Universidade Federal de Lavras - UFLA
Departamento de Biologia
Setor de Fisiologia Vegetal
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*O texto deste colunista não reflete necessariamente a opinião do site CaféPoint.i Alves, da Universidade Federal de Lavras (Ufla), compilou neste texto, as principais perguntas que lhe são feitas a respeito da imprevisibilidade da safra de café para este ano. No final do texto, foi elaborado um quadro que pode servir como instrumento de dedução natural da bienalidade da lavoura cafeeira e da produção de café arábica para este ano em relação a do ano passado no Brasil.
1- Vai haver quebra de safra este ano?
Professor José Donizeti Alves: Podemos afirmar com bastante segurança que a safra a ser colhida em 2015 será bem menor que a safra colhida em 2014.
2- Quais as razões da safra de café a ser colhida este ano ser, numericamente, inferior àquela colhida no ano passado?
Prof. José Donizeti Alves: A safra colhida em 2014, diga-se de passagem, que foi ruim, foi precedida por um ano de excelentes condições climáticas. Durante todo o ano de 2013, nas épocas mais quentes, as temperaturas estavam bem mais amenas e o solo estava com uma reserva significativa de água, pois não faltou chuva. Até dezembro de 2013 as lavouras estavam vigorosas e com uma carga de frutos bem expressiva. Entretanto, apesar de 2013 ter sido excelente em termos de clima, mesmo assim tivemos uma perda considerada na produção de café no ano seguinte de 2014.
Por outro lado, o ano de 2014, no que tange ao clima, foi péssimo. Janeiro, fevereiro e março, meses usualmente chuvosos, foram extremamente secos e com temperaturas elevadíssimas. Essas condições prevaleceram durante quase o ano todo. Tanto é verdade que no final do ano passado, o solo, nas principais regiões cafeeiras estava com um forte déficit hídrico, pois choveu aproximadamente apenas 40% daquilo que deveria ter chovido.
Em função das péssimas condições climáticas experimentadas durante o primeiro semestre de 2014, as lavouras em agosto, estavam depauperadas e produzirão menos. Esta condição levou muitos cafeicultores a podarem o café. As lavouras podadas, que não foram poucas, é bom que se frise, não produzirão neste ano.
Portanto, não precisa ser um “expert” em cafeicultura para concluir que, se o excelente clima de 2013 não foi suficiente para garantir uma excelente produção em 2014, o que dirá da produção de 2015, que foi precedida pelo péssimo ano climatológico de 2014? Conclusão lógica: a produção de 2015 relativamente à produção de 2014 deverá ter uma queda bem maior que a produção de 2014 relativamente à de 2013.
3) Neste momento, já da para falar em percentual de perda?
Prof. José Donizeti Alves: Pode parecer prematuro, mas, baseados em algumas premissas, já dá para se ter uma boa ideia do volume da próxima safra: 1) O ano de 2015, foi precedido por um ano de péssimas condições climáticas; (2) Grande percentagem de lavouras foi podada; (3) Muitas lavouras que deveriam ser podadas, não foram podadas, portanto, encontram-se depauperadas e, por conseguinte, vegetativamente enfraquecidas para sustentar uma boa safra este ano; (4) Ausência de tratos culturais a partir da primavera do ano passado, em função das altas temperaturas e insuficiência de água no solo; (5) No início do ano passado tivemos um baixo crescimento dos ramos que irão produzir este ano; (6) Calor e seca influenciando negativamente a formação das sementes. Desse modo, teremos em função de tudo isso que acabo de citar, um decréscimo na casa de 20 a 30% na colheita do café arábica em relação ao ano passado.
4) Porque tudo isso esta acontecendo de novo?
Prof. José Donizeti Alves: Essa queda acentuada na produção de café que tivemos no ano passado e que certamente teremos nesse ano, ou seja, por dois anos consecutivos, se deve ao fato do calor extremo e falta acentuada de chuva terem ocorrido em épocas que demandam temperaturas amenas e água no solo. Janeiro, fevereiro e março, são épocas em que as sementes estão sendo formadas. Portanto, intempéries climáticas como a que tivemos durante todo o ano de 2014 e que estamos tendo agora no inicio de 2015, afetam o tamanho do grão e aumentam a percentagem de frutos chochos bem como enfraquecem as plantas predispondo-as a maiores danos provocados por pragas, doenças e deficiência mineral. Essas anormalidades fisiológicas já começaram a se expressar em muitas lavoras. Consequentemente teremos um baixo rendimento de colheita, ou seja, precisaremos colher muito mais litros de café para formar uma saca de 60 quilos.
5) Algum conselho?
Prof. José Donizeti Alves: Irrigação Poe si só não resolve o problema uma vez que a causa primária é o calor, mas pode amenizar. Então, acho que aquele famoso teste de se colocar certa porção de café em um recipiente com água para se calcular a percentagem de frutos bons em relação aos mal formados, que foi uma coqueluche no ano passado, infelizmente ainda vai fazer parte da rotina do cafeicultor neste ano.
O quadro abaixo foi montado para servir de instrumento de dedução natural da bienalidade da lavoura cafeeira e da produção de café arábica para este ano em relação a do ano passado no Brasil. Procurei mediante informações explicitas (parâmetros de clima e da planta) depreender informações implícitas (assinaladas no quadro por uma interrogação).
A meu ver estas informações são suficientes para que eu responda “safra baixa” e “abaixo do esperado” para as questões levantadas sobre a bienalidade e produção deste ano em relação à do ano passado, respectivamente. Qualquer leitor pode (e deve) acrescentar novos parâmetros que possam auxiliar no encontro de uma resposta mais adequada ao problema proposto.
*Texto do Prof. José Donizeti Alves
Universidade Federal de Lavras - UFLA
Departamento de Biologia
Setor de Fisiologia Vegetal
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*O texto deste colunista não reflete necessariamente a opinião do site CaféPoint.