Passada a colheita, e em reta final do beneficiamento, a quebra da safra brasileira de café é fato consolidado. Em alguns estados produtores, como o líder Minas Gerais, a seca tomou proporções tão significativas que mesmo os cafeicultores mais antigos disseram nunca terem visto situação semelhante.
Os reflexos da seca certamente influenciarão também a produção em 2015. Ainda é cedo para se falar em percentuais de volume ou da participação no mercado internacional, mas é preciso já lidar com a preocupação dos produtores em como manter fluxo e rentabilidade frente a cenários tão pouco otimistas. Outro questionamento: como não deixar que a seca afete a qualidade dos cafés especiais, pelos quais o Brasil vem se destacando em todo o mundo? São essas as grandes incógnitas para o setor nesse final de ano.
Tanto os cenários possíveis para 2015, quanto a urgente necessidade de alternativas para que o produtor tenha fôlego para passar a fase atual, demandam duas frentes de atenção e muito trabalho: políticas públicas e gestão.
Por políticas públicas, incluem-se velhas conhecidas do setor: renegociação de ativos e facilitação do acesso do produtor a linhas de crédito, seguro agrícola e opções de venda, que lhe permitam o controle sobre o escoamento da safra sem prejuízo ou endividamento. Bem além desses instrumentos emergenciais, é preciso que haja proposição de políticas de planejamento para reduzir a vulnerabilidade do setor frente às inúmeras variações climáticas e mercadológicas a que está submetido. O primeiro passo precisa ser o diagnóstico e georreferenciamento da cafeicultura brasileira; um estudo bastante completo do setor, capaz de subsidiar a proposição de soluções concretas e geração de renda para a atividade.
Também são políticas públicas de enorme importância as ações voltadas à abertura de mercado, ampliação do consumo e valorização do café brasileiro em todo o mundo. Sabemos bem o nível que alcançamos e, no entanto, não o alardeamos como deveríamos. É preciso investir em marketing, em posicionamento e comercialização internacional calcada na qualidade.
Ao mesmo tempo, precisamos dar ao cafeicultor condições para gerir seu negócio - com o controle de quem bem conhece os momentos de sufoco e o impulso empreendedor dos que perseguem dias muito melhores. Enquanto as políticas não se concretizam e as incertezas dão ainda a tônica das expectativas para a próxima safra, o segredo estará na gestão eficiente, na administração de custos e investimentos e na avaliação cautelosa sobre quando e como vender sua produção.
Produzir, sabemos bem. Nessa lição temos já um dez com louvor. É hora de o cafeicultor se tornar bem sucedido também na administração de seus negócios e na busca pelo reconhecimento público de sua enorme importância para a economia brasileira. No mais, é rezar pela chuva.