Introdução

Considerando que grande parte dos cafeicultores no Brasil ainda vive sob condições precárias, enfrentando dificuldades tanto de ordem social como comercial e que, entre eles, as mulheres, que enfrentam ainda desafios adicionais a exemplo do machismo de longa data que ainda prevalece neste meio do café, é que afirmamos ser necessário, por parte das organizações envolvidas com o café, reconhecerem a importância da mulher nos destinos da cafeicultura brasileira.

Atualmente, elas estão inseridas em praticamente toda a cadeia do café, desde a produção até o consumo, o que vem fazendo com que elas assumam cada vez mais responsabilidades e, assim, por méritos próprios, conseguindo a disputar em condições de igualdade o comando das decisões.

Não há mais como negar que a participação das mulheres não seja essencial para o desenvolvimento da cafeicultura brasileira, em especial da cafeicultura de montanha, que traz consigo a agricultura familiar.

Histórico

No município de Divinolândia, localizado a nordeste do estado de São Paulo, que faz fronteira com o município de Poços de Caldas-MG, encontramos todas as condições naturais, como solo, clima, regime de chuvas e a grande aliada, ou seja, a altitude, para a produção de cafés altíssima qualidade, atualmente denominados de Cafés Especiais.

Aqui também vamos encontrar inúmeras mulheres ligadas ao café ainda vivendo e enfrentando as dificuldades e os desafios há pouco citados, o que evidencia, que esta realidade ainda persiste.

Objetivando encontrar um novo caminho, que pudesse melhorar as condições socioeconômicas dos produtores rurais de Divinolândia, nasce em 2006 a APROD, antes Associação dos Produtores Rurais de Divinolândia e atualmente Associação dos Cafeicultores de Montanha de Divinolândia. Inicialmente imaginava-se ser possível, através do associativismo, no mínimo reverter a situação que provocava insegurança e falta de perspectiva. No entanto, com o passar do tempo foi se percebendo que seria necessário muito mais do que apenas simplesmente atuar em grupo de forma a obter melhores condições de compra e venda.

Com isso, em 2007 surge o Comércio Justo e com ele uma nova perspectiva. Assim, a Associação passou a buscar conhecimento e treinamento de modo a permitir-lhe ingressar neste novo mundo, baseado em uma parceria comercial sustentada pelo diálogo, transparência e respeito, buscando com isso uma maior equidade no comercio internacional e que também contribui para o desenvolvimento sustentável através do oferecimento a produtores menos favorecidos de melhores condições de troca e maiores garantias de seus direitos.

À medida que este processo foi se desenvolvendo, uma mulher, associada da APROD, Sra Carmem Silvia de Avila da Costa, que sempre se fazia presente às reuniões da associação, normalmente dominadas pelos homens, passou a se interessar com mais intensidade, mesmo por que, muitas vezes se via indignada com essa situação de submissão das mulheres do café. Deste modo, por meio desta participação mais ativa, ela foi se destacando e com isso foi convidada pelo presidente da associação a época, Sr. Luis Antonio de Marco de Sordi, à incentivar a participação das mulheres dos associados nas reuniões da APROD.

Carmen convidou então as esposas dos diretores da associação, Sras Rute Ap. Pereira Lange e Regiana de Sordi, a fundarem o grupo das mulheres do Café da APROD, o que, aconteceu por volta do inicio de 2011. Nesta época, a associação estava passando por uma fase bastante motivada, os preços do café estavam se recuperando e ela havia acabado de ser aprovada pela CATI/SAA-SP para participar do projeto de desenvolvimento rural sustentável MICROBACIAS II – ACESSO AO MERCADO. Por meio deste projeto, a associação começou a viabilizar a construção de uma unidade de rebeneficiamento para café grão cru.

