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Ninho de gato

POR XICO GRAZIANO

ESPAÇO ABERTO

EM 19/03/2014

4 MIN DE LEITURA

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Finalmente havia chegado uma boa arrumação no campo. Assim parecia quando da aprovação do novo Código Florestal. Após uma década de acalorados debates, todos acreditavam que da confusão se caminharia para a solução. Pouco, infelizmente, se fez. Continua desarrumado o processo da regularização ambiental das propriedades rurais. Pura incompetência do governo.

Chega a ser curioso, se não fosse trágico. Quando o ex-presidente Lula, em 2010, avalizou sua candidata para suceder-lhe no Planalto, vendeu-a como uma "gerentona" de primeira linha. Dilma Rousseff foi apresentada como uma mulher executiva, de poucas palavras, embora crua na política, experiente no mando. Era o que, cansada do proselitismo ideológico, a população demandava: alguém para pôr ordem na casa, organizar o time e aproveitar as oportunidades, internas e globais, para avançar rumo ao desenvolvimento. Triste decepção.

Está-se completando um ciclo de 12 anos com o PT no poder central da República. Nesse período, o Brasil não andou para trás. Mas poderia ter ido muito além. Colhe-se a impressão, mais recentemente, de que tomou o rumo errado. As famílias, superendividadas, reduzem o consumo, freando o comércio e o emprego; a indústria pouco agrega na produtividade, perdendo posições; a agropecuária esgota seu fôlego. Da porteira para dentro, as fazendas garantem um show de competência tecnológica; da porteira para fora, padecem na logística e sofrem com a insegurança jurídica. Todos temem pelo futuro.

Calcanhar de Aquiles - há unanimidade a respeito da fraqueza da infraestrutura produtiva do País: as ferrovias continuam no papel, as hidrovias permanecem em discussão, os portos ficam atrasados e as rodovias, esburacadas. Falar em transporte da safra atrai palavrão na roça. Na geração de energia, nos combustíveis, nas comunicações, existe a sensação de uma agenda atrasada. O Brasil, juntamente com sua agropecuária, segue em frente tropicando em deficiências básicas, que já poderiam ter sido resolvidas, mas continuam presentes, roubando a nossa competitividade.

Aos problemas de infraestrutura se somam lacunas institucionais. Anda em falta certa legislação básica, aquela que normatiza as atividades econômicas e regula o funcionamento da sociedade. Sem regras claras se estabelece a confusão, atrapalhando a vida do cidadão. Aqui se colocam, por exemplo, não apenas a legislação ambiental, como também o problema indígena, dois assuntos que há anos tiram o sono do agricultor nacional. Conflitos existem. O poder moderador do Estado, entretanto, somente ele, é capaz de arbitrar os legítimos interesses, amainar as disputas. Cadê o governo?

O tempo passa e nada se resolve. O governo federal não alcança estatura suficiente para definir os parâmetros da convivência possível entre os interesses distintos nessas duas questões essenciais.

Quanto aos índios, não se discute o princípio constitucional (artigo 231) de que a eles pertencem as terras tradicionalmente ocupadas. Isso é ponto pacífico. O palco da furiosa controvérsia se ergueu não sobre a selva tribal, mas, sim, na disputa por áreas agricultadas, ocupadas há tempos com lavouras ou pastagens. Ausentes por mais de meio século desses territórios, os indígenas agora os querem de volta. Tal situação crítica se arrola, especialmente, em certas regiões do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, do Paraná e de Mato Grosso do Sul, criando conflitos agrários sem perspectiva de solução. Falta autoridade pública para resolver o assunto.

Na regularização ambiental das propriedades rurais, então, nem se fala. Quando, finalmente, se aprovaram as modificações no velho Código Florestal, depois de grande celeuma entre ruralistas e ambientalistas, caberia ao Executivo pôr em prática, por decretos próprios, a nova lei. Mas o governo mostra-se tão titubeante, tão ineficaz, tão desarticulado que até hoje, passados quase dois anos, não conseguiu sequer regulamentar o Cadastro Ambiental Rural (CAR). Tudo continua como dantes.

