Recorreu-se a um breve histórico do passado recente do mercado de café para se chegar à conclusão do parágrafo acima.
Em julho de 1989, quando o acordo internacional do café foi suspenso em caráter definitivo, provocou uma guerra de preços entre os países produtores, que buscavam compensar, com a venda de estoques acumulados, a queda no preço do produto.
Porém, não foi possível vender tanto quanto se desejava, em virtude da inelasticidade do preço da demanda do café.
O resultado foi uma queda vertiginosa nos preços, que baixaram da faixa de US$ 200,00/sc, em abril de 1989, para a faixa de US$ 40,00/sc no primeiro trimestre do ano de 1993.
Concomitantemente, em 1988 e 1989, o Brasil produziu excelentes safras, que pressionaram ainda mais o preço já declinante.
Em termos de política interna do Brasil, também, no primeiro semestre de 1989, o governo brasileiro extinguiu o Instituto Brasileiro do Café-IBC e deixou a cafeicultura nacional ajustar-se sozinha, uma vez que não havia mais a assistência técnica do IBC, faltava crédito para investimento e crédito para custeio. Além de altos encargos financeiros. A cafeicultura nacional entrou em franco declínio.
A queda de preço iniciada em 1989 prosseguiu até 1993, como conseqüência do excesso de oferta do produto no mercado internacional.
Na época, os estoques mundiais de café, se aproximavam do consumo, em 1989, era da ordem de 70 milhões de sacas.
Só nas mãos do antigo Instituto Brasileiro do Café-IBC, aqui no Brasil, havia um estoque de 24 milhões de sacas, sem contar que o parque cafeeiro mundial estava em ótimo estado, pois até aquela época vigorava o acordo de cotas do OIC.
Em 1993, o Governo Federal do Brasil, resolveu intervir no mercado.
Por intermédio do Ministério da Indústria e Comércio, o governo reuniu-se com os representantes dos países produtores de café da América Latina e da África para criar a Associação dos Países Produtores de Café (APPC), composta por cinco países da América Latina e quatorze da África.
Os países produtores adotaram um esquema de retenção no qual 20% da produção para exportação ficava retida no país de origem (PASTOR, 1993). Tal plano tinha como objetivo estabilizar os preços na faixa de US$ 90,00 a US$ 110,00/sc.
O acordo entre os países afetou os preços, fazendo com que o café atingisse no início de agosto do mesmo ano US$ 85,00/sc; antes da criação da APPC estava na faixa de US$ 40,00/sc, no mercado internacional (RETENÇÃO..., 1993).
A partir de então, o preço no mercado internacional permaneceu na faixa de US$ 85,00/sc até junho de 1994, quando uma forte geada, que atingiu, em 1994, cerca de 80% dos cafeeiros no Paraná, 40% em São Paulo e 10% das lavouras de Minas Gerais, contribuiu para a maior alta em oito anos e meio no mercado internacional, atingindo a faixa de US$ 300,00/sc na bolsa de Nova York (PREÇO..., 1994).
Este fato forçou o Governo Federal a liberar parte do seu estoque para coibir a especulação e para a normalização do comércio do café, o que realmente ocorreu. O governo liberou até setembro deste mesmo ano cinco milhões de sacas de café para o mercado.
A super oferta foi perfeitamente enxugada num curto período de tempo, pois o consumo mundial era crescente e havia quebra na produção de todos os países produtores.
A partir de junho 1994 até meados de 1999 os preços do café no mercado internacional se mantiveram elevados e suficientes para remunerar aos produtores.
Em razão destes preços elevados, houve maior investimento nas lavouras já existentes e um "boom" de novos plantios de café, tanto no Brasil como nos demais países produtores.
ANDRADE (1995) ao estudar as curvas de oferta e de demanda de exportação, encontrou naquele ano, que a resposta tanto ao aumento ou à queda de produção de café, é em função do preço de 5 anos atrás.
A melhora dos preços no período de 1994 a 1999, fez aumentar a produção vigorosamente, tanto que em 2002, somente no Brasil, foram produzidos cerca de 48 milhões de sacas de café.
Os países importadores aproveitaram à crise e fizeram um estoque monstruoso. Além disso, nos países produtores, o estoque também era alto.
Estima-se que, em 2003, Os estoques mundiais de café, era ao redor de 70 milhões de sacas. E o consumo mundial girava em torno em torno de 110 milhões de sacas.
No Brasil, o estoque de café, nas mãos das cooperativas e de empresas particulares era na faixa de 20 milhões de sacas.
Em razão dos baixos preços pagos aos produtores a partir de 2002 até meados de 2010 a produção mundial entrou em decréscimo, e houve redução de área plantada no mundo.
No Brasil os cafeicultores ficaram muito endividados e descapitalizados, dessa forma, além da redução no uso de insumos, o que contribuiu para a depauperação das lavouras, houve também uma redução da área plantada.