Em setembro de 2011, aconteceu o 60 Concurso de Qualidade Café de Divinolândia e com isso a amostra vencedora deste concurso foi participar do concurso estadual. Aproveitando a ida a São Paulo para entrega das amostras que iriam concorrer no concurso estadual, uma comitiva de mulheres e alguns homens da associação foram até São Paulo no dia 06 de outubro, além de levarem as amostras vencedoras do concurso regional para concorrerem ao concurso estadual, também foram na intenção de visitarem a sede da FAESP/SENAR-SP e participarem do 60 Espaço Café Brasil, evento este realizado pela Café Editora no pavilhão de exposições do Center Norte, para divulgar os cafés especiais produzidos no Brasil.

Neste evento, ocorria o 10 Encontro das mulheres do Café do Brasil. Assim, o grupo das mulheres do café de Divinolândia teve então a oportunidade de participar e conhecer a Sra Josiane Cotrim Macieira, representante brasileira junto a IWCA-Aliança Internacional das Mulheres do Café e hoje colunista do CaféPoint, com a coluna 'Mulheres do Café'. De volta a Divinolândia, o grupo passou a trabalhar em busca de se firmar, buscando motivação em outras atividades, pois, após esta viagem ficou claro que, se fosse permitido às mulheres uma maior participação, aliando suas atividades a de seus maridos, sem dúvida alguma, quem sairia ganhando seria suas próprias famílias e a associação.

Como o grupo vem atuando

Apesar das atuais dificuldades, como por exemplo a queda dos preços do café, as mulheres do café da APROD ainda têm conseguido se manterem ativas, no entanto, deve-se reconhecer que isto ainda vem se dando de maneira um tanto que tímida, o que é perfeitamente compreensível, pois são anos e anos de adversidades e não será em tão pouco tempo que as coisas irão se modificar, mesmo porque, aceitar mudanças não é nada fácil para os pequenos cafeicultores, isso sem contar as dificuldades do dia a dia.

Em abril de 2012, Josiane esteve por dois dias visitando Divinolândia. Um tour foi elaborado de modo que ela pudesse ter uma noção bem clara da região e da realidade das mulheres do café. Ao final do segundo dia, um encontro foi realizado e para sua surpresa, mais de 150 mulheres se fizeram presentes. Este fato mostrou a Josiane que as mulheres podem sim ter muita força, desde que se organizem.

Esta reunião foi muito proveitosa e um interessante diálogo teve início, com algumas mulheres do café dando um surpreendente depoimento relatando suas experiências. Deste encontro surgiram algumas propostas, entre elas, a da realização de um curso de treinamento básico em cafeicultura, a do estabelecimento de uma parceria com o Centro Oftalmológico do Hospital Regional e a da realização junto com o Sindicato/Senar de um curso de alfabetização para adultos rurais.

Por meio do treinamento básico em cafeicultura foi possível transferir alguns conhecimentos, de modo que as mulheres pudessem vir a conhecer os seus cafés, tendo uma iniciação também em qualidade e bebida do café. Isso foi importante, pois várias delas nunca tinham tido contato com esta atividade, mesmo sendo muitas delas as responsáveis pela seca do café no terreiro.

Com o centro oftalmológico, inicialmente foi firmada uma parceria que buscou por meio de realizações de palestras orientar o apanhador de café da necessidade dele estar utilizando o equipamento de segurança, no caso os óculos. Em seguida surgiu a oportunidade de desenvolver outra parceria, esta agora envolvendo também o SENAR e o sindicato rural, parceria esta que proporcionou aos deficientes visuais atividades manuais na área de jardinagem e plantio de mudas de café em estufa. Esta parceria em especial foi muito importante, já que, por meio dela, diversas outras atividades deverão ser ministradas ao longo do ano de 2013.

Importante também tem sido o curso de alfabetização para adultos rurais que, apesar das dificuldades, obteve uma receptividade muito boa e nova turma está prevista para 2013.

O concurso de Qualidade Café de Divinolândia, realizado sempre no mês de setembro, escolheu como personalidade a ser homenageada em 2012 o GRUPO DAS MULHERES DO CAFÉ DE DIVINOLÂNDIA. Esta homenagem foi mais do que justa, foi um reconhecimento da importância das mulheres na cafeicultura.

