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O agronegócio é o vilão?

POR EDUARDO CESAR SILVA

ESPAÇO ABERTO

EM 08/01/2016

4 MIN DE LEITURA

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Por Eduardo Cesar Silva, doutorando em administração pela Ufla, tecnólogo em cafeicultura pelo IF Sul de Minas e coordenador do Bureau de Inteligência Competitiva do Café

A partir de 2014, com o agravamento da crise hídrica, surgiram muitas críticas ao agronegócio nacional. A utilização de água na irrigação seria a grande responsável pelo desabastecimento do país e, além disso, a maior parte dos alimentos produzidos pelo agronegócio teriam como destino o mercado externo, ou seja, nossa preciosa água não estaria sendo utilizada para alimentar o povo brasileiro.

Os dois argumentos são falsos, como demonstrarei, mas foram amplamente divulgados no Facebook. As páginas do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e do presidente nacional do PSTU, Zé Maria, estão entre as muitas que repercutiram a culpa do agronegócio na falta de água e sua prioridade pelas exportações. As publicações nas duas páginas tiveram milhares de compartilhamentos (veja aqui e aqui).

A utilização de água na agricultura e na pecuária é realmente elevada, mas na opinião dos técnicos da Agência Nacional de Águas (ANA), essa não é causa do problema. Em fevereiro de 2015 a Agência publicou o “Atlas Brasil: abastecimento urbano de água: panorama nacional”, cujo objetivo é apontar “alternativas técnicas e investimentos necessários para garantir a oferta de água para a população em um horizonte de mais longo prazo”[1]. No documento, as palavras “agricultura” e “agronegócio” não são citadas. As soluções apontadas para garantir o abastecimento de água em todo o país concentram-se no aumento da capacidade produtora, captação em novos mananciais superficiais, integração de sistemas produtores de água e otimização operacional. Nem uma única linha sobre reduzir a irrigação.

A própria ANA reconhece que áreas irrigadas são mais produtivas, apresentam maior rentabilidade e estão menos vulneráveis às oscilações do clima. O potencial da irrigação é tamanho que o governo tem interesse na ampliação dessas áreas no país, já que existem 5,5 milhões de ha irrigados atualmente, mas o potencial estimado pela Agência é de 30 milhões de ha [2].

Quanto a acusação de que o agronegócio brasileiro é majoritariamente exportador, vamos analisar o que as estatísticas dizem. Para esta análise serão consideradas as culturas de lavoura temporária que ocupam a maior parte da área irrigada do país. De acordo com o Censo Agropecuário de 2006, realizado pelo IBGE, cana, arroz, soja, milho e feijão são as principais culturas irrigadas do Brasil.

A partir da cana a agroindústria produz açúcar e etanol. Com relação ao açúcar, realmente a maior parte se destina ao mercado externo. De tudo que foi produzido na safra 2014/2015, 68% foi exportado. Por outro lado, de todo o etanol produzido no mesmo período, apenas 5% foi para o mercado externo [3].

A segunda maior área irrigada pertence ao arroz. Trata-se de um alimento com grande necessidade de água para ser produzido e um dos principais itens da dieta dos brasileiros, que consomem o grão em grandes quantidades. Ao longo de 2015 o país exportou apenas 7,8% [4] do que foi colhido em 2015 [5].

Na sequência aparece a soja. Aqui a divisão entre mercado interno e externo é bastante equilibrada: 55,3% dos grãos e 49,8% do farelo produzidos em 2015 foram vendidos no mercado externo [6]. Na cadeia do milho, 2015 foi um ano de recorde nas exportações, mas mesmo assim elas equivaleram a 33,7% da produção [7][8].

Por fim temos o feijão, outro item essencial na alimentação dos brasileiros. O Brasil produziu 3,1 milhões de toneladas no último ano, mas não exportou nada [9].

Somadas as exportações apenas dos grãos (arroz, soja, milho e feijão) em 2015, elas representam 42,5% de tudo o que foi produzido. Ou seja, o agronegócio realmente exporta muito, mas a população brasileira consome ainda mais.

E a produção de carne? Os dados de 2013 mostram que o Brasil exportou 28,1% da carne de frango, 16,8% da carne bovina[10] e 15,1% da carne suína[11] produzidas. De toda a carne comercializada no período, apenas 22,2% foi exportada. Definitivamente, não é fácil alimentar um país tão grande quanto o nosso.

Por fim, é importante entender que a exportação de alimentos, seja ela maior ou menor do que o volume consumido pelo próprio país, não é ruim. Antes de tudo, ela indica que os produtores brasileiros são competentes o bastante para alimentar uma população de 200 milhões de habitantes e ainda ajudam a alimentar pessoas do mundo todo. Nem todos os países possuem terra ou tecnologia para atender a sua própria demanda interna por alimentos, por isso aqueles que são capazes de gerar excedentes são importantíssimos para garantir a segurança alimentar mundial.

REFERÊNCIAS

[1] AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUA – ANA. Atlas Brasil: abastecimento urbano de água: panorama nacional. Disponível em < https://atlas.ana.gov.br/Atlas/forms/Download.aspx >. Acesso em 08 jan. 2016.

[2] PORTAL BRASIL. Agricultura irrigada impulsiona ganhos de produtividade nas cinco regiões do País. Disponível em < https://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2013/04/agricultura-irrigada-impulsiona-ganhos-de-produtividade-nas-cinco-regioes-do-pais >. Acesso em 08 jan. 2016.

