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2006 em balanço: fatos e expectativas para o próximo ano

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 05/01/2007

7 MIN DE LEITURA

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Com a chegada de 2007, crescem as expectativas com relação aos possíveis rumos da cafeicultura nos próximos 12 meses. Em alguns meses terá início um novo ciclo para os produtores brasileiros, com a colheita da safra 2007/2008, e muito se especula acerca do futuro dessa atividade ao longo do próximo ano.

Atentos ao futuro, é importante também relembrarmos alguns dos principais fatos ocorridos em 2006 no setor. Alguns dados e notícias marcaram os últimos meses, abrindo espaço para diversos desafios e oportunidades neste ano que se segue. A reprodução de todas essas notícias seria obviamente impossível, pela escassez de espaço; no entanto, alguns tópicos em especial podem e devem ser revistos.

Custos e cotações em alta

Em 2006, os altos preços internacionais do petróleo contribuíram para um aumento nos custos relacionados à produção. Tanto os insumos utilizados na cafeicultura como o óleo diesel (importante para áreas irrigadas) ficaram mais caros no último ano, afetando produtores em todo o mundo. Apesar disso, as melhores cotações do café e o câmbio contribuíram para que os produtores não sentissem de forma tão intensa os efeitos do aumento nos custos.

Conforme se constatou em diversas conversas ao longo de 2006, as expectativas dos cafeicultores apontam para uma relativa tranqüilidade nos próximos anos, com a manutenção de cotações favoráveis para o produto. De fato, ainda não se espera uma expansão marcante na produção mundial de café, seja porque leva tempo até que novos cafezais estejam prontos para a produção, ou ainda devido às lembranças da crise do começo da década, ainda presentes na realidade de muitos cafeicultores ao redor do mundo.

No período anterior ao início da colheita 2006/2007 no Brasil, foi marcante a presença de documentos alertando para o grave estado dos cafeicultores nacionais após diversos anos de crise e um quadro cambial desfavorável. Na virada de ano, com resultados melhores em tela e prognósticos otimistas para o futuro, é importante recordarmos a todos a necessidade de busca pela eficiência na gestão e a utilização de técnicas apropriadas para a produção de um café de melhor qualidade.

A diferenciação possui seus limites e sempre haverá espaço para a comercialização do café commodity, mas é importante que cada vez mais cafeicultores tenham plena consciência de que suas atividades não se diferenciam em grande medida daquelas observadas em outros setores. Na realidade pós-regulamentação é o mercado a principal referência a ser estudada.

Robusta: Estoques em baixa

No último ano foi notável a queda nos estoques certificados das duas principais bolsas dedicadas ao comércio de café no mundo, a CSCE (Nova Iorque) e a LIFFE (Londres). A forte demanda por café robusta levou os estoques da bolsa britânica a níveis bastante baixos e espera-se que para o próximo ano essa situação se mantenha, na medida em que não são observados maiores investimentos nas regiões produtoras dessa espécie de café. Fato é que no último ano a produção e a exportação de café robusta caiu em alguns dos principais países produtores, como o Vietnã e a Indonésia.

Tal informação é da maior importância se nos lembramos de que o café robusta é a principal matéria-prima para a produção de café solúvel no mundo, cujo consumo só cresce. A proliferação de unidades produtoras em diversos países do globo, conforme veremos a seguir, também contribui para o aumento da demanda por esta espécie, e garante os altos preços internacionais.

Crescimento econômico na Ásia e o café

O acelerado crescimento econômico observado na Ásia também foi sentido na cafeicultura, conforme apontam diversas estatísticas. Chamou a atenção principalmente o aumento do consumo, impulsionado pela urbanização progressiva e a ocidentalização em países como a Índia e a China, além do aumento dos custos de produção no Vietnã decorrentes do aumento nos salários locais.

Principal produtor de café robusta do mundo, o Vietnã sempre teve nos custos de sua mão-de-obra um dos principais elementos garantidores de competitividade. No entanto, as elevadas taxas de crescimento observadas no país nos últimos anos têm contribuído para o aumento dos salários reais, algo que já se reflete na cafeicultura local. Nos últimos 5 anos, dobraram os custos com salários neste país.

Com o bom momento para o café robusta no mercado internacional, o aumento nos salários reais vem sendo absorvido sem maiores problemas pelo Vietnã. Da mesma maneira, é fundamental nos lembrarmos dos baixíssimos salários pagos aos trabalhadores vietnamitas em comparação ao de outros países do mundo, o que faz com que a alta observada não seja tão dramática assim.