Outros cursos vêm sendo ministrados pelo SENAR/Sindicato em parceria com a APROD através do grupo das mulheres do café, preparo de frutas, aproveitamento de banana verde, derivados do leite, artesanato em palha, preparo de carnes de porco, vaca e peixe, sabão e outros mais. Com isso as mulheres terão oportunidades para, além de aprenderem a utilizar melhor alimentos e materiais que dispõem em suas propriedades, conseguirem também, uma renda extra e com isso melhorarem suas condições e qualidade de vida.

Outra atividade que tem importante contribuição do grupo das mulheres do café da APROD é quando da realização dos almoços de confraternização que visam, além do estreitamento das relações, obter recursos financeiros para a manutenção da associação.

Importante também tem sido a participação delas em atividades ligadas à Pastoral da Criança, que além das ações inerentes a atividades, realizam tambem campanhas para obtenção de brinquedos a serem distribuídos no dia das crianças e no Natal. Apoiam também o grupo das Bordadeiras de Divinolândia, incentivando-as a bordarem toalhas e guardanapos com motivos de café.

Estes trabalhos manuais proporcionam uma facilitação de relacionamentos e também um dinheiro extra às bordadeiras, por meio da venda feita pelo grupo das mulheres durante os eventos em que este participa, contribuindo para a manutenção desta atividade.

Em parceria com a ONG DIQBEM - Divinolândia Que te Quero Bem, as mulheres do café da APROD estão agora participando de uma campnha que visa arrecadar alimentos para o Hospital do Cancer de Barretos. Assim, mesmo não tendo ainda uma estrutura bem definida, o grupo das mulheres do café de Divinolândia já mostrou que o seu trabalho, além de ser fundamental para a APROD, é também extremamente importante para o desenvolvimento de atividades junto à comunidade. Apoiá-lo significa revertermos esta condição de submissão que os homens insistem em aplicar às mulheres.

Pretenções

Mesmo já tendo todo o trabalho descrito, como referência e importante instrumento de comprovação da importância da mulher no café, ainda podemos afirmar que o maior desafio a ser enfrentado continua sendo esta postura machista que vigora entre a maioria dos homens.

Acreditamos que isto se deva a um fator educacional e cultural, no entanto, muitos homens ainda se sentem ameaçados quando vem suas mulheres ganhando conhecimento e posições dentro da hierarquia masculina, algo nunca dantes visto. É certo que ainda há um longo caminho a ser percorrido, mas aos poucos vamos percebendo que os homens vão cedendo e com isso reconhecendo que a mulher é tão importante quanto ele para o sucesso da atividade cafeeira. Deste modo, será muito importante incentivar uma maior participação da mulher, buscando as mais jovens ou as ainda desinteressadas.

Fortalecer o grupo por meio de treinamentos e difusão de conhecimentos será ação conclusiva, de modo a permitir uma maior conscientização da necessidade delas lidarem com este sentimento machista e assim provocarem as mudanças.

Uma boa dose de otimismo sempre será importante, o que em muito facilitará o desenvolvimento e o reconhecimento, mesmo porque este grupo já provou ser competente e merecedor de todo respeito. Através do trabalho e do empenho, o grupo já se fez reconhecido, estendendo suas ações além do município, o que pode ser comprovado durante a realização do 70 Espaço Café Brasil e da participação na cerimonia de premiação do Concurso de Qualidade Café de São Paulo, realizada no Museu do Café na cidade de Santos, assim como este também esta matéria publicada com exclusividade no ambiente online por meio do CaféPoint.

Esperamos poder contribuir cada vez mais para com o desenvolvimento da cafeicultura, em particular do município de Divinolândia e, com isso, juntamente com nossos parceiros de vida, galgarmos os mais altos píncaros do universo, isso tudo, é lógico, sempre com a benção Divina e uma boa dose de café.

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