[3] UNIÃO DA INDÚSTRIA DE CANA-DE-AÇÚCAR – ÚNICA. Unicadata. Disponível em < https://www.unicadata.com.br/>. Acesso em 08 já. 2016.

[4] ALICEWEB. Consultas: Exportação. Disponível em < https://aliceweb.mdic.gov.br >. Acesso em 08 jan. 2016.

[5] INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Levantamento Sistemático de Produção Agrícola. Disponível em < https://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/agropecuaria/lspa/lspa_201511_5.shtm>. Acesso em 08 fev. 2016.

[6] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRAS DAS INDÚSTRIAS DE ÓLEOS VEGETAIS – ABIOVE. Estatística. Disponível em < https://www.abiove.org.br/site/index.php?page=estatistica&area=NC0yLTE=>. Acesso em 08 fev. 2016.

[7] ALICEWEB. Consultas: Exportação. Disponível em < https://aliceweb.mdic.gov.br >. Acesso em 08 jan. 2016.

[8] INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Levantamento Sistemático de Produção Agrícola. Disponível em < https://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/agropecuaria/lspa/lspa_201511_5.shtm>. Acesso em 08 fev. 2016.

[9] Idem.

[10] COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO – CONAB. Perspectivas para as carnes bovina, de frango e suína 2013-2014.Disponível em < https://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/13_09_12_17_43_13_09_carnes.pdf >. Acesso em 08 jan. 2016.

[11] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PROTEÍNA ANIMAL – ABPA. Estatísticas. Disponível em
< https://www.abipecs.org.br/pt/estatisticas.html >. Acesso em 08 jan. 2016.


____________________________________________________
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do site.

EDUARDO CESAR SILVA

Coordenador do Bureau de Inteligência Competitiva do Café.

Doutorando em administração pela Universidade Federal de Lavras e mestre em administração pela mesma instituição.

É tecnólogo em cafeicultura pelo IF Sul de Minas - Campus Muzambinho.

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JORGE PARDIM

EM 31/05/2017

EDUARDO CESAR SILVA

LAVRAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 18/01/2016

Caros Adelber e Luiz Penido,



Excelentes considerações e informações.



Abraços!
ADELBER VILHENA BRAGA

CAMPESTRE - MINAS GERAIS

EM 12/01/2016

Bom dia caro Luiz Penido!

        E minha monografia defendida em 2013, intitulada "A Importância Social da Cafeicultura nas Regiões de Montanha de Minas Gerais", tenho algumas informações a respeito do setor cafeeiro.

        Em 2011, o café era produzido em 1768 municípios de 17 estados brasileiros, empregando direta e indiretamente 8,4 milhões de pessoas, 4,4% da população nacional (BRAGA, 2013 apud RONCA, 2012).

        Ainda segundo os mesmos autores, em 2006 havia aproximadamente 340.000 produtores de café, sendo que desse total cerca de 81% eram produtores familiares, responsáveis por 38% da produção brasileira.

        Sabe-se que muitos produtores tem mais de uma propriedade, e cerca de dois a três dependentes.               

        Sabe-se também que no mundo, a cadeia produtiva do café só perde para a do petróleo em número de empregos gerados. Daí a importância social do café para o mundo e especialmente para o Brasil.
LUIZ PENIDO

CAPITÓLIO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 12/01/2016

Muito pertinente o artigo e do mesmo teor o comentário. O agronegócio é o único ramo da indústria brasileira que obteve crescimento nos últimos anos. Os incentivos do governo são pequenos, porém é a única área na qual a corrupção ainda não foi instituída. Os governantes não ajudam mas também não atrapalham. Sugiro acrescentar aos dados informados os números de produção da agricultura familiar, inclusive contemplando a cultura do café. Com este paralelo ficará realçada a real importância do agronegócio.

Sobre a devolução ao sistema da água usada na irrigação, saliento que ela é devolvida limpa, tanto por evaporação, por escoamento ou infiltração para o lençol freático. Em oposição, a água destinada ao consumo humano e à indústria é devolvida à natureza poluída. Poucas cidades possuem ETE - Estações de Tratamento de Esgoto eficazes.
ADELBER VILHENA BRAGA

CAMPESTRE - MINAS GERAIS

EM 11/01/2016

Enquanto negarmos nossa vocação agrícola, esse será um país sem futuro. Algumas pessoas desinformadas ou irresponsáveis se esquecem que o setor agropecuário é o único que consegue crescer e gerar empregos nesse contexto de crise e recessão em que vivemos. O agronegócio brasileiro alimenta nosso povo, exporta excedentes, movimenta direta e indiretamente os setores comerciais, industriais e de serviços. Não vivemos dias de bonança, mas, sem o agronegócio o Brasil seria um país medíocre. Quanto à irrigação, é uma tecnologia que existe há milhares de anos, e se torna cada vez mais importante devido ao incremento na produtividade e segurança que proporciona. Os leigos são alheios ao fato de que a irrigação devolve ao sistema quase que a totalidade da água usada. A falta de água se deve ao fato de que a nossa legislação dificulta imensamente a construção de barramentos, e a chuva que cai no interior do nosso país escoa rapidamente para países vizinhos ou para o oceano, causando assoreamento dos rios e inundação das regiões baixas. Se soubermos aproveitar melhor nossos recursos hídricos como fazem os países desenvolvidos certamente poderemos alavancar o agronegócio e fomentar o crescimento do nosso país sem prejuízo à população.

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