O ano passado foi também de boas notícias no que se refere ao consumo de café no continente. Nos últimos anos chama a atenção a expansão das cafeterias em diversos países da região, sendo a estratégia de expansão da Starbucks na China o exemplo mais emblemático desse movimento. Apesar disso, foi o consumo doméstico o principal responsável pelos animadores dados colhidos.

Em grande parte, a alta no consumo dos países em desenvolvimento é impulsionada pelo aumento nas vendas de café solúvel. A principal conseqüência dessa constatação é o aumento da produção de café solúvel na Ásia, em processo dominado pela Nestlé. Em diversos países da região foram abertas novas unidades produtoras, e os investimentos no setor tendem a ser mantidos.

A abertura de novas fábricas na Ásia, a exemplo do que se observou em diversos países do Leste Europeu, é uma péssima notícia para os produtores de café solúvel no Brasil, cuja participação no mercado internacional vem sendo ameaçada de forma cada vez mais intensa. O aumento da produção em distintas regiões do mundo e a escalada do protecionismo no setor trazem enormes prejuízos para os empresários brasileiros, que acabam sendo punidos com impostos e barreiras tarifárias. Além disso, existe a impossibilidade da nossa indústria obter matéria-prima no mercado internacional quando as cotações do produto interno por questões pontuais (seca nas regiões produtoras, por exemplo) superam o do mercado externo.

O aumento do consumo de café solúvel no mundo em desenvolvimento foi de 2,3% ao ano de 2003 a 2006, bem acima do consumo do café em todas as formas que foi de 1,75%. Os planos de gigantes do setor de concentrarem investimentos em novas regiões merece uma reflexão especial por parte dos envolvidos no setor em nosso país, bem como daqueles responsáveis pela formulação de políticas para a cadeia. Certamente, esse tema ainda voltará a pauta de discussões no ano que se inicia agora.

Chegada da Starbucks ao Brasil

De acordo com a Abic, o Brasil é o país do mundo no qual o consumo de café cresce mais rapidamente. A taxa anual de crescimento do consumo de café no Brasil entre 2003 e 2004 foi de 3,9%, a maior entre os principais consumidores mundiais de café. Tamanha importância faz com que o mercado nacional carregue consigo uma série de oportunidades, que nos últimos anos têm sido aproveitadas por diversos empreendedores atentos.

Com a inauguração de suas primeiras lojas no Brasil, a Starbucks deve movimentar o mercado brasileiro em 2007. Fato é que a companhia de Howard Schultz já chama a atenção em todo o mundo por sua impressionante expansão nos últimos anos, o que faz com que a simples entrada da gigante já represente em si um evento de grande magnitude.

Se por um lado a Starbucks faz barulho, não devemos nos esquecer de que um movimento silencioso, porém intenso, vem trazendo mudanças significativas para o setor de cafeterias no Brasil. Nos últimos 6 anos, duplicou o número de casas especializadas no país, e é cada vez mais evidente o potencial que esse setor carrega, a medida em que mais consumidores se dão conta de que nem todo café é igual. Dados apontam para a existência de cerca de 2,5 mil casas de café no Brasil, que faturam R$ 70 milhões por mês, ou R$ 840 mi por ano.

O grande trunfo das cafeterias está justamente na capacidade que estas possuem de associar o serviço por trás de cada xícara de café consumida em um recinto. Em muitos países, inclusive, a expansão das cafeterias está associada a uma mudança nos padrões de comportamento da população. Por exemplo, a proliferação das cafeterias nos centros urbanos indianos é resultado direto da ocidentalização dos jovens daquele país.

O furor ocasionado pela vinda da Starbucks ao Brasil não deverá ser correspondido em termos de uma presença marcante da rede no país. Fortemente marcada por um estilo típico dos EUA, é difícil prever um quadro de grande sucesso para a Starbucks em solo brasileiro. Nesse sentido, ganham força iniciativas levadas a cabo por empresários nacionais, mais acostumados ao estilo de vida local e principalmente, mais preparadas para oferecer ao consumidor brasileiro o café que estes buscam.

Conclusões

Conforme vimos, 2006 foi um ano de aumento nos custos da produção, mas os bons preços fizeram com que a situação dos cafeicultores não se deteriorasse aos níveis do início da década. Do ponto de vista do consumo, segue forte o movimento de expansão do consumo entre os países em desenvolvimento, em diversos casos com o auxílio de expertise brasileiro. Finalmente, o mercado nacional foi sacudido pelo anúncio de entrada da Starbucks no Brasil, fato que apesar de causar enorme estardalhaço no setor, não deve prejudicar de maneira intensa as diversas iniciativas conduzidas nos últimos anos para a expansão de cafeterias nacionais no país.

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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