos casos em questões não necessariamente ligadas ao mercado do café.


Fonte: MALTA (2004).

Tabela 2 - Tarifa aplicável ao café solúvel brasileiro na União Européia.

Da mesma forma, mercados tradicionais como os do bloco socialista já não são mais tão lucrativos para o Brasil como outrora e isso por diversos motivos. O primeiro deles e mais óbvio se deve ao desmantelamento das economias do Leste Europeu, sacudidas por graves crises, no início década de 90. Ainda que a situação econômica nessa região seja, hoje, um pouco melhor, uma série de novos desafios surgiram aos exportadores brasileiros.

Talvez o mais expressivo deles tenha a ver com a ampliação da União Européia para 25 países, o que absorveu países compradores de café solúvel brasileiro para uma lógica tarifária discriminatória e criadora de desvios de comércio.

Além disso, mesmo Estados localizados fora da esfera de influência da UE, como a Rússia, possuem políticas direcionadas com o objetivo de estimular a produção interna de café solúvel, o que motiva a aplicação de barreiras tarifárias. A variação nas exportações de café solúvel brasileiro em entre 1995 e 2003 é retratada na tabela 3.



Tabela 3 - Principais mercados do café solúvel brasileiro (equivalente em mil sacas de 60 kg).

Portanto, percebe-se que a utilização de tarifas discriminatórias por parte dos países da União Européia e do Leste europeu tem influência na diminuição da participação brasileira no mercado mundial de café solúvel. Esse fato beneficia outros países, em sua maioria não-produtores de café verde, como Cingapura e Espanha, e que vem se aproveitando da baixa nos preços internacionais do café conilon para instalar indústrias em seus territórios e produzir café solúvel.

O enorme emaranhado de acordos regionais e bilaterais de comércio, além de programas especiais existentes no primeiro mundo e que propiciam benefícios a apenas alguns países, garante um cenário caracterizado pelas distorções e a consolidação de novos atores nesse segmento, não necessariamente os mais eficientes.

Em se tratando de uma indústria com altos custos de implementação, a produção de café solúvel em determinado país depende de condições propícias, ao que parece garantidas pelos desvios de comércio resultantes da política tarifária européia e os baixos preços do café robusta no mercado internacional.

Por outro lado, é possível observarmos que a exportação brasileira de café solúvel a granel é menos afetada pelas tarifas discriminatórias impostas pelos europeus, sendo inclusive a Alemanha um dos principais destinos da produção nacional. Nesse caso, a explicação se encontra no interesse que este bloco possui de obter o café solúvel a granel brasileiro, vendido a preços relativamente mais baixos, para depois empacotá-lo e vendê-lo no mercado internacional.

Este é mais um exemplo claro de como o Brasil não colhe os benefícios resultantes da diferenciação de seu café, deixando com que outros países aproveitem esse filão de mercado para obter lucros crescentes, ainda que não possuam um único pé de café em seu território.

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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MARCIO JOSE VELOSO

VIÇOSA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 30/11/2009

Estou precisando de dados mais consistentes sobre o mercado nacional de café solúvel.
Dados referentes a produção, onde é produção, consumo interno, estados produtores, exportação, para que possa analisar detalhadamente a cadeia deste produto.


Att

Márcio
Agroflor Engenharia

Consultoria em Gestão de produção
MARA FREITAS

LAVRAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 08/08/2006

Adorei este artigo!

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