O dispositivo do CAR surgiu como a grande novidade do novo Código Florestal. Uma ousadia, no mundo, inédita. Por meio desse cadastro, semelhante a uma declaração de renda para o Leão, os produtores rurais se obrigam a informar ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) os dados sobre sua exploração, baseando o cálculo das áreas a serem preservadas ou regularizadas. Para quem faz a devida lição de casa a declaração do CAR servirá como um atestado de boa conduta. Para quem tiver passivo ele se transforma num programa de recuperação ambiental. Moderno, bem bolado.

O CAR, porém, não saiu da intenção. Emperrando-o, o governo abre brechas para variadas especulações e fofocas. Perde-se a correta informação, aumentam as incertezas. Ambientalistas notórios atacam os "setores atrasados" do ruralismo, que estariam boicotando a legislação, impondo-se ante os "modernos". Especulação.

Resistências de parte a parte são normais. Anormal é ver o governo paralisado, entregue aos seus dilemas intestinos, sem nada resolver, sem nunca decidir. Por três vezes a ministra do Meio Ambiente, coitada, anunciou a assinatura presidencial no decreto de regulamentação do CAR, todas proteladas. Enquanto permanece a lacuna jurídica, em cada comarca do País se segue uma orientação, a depender do humor do Ministério Público e da sabedoria dos senhores juízes.

Essa desorganização legal nas matérias agroambientais atormenta o agricultor. Virou um ninho de gato, um processo confuso, alimentado pela incompetência governamental.

Ninguém ganha nada com isso e quem mais perde, sempre, é o produtor rural. Mesmo querendo fazer a coisa certa, negam-lhe o instrumento para acertar as contas com a sociedade urbana.
 

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GESSÉ ANTÔNIO DE SOUZA

MANHUAÇU - MINAS GERAIS - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 25/03/2014

Bem depois que a França, no Brasil, a cidade venceu  o campo, porém, de modo muito tardio e permeado pelo ódio e minado pelo mito dos burgueses (os que habitam a cidade). Para os burgueses, o fazendeiro é um monstro explorador, tem lucro fácil, seus animais crescem espontaneamente e as plantações são semeadas pelo vento, pássaros e roedores e se desenvolvem ao fermento da natureza, visto que, o clima é ótimo e os solos são os melhores do mundo -, uma bobagem que vem desde Cabral. No Brasil, se colhe muita coisa, com muito suor, com muita tecnologia cara produzida da porteira para fora da propriedade rural. Somado a isso, somos um país tropical onde a biodiversidade é muito grande (bom), porém, a pressão exercida por insetos, bactérias, fungos,  virus e  ácaros  sobre a lavoura e o clima quente  estressam o produtor rural, que pouco pode interferir no que acontece fora de sua porteira. Como se não batasse, vem o governo, em nome da burguesia, ditar o que deve e o que não deve o produtor ruaral  fazer, e para tanto, usa e abusa de ameaças e de discursos intruncados, improvisados, ideologicamente inflamados e recheados de retórica.

Falta ao Brasil - o país conhecer a nação e a cidade conhecer o campo.
KELLI CRISTINA FERREIRA CUNHA

FORMIGA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 20/03/2014

Belo artigo!



Além de termos que resguardar 20% da propriedade rural + a área de APP, nos vemos obrigados a pedir autorização para derrubar uma árvorezinha.

Mas, até aí tudo bem.

O problema começa é no processo de autorização junto aor órgãos ambientais:  além de pedirem documentos, mapas e outras informações que constam de processos anteriores, gerando redundância, gastam (aqui na nossa região) em torno de 2 anos para conceder uma autorização simples como a citada acima. Absurdo.

Controlar o meio ambiente deve ser uma diretriz, uma premissa do Governo para o bem de todos, porém, isto deve ser feito com eficiência e, eficiência é sinônimo de  celeridade e simplificação de processos.

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