No Brasil, as outras culturas concorrentes em áreas mecanizáveis, como soja, milho, laranja, cana-de-açúcar, algodão e pecuária de corte por estarem em boa fase, contribuiu para erradicação dos cafezais nessas regiões, onde se pode implantar uma dessas alternativas de retorno mais rápido.
O consumo mundial de café continuou a crescer, girava em torno de 70 milhões de sacas em 1989. Passou para algo em torno de 110 milhões de sacas em 2003 e estima-se um consumo em torno de 134 milhões de sacas em 2012.
O estoque elevado de café, foi perfeitamente enxugável num curto período de tempo, como pode ser observado no gráfico abaixo, com quebra na produção de todos os países produtores e um crescente consumo.
A elasticidade-preço da demanda do café é baixa, tanto no curto quanto no longo prazo, ou seja, pode se assim dizer que "a demanda do café é inelástica", razão, por que,uma variação do preço do café não altera muito o consumo.
O crescimento da demanda do café, no mundo, tem sido na ordem de 1,5 a 2% ao ano, independentemente se o preço do café está alto ou baixo no mercado.
No atual momento, mesmo que o Brasil venha a produzir 50 ou 55 milhões de sacas de café, levando-se em conta o baixíssimo estoque mundial e o permanente crescimento do consumo essa produção, a produção, não irá produzir excedente o suficiente para recompor o estoque mundial de café.
Segundo a www.ico.org (2012) a produção mundial será menor que o consumo.
Ao comparar o consumo mundial passado com os seus estoques e o consumo mundial atual, com a produção mundial atual e o estoque mundial atual, pode-se dizer que o estoque atual é desprezível.
Ao analisar o mercado de café e suas perspectivas futuras, tem-se, que observar as seguintes ponderações:
1. Na ausência de fatores novos como geadas, desvalorização cambial, problemas políticos internacionais, mudança macroeconômica e outros, há possibilidade de os preços melhorem já a partir do meado deste ano.
2. Provavelmente, o ano de 2012 será o divisor de águas para os cafeicultores. O cafeicultor que conseguir sobreviver na atividade, terá probabilidade de obter preços muito remuneradores para o café, a partir deste ano por um período razoável de tempo.
3. Os preços atuais do café não refletem o atual momento pelo qual passa a cafeicultura, onde a demanda e a oferta estão muito apertadas. Provavelmente a crise financeira mundial, está pesando mais que os fundamentos.
4. Os custos de produção estão elevadíssimos, em razão de vários fatores, tais como: preço do óleo diesel, preço da energia elétrica, elevação do salário mínimo, altos preços dos insumos, encargos trabalhistas elevados e excessiva fiscalização do Ministério do Trabalho, o que dificulta a informalidade na colheita.
5. Os preços do café no mercado internacional seguem, mais ou menos, uma curva senóide, ou seja, há períodos de preços altos e baixos. O cafeicultor não pode fazer compromisso de longo prazo e deve sempre se capitalizar para se manter na atividade.
Finalizando, pode-se dizer que a evolução da cafeicultura tem ocorrido em ciclos econômicos de euforia, ou crise, estando os preços internacionais ora muito elevados, ora deprimidos. Essas fases distintas na economia cafeeira, ou seja, fase de expansão ou retração são determinadas em função da população cafeeira, do nível de produção, da crescente expansão da demanda, do nível de estoque, e, da ação isolada ou conjunta desses fatores.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Carlos Eduardo de. Análise dos excedentes Econômicos Gerados pelos Acordos Internacionais do Café. Viçosa - MG UFV, 1995, 90 p (Tese MS)
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA. Disponível em www.embrapa.br. Acesso em 2012.
INFORME AGROPECUÁRIO. Café. Ano 11. N0 128. Belo Horizonte - MG, junho de 1986.
INFORME AGROPECUÁRIO. Café. Ano 11. N0 128. Belo Horizonte - MG, junho de 1986.
PASTOR, L. Governo deverá definir regras para a retenção até o final da semana. Gazeta Mercantil, São Paulo, 24 de ago. 1993. p. 2-3.
PREÇO do café tem maior alta em oito anos e meio. Folha de São Paulo, São Paulo, 12 de julho de 1994. p. 2-12.
RETENÇÃO de 20% do café terá acerto final hoje. Estado de Minas, Belo Horizonte, 10 de ago. de 1993. p. 1-17.
REZENDE, Alberto Martins; ROSADO, Patrícia Lopes; GOMES, Marília Fernandes Maciel. Café para Todos - A informação na Construção de um Comércio Mais Justo. Editora eletrônica: SEGRAC. Belo Horizonte, 2007; 143p
https://www.carvalhaes.com.br - acesso em 15/07/2003
https://www.carvalhaes.com.br - Acesso em 13/04/2012
https://www.ico.org/ - INTERNATIONAL COFFEE ORGANIZATION - Acesso em 18/04/2012
Carlos Eduardo de Andrade
Eng. Agrônomo - MS em Economia Aplicada e Cafeicultor
Extensionista da Pró - Reitoria de Extensão e Cultura da UFV
Tel: 0 xx 31 3899 1704
Email: ceandra@ufv.br