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A Argentina e seus mitos

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 30/01/2009

4 MIN DE LEITURA

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Quem chega a Buenos Aires logo se impressiona com a imponência dos edifícios históricos e uma atmosfera distinta daquela encontrada em outras cidades latino-americanas. São muitos os elementos que fazem dessa metrópole a mais "européia" dos centros urbanos de nosso continente; e certamente os chamados cafés são uma das marcas registradas da capital argentina. O mais antigo deles, o Tortoni, é hoje uma das principais atrações turísticas da cidade, a ponto de consideráveis filas se formarem em sua porta nos horários de pico.

Por isso, à primeira vista, a impressão é a de que o argentino possui uma relação íntima com o café, talvez até mais próxima que a do brasileiro com este produto. Nada mais errôneo. No campo do consumo, estamos bem a frente de nossos vizinhos, sendo a voracidade dos argentinos nesse quesito um primeiro mito, principalmente quando os dados referentes ao país são comparados com os de outras nações com clima semelhante.

Evidentemente, a grave crise econômica enfrentada pela Argentina no princípio dessa década, cujos efeitos ainda se encontram onipresentes na rotina do país, contribui para esse quadro. A desvalorização do peso frente ao dólar, entre outras coisas, levou a uma queda drástica no consumo de café, refletindo a perda de poder aquisitivo da classe média argentina. Apesar de uma leve recuperação nos últimos anos, ainda é cedo pra dizer que o país tenha superado seus piores dias, e os intenso exercícios de contorcionismo realizados pela equipe econômica na divulgação das estatísticas argentinas bem o demonstra.

No entanto, por suas características históricas e a proximidade com o Brasil, a Argentina não pode ser nunca ignorada. Inclusive, em outros tempos, o país vizinho foi alvo de campanhas específicas dedicadas a criar uma imagem positiva do café brasileiro. No princípio do século passado, uma ação pioneira culminou na abertura de um escritório em Buenos Aires dedicado a promover o café brasileiro em uma cidade que vivia seu auge. Por isso, observar a percepção dos consumidores argentinos, ainda que baseando-se em relatos sem maior valor científico, pode trazer lições importantes para todo o setor.

Reputação do café brasileiro: um segundo mito?

Dono de um albergue na capital argentina, Andrés recebe visitantes de todo o mundo, cuja passagem por Buenos Aires geralmente vem conjugada com uma visita a outros pontos do continente, inclusive o Brasil. Em sua propaganda informal, feita aos potenciais hóspedes quando da chegada ao albergue, está a promessa de um café da manhã da melhor qualidade, elaborado com ingredientes escolhidos a dedo, entre os quais grãos importados da Colômbia. Questionado acerca dos motivos para tal opção, Andrés é enfático: o café brasileiro é demasiado ácido (!!!), o que desagrada paladares mais acostumados à bebida.

Infelizmente, Andrés não está sozinho. Em mais de um caso, a existência de café colombiano foi atrelada a uma aura de excelência, algo distinto do café brasileiro, que apesar de consumido, não chega a empolgar ou estimular a imaginação dos consumidores em seus relatos. O que parece claro é que isso não decorre da ausência de condições para a produção de qualidade em nosso território, ou ainda da existência de grãos com capacidade de cativar os mais exigentes consumidores; o que talvez falte é a construção de uma imagem para o café brasileiro que viabilize a afirmação de uma aura semelhante àquela ligada ao produto colombiano.

Obviamente, houve espaço para exceções, mas em geral estas vêm acompanhadas de elogios rasgados ao Brasil como um todo, e ao paraíso para as férias proporcionado por nossas praias e natureza exuberante. Ou seja, em muitos casos é o estabelecimento de uma relação afetiva com o Brasil o que possibilita a construção de uma imagem positiva do café aqui produzido, como se a qualidade dos grãos por si só não bastasse. Justamente o oposto da Colômbia, país que certamente possui uma imagem menos consolidada no mundo para outros temas, mas que desfruta da vantagem de poder oferecer um produto que se basta segundo o olhar de consumidores cada vez mais exigentes.

Pesquisas mais elaboradas poderiam apresentar resultados distintos. Porém, esse nem é o ponto principal. O que incomoda é justamente a recorrência dos mesmos comentários, ainda mais quando ouvidos em contatos superficiais com as pessoas. Nesse tipo de conversa não costuma haver tempo para algo mais que a primeira impressão, e infelizmente, nesse quesito o café brasileiro ainda se encontra longe de angariar a simpatia generalizada do público. E em uma perspectiva voltada ao consumo de massa, detalhes como esse fazem toda a diferença.

Não que seja difícil encontrar o café brasileiro por lá. Até por nossa proximidade e tamanho da produção, nem é preciso andar muito para se deparar com produto originado em nosso território. Nos supermercados, por exemplo, as embalagens de café solúvel atestam, ainda que em letras reduzidas, a origem brasileira do produto. Entretanto, e isso por diversos motivos já extensamente debatidos nessa coluna, não é apenas desse tipo de inserção que nossa cafeicultura deseja viver. O café brasileiro merece muito mais que isso; os bolsos dos produtores, também.

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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